Versiones 47

Diciembre 2002 - Enero 2003

Director: Diego Martínez Lora

la aventura de compartir las vidas, las lecturas, las expresiones...


Nem democracia, nem ditadura: Uma empresa saudável

Entrevista a José Simões

por Katarina Uyeki(*)


 

         José Simões tem 39 anos e é engenheiro. Nasceu em Angola e viveu lá até aos 10 anos de idade.

         Escolhemos esta personalidade para estrear a nova rúbrica da revista "Versiones" (Vida Empresarial), por se tratar de alguém que, como irão poder ler, teve e continua a ter uma carreira notável, e que, com muito bom senso e algum conhecimento, soube subir na vida através da honestidade e do esforço de fazer tudo aquilo a que se propõe da melhor forma possível.

         Actualmente vive no Porto, "o melhor sítio para viver" na sua opinião.

         Participante de um casamento feliz que dura já há 10 anos, é também um pai de família; com um filho e à espera duma menina tenciona ficar-se pelos dois, pelo menos por agora... A nossa pergunta só poderia ter sido a seguinte: "E porquê não mais?" Uma vez que é o segundo filho de quatro irmãos. Ao que ele nos responde: " Assim, poderei assegurar que terão um bom crescimento, com tudo o que é necessário para lhes proporcionar uma boa qualidade de vida e um maior bem-estar, assegurando-me também de que ao crescer se tornarão boas pessoas".

         Diríamos que podemos considerar este engenheiro como uma pessoa bem disposta, bastante humana e super simpática, que aproveita os seus free times para ler: desde banda desenhada, até livros relacionados com áreas mais mecânicas, como as armas, mas principalmente livros sobre aviões; para além disso gosta de "pegar um bom cineminha", se possível através dum agradável sistema de "cinema em casa" e gozar de um bom filme, e se for dos antigos, melhor ainda.

Uma das suas paixões são as motas, aliás, meio que utilizou para se deslocar durante vários anos, mas que já não utiliza mais. E, embora o pensamento de voltar a ter uma já lhe tenha passado pela cabeça, depois de ter ponderado vários aspectos achou que seria melhor não o fazer. O facto de não incentivar o filho para estas maravilhosas, mas perigosas máquinas não adiantou de nada, uma vez que ele já o considera como sendo "um doido por motas"...

 

 

Revista Versiones: E agora no que respeita aos teus estudos, sabemos que estudas-te engenharia...

José Simões: ...Sim. Segui a área da engenharia mecânica, e mais tarde especializei-me no ramo da climatização e na refrigeração do ar - mais conhecido pelo termo corrente de ar condicionado -, foi basicamente isso, e é a profissão que excerço actualmente.

R. V.:  No teu caso, podes dizer que: gostas do que fazes, ou fazes mesmo aquilo que gostas?

J. S.:  Sim, sempre quis trabalhar no ramo da engenharia mecânica, tive e tenho a sorte de ser das poucas pessoas que, hoje em dia, conseguem trabalhar naquilo que realmente gostam, bem como na área comercial.

 

         Bem, para que possam compreender melhor qual o percurso deste senhor até chegar ao que é hoje, pensamos que o melhor seria mesmo resumi-lo, em traços gerais, claro!

José Simões começou a trabalhar aos 19/20 anos numa empresa de estudos de mercado, como entrevistador, continuando sempre os seus estudos;

Depois foi trabalhar para uma outra empresa que fazia instalações de ar condicionado, aqui esteve 8 anos. Mais tarde, foi para uma empresa da área comercial, onde exerceu o papel de vendedor.

Passou ainda, e durante um ano, por uma empresa na qual teve a função de responsável técnico.

Finalmente, faz em Setembro/03, cinco anos que trabalha como responsável da "Nónio Hiross" do Porto, filial duma empresa que tem a sua sede em Lisboa. (Da qual iremos falar mais à frente).

 

         Como podemos ver, de facto o seu curriculum não é dos mais pequenos, sendo até bastante relevante. Contudo, o grande interesse em realizar e em ler esta entrevista, supomos que seja sim, é o de conhecer um pouco da sua vida empresarial propriamente dita, no que ela consiste e se é bem sucedida; mas principalmente é o facto de saber como é que um engenheiro se torna também num empresário, qual o método adoptado para gerir a empresa e as pessoas que nela trabalham, e de saber até que ponto alguém modifica ou não a sua vida pessoal, em nome do trabalho e do êxito pretendido.

