Em uma ensolarada manhã tomei o bonde em Santana e segui até o ponto
final na Praça do Correio, lá tomei outro bonde até as Perdizes onde iria começar
a estudar. Era meu primeiro dia de aula, e este trajeto acabou se
transformando em uma rotina que iria marca minha vida. Me recordo que durante o trajeto permanecia atento observando os detalhes do bonde, e as ações do motorneiro. As vezes viajava em um bonde "Gaiola", este bonde aberto era o que eu mais gostava, me recordo perfeitamente do som das rodas de ferro correndo nos trilhos, do som da carretilha deslizando no cabo elétrico, do cheiro característico do centelhamento dos motores e carretiha. (O Bonde é ecológicamente correto, libera ozonio que purifica o ar). O que mais me marcou, era a suave brisa do ar fresco da manhã batendo em meu rosto. É indescritivel narrar como era andar de bonde em uma São Paulo limpa e arborizada. Do bonde a visão era privilegiada e durante o trajeto ia reparando nos detalhes da arquitetura dos prédios públicos, Ruas, fontes, estatuas, vitrais e viadutos. Isto me fascinava, com certeza deve ter sido neste momento que nasceu minha paixão pela Iconografia Paulistana . No período da tarde costumava frequentar a estação do Trem da Cantareira que ficava perto de casa, e ficava observando os detalhes das locomotivas, e composições, que permanecem presentes em minha memória. O bonde e o trem fazem parte da minha vida, desta longa convivencia houve uma interação muito forte. Mas a interação iria aumentar. Uma noite após o jantar ficou acertado que meu pai meu irmão e eu, iríamos construir um pequeno motor a vapor. Ávido acompanhei o projeto, confecção dos modelos, fundição, usinagem, montagem e o funcionamento deste motor. Mais tarde construímos um motor a gasolina (funcionou bem). O tempo passou e a cidade de São Paulo não tinha mais bonde ou trem. Comecei a colecionar literatura sobre bondes e trens. E meu hobby passou a ser um trinômio Iconografia Paulistana, Bondes e veículos a vapor. Mas eu queria aprender mais sobre motores a vapor e locomotivas, e fui estudar a construção de locomotivas e motores a vapor nos Estados Unidos em uma faculdade aberta. Este curso de engenharia de locomotivas e motores a vapor, fez aumentar ainda mais a minha admiração por esta tecnologia. Sei que esta mania não tem cura, e não tem fim. O tratamento é conviver com estas maquinas. E é devido a este fato que continuo estudando a História e a Iconografia Paulistana, Bondes , ferrovias e motores á vapor. O MOTOR A VAPOR Veículos com motor á vapor foram fabricados por 300 anos, em grande quantidade e diversidade de tipos e modelos. Fabricados em maior quantidade foram: automóveis, caminhões, tratores e locomotivas. Dos mais de 900 fabricantes de automóveis a vapor que existiram, ainda resta um, onde é possível por U$ 22.000,00 sob encomenda se obter um automóvel modelo esportivo, cupê conversível com motor a vapor de três cilindros e 120 cavalos. Das centenas de fabricas de Locomotivas á vapor, restou uma na China que ainda fabrica locomotivas a vapor. Atualmente ainda são fabricados, grandes motores á vapor, por não existir outro tipo de motor que tenha 350 000 HP, potencia necessária para levar gigantescos Submarinos e Porta-Aviões a altas velocidades. Estes motores são turbinas a vapor com aquecimento por queima de óleo, ou nuclear (Combustível que dura vários anos, sem reabastecer). Do vapor, foi isso que restou.... Vale lembrar que antes de 1885 não existia outro tipo de motor que não fosse movido a vapor. Todos os veículos eram movidos por motores de combustão externa (*), ou seja motores á vapor. (*) Motor de combustão externa são os motores onde a queima do combustível ocorre fora do motor. Em 1885 surgem os motores de combustão interna (Motor a gasolina), na fase inicial do motor a gasolina de 1885 até 1910, este motor tinha sérios problemas para entrar em funcionamento. Pela manhã com o motor frio, era necessário primeiro se avançar (por tentativa) o magneto, depois (por tentativa), tinha de se acertar a mistura ar/combustível (Gotejador), acertar a abertura das borboletas e girar a manivela. Ritual que com uma boa dose de sorte levava horas para funcionar. No inverno estes motores não pegavam devido estar muito frio. Quando muito quentes paravam de funcionar e era necessário esperar esfriar. Quando em funcionamento, sofriam muitas panes e defeitos, paravam de funcionar repentinamente, e isso significava mais horas e horas de tentativas. Para complicar ainda mais a qualidade da gasolina na época variava muito, e cada uma tinha um ajuste diferente da outra. A Gasolina na época era um produto de alto custo, vendida em latas de um galão (3,75 L). Neste mesmo período os automóveis a vapor após 20 minutos de aquecimento da caldeira eram colocados em movimento sem qualquer problema. E passavam a funcionar perfeitamente durante o resto do dia. Alguns proprietários deixavam a chama piloto ligada durante a noite assim