Versiones 47

Diciembre 2002 - Enero 2003

Director: Diego Martínez Lora

la aventura de compartir las vidas, las lecturas, las expresiones...


Luiz Ferro Moutinho (*):

...Ao espelho, ... o Amor


( Este é talvez um dos maiores desafios que se pode colocar a um escritor, e é também decerto um dos mais ingratos desafios que se pode colocar a qualquer pessoa, que é precisamente o de comentar o seu próprio trabalho em público. Neste caso foi-me pedido que escrevesse um texto introdutório em forma de comentário sobre o meu próprio livro, «Não sabia que procurava o Amor até te encontrar», publicado pela Editorial 100 e, para o fazer, acabei por me socorrer daqueles que foram os meus amigos e confidentes durante o longo ano em que escrevi este livro, ou seja, os meus próprio personagens. Eu já tinha em outras ocasiões participado em várias apresentações, e escrito inclusivamente alguns artigos sobre outros escritores, mas nada disso me tinha preparado para esta tarefa. Só agora é que me apercebi de como é fácil comentar o trabalho dos outros ...)

Como o próprio título o sugere, este livro é um livro sobre o amor mas, no entanto, e como facilmente se compreende pela sua leitura, este não é um livro «apenas» sobre o amor, embora de facto o amor o atravesse de uma ponta à outra, bem assim como a todos os seus personagens, em todas as direcções do tempo e do espaço. E é precisamente aqui neste ponto, através precisamente da grande diversidade dos seus personagens, que o livro se consegue abrir em toda a sua amplitude, e consegue cobrir toda a diversidade de temas que abrange, alguns aparentemente tão dispersos dos outros, mas que acabam por se entrelaçarem num único tronco principal, tronco esse onde tudo aquilo que existe acaba por confluir um dia, e esse tronco, que ao invés de poder ser definido substantivamente e taxativamente, pode apenas ser definido através das três grandes interrogações que comporta, configuradas nas questões «de onde viemos?», «onde é que estamos?» e «para onde é que vamos a seguir?», que são no fundo a nossa principal razão para existirmos, esse tronco principal não é afinal nada mais do que a própria Vida.

Assim, os diversos personagens vagueiam por entre áreas como a História, a Astronomia, a Arqueologia, a Filosofia e a Física, e dispersam-se por entre a literatura, a poesia, o hipnotismo, a vidência e a telepatia, mas todos eles sem excepção, cada um deles no seu campo específico, andam à procura de si próprios, e de uma maneira mais vasta á procura do Amor, e é precisamente isso mesmo que eventualmente acaba por os aproximar no fim.

Como foi já assumido por mim anteriormente que a amplitude do livro reside precisamente na grande variedade dos seus personagens, nada melhor então do que passar a apresentar alguns desses personagens, através de alguns pequenos excertos em que intervém cada um deles.

Um dos personagens centrais deste livro é o Dário. O Dário é um homem de paixões à primeira vista. Foi assim quando ele se casou, foi assim quando escolheu a cidade aonde eles iriam viver depois de casados, e foi assim na sua amizade com Magdo, outro dos personagens centrais deste livro. Ele é chileno, é um escritor, e conheceu a sua mulher, Paloma, uma bela italiana, em Machupicchu, aonde foram ambos fazer a famosa caminhada pelo trilho Inca. Paloma tinha-lhe dito que uma vidente em Palermo lhe anunciara que se ela se queria encontrar a si mesma teria de ir a Machupicchu, ao que Dário lhe respondeu imediatamente, «Tu já te encontraste, Paloma. Eu sou a parte de ti que te faltava conhecer». Ele é este tipo de homem.

O excerto seguinte revela precisamente como é que depois de se casar com Paloma, eles resolveram aonde é que iriam morar. Resta acrescentar que, por uma estranha coincidência, a cidade favorita do Dário é precisamente a minha cidade favorita também. 

