Momentos na vida
Fanfic escrito por Liura Sanchez Lauri codinomewolverine@ieg.com.br
Personagens: Logan , Jubileu, Jean Grey, Professor X e uma mutante inventada por
mim: Ohana.
Categoria: Censurado para quem tem a mente muito imaginativa! :D
Existem
alguns momentos na vida onde sonhar é uma necessidade. Momentos esses onde a
realidade é tão dura que sonhar pode ser a única escapatória da loucura!
A
vida de um mutante pode ser bem difícil, um pouco mais do que a dos ditos
“normais”.
Ohana
estava tendo um dia daqueles; eram apenas 11:30 da manhã e ela já havia ido
trabalhar – chegando atrasada – e acabou discutindo com o chefe e
demitindo-se, afirmando – veementemente, para se convencer - merecer um
emprego melhor, no mínimo, mais “humano”. Realmente, não era fácil ser
operadora de telemarketing de um produto falido! Ainda mais com a cota de vendas
que seu ex-chefe –bastardo!- cismava em dar para ela.
“Não
é possível que haja alguém capaz de trabalhar sob tamanha pressão! Claro que
sempre existirão os que adoram pressionar, mas encontrar algum imbecil a ponto
de subjugar-se?!” – pensava, distraída.
Ohana
é uma mutante, capaz de mover objetos e pessoas com o poder da mente –
telecinesia-, ela sabe disso, porém resolveu relegar a um segundo plano de sua
vida. Isso era útil quando estava na banheira e havia esquecido o champagne; se
estivesse sentada e quisesse um copo d’água, coisas assim, triviais, sempre
dentro de casa... até agora.
Seus
pensamentos estavam conturbados e, quando foi atravessar a rua, distraidamente,
percebe –alguns segundos antes- que um carro vai em sua direção. Seu reflexo
foi tão rápido que, instantaneamente, o carro pára a alguns centímetros dela
e é “empurrado” até o farol –a alguns metros de distância.
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Enquanto
essa cena desenrola-se, a uma certa distância, um baixinho invocado e uma
garota travavam um diálogo:
-
Então é essa a guria, hum?
-
De acordo com o que o professor captou, sim... *mas que perua!* – ela pensa
-
Nossa! – o outro comenta, enquanto acende um charuto - olha só como ela tem
controle... acho que o Charlie a subestimou...
-
Ah! Não! Você tá chamando isso de controle?... A Jean faz isso
brincando... – a garota completa, fazendo beicinho.
-
Ei, Jubi, cê não tá querendo comparar uma ruiva com outra, né? Quis dizer
que pra uma ex-telefonista ela controla muito bem... – ele completa, colocando
seu chapéu de cowboy e percebendo como Ohana passa apressada pelos dois,
tentando desvencilhar-se da multidão. Ele pôde sentir o cheiro suave de seu
perfume mesclado ao seu nervosismo.
-
Sei, Wolvi! Sei! Pela sua cara acho melhor eu falar com ela, senão você
vai atacá-la! Será possível que não pode ver uma ruiva?! – Jubileu diz,
dando claras mostras de ciúme...
-
Nada disso, guria! A gente veio junto e vai junto até o final. Além do mais,
desde quando cê toma conta da minha vida? – Logan completa, tomando a
dianteira e sendo seguido de perto por uma Jubileu emburrada.
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Ohana
estava, no mínimo, assustada! Não queria ter feito aquilo; não com tanta
gente olhando. Era perigoso ser mutante. Os debates na TV e os assassinatos
contra os “diferentes” estavam virando rotina e, mesmo diante das promessas
do chefe de polícia em tentar resolver os casos, nada concreto havia sido feito
até o presente.
Algumas
quadras depois, a ruiva entra num café; senta-se no bar e pede um duplo. O garçom
a encara por alguns segundos, como que para estar certo do pedido e, nesse ínterim,
os x-men entram, sentam-se em uma mesa e ficam observando de longe. Jubileu pede
um suco de morango e Logan uma cerveja.
O
que eles podem observar é uma mulher nos seus 27/30 anos, magra para a altura,
com a pele bem branca e os cabelos vermelhos como fogo. A roupa que vestia
deixava ver um físico até que “malhado” e também deixava claro a característica
independente da pessoa que a usava. Era um tailleur vermelho, porém ela não
usava nenhuma blusa por baixo e estava desabotoado até a altura do peito, um
sapato de salto agulha também vermelho completava o visual.
A
telecinética pede mais um duplo e percebendo que o garçom ia tentar
persuadi-la, diz:
-
Não... duplo não, apenas um “on the rocks”, ok?
-
Humpft!! Além de tudo é bebum! – comenta Jubi, maldosamente.
-
Olha, Jubi, as pessoas se comportam de maneiras diferentes diante da mesma situação...
ela tá hiper-tensa. Acho que a gente podia falar com ela agora, o que cê me
diz?
-
Eu digo que você pode ir sozinho. Eu espero aqui... Não tenho paciência com
certos tipos de gente!... – completa, tentando parecer má.
-
Tá gatinha, eu sei... – o canadense diz, sorrindo e batendo de leve na mesa,
enquanto tira o chapéu e deixa perto da Jubi: - Olha pra mim, falô?
Ohana
havia acabado de beber; estava decidindo se pedia mais um ou ia para casa. Seus
dedos brincavam, nervosamente, com o copo, enquanto seus pés subiam e desciam
no apoio da banqueta.
“Posso
me sentar aqui e te pagar alguma coisa?” ela ouve; uma voz grave e decidida.
Vira-se, rapidamente, topa com um baixinho de cabelo engraçado, calça jeans,
camiseta xadrez e botas. Dentro disso tudo um corpo muito malhado.
Diante
do movimento brusco da ruiva e para tentar quebrar o gelo, ele diz:
-
Ei, ei, eu venho em paz! – com as mãos para cima, dá um sorriso que mais
parece uma careta. Nossa! Como seus caninos são afiados!
A
mulher emudece e o baixinho não espera por uma resposta. Senta-se ao lado dela
e, enquanto chama o garçom, diz:
-
Meu nome é Logan. Ainda gostaria de te pagar uma bebida, senhorita?...
-
Um conselho, sr. Logan: Creio que esse não é o melhor modo de se aproximar de
uma mulher. – sua voz demonstrava todo o nervosismo- O sr. foi, até mesmo,
rud... ele a interrompe:
-
Bom, funcionou até hoje... e, como pode ver, não tem uma fila de mulheres pra
reclamar; se não queria que eu me sentasse e te pagasse algo era só ter
falado, tudo bem, não precisava ser rude, moça... – Ele estava certo! Ela é
quem havia sido rude, e muito. Logan já estava voltando para a mesa quando
Ohana diz:
-
Hã... desculpe! Me-meu nome é Ohana e não tive a intenção de ser rude - *e
nem de jogar fora a única coisa boa que me aconteceu em semanas*- E-eu aceito
seu drinque...
Enquanto
a ruiva falava, Logan voltava para o banco ao lado dela. Sua voz era
embriagante! Suave, ainda com um tom de nervosismo; mas firme em suas decisões.
-
Tá tudo bem... Dia difícil? – o mutante completa.
-
É... Você diz por causa da bebida? Eu estou acostumada a beber, sou
descendente de irlandeses, mas não faço isso freqüentemente. H-hoje foi um
dia bastante incomum...
Confiança!
Ele precisava ganhar sua confiança e não poderia ter vindo em melhor hora um
programa de entrevista, na tv do bar. A pedido de um cliente, o barman aumenta o
som e o assunto é: mutação.
Ohana
até mesmo esquece-se de Logan por alguns minutos, tão entretida estava com os
rumos do programa. Uma senhora no auditório dizia que todos os mutantes deviam
morrer, pois não havia menção deles na Bíblia. Outros discutiam
fervorosamente que esse não era o caminho.
Os
dedos da moça voltam a brincar com o copo, agora também, uma das mãos mexe
nervosamente no cabelo.
