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NETA MELLO
Maria Antonieta Figueiredo Mello


LIVRO

Biografia

Meu nome inteiro é Maria Antonieta Pereira de Almeida Figueiredo Mello mas a família e os amigos me chamam Neta (com e fechado). Um nome assim tão comprido parece de rainha e como não pretendo ser guilhotinada tão cedo prefiro mesmo o apelido...

Nasci em São Paulo em 1954. Apesar do caos da cidade, da insegurança, gosto de morar aqui. Morei até casar no bairro do Sumaré que tinha ainda ruas de terra e uma tranqüilidade hoje impossível. Passei minhas férias de infância na fazenda de meu avô materno no interior do Estado e na casa de Santos de minha avó paterna. Tenho quatro irmãos e muitos sobrinhos dos dois lados. Sou casada há 27 anos. Tenho cinco filhos, três homens e duas mulheres entre 24 e 15 anos.

Sou formada em História pela PUC-SP e com Pós-graduação também em História. Trabalhei como professora de História e Atualidades em colégios particulares. Atualmente trabalho como voluntária em projetos ligados à educação. Tenho a convicção de que o maior bem que podemos deixar aos filhos é a educação. Brinco com eles que só levamos o que temos na cabeça e no coração. O resto são bens materiais e esses não duram para sempre...

O historiador inglês Eric Hobsbawn fala em seu livro Era dos Extremos: "quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. O historiador é aquele que lembra o que os outros já esqueceram".

Aprendi com meus avós a respeitar o passado, dar valor às histórias da família, da cidade. Aprendi também a ver o presente com olhos de historiador sem esquecer minhas raízes e tentando deixar para os filhos um pouco do que fomos e somos hoje.

Guardo na memória as noites de inverno na fazenda em que minha mãe lia para os filhos empoleirados na cama de casal, os livros de Monteiro Lobato e muitos outros autores. Fiz o mesmo com meus filhos. Cada um tinha um livro preferido. Alguns da Ruth Rocha, Ana Maria Machado e tantos outros que não me lembro mais. Sabiam vários livros de cor. E pediam sempre a mesma entonação, nada de contar rápido ou tentar pular um pedaço!

Ainda não tenho nada publicado. Algumas crônicas e poesias são usadas em trabalhos pedagógicos por amigos professores e orientadores educacionais. Outras fizeram parte de um jornal da Internet, o ROL.

Meu texto de apresentação é "Pode ser moleque?", um pouco do que fui e do que sou.


PODE SER MOLEQUE?

Ouvir conversa de gente grande antes não podia. Agora não pode o contrário. Meu pai falou para um tio desses que não são tios de verdade mas amigos de sempre: "minha filha é muito moleque, não gosta de usar vestido nem de brincar de boneca. Não é muito feminina." Era eu.

Aquilo ficou muito tempo na minha cabeça. Não podia dizer que tinha ouvido tudo. Que era feio escutar, não era? E era feio menina ser moleque? Por que é que eu tinha que usar vestido? Não eram vestidos de brincar que parece que menina só podia ser comportadinha. Sentar de costas bem retas, os pés bem juntinhos. Rendinha que pinica o pescoço e um tal de organdi e saia rodada. E o cabelo todo puxado num rabo de cavalo com lacinho de fita. Isso era ser feminina. Uma droga. Menina não é enfeite nem boneca dessas que ficam na prateleira do quarto com a mãozinha dura e olhos arregalados.

Bom era jogar futebol no quintal. Mas nunca criei coragem pra pedir uma chuteira. Jogava de keds bamba de cano alto que também era coisa de menino. Andar de bicicleta na pracinha. E descer aquele asfalto lisinho num carrinho de rolemã de madeira. Sem breque, daqueles que a gente faz as curvas com os pés. Só parava em frente de casa no final da descida. O vento no rosto, o cabelo todo despenteado. Jogar bolinha de gude na calçada, o bolso da calça até gordo. Bater bafo com figurinha de futebol. A mão toda suja de terra, não podia lamber pra grudar as figurinhas não. As carimbadas não entravam no jogo e se entravam valiam um belo montão. Só quem jogou é que me entende. E tinha mocinho e bandido com cavalo de cabo de vassoura. Tinha Roy Rogers falando inglês. O cachorro virava o Rintintin. Corda pra amarrar os bandidos com lenço do papai no rosto cobrindo o nariz e a boca. Subir em árvores até fazer calos nas mãos. Poder falar um palavrão...

Nem por um decreto deixei de ser moleque. Virei moça como queriam. Mas só por fora. Me apaixonei. Me casei. Tive filhos. Foram todos moleques. Andaram de pé no chão. Tomaram banho de esguicho. Tomaram chuva de verão e muito sorvete de sujar bem a roupa. Estouraram muita pipoca de queimar o fundo da panela. Fizeram corridas de bicicleta que renderam muitos tombos e pontos na testa, no queixo. E meninos e meninas brincaram de boneca e jogaram futebol com chuteira e caneleira. As meninas nunca usaram brincos, só depois que cresceram. Claro que usaram vestidos, alguns até com rendinhas. Colaram muita figurinha em álbuns de futebol. Porque acho que menino pode brincar de casinha e pode brincar de boneca. Pode também usar brinco se quiser. E por que menina não pode ser moleque?


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