versiones, versiones y versiones...renovar la aventura de compartir la vida con textos, imágenes y sonidosDirector, editor y operador: Diego Martínez Lora    Número 54 - Febrero - Marzo 2004


Ângela Marques(*)

"é quando me sinto" e mais 2 de

 "Confissões dispersas"


XI

 

é quando me sinto

longe do mundo

abafada na música

do silêncio

rodeada do verde amarelo

deste granito nortenho

olhos pousados nas águas

quase quietas do rio

minha vida

é quando sou

sem ninguém

que sou

 

XL

 

tenho sempre uma lágrima

e uma orquídea

no fundo do coração

para te oferecer

numa manhã de sol

quando as aves todas parecem

encobrir o céu

e nem vejo o navio para lá da muralha

Porque me ensinaste

o caminho do ritual

da verdade minha

da nitidez

do gesto:

meu poema inefável

 

XLV

 

havia estrelas inconfundíveis

que encontrava nas esquinas da cidade

sorrisos quentes nas vitrinas

afagavam-me os cabelos

e eu corria por entre a gente

intocável

serena

de olhos como azuis, gaivotas

atravessando o horizonte

esticava os braços e

encontrava mármore ou granito

percorria os dedos

nos interstícios da água

e caminhava ao rés-da-areia

deixava velas acesas de caminho

que apontavam os barcos

e eu partia sempre

com um marinheiro-poeta


(*)Ângela Marques, escritora e crítica portuguesa. Mora no Porto.


Índice de Versiones 54

Página principal de Versiones