Logan
gostaria de dizer que partilha de seu nervosismo; pessoas fanáticas são o
problema do mundo, ele pensa isso, mas diz outra coisa:
-
Eu disse ou fiz algo de errado, Ohana?
Ouvir
seu nome a faz voltar à realidade, ela não sabe o que ele disse antes, mas
imagina ser sobre a bebida e, por isso, responde:
-
Oh! Desculpe a distração! Eu vou querer um blue berry, por favor...
-
Um blue pra moça, garçom. – pede, levantando o braço e fazendo-a perceber o
quanto ele é forte!
-
É pra já, sr... – o novato responde, indo preparar o drinque.
-
E, então, sr. Lo...
-
Me chama só de Logan, ok?
-
Certo! – sorri - Então, Logan, sempre fica oferecendo drinques para as solitárias
desse bar? – inquire, cruzando as pernas e deixando-o ver os músculos de sua
coxa.
Ele
olha, sem nenhum disfarce e sorri. É bom saber que ela também está a fim
dele... Se tem algo que o canadense sabe é como é difícil para ele chamar a
atenção de alguma mulher. Isso o deixa um bem à vontade, porque ambos queriam
a mesma coisa.
-
Na verdade, eu nunca entrei nesse bar antes! E digo que, por ser a primeira vez,
ele me surpreendeu. – termina, dando uma olhada geral.
Ela
cora de leve, seu pensamento não era o que se podia chamar de modelo de pureza,
naquele instante, e ele ainda dizia isso? Era música para seus ouvidos!
Finalmente sairia daquela maré de azar atual... Não que dormir com um estranho
fosse saída para algo, mas ela percebia alguma honestidade nos olhos daquele
homem.
-
Ora! Fico lisonjeada! – ela acena com a cabeça - pelo menos é o melhor que já
ouvi nesse bar... Você não gostaria de ir até minha casa, fica a alguns
quarteirões daqui. - *mas o que está fazendo, Ohana! Desse jeito ele vai
perguntar quanto custa!!*
A
pergunta o surpreende. Realmente ela era rápida e decidida; infelizmente ele
teria que falar do Instituto. Negócios antes do prazer... Ele ia começar a
puxar papo só pra garantir que não ia levar um tapa na cara pelo que tinha a
dizer, quando ela o interrompe:
-
Antes que fale alguma coisa: não, eu não costumo levar caras pra lá. É que,
sei lá... Você parece diferente. – ela morde o lábio, nervosamente.
-
Fica tranqüila, Ohana! Eu sou tão diferente quanto você. Aliás,
impressionante o que cê fez com aquele carro. Eu {SPLATCH}
-
Seu filho da mãe!! Você me seguiu? É um daqueles loucos que caçam mutantes?!
– ela fala alto.
É...
ele não se livrou do tapa na cara. Claro que não doía na carne, só no ego e,
essa sim, era uma dor e tanto!
Ela
ia dar outro, talvez devido à demora dele em falar algo, mas Logan não deixa;
segura sua mão, puxa-a para si e dá-lhe um beijo, sem cerimônia nenhuma, um
beijo como a muito ela não recebia. Nele ela pôde perceber o quanto ele também
estava a fim dela, um frio percorre seu estômago e, antes que pudesse pensar em
algo, ele pára. Por algum motivo, não podia prosseguir...
As
mãos que queriam bater, agora estavam enlaçadas por outras mãos fortes. Ela
jamais esperaria por essa. Senta-se e com o semblante neutro, diz:
-
Fala! Sou todo ouvidos... – sua voz não era mais nervosa. Tinha um quê de
tristeza. – Você é daqueles, primeiro os negócios depois a diversão? Se
você está tentando me vender um seguro de vida... bom, eu não preciso, como
deu pra ver...
Ironia.
Da mais pura e sarcástica. Logan sente que as palavras não querem sair de sua
boca. Ele preferia ter aceitado o convite, mas acha isso uma sacanagem.
Senta-se, dá um gole na cerva e diz:
-
Como eu disse, gata, sou tão diferente quanto você. Não consigo fazer as
coisas flutuarem, mas tenho... digamos, uns acessórios que compensam.
-
Não veio até aqui pra me contar sua história, né?
Ohana
não o olhava mais nos olhos. Ela não queria ter mais nenhum contato! E
pensava: “Quando se pensa que não pode piorar, as coisas acontecem...”
-
Ei! Se não tá a fim de ouvir, pode ir... não vou gastar saliva com quem não
tá nem aí!
-
Como você pode me dizer isso depois do que fez?! –ela exalta-se, suas artérias
aparecendo no pescoço - e ainda não respondeu se é um “caça-mutantes”.
Diz
essa última palavra com desdém, afinal, se ele for não faz diferença agora.
Isso só ia comprovar o que já sabia: nunca soube escolher os caras certos.
Nunca!
-
Cê queria que eu tivesse dito depois? Não ia ser pior ainda? E não, se eu
fosse te caçar, cê já ´taria morta!
-
Hu!... Quer dizer que é assim seu verdadeiro eu?
-
Do que cê tá falando? Não sabe nada sobre mim e não faço questão disso.
Olha, – ele completa, escrevendo algo num papel e batendo a mão na mesa -
nesse cartão tem o telefone do Instituto. Quando deixar de sentir auto-piedade
e quiser fazer a diferença, liga pra esse número! *ggggrrrrr*
A
ruiva assusta-se com a atitude de Logan. Recolhe o cartão, devagar,
permanecendo sentada na mesma posição.
O
baixinho caminha até a mesa e, no caminho, solta um “tá olhando o quê?!”
para um casal sentado na mesa ao lado.
-
S’imbora, Jubi! Não temos mais o que fazer aqui! –ele deixa uma nota de 20,
pega seu chapéu e sai, muito “p” da vida. A garotinha vai logo atrás,
sorrindo da cena e terminando de tomar seu suco.
-
O que aconteceu lá, Wolvi? – ela pergunta, depois de alguns quarteirões em
total silêncio.
-
Não quero tocar no assunto...
O
resto do caminho é silêncio total. Chegam no hotel depois de quinze minutos,
cada qual vai para seu quarto e ambos jogam-se na cama e ficam assim algum
tempo.
No
bar, a telecinética fica alguns minutos sentada, depois que os dois saem. Lê a
frente do cartão:
INSTITUTO
XAVIER PARA JOVENS SUPERDOTADOS
Westchester
- NY
Tel.:
53-25-15-00
Ela
vira-o e lê um número escrito apressadamente: 45-10-17-73 h. plaza
-
Mas que raio! Depois que resolver tudo isso, prometo nunca mais reclamar da
vida!
Havia
algo em Logan que Ohana não sabia dizer o quê. Mas cogitava ser sinceridade;
algo que em sua vida, pôde presenciar por poucos momentos em raríssimas
pessoas. Ela paga o que deve, atravessa a rua e liga a cobrar, depois de
verificar que sua bolsa estava vazia:
{TRIM}
– Recepção do Hotel Plaza, pois não?
-
Ligação a cobrar, sr. Logan, é da senhorita Ohana, o sr. aceita?
-
Hum... aceito sim. Fala, guria...
-
Hã... Sei que é piegas mas, me desculpe... não te dei a chance para falar e não
agi como gostaria que agissem comigo...
-
Essa é tua filosofia?
-
É... sim.
-
Acho que tá na hora de tu repensar ela...
-
Olha! Eu errei! E-estou disposta a te ouvir; estou mais calma agora. Eu pensei
que as coisas iam tomar um rumo diferente e você... a sua sinceridade me deixou
sem ação!
-
Hum, hum...
-
Ah! Droga! Eu vou até o bar do hotel Plaza, tá? Vou ficar uma hora esperando
por você, se não aparecer, vou embora e será um castigo bem merecido pra mim,
ok?
-
Ok... {TUM, TUM, TUM}
-
Mas que filho da...! Desligou na minha cara! Aiaiai, Ohana, você só se mete
com caras doidos, isso ainda vai acabar com você...
Depois
de alguns minutos ela chega na recepção do Plaza, pergunta onde é o bar e, só
pra não acostumar, pede uma vitamina de frutas. Fica esperando e, agora que
estava mais tranqüila, começa a pensar na palavra “superdotados” na frente
do cartão....