de manhã após 5 minutos de aquecimento (mesmo no inverno) o veículo era colocado em movimento. Portanto até 1910 os automóveis a vapor eram muito superiores (todos os aspectos), e funcionavam muito melhor que os automóveis á gasolina. O melhor testemunho deste fato é que todas as ambulâncias eram movidas a vapor não existiam ambulâncias com motor a gasolina, por não serem veículos confiáveis. De 1910 a 1920 os automóveis a gasolina evoluíram muito, surge a partida elétrica, carburador, e a gasolina passa a ter qualidade constante. Agora para se colocar o motor em movimento, basta apertar um botão, e o motor entra em funcionamento, e bastam apenas alguns minutos para aquece-lo. O automóvel a vapor ainda necessita de 15 minutos de aquecimento, o que virou uma eternidade para o usuário, passou a ser um tempo que não podia ser perdido. Pois em 15 minutos muitos já haviam chegado ao seu destino. O automóvel a gasolina é barulhento, mas os usuários gostavam do barulho. Virou uma espécie de Status andar com veículos a gasolina. Demonstrava conhecimento e capacidade, saber ligar este motor, ecolocar o automovel em movimento. Coisa para poucos e motivo de muito orgulho. O automóvel a vapor perdeu muitos adeptos. Mas ainda tinha muitas vantagens sobre o automóvel a gasolina: Não tem pedal de embreagem, não tem caixa de cambio, não é necessário trocar marchas. O veículo é automático, como se fosse um hidramático, muito fácil de dirigir, não necessita de experiência ou treinamento para ser dirigido. Queima combustíveis mais baratos (Óleo, Querosene, Carvão etc) o custo do quilometro rodado é muito mais baixo que a gasolina. Os automóveis a vapor tem motores mais possantes, tem melhor desempenho em aceleração, arrancada, velocidade máxima e subida de montanha. O consumo de combustível em 1920 é igual para o s motores a vapor e gasolina, 12 a 16 milhas por galão (De 5 a 7 Km/l.) Mas o óleo ou querosene é muito mais barato que a gasolina. De 1920 a 1930 0corre o declínio do automóvel a vapor, embora o mesmo continuasse com motores mais possantes de 80 a 100 HP, (o motor a gasolina atinge isso somente depois de 1930).. O automóvel a vapor tem uma durabilidade muito mais alta, não tem vibrações, em velocidade máxima seu motor gira apenas 1200 RPM, quando o carro para, o motor para. O motor tem menos péças, menos desgaste, menos manutenção. O motor a vapor é silencioso, nos veículos com condensador um litro de água é suficiente para rodar 200 quilômetros. Consome um litro de óleo lubrificante a cada 3000 quilômetros. Consome um litro de combustível a cada 12 Km. Em 1930 automóveis á vapor Doble, eram colocados em movimento após um aquecimento de 30 segundos em pleno inverno. Os automóveis a vapor eram mais velozes, silenciosos, econômicos e confortáveis. apresentavam melhor qualidade mecânica. Mas quem venceu o automovel a vapor foi o custo dos materiais, exemplo uma caldeira com 260 metros de tubos de aço inoxidável ou e cobre custava muito caro para ser produzida com a solda artesanal feita manualmente por um artesão. Em um determinado momento o automovel a gasolina passou a ser fabricado em linhas de montagens e o seu preço caiu pela metade do preço do automovel a vapor . A diferença era muito grande, e os automóveis a vapor foram se acabando. No final da década de 60 descobre-se que os níveis de poluição gerados pelo motor a gasolina, são cancerígenos, descobre-se que a poluição estava destruindo a camada de ozônio, estava destruindo as florestas, estava destruindo o planeta. Surgem as leis antipoluição que impõem níveis máximos de emissão de poluentes para automóveis. Em 1970, o motor a gasolina não consegue reduzir seus níveis de poluição para os niveis exigidos. Antigos automoveis a vapor são testados, e se descobre que apresentam uma emissão dez vezes menor que os níveis permitidos. Os gigantes: General Motors, Lear, Mitsubishi, Mercedes, Volkswagem, Morris, McCulloch, Honda, começam a pesquisar e constroem automóveis com motores a vapor, os quais apresentam ótimos resultados, com niveis de poluição proximos a zero. Em seguida descobre-se que a utilização de catalisadores nos sistemas de escapamento, associados a eletrônica no gerenciamento da injeção de combustível reduzem os níveis de emissão do motor a gasolina, para valores um pouco acima aos estabelecidos. Nos bastidores murmura-se, que poderosas organizações não querem a volta do automovel a vapor. Os comentarios apontam que o mesmo independe do petróleo, queima qualquer coisa, e consome menos combustivel e lubrificantes. Seu motor usa uma vela de ignição por toda sua vida útil que é de um milhão de quilometros. Não tem carburador, distribuidor, motor de partida, embreagem caixa de cambio etc. Ou seja tem poucas péças e uma altissima vida útil., e isto seria o fim da industria de auto péças. O fato é que o automóvel a vapor é guardado novamente, e não se fala mais no assunto. |
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