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o túmulo do sol
Walter Lima Jr.

Tribuna da Imprensa, 02.09.1961

O calor, o suor, a miséria e toda uma cadeia de acontecimentos trágicos escravizam os favelados de Osaka. São figuras negativas de um mundo politicamente caótico, produtos de sucessivos desencantos e sufocados pelas contingências sociais, que se entregam ao crime, à força bruta, à lei da selva para sobreviver.   

O Túmulo do Sol (Tiio no Hakaba) nos revela um grande estilista em Naguisa Oshima, jovem realizador da “nouvelle vague” japonesa. Sua visão do mundo moderno é dantesca, estabelecendo um paralelo da miséria humana de nossos dias com as figuras disformes de Goya, inclusive pela sua observação lírica do inevitável e pela pureza de sua simbologia alegórica: a presença eterna da natureza (o Sol), envolvendo os desatinos da humanidade ou purificando no final de um pesadelo vivido com o fogo apocalíptico.

É uma grande realização do cinema japonês, infelizmente distante do nosso sentido de observação, do nosso público.

Dois bandos de marginais de Osaka procuram viver à sua moda, industrializando o sangue dos operários na fabricação de cosméticos. Contudo, as dificuldades de manter essa terrível modalidade de exploração forçam-nos a se unirem na prática de chantagem ou no comércio clandestino de identidades. O ambiente em que vivem é opressivo e gera, fatalmente, a facilidade do crime. A princípio explorando a vida humana (lenocínio, entorpecentes), eles passam a ser consumidos por ela. É o eterno bumerangue, é o sol que a tudo assiste e que em forma de incêndio purificará a favela e todos os atos nela praticados. E uma nova e terrível etapa se inicia.

As imagens de Naguisa Oshima são magistrais. Geralmente avermelhadas, sujas de sangue humano, elas formam um surpreendente painel negro da vida de seus personagens.
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