No
quarto, Logan resolve não deixá-la esperando muito. “Só uns vinte
minutos”, ele diz para si; levanta-se e, sem mesmo avisar Jubileu, desce pelo
elevador indo para o bar; na entrada ele pôde sentir o cheiro da moça e,
alguns passos depois; vê-la. Ela estava bem mais calma, isso ele conseguiu
constatar.
Ficou
olhando-a, tentando entender o que ela tinha de diferente que o prendia assim,
porém, não pôde olhar muito, a ruiva virou-se, como se tivesse sentido que
estava sendo observada. Logan disfarça e, sentando-se ao lado dela, comenta:
-
Você não é telepata também, né?
-
Eu sempre consigo sentir quando estou sendo observada – diz, sorrindo - acho
que isso não me faz uma telepata...
-
É... Dever ter alguma relação com a telecinesia, já que seu cérebro acaba
ficando mais “alerta” do que o normal, digamos...
Ohana
presta muita atenção, não diz nada, apenas ouve:
-
Ruiva, como você pode ver no cartão, faço parte de um Instituto que ensina e
protege mutantes. Na verdade também serve de fachada para algo mais sério, pra
coisa de “gente grande”, entende?
-
Está um tanto vago até agora, mas prossiga. - diz isso apoiando os cotovelos
na bancada do bar.
Ele
pára uns poucos instantes e surpreende-se com o olhar de “menininha
interessada” dela. Grandes olhos verdes arregalados. Volta a falar:
-
Bom, o nosso mentor e criador do Instituto, Professor Charles Xavier é um dos
maiores telepatas do mundo e...
-
Eu já vi esse cara na tv! Ele-ele é paralítico, não?
-
É ele mesmo. E por ser um telepata tão desenvolvido ele consegue detectar
mutantes quando eles ativam seus poderes. Foi assim que ele te achou e como
percebeu que você estava passando por um período muito conturbado da sua vida,
pediu pra que a gente viesse te oferecer a oportunidade de desenvolver sua mutação
em prol de algo maior. A gente tá sempre na tv, usando roupas engraçadas –
ele sorri - não sei se já viu. Somos os x-men! –completa com um sorriso
inteiro, daqueles que aparecem toda a arcada dentária.
-
Putz!! Os x-men?! – Ohana surpreende-se, enquanto pensa “acho que eles me
confundiram! Não tenho “cacife” para entrar em algo assim!!”
A
demora em responder faz com que Logan quebre o silêncio:
-
Gata, você não precisa responder agora e, muito menos, é obrigada a aceitar
se não se sentir preparada... –o canadense termina, colocando a mão sobre a
da ruiva.
-
São todos tão dedicados quanto você, no Instituto? – ela inquiri, sorrindo,
sem malícia - É porque faz muito tempo que eu não me sinto num lar de
verdade... Parece que você sabe o quanto é duro se sentir sozinho...
–completa a telecinética, levantando e abraçando-o.
-
Cê tem certeza que não é telepata, gata? – ele diz, retribuindo o abraço
de forma bem espontânea.
Ohana
sorri:
-
Acho que o Professor terá que descobrir isso... Na verdade, o palpite surgiu
por você não desistir de mim, mesmo quando eu mereci isso. É só uma prova de
que você passou por algo parecido na vida. Eu juntei as partes, só isso.
Ela
torna a sentar-se. Ambos sorriem e a alegria é até mesmo palpável.
-
Até quando eu posso decidir?
-
Bom, eu não gosto de pressionar, mas o avião sai hoje, às 9 p.m. Ah! Eu também
tô acompanhado – ele completa.
-
Ah... tudo bem... hum – essa última informação a deixa meio sem jeito - Eu
não quero atrapalhar nada, ok?
Agora
quem fica sem jeito é ele, coloca a mão sobre a nuca, pigarreia:
-
Não, Ohana! Ela é uma espécie de pupila minha, como uma filha, sabe? Seu nome
é Jubileu Lee...
-
O-ok, então... – ela faz menção de levantar-se - Já que eu decidi ir, acho
melhor fazer minhas malas.
Pareciam
crianças, ambos sem saber o que dizer, tamanha era a atração mútua... Por
sorte, Wolvie nunca foi muito de falar; mas de agir... Enquanto ela virava-se
para sair, ele a pegou firmemente pelo braço, chegou-a a si e deu-lhe outro
beijo, ao qual, igualmente, ela não põe resistência; parecia algo que deveria
ser. A ruiva sente como se, desde sempre, devesse ser abraçada pelos fortes braços
dele. O sentido de “completude” ficava nítido naquele momento.
Ele,
por sua vez, sentia-se muito diferente. Aquilo não estava tomando o rumo de
mais um “casinho”. Logan sentia que o animal dentro de si também apreciava
o momento. Algo que não acontecia comumente... Isso o punha numa situação
singular.
O
calor dela, sua pele, seu cheiro; tudo parecia no lugar certo, pela primeira vez
ele estava em concordância consigo. Pela primeira vez, depois de Mariko
Yashida... Isso era bom!
-
Você não quer ir me ajudar a arrumar as malas? – pergunta Ohana, logo após
o beijo; com a sensação mais gostosa do mundo em si: felicidade plena.
-
Claro! – completa Logan, segurando-lhe a mão.
Na
saída, ele deixa um recado com a recepção de com quem estava e de que logo
voltaria, caso Jubi se inquietasse.
-
Você preocupa-se mesmo com a garota, hein?
-
Ela é minha família, assim como o pessoal do Instituto. Antes deles eu não me
sentia bem em nenhum lugar, vivia sem propósito, desgarrado do mundo. Como me
disse uma vez o Charlie: “solitário, encontrou um lar; descrente conheceu
algo em que acreditar”. Isso me define muito bem, antes e depois dos X-men. Eu
posso até querer ter meus momentos de solidão – aos quais eles respeitam -
mas eu sempre acabo voltando. Lá é meu verdadeiro lar...
-
Hum... Quer dizer, então, que você tem um passado e tanto, não? – ela
brinca, fazendo cara de “você está me escondendo algo”.
-
Ah! Ruiva, se eu fosse contar, cê não ia acreditar! Se cê ficar firme no
grupo, eu vou te contando aos poucos; pelo menos, as partes que eu me lembro...
–completa, deixando o semblante dela um tanto carregado.
Mais
alguns passos e ela diz:
-
Chegamos! – sobe um lance de escadas - Seja bem-vindo ao meu humilde lar! –
ela abaixa o tronco e estende as mãos, para que ele entre. Logan o faz, sendo
seguido por Ohana.
O
que ele vê é uma típica casa de classe média; um estreito, porém
aconchegante, corredor onde ao fim pode-se ver uma escada de algumas dezenas de
degraus. À esquerda, uma entrada para a sala, sem nada de muito esdrúxulo. É
uma pessoa normal, sem muitas pretensões. A próxima porta à direita era a
cozinha e, subindo os degraus, do lado direito do hall ficava o quarto da moça
e, em frente, o banheiro. Tudo muito arrumado e cheiroso.
Depois
de dizer o que era cada cômodo, a ruiva, entrando no quarto, fez descer da
parte de cima do armário uma mala, não muito grande; a qual foi levitando até
a cama e abriu-se.
Enquanto
isso ela pergunta:
-
Você não disse como eu vou pagar pela minha estadia...
-
O Charlie é rico, Ohana. O seu dinheiro é seu... O que a gente quer em troca
é sua disposição em aprender e treinar sua mutação, só isso. – ele
conclui.
-
Bom, se vocês têm treinamento é porque combatem alguma coisa, certo? Que tipo
de coisa é? – ela questiona, começando a abrir as gavetas mentalmente e
fazendo algumas roupas ajeitarem-se na mala, enquanto vira-se para ele e espera
a resposta.
Logan
impressiona-se com o controle, levando em conta que ela nunca direcionou seu
treinamento para desenvolver todo seu potencial.