«Muito mais difícil de tomarem, porém, e após a sumptuosa lua de mel, foi a decisão quanto ao sítio para onde iriam morar agora, depois de casados. Resolveram por isso procurar um lugar que ficasse a meio caminho entre a Itália e o Chile, mas depressa se aperceberam de que esse ponto cairia algures no meio do Oceano Atlântico, e Dário não suportava a ideia de viver claustrofobicamente numa ilha, por mais paradisíaca que ela pudesse ser.

Resolveram por isso procurar num dos países do limite ocidental da Europa, e a Espanha agradou imenso a ambos, pelo seu clima, pela sua gente, pela sua cultura, e por toda a sua história, mas Paloma lembrou, e bem, que aí Dário teria a vantagem imensa da sua língua natal em relação a ela, e que não começariam portanto em total igualdade a sua nova vida. Lembraram-se então de um outro pequeno país, mesmo ali ao lado, chamado Portugal, ainda mais a ocidente do que a Espanha, de resto, e que tinha igualmente bom clima, e também a fama de serem uma gente acolhedora.

«Terra de navegadores» - lera Dário algures, e ambos resolveram então que, sim senhor, Portugal era uma boa hipótese para eles viverem e que, com calma e com bastante tempo, iriam então estudar melhor a questão. Mas o destino é mesmo assim, muitas vezes é como um novelo, e quando o começamos a puxar ele dá cada vez mais e mais corda. Passado alguns dias, ao ler distraidamente uma revista de viagens, Dário encontrou, numa fotografia, uma imagem de que nunca mais na vida se viria a esquecer, ou a libertar.

Era a imagem de uma cidade antiga, mas evidenciando uma incrível vitalidade, e que crescia em aparentemente organizada desordem por uma íngreme colina acima, cada casa parecendo apoiar-se sobre a anterior, como se de um gigantesco jogo de legos se tratasse, com ruas estreitas e sinuosas subindo, e desviando-se, por entre casebres multicolores e edifícios surpreendentemente estreitos e, no topo da colina, como se de uma cereja em cima de um bolo se tratasse, um enorme monumento religioso, certamente um mosteiro ou uma catedral, e Dário pensou que cada pormenor parecia ser incapaz de subsistir sem o outro, como se tudo aquilo não tivesse sido construído ao longo de vários séculos, mas tivesse antes simplesmente sido pousado ali como um todo, como se tudo aquilo fosse obra da imaginação de um pintor que tivesse decidido preencher com infindáveis e requintados pormenores todos os centímetros da sua tela.

        E naquela imagem havia ainda uma ponte, uma ponte magnífica, uma ponte soberba, com dois tabuleiros sobrepostos e paralelos, e um enorme arco oval, que unia ambos os tabuleiros desde uma margem até à outra, e um rio, um rio enorme, enorme e largo, largo e claramente fundo, porque era azul, mas de um azul profundo, e nesse rio circulavam estranhos barcos, de uma estranha forma, com uma estranha vela, e carregados com um estranho carregamento, que em tudo, Dário era mesmo capaz de o jurar, se assemelhavam a pipas, como se fosse possível que alguém, pensou Dário nessa altura, construísse tão estranhos barcos para carregar, imaginem só, uma carga tão impensável como seriam pipas.

Leu rapidamente aquele artigo. Dizia qualquer coisa sobre aquele sítio ter sido considerado recentemente como sendo um património mundial da Humanidade. «A cidade das pontes» - dizia o artigo, para deleite de um agora imparável Dário. Dário adorava as pontes, para lá de qualquer explicação racional, pois elas sempre tinham tido para ele um significado completamente transcendental, e nesse momento ele soube-o, para lá de quaisquer certezas. Era ali. Era ali a sua casa. Era ali o seu lar, pensou imediatamente. E menos de um mês depois ele já percorria as ruas do Porto na companhia de Paloma, à procura da casa dos seus sonhos, a tal que o esperava à mesma velocidade com que ele a procurava, quando inesperadamente o atravessou uma inspiração súbita. Lembrou-se então de um conhecido artista parisiense que detestava, simplesmente abominava, a torre Eiffel, e no entanto todos os dias, sem nenhuma excepção, almoçava no famoso restaurante existente numa das plataformas intermédias da torre.

