"AO VOLANTE" - Novo editorial mensal do VW BRASILIA WEBSITE
Foto: The Image Bank
MAR/2005
"Quanto vale, doutor?"
Novo ano, novas reflexões. Deve ter gente pensando que eu nunca vou alterar a chamada do editorial de "mensal" para "esporádico", como vem sendo de fato... mas calma lá, eu ainda sonho em poder fazê-lo mensal. (risos)
Brincadeiras a parte o tema da vez é algo muito sério, e que já havia sido dado um "toque" aqui em editoriais passados: a valorização da Brasília. Só que desta vez, não será só a minha opinião para convencer o público desse causo. Já não é raro encostar uma boa Brasília num posto de gasolina e logo escutar uma do frentista: "Quanto vale, doutor?". Se o carro está perfeitamente restaurado, e original, e você diz o preço... é melhor abrir seu "acervo" de explicações. As pessoas não acreditam. (Brasília é "tudo igual"... é???)
Há um bom tempo que conheci o colega Rui Pacheco Bastos, de São Paulo capital, que como não poderia deixar de ser, além de gostar de carros, possui também uma Brasília (que estará em breve nas galerias). Eu e o Rui sempre estamos trocando boas idéias sobre carros, Brasílias, indústria, mercado, restaurações, e o que mais "der na telha". Foi quando o próprio Rui me comentava uma constatação muito verdadeira nos ultimos tempos: por onde andam as Brasílias? Não aquelas "marrom-enferrujadas", sem documentos e queimando óleo, que assombram nossas ruas e estradas, mas sim as muito queridas, aquelas que alguns dedicados donos cuidam com carinho, respeitando sua importância na história.
Pelo jeito nem nos encontros de carros antigos elas estão (ou quase não estão). Por isso, desta vez, o editorial quem manda é o Rui:
O que podemos chamar de um
carro raro? Uma relíquia?
A princípio todo veículo
que conseguiu chegar aos 20/25 anos, em condições de originalidade quase
intocada e em bom estado de conservação, já pode ser considerado um carro a
caminho dessa raridade. Aquele que, chegando aos trinta anos, já pode receber a
cobiçada placa preta.
Pois bem: há pouco tempo,
participei do encontro de veículos, no estacionamento da fábrica da
Volkswagen, que comemorou o Dia Nacional do Fusca. Lá, tive a oportunidade de
ver cerca de quinhentos veículos, sendo que a grande maioria - como não
poderia deixar de ser, eram Fuscas. Especificamente com relação às nossas
Brasílias, não passavam da primeira dezena. As Brasílias, alguns TL, Variant
e Zé do Caixão se destacavam naquele mar de Fuscas.
Um olhar mais crítico não
poderia deixar de reparar que, daquelas menos de dez Brasílias que ali estavam,
apenas umas duas teriam condições de receber a placa preta. As demais já
estavam muito descaracterizadas, assim como a maioria dos carros que ali
estavam.
Apesar de alguns
colecionadores ou “entendidos” na matéria torcerem o nariz para a Brasília,
não tenho dúvidas em afirmar que ela será, em muito pouco tempo, considerada
- e respeitada – um raro exemplar da indústria nacional. A velocidade
com que está desaparecendo, fará dos sobreviventes veículos muito procurados
e até mesmo disputados.
Portanto, essa é mais uma
razão para tratarmos nossas Brasílias com muito carinho e atenção, pois
estaremos no mínimo fazendo um investimento num produto com retorno garantido.
Ela será sim considerada um carro raro e verdadeira relíquia, por tudo que
representou para a história da Volkswagen do Brasil e da indústria nacional.
Falei em placa preta lá
no início. Não posso deixar de mencionar uma certa decepção que tive nesse
encontro ao ver que alguns Fuscas totalmente modificados ostentavam a tal placa.
Seja porque não houve critério na avaliação do veículo, seja pelo fato de
que ele pode ter sido modificado após ter recebido a placa preta, o fato é que
não existe uma fiscalização sobre esses veículos.
Se algo não for feito, logo a placa preta perderá a aura e a importância que hoje a ela se atribui, para passar a ser uma peça desacreditada e sem valor.
Rui Pacheco Bastos, São Paulo-SP
Pois bem, aí estão sábias palavras de quem no mínimo observa a realidade. Preservar as Brasílias é um ato de respeito, uma demonstração de conhecimento do tema "automóvel nacional". Poderia ir muito mais fundo discursando neste tema, voltar a mencionar que se os poucos carros sumirem, logo também ficará cada vez mais difícil mantê-los (somem as peças). Fuscas sempre existirão, e peças para eles também. Mas Brasílias...
Outro ponto que vale ressaltar é a tão falada placa preta, tão cobiçada por alguns "entendidos" em antigomobilismo mas que também anda tão sem critério nos últimos tempos. Alguns aspectos podem (e devem) ser flexiblizados, seja em função da segurança do carro e seus ocupantes, seja por uma questão de impossibilidade de manter alguns padrões originais. (E não é exagero: pneus radiais, ignição eletrônica, alarmes, etc).
Mas fica a reflexão: algo só tem valor se é tratado como algo de valor. Não adianta querer preservar uma Brasilia descaracterizando-a totalmente, assim como não adianta pleitear uma placa preta sem cumprir os requisitos mínimos impostos de igual modo a todos os interessados.
Um grande abraço, e até a próxima!
Rafael
P.S: Quer colaborar nos próximos editoriais? Então, escreva seu tema e vamos analisar a idéia!
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