-
Hã... Na verdade, combatemos nossa própria espécie. Parece irracional, mas é
o que acontece.
-
Como assim? Por quê?
-
Alguns mutantes acreditam que enquanto existir o ser humano, nunca conseguirão
viver em paz. Eles acreditam que o homo sapiens deve ser eliminado. E um deles,
inclusive, auto-intitula-se capaz de liderar os mutantes nessa empreitada. É
coisa de maluco, mesmo...
-
Eles querem fazer o mesmo que os humanos fazem por séculos... Exterminar não
é a saída – a ruiva termina, “colocando” alguns frascos de perfume na
parte externa da bolsa e fechando-a. Enquanto a trás para si, Logan pergunta:
-
É nisso que cê acredita?
Seus
olhos lúcidos olham nos dele:
-
Sim. Sempre...
-
Então, seja bem-vinda – ele diz, passando a mão em seu cabelo, beijando seu
pescoço, abraçando-a. Ela pousa a mala no chão, perto da cama e retribui os
carinhos. Desabotoando a camisa dele e passando suas mãos pelo tórax, costas;
ao mesmo tempo em que ele também desabotoa seu tailleur.
Fazia
tempo que Ohana não sentia essas sensações. Como ela mesma havia se
censurado, nunca soube escolher os caras certos, até agora.
Ela
deixa-se ser despida e, mesmo não sabendo que ele é o melhor naquilo que faz,
naquela noite, ela comprova o fato. Apesar de ser, até a presente data um solitário
incorrigível, ela sabia o que fazer com uma bela mulher.
Ao
final, a ruiva não tem dúvida de esta ter sido a melhor tarde da sua vida!
Adormeceram
juntos, ele abraçando-a por trás e ela segurando suas mãos.
O
avião sairia às 9 p.m. e, lá pelas 6:30 p.m. eles despertam; na verdade, a
ruiva desperta e dá de cara com um Logan já arrumado, sentado ao lado da cama,
olhando-a. O queixo apoiado nas mãos e estas nos joelhos.
Ohana
abre os olhos devagar... Sem estar totalmente acordada. Os sentimentos e sensações
das horas precedentes começam a voltar e, com eles, ela retorna à realidade.
Espreguiça-se:
-
Hum!... Faz tempo que está aí? – ela quebra o silêncio.
Apenas
levantando um pouco a cabeça, ele responde:
-
Algum tempo. Não tive coragem de te acordar e, te olhando, não vi a hora
passar. – diz com um sorriso e uma breve olhada no relógio - Temos 2 horas
antes do vôo.
Ela
puxa o lençol, coloca-o no corpo enquanto senta-se na cama, logo em seguida
levanta-se, vai até ele, beija-o e diz:
-
Vou tomar um banho rápido, já volto, ok? Quero ir num lugar antes de viajar. -
pelo cheiro gostoso e pelo cabelo um pouco molhado, ela conclui que o canadense
já o fez e provoca:
-
Ah! Que pena você já ter tomado banho... Eu ia te convidar pra ir comigo. –
pisca, beija a cabeça dele e vai.
No
chuveiro, relembra cada momento, desde que o vira pela primeira vez e não
acreditou em como tudo aconteceu de repente, com essa estranha sensação de
“o conhecer desde sempre”.
Coloca
uma roupa mais formal – jeans e camiseta - faz uma trança e encontra-o
sentado na mesma posição, um olhar distante.
-
Logan, você está bem? – tocando-o no ombro.
Ele
segura a mão da moça, beija-a e diz, meio distraído:
-
A vida é tão estranha. Cê não sabe como é difícil pra mim ter esses
momentos. E, pensando, percebi que é porque eu me afasto... Sofri e amei muito.
Os dois ao mesmo tempo; que acho estranho amar sem sofrer...
Ela
senta-se no colo dele, com uma cara de dó. O tom de voz dele era de real
tristeza. Ohana acaricia-lhe o rosto, enquanto tenta imaginar o que poderia ter
sido tão ruim assim; mas suas experiências não têm nada a ver com as dele,
nada do que ela imagina condiz com a realidade...
O
canadense segura-lhe a mão e suspira, dizendo logo em seguida:
-
Gata, tenho que te dizer uma coisa: não amei muito na vida, mas os amores que
tive... Como posso dizer isso. Posso parecer brusco, eu sinto muito. – ele
mede suas palavras, pela primeira vez - Foram assassinados!...
Os
olhos verdes dela arregalam-se e ele continua:
-
Durante minha vida, fiz mais inimigos do que amigos, talvez pela minha natureza.
Tenho que te avisar... Eu sou virtualmente indestrutível. – ele afasta-a
delicadamente e levanta-se - Lembra dos acessórios que eu disse que compensavam
o fato de eu não ser telecinético? Bom, {SNIKT} esse é um deles.
A
ruiva pula pra trás, colocando a mão na boca e dizendo:
-
Agora entendi o porque de ter dito que se fosse me matar, já estaria morta! –
Ela aproxima-se, toca a mão dele, sente as garras:
-
Mas elas são de metal! Como isso é possível?
-
Eu tenho esse metal no corpo todo, na verdade, meu esqueleto é desse metal.
Chama-se adamantium e é indestrutível. Também tenho um fator de cura
acelerado, por isso não sangro e, além disso, meus sentidos são superaguçados,
tanto olfato quanto audição.
A
garota presta atenção, não acreditando que pudessem existir mutantes assim.
-
Mas... você nasceu com esse metal? Eu... não entendo...
{SNIKT}
Ele recolhe as garras, volta a sentar-se. Ohana senta-se na cama:
-
Contra a minha vontade, eu fui submetido a um projeto canadense, feito para
criar a arma perfeita. Por isso eu também comentei sobre ir te contando da
minha vida, as partes que eu lembrasse. Porque além de implantarem esse metal
em meus ossos, eles também bagunçaram minha mente, colocando implantes que
facilitassem o controle, pra eles... Muitos momentos da minha vida foram criados
e colocados em meu cérebro, mas de forma tão complexa que nem mesmo o Charles
pôde me ajudar. Ele não conseguiu diferenciar quais são as memórias reais
das implantadas. Ele acredita, mesmo, que elas já são parte integrante de
minha personalidade e, mexer nelas podia me causar mais mau que bem. – o tom
de sua voz era baixo e sem esperança - Os meus inimigos resolvem vingar-se de
mim nas pessoas que amo. Achei que devia saber disso...
Ela
nem mesmo pisca. Morrer não fazia parte de seus planos, mas ficar sem ele também
não. Resolve não pensar muito sobre isso, não agora; poderiam conversar
melhor depois.
-
E-eu agradeço, acho. – ela brinca - Mas como deu pra perceber, sei cuidar de
mim mesma....
-
Tá falando do carro?! – a voz mais grave que de costume - Aquilo foi doce...
Primeira etapa dos níveis de treinamento! Ah! Garota – ele a abraça e muda o
tom de voz, tentando convencer-se - cê vai adorar treinar e ser uma X-man!
Ela
deixa-se ser abraçada, não reage, mas em sua mente um turbilhão de
pensamentos converge e “morre”, sem ser expresso ou continuado. Logo em
seguida, ela trás a mala para si, porém, ele a pega e caminha para a porta.
Ohana pensa em como havia espaço para o cavalheirismo e para o amor em tanta
–aparente - rudeza. Definitivamente, aquele homem era um mistério...
O
local que Ohana queria visitar era o cemitério. Ficava a algumas quadras antes
do hotel e era antigo a julgar pela idade de alguns mausoléus. Eles entram e
caminham até um deles, meio afastado da entrada:
-
Meus pais estão enterrados aqui e eu espero juntar-me a eles, quando meu dia
chegar.
Ele
acena com a cabeça e fica em silêncio, lembrando-se do túmulo de Mariko.
O
mausoléu era de mármore branco com uma escada de três degraus e dois leões
de cada lado, guardando a cripta. Mais ao canto, próximo a porta, dois vasos de
cristal suportavam, de um lado uma rosa amarela, de outro um cravo vermelho. Ela
ajeita as flores, tira algumas folhas que estavam nos degraus e ajoelha-se no
primeiro deles. Fazendo uma pequena prece em voz baixa. Logan fica a alguns
passos dela, olhando o local por inteiro e pensando que não deseja revê-lo tão
cedo.