-«Tu és mesmo doido, homem!» – dissera-lhe um dia um amigo, farto já das suas histórias e das suas estranhas manias –«Se tu detestas assim tanto a torre Eiffel, porque é que tu cá vens almoçar todos os dias?»

Ao que ele lhe respondeu, imediatamente:

-«Porque este é na verdade, meu amigo, o único local de Paris aonde eu não sou obrigado o olhar para ela, enquanto almoço.»

Talvez também por isso, e seguindo o mesmo brilhante paralelismo de raciocínio, Dário escolhesse fixar antes morada na cidade vizinha de Vila Nova de Gaia, situada precisamente do outro lado do rio, pois aquele era realmente o único local de onde ele podia ver claramente a cidade dos seus sonhos, conforme de resto ele a tinha visto outrora numa fotografia de revista, e conforme ela o tinha seduzido, logo desde essa altura. E foi nesse mesmo apartamento, com uma magnífica e perfeitamente inigualável vista sobre o rio Douro, e sobre toda a cidade do Porto e sobre a Ribeira, que Magdo o viria a conhecer, ou a reconhecer, alguns anos mais tarde».

 

O personagem que eu gostava de apresentar a seguir é o doutor Markkus, e ele é um dos meus personagens favoritos. O doutor Markkus é um personagem que segue em crescendo, ele começa um pouco mal, com alguma antipatia e frieza à mistura, mas ao longo do livro vai conseguindo descobrir o seu próprio lado emocional, e acaba por se tornar um elemento absolutamente decisivo no desenlace da história. Ele é um cientista brilhante, completamente obcecado pelo seu próprio trabalho, e que defende teorias absolutamente surpreendentes para a nossa própria existência. Ele tem uma História alternativa para a história do Mundo, e tem factos para o provar, obtidos pelos seus videntes, em estado de transe.

O excerto seguinte desvenda alguns dos seus pensamentos e conclusões, após realizar algumas sessões com os seus videntes. 

« ...e Markkus descobriu ainda, para sua grande surpresa, que a Pirâmide do Sol de Teotihuacán tinha exactamente o mesmo comprimento que a base da Grande Pirâmide do Egipto, o que parecia indicar claramente que se as duas civilizações não tinham tido um qualquer tipo de contacto directo, o que logo à partida, separados por alguns séculos, oceanos, e continentes, parecia virtualmente impossível de acontecer, tinham pelo menos partilhado necessariamente um qualquer legado cultural comum. Foram ainda guiados depois até à costa de França, até às acidentadas escarpas da Bretanha, aonde o barulho incessante das ondas rivalizava, na atenção de Markkus, com o vento salgado e cortante, mais propriamente até à aldeia de Carnac, a maior estação arqueológica megalítica em todo o Mundo, construída cerca de 2.000 anos a.C., com mais de 3.000 blocos de pedra em impressionantes alinhamentos, todos eles transportados para ali de uma distância superior a 80 quilómetros do local aonde actualmente se encontram, e segundo a inevitável pesquisa de Markkus, a sua construção tinha sido tão precisa e tão elaborada que alguns peritos acreditam mesmo que teriam sido necessários várias centenas de anos de estudo de Astronomia até ter sido possível colocar a primeira pedra em Carnac. E será de algum modo coincidência o facto de esta estação ter exactamente a mesma designação fonética de Karnak, a cidade egípcia do Nilo Superior, onde se situa por exemplo o famoso túmulo de Tutankhamon? Ou será isso simplesmente a resultante da utilização de uma mesma linguagem primitiva, que seria um legado comum de ambas as civilizações?