 

         Assim sendo, vamos contar-vos um pouco da nossa conversa, para saber em que consiste realmente a empresa na qual o Engenheiro Zé Simões trabalha, e qual é afinal o seu papel em tudo isto.

         A Nónio Hiross existe há 35 anos e abriu de imediato as suas portas ao mercado do ar condicionado, sendo Lisboa a primeira cidade escolhida para o efeito. O projecto para a cidade do Porto é bem mais recente. De qualquer forma, o sucesso tem sido uma realidade para uma firma que se dedica a este mercado numa nova vertente: a do conforto. O Eng. Simões é nem mais nem menos o responsável máximo por esta filial criada na cidade do Porto, onde desempenha o papel de engenheiro mecânico, mas também o de gerente da mesma, e de técnico comercial...

        

         Relativamente ao seu trabalho, acredita que para ter boas vendas (sim porque nenhuma empresa vive de prejuízos), é necessário apostar num serviço personalizado antes, durante e após um negócio ser feito (no que refere ao fornecimento destes equipamentos), tentando sempre associar o negócio a uma cara.

Revista Versiones:  E tens parte activa em tudo isso?

José Simões:  Sim, tenho parte activa nisso, ou seja na chamada "operação charme", que consiste nesse tal acompanhamento personalizado, e também no esclarecimento de que nem em todos os casos é necessário ter o melhor equipamento do mercado, mas que o mais importante é ter o equipamento mais adequado a cada situação, mas tendo sempre em vista a qualidade. Um exemplo muito prático disto é o seguinte: existem vários tipos de carros, temos os Toyotas, os Mercedes e os Rolls Royce, há um mercado para tudo, temos é que saber qual a melhor escolha dentro de cada contexto. Não quer dizer com isto que a nossa empresa seja reconhecidamente barata no mercado, também não tencionamos sê-lo. Contentamo-nos por poder gerir o nosso mercado, somos neste momento a 2º maior empresa do país.

R. V.:  E sobre a filial, o que nos podes dizer sobre ela?

J. S.:  Claro que a filial esta relacionada com a empresa mãe, mas é bastante autónoma, e esta autonomia surge da sua implantação do mercado.

R. V.:  Mas Engenheiro Zé, porquê o negócio do ar condicionado?

J. S.:  Tem a ver com as oportunidades da vida. Por isso foi que, depois de ter trabalhado na primeira empresa relacionada com este ramo na qual estive, especializei-me na matéria... Foi a carreira que tomei antes, durante e após a finalização do meu curso.

R. V.:  Se tivesses que escolher só uma das tuas funções, qual seria: a de engenheiro ou a de gerente?

J. S.:  Acho que no meu caso não posso dissociar uma da outra, embora penso que, com o passar do tempo, me vou afastando da engenharia técnica, e aproximando cada vez mais da engenharia de gestão.

R. V.:  Podes falar-nos um pouco sobre a relação humana da empresa...?

J. S.:  Bem, relativamente a isso posso dizer que, trabalhamos todos num ambiente calmo, sem gritarias, e principalmente sem stress interno os quais não têm a mínima das vantagens. A relação humana dentro da empresa é excelente, mas muito profissional. Há um bom relacionamento e uma cumplicidade saudável entre os funcionários da mesma. A grande riqueza é mesmo a relação humana...

 

         Na realidade, José Simões é um bom profissional, e tem uma maneira muito própria e correcta de ver as coisas (como de facto deveriam ser vistas, e até o são, pelo menos no mundo de trabalho que ele gere), onde todos saem beneficiados. Se não vejamos, tudo bem que gere uma empresa praticamente de "engenheiros e secretárias", como o próprio costuma dizer, mesmo assim o ambiente de trabalho é óptimo, sem conflitos internos. Não gosta que as pessoas com quem ele trabalha saiam depois da sua hora, porque compreende perfeitamente que elas, também têm o seu outro lado da vida, que não é o trabalho. Por outro lado, do seu ponto de vista uma empresa não deveria ter pessoas a mais, mas também não precisa de ter gente a correr de um lado para o outro, sobrecarregadas de trabalho (como acontece tantas vezes na maioria das empresas e instituições que conhecemos), as pessoas assim não rendem e seria uma questão de tempo até algo correr mal...

         De facto, este gerente não poderia estar mais correcto, não concordam connosco caros leitores?

