Um pouco de História
Em 1996, por iniciativa e apoio do jornal Pirâmide Cultural, iniciou-se um projeto de ensino de música com nível de qualidade semelhante ao que de melhor existe nesta área e dentro do padrão internacional. O projeto destinou-se às pessoas que jamais teriam condições da aprendizagem musical ou de terem acesso a graus de aculturamento mais sofisticados, a prática da música foi o veículo para se atingir este objetivo.
Com uma visão pragmática escolhe-se o violão como instrumento de base para colocar-se o projeto em andamento. A escolha não foi por acaso: foram levados em consideração a popularidade do instrumento, sua portabilidade e principalmente seu custo e/ou facilidades de obtenção, pois a população que se atingiu foi de pessoas sem condições econômicas para adquirir instrumentos mais caros.
O projeto teve um bom nível de aceitação e de procura e em seu primeiro ano reuniu mais de cinqüenta pessoas que passaram a ter aulas regulares semanais, atingindo um progresso substancial no conhecimento sobre música.
Infelizmente, após um ano, o jornal não pode continuar dando apoio ao projeto pois teve de mudar sua sede e não havia mais espaço físico disponível para continuidade das aulas. Os alunos foram então transferidos para o Espaço Cultural Tendal da Lapa, onde foi criada uma oficina para ensino de violão e onde outras pessoas foram integradas. Foi então criado um coral para complementar o processo de aprendizagem musical. No segundo semestre deste mesmo ano (1997), já havendo um grupo de alunos que demandavam a evolução do trabalho foi criada uma orquestra de violões.
Mas ao mesmo tempo em que o projeto cresceu surgiram os problemas. O primeiro deles foi a falta dos equipamentos para o avanço pedagógico, lousa pautada onde se pudesse expor as matérias teóricas, estantes e apoios para os pés a fim de colocar os alunos dentro da postura técnica, etc..
Optou-se por não se ficar refém da vontade ou da política cultural da SMC (Secretaria Municipal de Cultura), e em vez das reivindicações reclamativas, partiu-se para as auto-soluções. A lousa foi confeccionada, os apoios e as estantes também, tudo feito em mutirão com madeira velha que veio do lixo e das caçambas. Os participantes cooperaram trazendo pregos, martelos, alicates e outras ferramentas velhas e enferrujadas, que foram devidamente recuperadas e que serviram nessas tarefas. Todos ficaram orgulhosos com os resultados obtidos.
Neste embalo foi criada uma pequena oficina de lutearia (reparo e construção de instrumentos), pois só com os instrumentos em boas condições de funcionamento é que se poderia exigir a evolução dos alunos. Esta oficina foi o elo final para o projeto, pois deu a este um grande alcance social. Muitas pessoas pobres que são moradores da periferia puderam entrar no projeto e não tendo condições de adquirir um instrumento que custa um salário mínimo, trouxeram violões, cavaquinhos, guitarras, etc., completamente mutilados e achados no lixo. Estes instrumentos foram então restaurados, o que propiciou a aprendizagem de muitos dos alunos.
O passo seguinte foi a confecção de todos os gabaritos e dispositivos para a construção de instrumentos dentro do projeto.
Em maio de 2000 o projeto completou 3 anos funcionando dentro do Tendal, já eram 350 participantes e um outro tanto deste, aguardando uma vaga para poderem entrar.
Agora o projeto volta-se para a diversificação para outros instrumentos e para a ecletização da orquestra e do coral agregando-se outros tipos de cordas (cavaco, bandolim e baixo), flautas doces e um naipe de percussão. O coral já canta em 4 vozes.
O que se pode concluir é que o ensino da arte e da cultura do Brasil é apenas oferecido e aproveitado por classes mais privilegiadas, pois boas escolas custam caro, livros e instrumentos também, deixando à margem os menos favorecidos pela sorte que tem que se contentar com a mediocridade ou com a pedagogia de banca de jornal.
Com 500 anos de idade, o Brasil vive no século XXI ainda o ranço da época da colonização, onde a grande massa da população ainda tem o estereótipo da ignorância e do estado de ansiedade por deixá-la.
Não adianta ficar reclamando ao poder político por soluções. É preciso atitudes como este  projeto que nos mostra que basta um pouco de boa vontade e orientação para que dentro das comunidades se encontrem caminhos para o desenvolvimento sócio-cultural.
Maestro Valter Campelo
VOLTAR