Andam
até o hotel, sem nada falar, um por pensar que não devia ter avisado, pelo
menos não daquela maneira; outra pelo que foi avisado, mas crendo que havia
exagerado na narrativa...
Já
no hall do hotel, encontram uma Jubileu furiosa, com beicinho e batendo o pé
esquerdo no chão, enquanto os braços cruzados davam claras mostras de
inimizade:
-
Resolveu vir pro nosso lado, então? – a garotinha comenta.
-
Guria, isso não é jeito de se portar! Por que cê ta assim? – o canadense
diz, num tom paternalista, enquanto bagunça o cabelo dela.
Isso
apenas a irrita mais e ela ameaça soltar uma rajadinha nele. “De nada vai
adiantar, cê sabe disso”, é a resposta e Jubi cala-se. Nem mesmo indo
cumprimentar Ohana. Ela não se importa; a julgar pela idade da menina e pelas
mostras de ciúme que na verdade apenas demonstram o grande carinho que ela
sente por ele, a ruiva imagina que faria o mesmo no lugar da menina.
Logan
avisa Ohana que irá subir para pegar algumas coisas; ela prefere esperar ali
mesmo e, apenas para não fazer companhia a ela, Jubileu sobe. Alguns minutos
passam-se, assim que o elevador abre as portas o canadense aparece com uma
pequena mala e o chapéu na mão.
-
A gente vai chamar um táxi e já vamos para o aeroporto. Sempre é bom chegar
um pouco antes. - explica
-
Tudo bem, Logan! – dá-lhe um beijo no rosto e, nesse instante, Jubileu sai do
elevador. Ficando com cara de poucos amigos.
A
espera do táxi torna-se muito incômoda. Os três vão para a frente do hotel e
ficam esperando, em silêncio.
Assim
que ele chega, Ohana entra, logo em seguida Logan e, por último, Jubileu. Todos
no banco de trás.
Para
tentar quebrar o incômodo gelo, a telecinética pergunta:
-
São quantas horas de vôo?...
A
olhada de Jubi é indescritível! Ignora completamente a questão e abre um
chiclete, começando a entreter-se fazendo bolas.
Logan
vira-se para ela e, com certeza, reprova-a com o olhar, pois a garota mostra-lhe
a língua. Vira-se para Ohana e diz:
-
Nem são horas... Só 1 hora e meia. Já voou? – comenta, decidido a ignorar o
comportamento de Jubileu.
-
Não, já fiz uma longa viagem de ônibus, mas nunca cheguei perto de um avião.
-
Outra coisa que cê vai se acostumar. – aproxima-se do ouvido dela e cochicha:
Nós temos um jato no Instituto... – afasta-se com um largo sorriso.
A
ruiva sorri de volta e lhe dá um beijo rápido, ao qual surte um efeito
inesperado em Jubileu que sentencia:
-
Sabia! Você não perde tempo, né, Wolvie?! – cutuca-o enquanto estoura uma
bola.
Vendo
que outro embate ia começar, já que ele se mostrou muito irritado, Ohana
segura-o no braço e, dirigindo-se para Jubi, diz:
-
Desculpe, senhorita Lee! Mas é um absurdo a senhorita não conversar comigo! Eu
pretendo fazer parte da equipe. Irá ver-me todos os dias e, cedo ou tarde, terá
que se acostumar... Por favor, não me ignore! Percebi o grande afeto que tem
por Logan e, acredite-me, não vou e nem pretendo roubá-lo de você! Já
ponderei e vi que em seu lugar faria o mesmo, mas, por favor, não briguem mais!
Nós
nos amamos, sim; e isso só aumentou o que senti por ele desde que o vi da
primeira vez... Por conhecê-lo a mais tempo que eu deve saber que é impossível
resistir ao seu jeito. Acredito que ele deva suscitar esse sentimento em você e
em outras também... Mas se sentir isso significa não ter exclusividade, eu me
submeto. Contudo, gostaria de ser sua amiga também. Espero que considere essa
possibilidade... Espero poder provar que não sou a imagem que fez de mim. Dê-me
uma chance, sim?
Durante
o pequeno discurso, as expressões de Jubi foram da inconformação geral ao
descrédito, passando para a raiva e acabando, finalmente, na perplexidade
total! Parou pra pensa e, realmente, havia feito um pré-julgamento e a ruiva
havia ganhado pontos por dizer que faria o mesmo no lugar dela e por mostrar
tanto afeto para com Logan; porém, ela não queria mostrar-se tão volúvel e,
ainda com a cara fechada, sussurrou:
-
Tá bom... – fazendo um grande bico depois.
Conhecendo
a natureza da protegida, o canandense sorri, pois sabia que aquilo significava
um sim.
A
viagem correu sem mais novidades e, quando viu a extensão do Instituto, Ohana
realmente gostou! Tanto verde, tanta calma; isso somente faria bem a ela...
Chegando
na entrada da mansão, foi apresentada a uma outra ruiva. Logan levou sua
bagagem até o início da escada, ficando lá:
-
Boa noite! Meu nome é Jean Grey e será um prazer ter uma telecinética com
seus talentos entre nós! – com um sorriso amigável enquanto fazia uma rápida
leitura na mente de Ohana - Também tenho essa habilidade, mas também sou
telepata. – completa, estendendo a mão para cumprimentá-la.
A
telecinética retribui o cumprimento e acrescenta:
-
O prazer é meu! Chamo-me Ohana Brownsea, mas creio que já saiba disso e de
outras coisas também – termina, colocando o dedo indicador em sua cabeça -
Mas está tudo bem, eu não tenho nada a esconder...
Jean
recebe o comentário, não sem uma certa surpresa. A perspicácia dela era algo
a se ponderar.
A
irlandesa gosta muito do jeito de Jean e esta fica aliviada por seus pensamentos
não serem incomuns; o ciúme também aparece devido aos pensamentos dela com
relação a Logan.
Jubileu
pede licença e vai para seu quarto, pensativa sobre as coisas que ouviu...
Jean
explica que Logan a levaria para o quarto dela, mas ela não os acompanharia,
pois ia conversar com o professor. Anda pelo corredor e entra numa porta, quase
ao fim deste.
Tudo
era de madeira escura e velha e conferia ao lugar uma aura de mistério.
Chega
perto da escada e o canadense diz:
-
Vem comigo! Vou te mostrar o seu quarto. – com voz alegre, levando a mala.
-
Ah! – a moça faz cara de choro - Pensei que os quartos fossem divididos...
– olha para ele e pisca.
-
Depois que cê ver como é o quarto, vai querer ele só pra você! Além do
mais, a gente pode dividir um sempre que quiser! – completa, chegando na
frente de uma porta e abrindo-a.
Os
olhos de Ohana arregalam-se! Era quase do tamanho de sua casa inteira! Cama, armários,
tudo era grande e confortável!
Ela
entra e Logan vem logo atrás:
-
Não te disse? Vem olhar o toalete.
-
É uma suíte? Todos são?
-
É isso aí!
Abre
a porta e um cômodo do tamanho de dois cômodos de sua antiga casa surge. Com
banheira e todos os luxos pensáveis.
-
UAU!! – é tudo que ela diz, como uma criança em frente aos doces.
-
Que bom que gostou. Saiba que não tem privilégios. Todos são assim! Agora,
olha em cima da cama.
Ela
sai, vai até a king size e uma caixa com um x prateado está sobre ela. Tem um
laço vermelho, a ruiva vira-se para ele com uma cara de surpresa ao que ele
diz:
-
Coisas de Jean... – dando de ombros.
Ela
abre e dá de cara com uma roupa que parece couro preto. De duas peças que
continha pequenos “x” como adereço. Porém, ao pegá-las pôde notar que
eram bem maleáveis.
-
É lindo! Isso é o que eu estou pensando?