Markkus compreendera imediatamente que a Ilha da Páscoa, Angkor, Chichen-Itzá, La Venta, e as pirâmides do Planalto de Gizé, como de resto todas as outras estações, estão de alguma maneira todos relacionados entre si, como se todos elas fizessem parte de um muito mais vasto plano superior, e fizessem todos parte de uma rede de monumentos com grandes semelhanças a nível de arquitectura, nomeadamente ao nível da construção de pirâmides, que pareciam funcionar para eles como uma espécie de instrumentos de transformação da Alma depois da morte, e perfeitamente localizadas geograficamente de acordo com a posição que as estrelas teriam tido em datas específicas, datas essas que eram estranhamente coincidentes entre si, e de um local para o outro. Curiosamente todos estes sítios são ainda descritos actualmente pelas respectivos povos e tradições locais, como sendo «umbigos», ou Centros do Mundo.

Mas Markkus sabia também que aquilo que verdadeiramente unia todos estes lugares era a tal esquecida, ou propositadamente ignorada, civilização de navegadores, os tais descendentes do povo perdido da Atlântida, que tinham explorado e navegado todo o Globo, e atravessado o Atlântico ainda durante a época que nós denominamos de pré-história, quando nós ainda negociávamos com a evolução e com a selecção natural as vantagens e os inconvenientes de adoptarmos ou não uma posição erecta, muito tempo antes dos Vikings e de Cristóvão Colombo o terem feito, e que tinham deixado uma espécie de legado póstumo da sua civilização, entretanto desaparecida e esquecida, em que demonstravam que além de possuírem surpreendentes conhecimentos de astronomia e de matemática, também conheciam obviamente a latitude e a longitude, bem como o diâmetro e o comprimento da Terra, e evidenciavam ainda conhecimentos perfeitamente espantosos sobre a declinação das estrelas, e sobre a precessão dos Equinócios, esse lento e subtil processo que faz com que devido à atracção do Sol e da Lua sobre a deformação equatorial da Terra, pareça que as estrelas como que se «mexam» no Céu, o que leva a que a estrela que indicava o Polo Norte no tempo dos atlantes fosse Thuban, na constelação do Dragão, e que actualmente esse papel seja desempenhado pela estrela Polar na constelação da Ursa Menor.»

 

O personagem que se segue é o Magdo, e ele é talvez o personagem mais importante de toda a história. Ele é um escritor em inicio de carreira, e anda simultaneamente em busca de si próprio e em busca do Amor, porque o amor que ele conheceu até agora já deixou de falar sentido para ele, já não o satisfaz minimamente, e ele não se conforma com a ideia de que não haja mais amor para lá daquele que ele já conhece.

Neste excerto nós vamos encontrá-lo num dia mau, em que ele sente a solidão e a saudade, e põe mesmo em causa a existência da mulher amada. Este é um poema que ele deixa escrito na toalha de uma mesa de café, antes de se ir embora.

 

«Talvez afinal tu não existisses mesmo

fora de mim.

                                E talvez eu nunca tenha bebido mesmo
                                dos teus lábios,
                                nem sentido os teus seios,
                                nem palpado o teu corpo.

Talvez tu fosses apenas mais uma ilusão minha,

um longo e imaginário deleite mental,

uma deliciosa e obscena masturbação espiritual.

Será possível que uma noite eu tenha adormecido,

e sonhado que te amei?

Terei eu chegado tão longe na minha necessidade de amor?

 

Ou serei eu parte do sonho de alguém

que subitamente acordou?

Talvez por isso esta tão grande sensação de vazio,

de não pertencer a lado nenhum,

de não fazer qualquer espécie de sentido,

fora de ti.

Ter-me-ás então sonhado, tu?

Posso então aspirar a ser feliz,

e a ter algum significado?