 

Revista Versiones:  Consideras-te, portanto, um responsável flexível?

José Simões:  Sim, diria até bastante flexível. Porque é assim. Eu exijo muito das pessoas com quem trabalho. É uma verdade, mas também deposito nelas uma grande autonomia e confiança... Por exemplo, não é por alguém entrar 10 minutos mais tarde ou sair 30 minutos mais cedo, (por algum motivo especial) que o rendimento dessa pessoa vai piorar ou não, não tem a ver com isso...

R. V.:  E no que respeita ao êxito, e analisando todos estes anos de trabalho, o que tens a dizer sobre isso?

J. S.:  Bem, a ideia que eu tenho do trabalho que foi e tem sido feito, é que se trata de algo que depende muito dum trabalho de equipa, ou seja, para além de mim também depende bastante de todas as pessoas com quem eu trabalho. Felizmente são pessoas muito competentes - foi para isso que foram escolhidas, se não também não estariam comigo, pelo menos não a trabalhar! Posso admitir e considerar, por isso, que relativamente ao nosso trabalho, já foi lançada a semente para um futuro longo e sorridente.

R. V.:  Na tua opinião, qual seria a definição de uma empresa ideal?

J. S.:  Uma empresa não é uma democracia, mas também não é uma ditadura, é antes uma organização em que alguém tem que tomar as decisões, e, por muito horizontal que seja a estrutura, há sempre alguém que ao tomar uma decisão vai ser responsável pela mesma. Não se pode cair numa anarquia. Desta forma, consegue-se um equilíbrio, em que, sem entrar em conflito, retira-se o melhor que há das e nas pessoas.

Por outro lado, se uma empresa cresce, não deve crescer a carga horária exigida a uma pessoa, mas sim deve crescer é o número de pessoas - isto é uma empresa saudável.

         Em termos práticos, uma empresa ideal seria uma empresa em que as pessoas conseguissem entrar e sair a horas, onde não houvesse muito barulho, onde as pessoas tivessem as secretárias limpas, não sofressem de stress e, claro, que chegassem ao fim do ano e ganhassem todas muito dinheiro!

( risos )

R. V.:  Nisso estamos completamente de acordo. Bem, para finalizarmos, uma última questão: ao analisar todos os factores que envolvem geralmente a vida das pessoas, achas que de alguma forma, vale a pena sacrificar a vida familiar e pessoal pela vida profissional?

J. S.:  Não. Aliás, acho que uma não pode nem deve sacrificar a outra. Temos que procurar dentro de nós o equilíbrio. Quem tem uma vida familiar não deve desprezá-la nem deixar que a questão profissional se sobreponha a esta. Por outro lado a maioria das pessoas querem ter um trabalho rentável, mas não devem abdicar do "tempo da família" para fazê-lo. Para isso tem que haver um bom planeamento de trabalho.

R. V.:  E é o que acontece contigo?

J. S.:  Sim, eu posso dizer que passo bastante tempo com a minha família. Se for o caso, prefiro levar algum trabalho para fazer em casa do que ficar até altas horas no emprego, não considero isso uma forma de vida saudável. Claro que também compreendo que nem toda a gente pode fazer isso, não é? Eu tenho é a felicidade de o conseguir!

 

         Pois é, quem diria que José Simões, com ainda 10 anos de idade e vindo de uma realidade tão diferente como é a África, tivesse tido o sonho de criança de ser aviador? Logo ele que, por mais incrível que pareça, tem medo de andar de avião (embora o faça). Hoje em dia, ainda é um apaixonado por essas máquinas voadoras, mas descobriu ainda bastante novo que não era verdadeiramente isso que queria ser. O que ele quis ser e fazer mesmo foi aquilo que tentamos transmitir ao longo desta entrevista, e pelos vistos conseguiu-o, não acham?

         Sabem o que é que ele gostava que o filho fosse? Um artista. Um pianista, por exemplo. Mas, o miúdo por outro lado gostava de ser futebolista (o que para nós não deixa de ser uma arte)

        

         Ao contrário daquilo que muita gente pensa, não é muito comum, mas é possível ser-se bem sucedido profissional e familiarmente ao mesmo tempo, sem deixar que o poder adquirido nos suba à cabeça, mantendo sempre a simplicidade que há em cada um de nós!


(*)Katarina Uyeki, venezuelana-portuguesa. Mora em Vila Nova de Gaia.


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