Cataratas de Lua,
Cataradas da rua,
Sonatas constantes,
Sonetos bastantes.
Luzes ardentes,
Asfaltos molhados,
Grito estridente,
Fado cansado.
Cantos lembrados,
Santos banhados,
Janelas cerradas,
Alpendres quebrados.
Sombras restantes,
Deitadas, esticadas,
Deslizes andantes,
Por cima, pegadas.
Campos desertos,
Árvores caídas,
Flores tombadas
Por toda a avenida.
Som do silêncio,
Respeito e suspeito,
Medo pendente
Em suspiros decentes.
Cores mais quentes
Mudadas pro nada,
Pois o manto da noite
Comanda na estrada
(1975)
Beatriz Helena
Condado descrente
Contado indigente,
Banhado de ouro,
Reflete decrépito.
Ecos que espalham,
As forças de ontem,
A coragem de nada,
Num oceano sem fundo.
Migalhas de ares,
Faíscas malogradas,
De gestos ímpares,
Restaram poeiras,
Ventos mandantes,
Vozes fantasmas,
Apelam libertas,
Respostas em raios.
Ah! Condado caído,
Festa ensaiada,
Sobraram lembranças
Com gosto de sabre!
(1975)
Beatriz Helena
Olhar distante, eloquente, cansado!
Na rua sozinho suspira o: "ser eu";
Chegando à parada, pensar em ser eu.
Oh! Querido amigo, na frente do mundo!
Desejas contudo a sombra de um ser,
Removes declives, diminues o mar,
Queres ser como o dono
Do verso: Amar!
Cuidado! Amigo!
Os outros se sentem!
Não só você tem direito de ser,
De chorar, de amar, de guardar o seu imo.
Se todos fizessem bonecos na mente,
Beleza de mundo que iríamos ter,
Com palavras mudas,
Nas ruas mais frias, repletas de gente.
Lembranças são tudo, que se pode
guardar,
Eu sei! Cuidados maternos para não machucar,
Pois pela vida, só, é impossível passar!
Beatriz Helena
Se um dia o sol não nascer,
A criança não sorrir,
O pássaro não cantar,
O vento não mais embalar,
O mar não se agitar
E o olhar não mais vir,
Aí sim: vou querer morrer,
Porque não estarei mais sentindo o amor! (1976)
Beatriz Helena