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studs lonigan - uma alma em pecado Walter Lima Jr. Correio da Manhã, 28/06/1961 Studs Lonigan não é um herói, é um homem moderno. Nele se encarna todo um complexo de impotência e medo diante do mecanismo social. Um homem isolado, sem esperança, distante de toda e qualquer espiritualidade, ele sente a sua inutilidade a cada momento. Não há em Studs uma dose sequer de ambição. Ele é um destruído. Desde o berço, as condições materiais que o viram crescer não lhe eram favoráveis. O pior é que ele sabe disso, malgrado a sua ignorância e rudeza mental. O caminho mais seguro à fuga é o álcool, o torpor que poderá atenuar o tédio de cada minuto; as mulheres, que ele troca sem cessar à cata de uma emoção mais forte, puramente sensual; o jogo, onde ele poderá provar realmente a sua capacidade; a vadiagem, a absoluta despreocupação no cumprimento das convenções sociais: a ousadia de ser um parafuso frouxo dentro da máquina. Mas, para ele como para todos nós, os dias passam, os amigos morrem e a vida já não tem a graça de outrora. E, no entanto, é preciso continuar vivendo. O Studs Lonigan de James T. Farrell está ligado à galeria dos grandes personagens da literatura norte-americana. Herdeiro legítimo da revolta de Dreiser, J. T. Farrell procura dar em sua trilogia (Young Lonigan, 1932; The Young Manhood of Studs Lonigan, 1934; Judgement Day, 1935) a idéia de vivência em cada personagem. A ação passa-se na década dos vinte, na zona sul de Chicago, num bairro pobre onde irlandeses-americanos vivem uma existência medrosa e incerta. A família Lonigan, pouco remediada como quase todas dali, deixou a Irlanda para conquistar a América. A decepção de uma nova realidade deixa-os à parte do confortável mundo progressista dos donos de Chicago. Desmoralizada a fibra da família, quebrado o primeiro encanto, advém uma decepção sem limites. Vítimas da negligência do Estado, os Lonigan (aqui simbolizando toda uma “casta” americana, a dos desprivilegiados), mesmo irlandeses (católicos) perdem a fé em Deus. No entanto, o hábito de ir à missa, da confissão, de acreditar numa força superior, conserva-os presos à batina do padre. Contudo não há mais em quem ter fé. A equipe, Irving Lerner Adaptar Studs Lonigan era trabalho para o qual Hollywood e todo o seu aparato técnico não estava preparada. Os compromissos da arte cinematográfica com a indústria e seus magnatas não permitiam, numa versão honesta, crítica tão severa ao regime capitalista. Dois competentes homens de cinema conseguiram o milagre: Phillip Yordan e Irving Lerner. Do primeiro, o cinéfilo já se habituou a ouvir o nome e a pronunciá-lo com respeito. Irving Lerner, porém, é ainda desconhecido como um verdadeiro realizador de filmes. Vindo do documentário, onde trabalhou como cameraman de Flaherty em The Land e montador de Van Dyke em Valley Town, Lerner participou da guerra em companhia de Robert Riskin e Phillip Dunne no O.W.I. Overseas Branch, um dos melhores núcleos produtores de filmes curtos, para o qual realizou A Place to Live (1941), sobre Toscanini, e o irônico Muscle Beach. Phillip Yordan deu-lhe a primeira oportunidade no cinema de longa metragem, A Tragédia de um Erro (Man Crazy; 1953), a fita que inaugurou uma nova etapa na carreira de Yordan, a de produtor-independente. Realizado com recursos modestos em apenas 16 dias (11 para o essencial da ação e 5 para o resto), Man Crazy surpreendeu grande parte da critica internacional como um estudo sério e realístico da influência do dinheiro nos jovens. A 20h Century Fox, que comprou os direitos de sua distribuição, cumpriu o contrato exibindo-o em uma cadeia internacional de “poeiras”. Só cinco anos mais tarde Lerner voltaria a dirigir, dividindo a autoria de Edge of Fury (maio de 1958) com Robert Gurney Jr., também cenarista. Pouco se sabe a respeito desse filme que a U-A não chegou a trazer ao Brasil. Nesse mesmo ano, Lerner trava contacto com Leon Chooluck, para o qual dirigia dois thrillers bem aceitos pela crítica: Cilada Mortífera (Murder by Contract; janeiro de 1959) e Pânico que Emudece (City of Fear; fevereiro de 1959). Vendidos à Colúmbia por 125.000 dólares cada um, foram desperdiçados em programas duplos de cinemas de segunda linha. Inativo