-
É só um uniforme pra treino. Assim que resolver fazer o seu é só falar com a
Jean que ela ajeita tudo. É feito de um material especial, é térmico e contém
receptores capazes de, em casos extremos, salvar sua vida.
-
Mesmo? E ainda é tão fashion? – comenta, retirando-o da caixa e vendo que
havia sido feito sob medida pra ela.
Ele
sorri ao comentário e quando ela vira-se, pergunta:
-
Você também vai usar um desses, Logan?
-
No começo usei um desse, mas agora escolhi um diferente. Na verdade o meu é
bem mais colorido do que o seu, mas tem os mesmos receptores. Como eu tenho esse
lado animal, ele foi desenhado para assustar o oponente. Você vai ver como ele
é.
-
Agora fiquei curiosa...
Ambos
aproximam-se, abraçam-se e beijam-se.
Nisso,
uma preocupada Jean cruza o corredor a caminho do quarto da nova hóspede, só
para saber se estava tudo certo.
Ele
sente o cheiro dela tarde demais! Quando interrompe o beijo e vira-se, ela já
está na porta, tentando mostrar que não se importa.
Ele
afasta-se de Ohana, deixando a moça ciente de que ambos já tiveram algo, ou
estão tendo. Para não se fazer de vítima, diz:
-
Algum problema, Jean?
-
Não, vim ver se estava tudo bem. Posso ver que sim... – olhando rapidamente
para Logan- O professor quer vê-la. Gostou do quarto?
-
Só! É muito lindo! E o quanto antes conhecr o professor, melhor! – ela sai,
deixando os dois para trás e indo à mesma sala onde Jean havia entrado. Por
sorte era a sala certa! Ao entrar um simpático senhor, numa diferente cadeira
de rodas, aproxima-se:
-
Seja bem-vinda ao Instituto, Ohana! Posso chamá-la pelo primeiro nome?
–questiona, muito simpático.
-
O prazer é meu em estar aqui! Pode chamar-me como desejar... – sorri,
enquanto estende a mão e cumprimenta-o.
-
Onde está Jean? – ele questiona.
-
Provavelmente com Logan, em meu quarto. Pelo menos foi lá que os deixei...
O
professor já havia checado onde ela estava e surpreendeu-se com a sinceridade
da moça, mesmo diante dessas circunstâncias.
-
Bem, meu nome é Charles Xavier e, creio que já devam ter contado qual o escopo
de nosso Instituto, não?
-
Sim, Logan disse-me algo. É uma idéia bonita, tem funcionado?
-
Hum, creio que aos poucos estamos chegando lá. É difícil quando os próprios
mutantes usam suas habilidades para roubar e matar... Muitas vezes, o que
levamos meses para construir, quando sentimos que as pessoas estão mais
receptivas, é destruído por uma simples ação, de algum mutante desinformado.
-
Se isso acontece é porque não estava tão sólido assim... Acha que eu poderei
ajudar de algum modo? – pergunta, seriamente.
-
Acho que, com o devido treinamento, tanto físico quanto de sua mutação, você
poderá ajudar sim. Estamos precisando de pessoas com seus valores para
ajudar-nos a solidificar a confiança dos que se julgam diferentes de nós.
Qualquer auxílio nesse sentido é bem-vindo – sorri, enquanto convida-a a
seguí-lo e mostra os vários níveis da mansão.
----------------------------
Nesse
ínterim, Logan e Jean conversam:
-
Que que cê achou dela, ruiva?
-
Bonita, simpática e extremamente sincera! Fi-fico feliz que tenha encontrado
alguém...
-
Sei que uma parte tua pode até tá feliz... mas cê não consegue mentir pra
mim, Jeannie... Que que tá acontecendo? Você e o Scott...
-
Não! – ela interrompe - nós estamos bem... é só que... ah! Eu não consigo
ser tão sincera quanto ela! – sorri, mexendo nervosamente no cabelo.
Ele
aproxima-se, segura as mãos dela e diz:
-
Olha, ruiva; nunca vou deixar de sentir o que sinto por você. Nesses anos todos
o amor amadureceu e transformou-se num grande respeito e numa vontade louca de
que cê seja feliz! Por isso, se essa situação te incomoda, Jeannie, eu quero
saber, falou? Eu preciso saber! Porque se tem algo no mundo que eu detesto e que
faria com que me detestasse seria te deixar triste.
Ela
solta-se, acaricia-lhe o rosto:
-
Logan, também quero que você seja feliz. Não é fácil pra mim, mas eu te peço
tempo para me acostumar com a idéia, tá bem? Estou realmente feliz por você!
–termina de falar e ele ouve em seus pensamentos: “Você tem muita sorte,
Logan! Ela te ama muito e, pelo que eu posso sentir, você também a ama. Sejam
felizes!”
Beija-o
na face e sai, deixando-o com seus pensamentos...
----------------------------
De
volta a sala do professor, Ohana ainda trás estampado no rosto as impressões
de espanto quanto à tecnologia do lugar.
-
Bem, Ohana, é isso que temos a oferecer. Em troca, queremos sua dedicação e
algum comprometimento com nosso “modus operanti”. Afinal, não gostaríamos
de treinar futuros assassinos aqui. – termina assim o maior telepata do mundo.
-
Sr. Xavier, gostei do que vi e sinto que posso ser mais útil aqui do que
tentando levar uma pretensa vida normal. Parece o ápice de minha vida. O porquê
de minha existência... – resume a ruiva, enquanto todos os sentimentos e
pensamentos, unidos numa enxurrada de felicidade, contentamento e completude,
permeiam o professor. X, fazendo-o ter certeza de haver escolhido certo.
----------------------------
O
tempo vai passando...
Tanto
Jubileu como Jean acostumam-se a presença dela, esta última de tal modo que
ambas tornam-se ótimas amigas e confidentes. Talvez, por Jean ter, através de
Ohana, seus anseios realizados. Já da parte da telecinética, foi por pura
afinidade...
Logan
não cabia em si de contente! Seu “estado tão alterado” fez com que todos o
estranhassem, por meses!
Andar
sempre sorrindo; viver dando flores, bombons e outros presentes; pensar em
passar algum tempo no shopping e, acima de tudo, abdicar – por livre vontade -
de sua solidão.
Ele
mostrou-se até um pouco “abelhudo”, pois queria inteirar-se da vida de
todos e parecia estar sempre correndo atrás do “tempo perdido”...
Ohana
dominava ainda mais sua mutação. Descobriu-se que seu cérebro podia usar, ao
mesmo tempo e em pontos distintos, 70% da capacidade mental. Também seus
treinamentos de artes marciais – a cargo de Logan - renderam-lhe um ótimo
conhecimento de auto-defesa, além de definirem seu físico. Em suma: os
melhores anos de sua vida.
Apesar
da relação com Logan não avançar – por mais de uma vez ela achou que ia
ser pedida em casamento, mas não... - ela também não regredia e, como ele
mesmo dizia: “cada dia comigo é sempre único, gata”, isso não a permitia
reclamar já que, realmente, não havia monotonia!
Em
alguns poucos meses ela teve o desprazer de conhecer Lady Letal, Cyber e
Dentes-de-Sabre. Isso sem contar alguns tantos outros que sempre encrencavam com
ele em bares, cinemas, restaurantes...
Ela
já havia tecido uma teoria de esse ser o vício dele e isso fez com ela e Jean
dessem boas risadas:
-
Não, Jean! Não pode ser outra coisa! E o pior de tudo é que ele nunca começa,...
-
Mas sempre termina, não? – a telepata a corta.
-
Sim! Isso mesmo! Do mesmo jeito que eu fujo dessas brigas é o jeito que ele
foge quando toco no assunto “filhos”... – diz, resignada.
-
É, nesse ponto, ele e o Scott são idênticos. – Jean diz e sorri.
Ambas
olham-se e caem na gargalhada.
-
Você acredita que eu não posso parar para admirar uma roupinha, um carrinho,
que ele já vem dizendo: “nada disso, sra. Summers, nada dessas idéias...”
Novamente
riem. A imitação de Jean é impagável!
