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Organistas

Associação Paulista de

1977 - 1998


Catálogo de Órgãos no Brasil

 

 

 

 

 

Órgão da Sé, SP

Catedral da Sé (SP)

 

 

 

 

 

 

Órgão de São Bento, RJ

Mosteiro de São Bento (RJ)

 

 

Catálogo dos Órgãos no Brasil

Um dos objetivos da Associação Paulista de Organistas é coletar e reunir informações sobre os órgãos existentes em nossa cidade e país. O catálogo dos órgãos no Brasil, elaborado por Dorotéa Kerr, só foi possível graças à participação e trabalho de organistas membros da APO. O Catálogo, completado em 1985 descreve 22 órgãos em todo o Brasil, fornecendo informações sobre disposição de registros, tamanho, estado de conservação e histórico. Além de ser um manual útil para organista, esse levantamento possibilita um melhor conhecimento do nosso acervo nessa área.

O mais antigo órgão de que se tem notícia está na Capela Nossa Senhora do Rosário, em Embú, antiga missão de jesuítas criada no século XVI para ensino dos índios. Com a expulsão dos jesuítas em 1791 e a conseqüente destruição de boa parte dos documentos e livros de registros dessa Ordem, muito pouca informação se pode colher sobre esse pequeno órgão de um teclado e apenas 5 registros. Ignora-se sua procedência e data de construção, mas pode-se supor ter sido construído lá mesmo, por algum jesuíta, por volta de 1650. Este órgão foi restaurado em 1984-85 e está funcionando naquela igreja.

Órgãos ainda datados do período colonial são encontrados em Minas Gerais. Em 1752 foi enviado de Portugal o órgão da Catedral Nossa Senhora da Assunção de Mariana, que segundo pesquisas recentes, foi construído por Arp Schnitger, o mais famoso construtor de órgãos da Europa nos séculos XVII-XVIII.

Trata-se, por tanto, de um órgão barroco, mas construído por Arp Schnitger segundo os padrões portugueses - originalmente o órgão não possuía pedaleira, o que era norma nos órgãos portugueses da época. Com a restauração desse instrumento realizada em 1984 pela firma von Beckerath de Hamburgo, Alemanha, uma pedaleira de 27 teclas foi instalada, o que permite a execução de um repertório musical mais abrangente.

Com uma bonita fachada pintada em ouro e prata em pó, é o órgão da Igreja Matriz de Santo Antônio, Tiradentes. Inaugurado em 1788, esse órgão foi encomendado em Portugal pela Irmandade do Santíssimo, e montado em Tiradentes pelo Padre Antônio Neto da Costa. Esse órgão consta de apenas um teclado, sem pedaleira. Restaurado em 1982 por uma firma alemã, está hoje em funcionamento naquela cidade.

Ainda do período colonial merecem ser mencionados os órgãos do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro e da igreja de Chagas do Seráfico Pai São Francisco em São Paulo. O primeiro, conhecido como o dragão da Coroa, porque construído dentro de uma caixa encimada por uma coroa, foi construído em 1773 por Agostinho Rodrigues Leite, importante fabricante de órgãos de Pernambuco no século XVIII. Atualmente, do órgão original restam alguns tubos do registro de Principal da fachada e as trombetas horizontais. Depois de sucessivas reformas e acréscimos de registros, esse órgão atualmente conta com 4 teclados e pedaleira, e cerca de 32 registros. Sobre o segundo órgão mencionado, em São Paulo, muito pouco se sabe. É um instrumento de apenas um teclado com 7 registros e que deve datar do final do século XVIII.

A vinda da família real portuguesa em 1808 e abertura dos portos às nações amigas, inauguram uma nova era na vida econômica brasileira, que se refletiu também sobre a construção de órgãos. A partir de 1810, comerciantes ingleses começaram a se instalar principalmente no Rio de Janeiro, e a partir de 1826 tais vantagens também foram estendidas à França e outros países. Missões de artistas, importação de músicos, divulgação da música européia, as primeiras impressoras e lojas de partituras inauguram-se a partir desse período. Não é de se estranhar, portanto, que a maior parte dos órgãos instalados a partir desse período tenha vindo principalmente da França, Inglaterra e Alemanha.

Da Inglaterra viram órgãos para as Igrejas Anglicanas de Niterói, São Paulo, Laranjeiras (SE), Recife, entre outros, Geralmente, eram órgãos pequenos, de um só teclado, sem pedaleira, conforme eram construídos na Inglaterra no século XIX.

Da França foram importados órgãos maiores do mais célebre construtor de órgãos da Europa do período Romântico: Aristides Cavaillé-Coll. Entre 1852 e 1900, 12 órgãos Cavaillé-Coll foram instalados no brasil, em Belém do Pará, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo. Eram órgãos do tipo exportação e produzidos então segundo as exigências das novas idéias econômicas - em série e padronizados.