novamente, Lerner aceita ser diretor de segunda unidade de Stanley Kubrick em Spartacus, para o qual também supervisionaria a montagem. Por essa época, Yordan, associado a Chooluck, o convida para dirigir Uma Vida em Pecado (Studs Lonigan). Lonigan e Gantry Em interessante reportagem da revista “Sight and Sound” (outono de 1960, volume 29, no. 4), Albert Johnson estabelece um paralelo entre Studs Lonigan e Elmer Gantry. O primeiro, realizado dentro de um orçamento inferior às suas pretensões, com um elenco de atores desconhecidos, foi orientado dentro de um critério realmente cinematográfico; Elmer Gantry, superprodução colorida com um elenco de estrelas de Hollywood, vacilava entre a literatura e a linguagem do cinema. Lerner e Yordan procuram em seu filme o espírito da novela. Para isso, concentraram toda a revolta do original nas intenções de Farrell ao escrever o livro, segundo o testemunho do autor no escandaloso julgamento da obra. É ainda importante o fato de Lerner ter sido influenciado pelo Fellini de I Vitelloni, não só pela temática felliniana: a falta de comunicação entre os homens, como também, e mais notadamente, pelo clima nostálgico do filme. Em Studs Lonigan, Lerner, ao observar a conduta dos personagens de Farrell, despoja-os quase sempre do inevitável, das cadeias que os atém ao meio social. Assim, à maneira dos “vitelloni”, Studs (Christopher Knight) e seu bando adquirem uma nova dimensão humana, de intensa força interior. Com a ajuda de uma câmera de mão, Lerner e seus colaboradores, J. Arthur Fendel (diretor de fotografia) e Haskell P. Wexler (consultor fotográfico e assistente da produção), conseguiram transmitir a fúria intestina do anti-herói Lonigan. E, às vezes, obter dos “efeitos especiais”, departamento tão vulgarizado pela maioria da produção internacional que nos chega, a visão do mundo através dos olhos de Studs. O escritor e o filme Antes mesmo de ver a fita, J. T. Farrell denunciou em carta ao The New York Times que Yordan enfraquecera o caráter social de sua novela. Não resta dúvida de que a dupla Yordan & Lerner não quis fazer um filme de choque. Se o fizesse, estamos certos, o resultado seria bem diferente, vide o já citado Elmer Gantry, onde as íntimas relações com a literatura (de Lewis e Brooks) comprometem o filme com a técnica da narrativa cinematográfica. Adotando um inteligente critério de interpretação, Studs Lonigan carecteriza nos gestos e falas de seus personagens as intenções do autor: Studs, após assistir a um filme de gangsters, sente-se, ele próprio, um fora-da-lei, inclusive imitando a pose do astro em cartaz à porta do cinema. Entre os personagens, apenas quatro são discutíveis, embora fascinantes: Miss Julia Muller (Helen Westcott), ex-professora de Studs, inexistente no original, cuja presença todavia é plenamente justificável. Segundo o próprio Lerner, ela representa a consciência de Studs, em três estados: a inquietação da adolescente, o irrefreável prazer sexual (magnifíca seqüência do “strip-tease” visualizado por Studs) e a lucidez diante da incerteza dos dias que virão; o padre Gilhooley (Jay C. Flippen) é um personagem a discutir. A força anticlerical do livro, de fato, é diluída na adptação cinematográfica, o que em nada prejudica a unidade de tom: todas as mulheres violadas pelo bando de Studs são de vida fácil e não católicas. A participação do padre é válida psicologicamente. Ele é a religião, a consciência mística ancestral. Se seus conselhos não resolvem o problema, também não fazem mal algum. Studs voltará sempre a ele, a cada minuto de desespero, pois sua confiança é correspondida. Ele é também a paz e a fé que faltam no mundo exterior; Mrs. Lonigan (Katherine Squire), a mãe, é a própria imagem do egoísmo doméstico, alheia à verdade social, humana mas medíocre, embora sua importância tenha sido diminuída; Lucy Scanlon (Venetia Stevenson), uma depuração de certas imagens literárias de Farrell, é a namorada, figura distante que se entrega ao bem-estar da sociedade, deixando Studs desiludido para sempre com a felicidade perdida. Como o agoniado herói de Ibsen, ele clama pelo sol, num último apelo à verdade das coisas, tentando provar a si mesmo que nem tudo são trevas. |
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