Definições de lógica

«Um argumento é uma sequência finita de proposições (asserções, sentenças) de determinada linguagem, digamos

(*) j 1, ..., j n / y (n ³ 1)

As n primeiras proposições, j 1, ..., j n, dizem-se as premissas do argumento (*), e a última proposição, y , é a conclusão do dito argumento. Ao fazer a leitura de (*) é costume inserir uma das locuções "portanto", "por conseguinte", "logo" (ou similares), entre as premissas e a conclusão, lendo, por exemplo, "j 1, ..., j n, portanto y ; [ ...] .

Interessa distinguir entre os argumentos correctos ou válidos e os argumentos incorrectos, inválidos ou falaciosos (do latim fallacia - engano). Ao fazermos um raciocínio, ao argumentarmos com alguém, interessa-nos que as conclusões a que chegamos sejam pelo menos tão aceitáveis quanto as premissas de que partimos, e isto acontece se utilizarmos somente argumentos válidos, pois só estes preservam a verdade, isto é, forçam (racionalmente) a aceitação da conclusão como verdadeira sempre que as premissas forem aceites como verdadeiras. [ ...]

Definição 1 Um argumento j 1, ..., j n / y diz-se correcto ou válido se a conclusão y for verdadeira sempre que as premissas j 1, ..., j n forem simultaneamente verdadeiras, e diz-se incorrecto ou inválido no caso contrário, isto é, se alguma situação ou circunstância permitir que as premissas sejam simultaneamente verdadeiras e a conclusão falsa.

A definição anterior envolve-nos com os conceitos semânticos de verdade e falsidade, e com o conceito sintáctico de proposição, não sendo uma definição precisa enquanto estes conceitos não forem previamente definidos com rigor. Nenhuma destas tarefas é tão fácil quanto se poderia julgar. Sem problematizar, diremos apenas [ ...] que tomamos o termo "proposição" na acepção linguística corrente, como sinónimo de "frase (asserção, expressão) declarativa (ou enunciativa) de um juízo ou pensamento, que tem o verbo no indicativo, e pode ser afirmativa ou negativa". Isto quer dizer que, num determinado contexto ou referencial interpretativo, a cada proposição j pode ser atribuído sem ambiguidade, pelo menos em princípio, um dos valores lógicos verdade (símbolo "V" ou "1") ou falsidade ("F" ou "0"); além disso, considera-se j verdadeira se e somente se a situação ou estado de coisas que j exprime se verifica de facto [ concepção tarskiana da verdade ou veracidade enquanto correspondência com os factos ou a (uma) realidade] . Exemplificando:

A proposição "A relva é verde" é verdadeira se e somente se a relva é verde

Note-se que o valor lógico de uma proposição como "A relva é verde" não é um absoluto categórico e intemporal, pois depende do contexto interpretativo. Por exemplo, no contexto de um campo de golfe bem tratado, a dita proposição é certamente verdadeira,mas noutro contexto, como o alentejano no pino do estio, ela é, provavelmente, falsa. [ ...]

[ ...] [ A] validade (ou invalidade) de um dado argumento é independente do seu conteúdo concreto ou significado das proposições intervenientes, e portanto é independente da sua verdade ou falsidade factual, só dependendo da presença ou não de uma certa relação entre a verdade (factual ou hipotética) das premissas e a verdade (factual ou hipotética) da conclusão, relação essa que tem o nome de relação de consequência [ ...] . O argumento é válido se a relação de consequência se manifesta (dizendo-se neste caso que a conclusão é consequência das premissas) e é inválido no caso contrário. E tal relação está ou não presente num dado argumento somente por virtude da forma lógica do argumento [ ...] . Em última análise, pois, a validade ou invalidade de um argumento só depende da sua forma

Augusto Franco de Oliveira, Lógica e aritmética, Lisboa, Gradiva, 1991, pp. 11-15