Em São Paulo, um dos órgãos Cavaillé-Coll se encontra na Igreja São José do Ipiranga. Possui 2 teclados, pedaleira e 13 registros. Outros exemplares como esse podem ser encontrados em Itú, Lorena, Jundiaí, Salvador (BA), Rio de Janeiro. Na catedral de Campinas esta instalado desde 1883 o maior Cavaillé-Coll do estado de São Paulo, com 14 registros, 2 teclados e pedaleira. O maior deles, entretanto, está em Belém do Pará, infelizmente totalmente destruído.

A partir de 1925 houve um ressurgimento na construção de órgãos nacionais, incentivado pelas colônias alemãs e italianas, notadamente no sul do pais. Alguns organeiros vieram como imigrantes, outros vieram a chamado de igrejas e aqui acabaram por se instalar. Muitos vieram da Alemanha, como Gottholdo Budig, que montou o órgão da Igreja de Santa Cecília em 1914. Um dos mais atuantes construtores do período foi Carlos Moehrle, que trabalhava na Walcker, (grande fábrica de órgãos na Alemanha desde o século passado). Junto com Guilherme Berner, construiu muitos órgãos no Rio de Janeiro, em São Paulo, como por exemplo o órgão da Igreja do Calvário, em 1948. Este órgão possui 3 teclados e pedaleira; sua fachada e disposição dos registros foram projetadas pelo Prof. Angelo Camin.

Outros nomes merecem ser lembrados, como Henrique Lins, que veio da Áustria, e construiu vários de pequenas proporções em cidades como São José do Rio Preto, Avaré, Laranjeiras, Campinas. Edmundo Bohn, filho de alemães, que instalou uma fábrica de órgãos e harmônicos em 1934 em Novo Hamburgo (RS), e que construiu cerca de 80 órgãos por todo o país. O último foi construído em 1972 para a Universidade Católica do Salvador (BA). Os órgãos Bohn são instrumentos de dois teclados e pedaleira, planejados principalmente para atender às necessidades do serviço litúrgico.

Os italianos também fizeram-se representar. O mais atuante foi Giuseppe Pertillo, que descendia de uma família de organeiros de Nápoles. Entre muitos instrumentos construiu os órgãos da igreja da Consolação e Igreja Imaculada Conceição em São Paulo.

Entretanto, essa atividade de construção de órgãos não conseguiu se expandir, em parte por não contar com medidas legais e financeiras de apoio e por sofrer concorrência da importação de instrumentos, que até a década de 60 foi bastante estimulada.

Vigessi & Bisso, Balbiani, Tamburini foram as marcas italianas preferidas, principalmente por influência do maestro Furio Franceschini, então organista da Catedral de São Paulo. A moda era construir instrumentos gigantescos (em toda a parte era assim também), com muitos recursos e aos quais se pretendia usar todo o repertório musical para órgão.

O maior de todos esses órgãos, e atualmente fora de uso, está na Igreja Nossa Senhora Auxiliadora de Niterói, com mais de 11.000 tubos, 5 teclados e fabricado por Tamburini (1956). O da Catedral da Sé de São Paulo, instalado em 1954, é também bastante grande com 5 teclados, 120 registros e foi fabricado por Balbiani & Bossi.

Ainda Tamburini é o órgão da escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, instalado em 1954, com 4 teclados, 64 registros. O órgão do Teatro Municipal de São Paulo, também Tamburini, com 4 teclados e 5.827 tubos, foi o último órgão de grandes proporções a ser importado, em 1968.

O segundo grupo na preferência das igrejas foi o dos órgãos alemães, principalmente da Fábrica Walcker, cujo melhor exemplar encontra-se no Mosteiro de São bento em São Paulo, instalado em 1956. Esse órgão conta com 4 teclados.

Desse Mosteiro também foi o órgão que hoje se encontra na Igreja Nossa Senhora de Fátima, um Gebruder Spaethe, 1908, já várias vezes reformado e aumentado. Estudar a história do órgão no Brasil é uma tarefa que ainda está por se fazer. Existem muitos órgãos, já existiram mais, mas pela ausência de manutenção e por condições climáticas desfavoráveis no entender de alguns, esses instrumentos acabaram danificados e perdendo-se. Por outro lado, as reformas e restauração de muitos instrumentos, significaram sobretudo ampliação e modificação do original, mas não um acréscimo de qualidade. E os problemas decorrentes dessas alterações acabaram por ocasionar, na maioria dos casos, mais freqüentes exigências de manutenção. Por outro lado, a modificação ocorrida na liturgia da Igreja Católica desde o Concílio Vaticano II tirou do órgão seu espaço de atuação mais tradicional e efetiva.

A construção de um órgão de tubos, pelo seu alto custo e por todas suas ampliações estéticas sempre exigiu uma grande soma de esforços por parte das Igrejas e comunidades. Os órgãos, como os edifícios das Igrejas, representam um patrimônio social e cultural que ultrapassa o domínio religioso, para se tornar uma parte da história cultural dessa cidade.

 

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