-
É... Já Logan diz que esse mundo é só sofrimento e que não quer “botar um
nenê nele”. Mas eu tenho vivido momentos tão felizes que queria compartilhá-los
com um bebê. – as risadas param. As duas abraçam-se e ficam assim por algum
tempo.
----------------------------
Abrindo
um parêntese para relembrar:
É
de se imaginar que o casal “Logan” já tenha conhecido vários perigos e
enfrentado-os no dia-a-dia, sempre unidos e não pensando muito no amanhã.
Dentro dessa filosofia, tinham vivido muito bem. Desse modo, Logan não sofria
tanto e, assim, acreditava estar preservando seu amor da insanidade do mundo.
Ele cria piamente nisso, apesar de seus sentimentos o contradizerem... Isso iria
mudar, com a chegada da criança.
Já
do lado dos vilões, após algum tempo, eles perceberam que a ruiva era o
“calcanhar de Aquiles” do canadense; várias vezes tentaram drogá-la, raptá-la,
esquartejá-la, matá-la; mas todas as vezes, saía ilesa e isso sempre
aumentava a paixão de ambos e os unia mais.
As
mais sérias necessitaram da intervenção dos poucos amigos que tinham, mas que
podiam contar, pois o “dar a vida” era recíproco.
Chega
um dia onde, até os mais burros, percebem o óbvio: A união faz a força;
mesmo a união das mentes criminosas. A força dos “mocinhos” está na união
e, o único motivo pelo qual ganham dos outros é o caos e a desorganização na
qual estes vivem.
Com
o estrondoso crescimento dos mentalmente manipulados para o lado do bem, os
poucos reincidentes no crime resolveram unir-se. Já não importava a
quantidade, mas a qualidade; estavam armando um plano que acabaria com a
soberania dos X-men e, desse modo, a quantidade viria, com o tempo...
Sob
a liderança de Metabolisis, um mutante capaz de alterar o metabolismo das
coisas, foi criado um grupo chamado “NeoGênesis”. Este grupo possuía por
volta de 50 membros, todos muito bem treinados e alguns em nível alpha...
Fechando
o parêntese e voltando...
Já
faz dois anos que Ohana chegou ao Instituto. Nunca os preceitos de Xavier
estiveram tão vivos em sua mente e atos; nunca a paixão pela batalha
mostrava-se tão forte! Seus olhos brilhavam a cada captura bem sucedida e lágrimas
vertiam, copiosamente, cada vez que um inocente era morto por mutantes fanáticos.
O
quarteto: Jean x Ciclope, Ohana x Logan era insuperável em suas capturas.
Devido
à grande quantidade de mutantes revoltosos, a solução encontrada foi:
capturar e converter. Diante do
caos reinante, não foi possível outra interferência. Aqueles – poucos - que
teimavam em sua maldade, eram “convertidos” por uma mente mais forte que a
deles. Porém, outros tantos, estavam apenas sem rumo, desinformados, com raiva
pelos motivos errados...
A
empreitada tomou proporções gigantescas! Em vários países abriram-se filiais
do Instituto, com o mesmo fim...
Treinando
na sala de perigo estava Ohana, nível oito, só para relaxar... Por mais reais
e complexos que parecessem, os hologramas nunca poderiam ser comparados à
realidade... De repente, uma forte dor no ventre!
-
Parar simulação!... – grita, apoiando-se na parede e segurando o ventre com
a outra mão.
-
Simulação cancelada. Prévia de pontos? – pergunta uma voz feminina e metálica.
-
Na-não... – a dor aumenta - Ai! Meu Deus, mas o que é isso?! – essas são
suas últimas palavras antes de desmaiar. Quem a encontra é um dos novos
alunos, ele seria o próximo a usar a sala.
Ela
é levada às pressas para o Labmed e colocada na maca. Logo em seguida, Jean
chega. Na ausência do Dr. Hank, ela era a segunda a operar o computador.
Rapidamente
os sinais vitais são estabilizados e uma rápida varredura é feita. Conforme
ia percorrendo o corpo ainda dormente de Ohana, um sorriso aparecia nos lábios
de Jean. Ao final, o resultado é proferido pela máquina:
-
Sinais vitais estabilizados; nenhuma anomalia encontrada; objeto de estudo na
terceira semana de gravidez, feto um pouco acima do tamanho, sem alterações físicas
presentes; acompanhamento médico sugerido... – termina o programa.
Jean
coloca a mão no lábio e arregala os olhos enquanto diz, baixinho: Oh! Ela está
grávida! Isso é ótimo – dá uma pausa - ...ou não?
Após
alguns minutos Ohana desperta e encontra Jean explicando para Logan que aquilo
foi apenas uma indisposição.
-
Hum... – ela chama a atenção para si - perdi alguma coisa?
-
Se cê perdeu, imagina eu?! Fiquei te esperando no restaurante, gata e quando
ligo pra cá, dizem que cê tá desmaiada!! Com´é que cê tá? – Logan fala,
sentando-se ao lado dela e pegando sua mão.
Ela
acaricia-lhe a mão, o rosto e diz:
-
Agora estou. Só me lembro de estar treinando na sala de perigo, de ter
desmaiado; não sei de mais nada, até agora. Mas seu que a “Dra. Grey” fez
seu melhor! – sorri para a amiga.
Jean
aproxima-se, confirmando com a cabeça e fala, dirigindo-se para Logan:
-
Agora que ela despertou, tenho que fazer mais alguns exames. Rotina. Nos dá
licença, por favor?
-
Claro, ruiva! – levanta-se - Nosso almoço ainda tá de pé, viu? – para
Ohana.
-
Tudo bem, mas eu preferia que fosse um jantar, pode ser?
-
Tá ok. A gente se vê mais tarde. Tchau, Jeannie.
Jean
acena com a mão e, assim que a porta se fecha, ela começa a falar; os olhos
brilhantes:
-
Isso foi só um pretexto para que ele saísse! O que tenho pra te dizer será
chocante!
-
Credo, Jean! Pára com o suspense senão você me mata!
-
Se isso acontecesse, seria duplo homicídio!
-
Quê!?!? – ela arregala o olho e senta-se na maca.
-
Você está grávida, Ohana!
Tudo
emudece. Era possível ouvir as gotas de soro caindo na mangueira. As respirações
ofegantes. Parecia que o tempo havia parado...
No
interior da irlandesa a felicidade fazia-se presente em grande escala; mas havia
uma pequena e insistente insegurança que a impedia de manifestar seus reais
sentimentos...
“O
que Logan fará?”- era a pergunta que não calava! Porém, resolvida a tomar
uma atitude, ela esboça um sorriso. Não importa o que Logan fosse dizer ou
fazer. Ela criaria a criança com ou sem ele!
E,
em seu consciente, sabia do “poder de persuasão” que um bebê podia ter,
mesmo ainda no ventre.
Ela
entendia a preocupação dele com relação à maldade do mundo, contudo,
aconteceu! O que podiam fazer?
Jean
sente os sentimentos da amiga, mas resolve não interferir; deixando que a amiga
decida o que fazer e quando falar.
-
I-isso é incrível, Jean... – ela sussurra - estou muito, mas muito, feliz!
-
Fique tranqüila, ele não pode nos ouvir daqui. A sala é à prova de som -
Jean pisca, colocando a mão sobre o ombro da futura mãe.
-
Prefiro não arriscar! – ela senta-se na maca e abraça Jean – Não quero
que ele saiba de outro modo, além de mim mesma contando. – diz no ouvido da
amiga, ficando em silêncio.
Jean
explica que, por precaução, colocará todos os arquivos encriptados e
acessados somente por ela, através de senha.
Ela
realiza mais alguns testes para determinar o porquê do bebê ter sido descrito
como acima do tamanho e, realmente, a gestação, apesar de estar na 3ª semana,
parecia estar no 1° mês! Isso era incrível e demonstrava, de pronto, que o
metabolismo do feto era parte de sua mutação.
Ela
explica tudo para Ohana e aconselha a fazer um acompanhamento semanal, para
garantir a saúde de ambos.