Sim, a ser feliz,

feliz, na fantasia imensa de ser talvez

o sonho de uma mulher?

 

Diz-me, Amor, qual de nós dois inventou o outro?»

 

O Magdo é um personagem tão importante nesta história que eu me sinto tentado a voltar a ele outra vez. Neste caso ele está a escrever uma carta, mas esta carta não é uma carta para ser enviada, é uma espécie de carta telepática, mas na verdade é quase como se ele estivesse a falar frente a frente com a outra pessoa. Esta carta destina-se mais a fazer luz sobre os seus próprios pensamentos, ou seja, é mais uma carta de si para si, do que propriamente para a outra pessoa, embora ele saiba perfeitamente que a outra pessoa está a saber imediatamente tudo aquilo que ele pensa à medida que ele próprio vai escrevendo os seus pensamentos no papel. 

«Mas acho que o que eu te quero mesmo dizer é, no fundo, aquilo que tu já sabes. No fundo eu acho mesmo que tu sempre o soubestes. Não é segredo nenhum aquilo que eu sinto por ti, e quando tu te foste embora eu senti profundamente a tua falta. Depois habituei-me, claro, como de resto nós nos habituamos a tudo na vida.

            Mas o que eu queria mesmo era que tu aqui estivesses, ao meu lado, e que nós pudéssemos continuar juntos. Se tu viesses, se calhar eu não ia saber o que iria fazer contigo, ou como é que eu haveria de te encaixar na minha vida, ou se sequer haveria algum espaço para ti na minha vida, mas isso claro que só o próprio tempo o diria e, como tal, sendo apenas uma hipótese perdidamente situada num tempo incerto, eu nem sequer me preocupo muito em pensar nisso. Como eu já te disse, em qualquer situação nós nunca ficamos a perder.

O que nos leva a um outro assunto, que é a minha maneira muito pessoal de encarar o Mundo e de encarar a própria Vida, e as influências provocadas nela pelas cicatrizes da minha vivência pessoal até à data, o que de resto para ti também não é qualquer novidade.

Existem dois seres dentro de mim, e tu conheces os dois.

            Um anseia amar e ser amado. O outro deseja a libertinagem. Um anseia o compromisso e a estabilidade. O outro aspira e procura o mais puro estado de Liberdade. Um deseja dar-se do mais fundo do seu Ser. O outro não mais se quer expor. Um quer mergulhar no turbilhão de emoções puras de um Amor verdadeiro. O outro sabe que esse é o mais puro estado de dependência e de vulnerabilidade. Um não tem receio de se entregar de corpo e Alma. O outro esconde-se atrás de máscaras. Um anseia encontrar alguém que possa amar como a si próprio. O outro jurou que não voltará a sofrer.

E é nestas águas que eu navego, separado entre dois fogos, dividido por um mar de dúvidas, emparedado entre aquilo que sou, e aquilo que quero ser. E no entanto eu pareço conseguir vislumbrar, e se calhar só mesmo eu é que consigo, uma linha de coerência no meu percurso entre estes dois mundos. Não caio no exagero de dizer que esta é uma linha recta e linear, mas nem todas as linhas têm de ser rectas e lineares, e para todos os efeitos esta é a minha linha, é o meu Caminho e, sendo o meu, será sempre necessariamente, como eu próprio, um pouco confuso.»

Se por acaso alguns de vós acharam este artigo um pouco estranho, ou até algo despropositado, para aquilo que me foi pedido, e para aquilo que eu próprio me propus fazer, logo no inicio do texto, por favor não estranhem. Lembrem-se sempre de que este é o meu artigo e, assim sendo, parafraseando o meu amigo Magdo, ele será sempre necessariamente, como eu próprio de resto, um pouco confuso.


(*)Luiz Ferro Moutinho,  escritor e engenheiro português. Autor de 2 romances: A rapariga que desenhava as estrelas e Não sabia que procurava o amor até te encontrar....


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