A
telecinética acena com a cabeça, levantando-se e fazendo menção de sair:
-
Posso me arrumar para o jantar, Jean?
-
Claro! Espero que dê tudo certo! Estou muito feliz por você!
-
Obrigada, amiga! – termina, segurando na mão da “doutora” e subindo para
tomar um banho e arrumar-se.
Já
terminando de arrumar-se, Ohana estava apenas fazendo uma trança no longo
cabelo e colocando brincos e pulseiras. Seu vestido preto de alças e com um
grande decote nas costas deixava seu físico em evidência. O orgulho de ser
mutante está estampado em cada gesto seu, ela é altiva e confiante. Termina de
trançar o cabelo, acaricia a barriga – apenas ela é capaz de notar a pequena
diferença - e, quando vira-se vê que Logan está na porta; braço encostado no
batente, uma perna cruzada; estava de smoking e tinha prendido o cabelo para trás,
num rabo de cavalo. Assim que se vira, ele solta um “fiu, fiu”
-
Cê tá linda, Ohana! – ela adorava ouvir seu nome pronunciado pela voz dele,
tão grave e sexy - hum... vestido novo...
-
Obrigada, Loggie! – retruca, dando uma volta e perguntando: Gostou do vestido?
-
Tá ótimo! Mas cê sabe o quanto sou ciumento...
-
Ah! Como seu eu não fosse! A diferença é que eu não arrumo encrenca! –
diz, indo na direção dele e abraçando-o no pescoço. Ele segura-a pela
cintura, gira-a uma vez e, sorrindo, Ohana fala: Você está lindo, amor!
Ele
ainda ficava sem palavras quando ouvia a palavra amor. Não era sempre que a
telecinética dizia, justamente por isso, mas quando era espontânea, sempre
escapava. Ela finge que não disse nada e segue em frente.
-
Vamos? – ela pergunta.
-
Claro! Sim! – responde o canadense, enquanto um milhão de coisas passam por
sua mente! Ele também a ama, mas não tinha coragem de falar, com medo de que
essa fosse a palavra mágica que ativasse o botão de autodestruição...
Avisam
a todos que vão sair, só para serem localizados em caso de emergência. Esta
noite eles não eram X-men, mas sim, apenas um casal querendo passar bons
momentos juntos.
Pegam
um corvette conversível, apenas com o símbolo nas rodas; a noite estava
extremamente agradável, a lua cheia fazia tudo ter uma cor sensualmente
sombria, o vento soprava vagarosamente... Tudo estava perfeito!
A
ida até a cidade acontece sem maiores problemas, com trocas mútuas de carinho
e muita alegria.
Chegam
ao restaurante e, após confirmar a mesa, o garçom leva-os até um reservado
que deixava à vista um mimoso jardim.
O
garçom puxa a cadeira e Ohana senta-se, logo em seguida Logan também se senta
e o garçom diz:
-
Boa noite! Sou Gautier, seu garçom e estarei trazendo, como oferta da casa, um
cálice de vinho do porto, juntamente com o menu. Retornarei prontamente, oui?
Ambos
acenam com a cabeça e ele deixa-os a sós.
Ohana
pega na mão dele e, com olhos brilhantes, anuncia:
-
Tenho algo muito importante para te dizer!
A
expressão facial do canadense muda. De romântico para interessado. Ele coloca
a outra mão sobre a de Ohana e completa:
-
Cê sabe que pode me contar tudo, gata! – e sorri.
-
É, eu sei... Mas isto está sendo um pouco mais complicado, talvez por meu próprio
receio de como você irá reagir...
O
óbvio passa pela cabeça dele: “ela vai me deixar! E eu nem mesmo disse o
quanto a amo!”
Nesse
instante o garçom retorna e, vendo ter interrompido algo importante – pela
cara que Logan fez -, diz:
-
Assim que escolherem é só me chamar... – retira-se, deixando os cálices de
vinho e o menu no centro da mesa.
-
Hã – a ruiva tenta retomar - Você lembra-se do passeio que demos nas
Rochosas, a três semanas atrás?
O
mutante sorri, maliciosamente, de canto de boca e responde:
-
Claro! Tivemos a infelicidade de encontrar o Dentes, mas assim que cuidamos
dele, foi uma noite e tanto! Aliás, eu me lembro até do tailler vermelho que cê
usava da primeira vez que te vi, de cada detalhe, imagina se não vou lembrar de
uma coisa que aconteceu há três semanas... Por que a pergunta, ruiva?
Ela
sorri diante do comentário. Mas que memória ele tinha!
Acariciando-lhe
a mão, como que tentando encontrar a palavra certa, perdida em alguma linha ou
músculo:
-
Bem... Naquela noite eu... Você... – “fala de uma vez, Ohana!” - Logan,
você vai ser pai! – olha-o nos olhos para não perder nada, nenhuma mudança
de humor.
Pela
primeira vez, desde que ela se lembra, ele não tinha nenhuma resposta, o “Sr.
Resposta afiada” ficou mudo; seu rosto congelou na expressão de surpresa
total!
Não
sabendo o que fazer, ela decide ficar quieta e simplesmente continua olhando-o,
sem preconceitos ou qualquer pensamento, além de alívio! Ela ter conseguido
falar era o que importava! Claro que ela gostaria de o ter ao seu lado, criando
a criança, mas não poderia obrigá-lo.
Contudo,
depois de três minutos como que catatônico, quem aparece para interferir foi o
garçom. Achando que haviam demorado muito, ele aparece e Logan, mais que
rapidamente, segura-lhe forte o braço e diz, entre dentes:
-
Xará, vê se trás o prato que demore mais pra ficar pronto! – e olhando-o
ameaçadoramente, diz: Cuide pra que demore mesmo, falô?
O
pobre empregado acena com a cabeça e vai rapidamente pedir para que preparem o
jantar mais demorado possível...
Voltando-se
para Ohana, levantando-se e apoiando as duas mãos na mesa, ele diz:
-
Guria! Cê só pode tá brincando!!
-
Humpft! Você ficou três minutos em estado de letargia pra me dizer isso?...
Sinceramente... – ela encara-o - Se eu quisesse brincar, teria inventado
alguma outra desculpa! Sei como esse assunto incomoda você.
Ele
volta a sentar, pega um charuto e diz:
-
Bom, então, acho que temos que celebrar.
Chama
o garçom que chega meio ressabiado e fala:
-
Quero que cê sirva o melhor champagne pra todo mundo! Minha mulher está grávida!
– e acende o charuto, com um sorriso nos lábios.
De
outra pessoa, Ohana teria entendido como cínica a cena, mas vinda dele, era,
simplesmente, normal... Agora quem estava com cara de boba era ela. E de uma
coisa ela tinha certeza: Ele jamais seria capaz de decifrar; seus humores eram
mais instáveis do que o clima! Ela maneia a cabeça e comenta:
-
Por essa, eu não esperava...
O
rosto dele estava totalmente luminoso! Ele nunca pensou que conseguiria
perpetuar seus genes, deixar alguém pra contar a história, alguém que ele
pudesse educar como ele não teve a oportunidade de ser. Ou foi? Esses momentos
ele nunca ia esquecer. Seria seu triunfo! O prova de que era mais do que uma
aberração solitária. Ele ia ser pai!!
Olhando
Ohana nos olhos ele comenta, após uma longa baforada de charuto:
-
O que cê queria? Que eu colocasse esse restaurante abaixo, num ataque de
loucura?
-
Não sei! – ela comentou – Apenas não esperava essa felicidade. Dá pra ver
pelo seu rosto que está genuinamente feliz! Eu pensei que fosse ter alguma
resistência de sua parte. Não que eu a quisesse, mas...
Ela
é interrompida:
-
Se cê não queria, então devia estar tão feliz como eu. Sabe, os anos passam,
mas eu nunca vou entender as mulheres... – dá mais uma tragada, com cara de
totalmente perplexo.
Finalmente
Ohana sorri; ambos sorriem! O garçom retorna e, trazendo um belo prato de
frutos do mar, acompanhado de vinho branco:
-
Aqui está o seu pedido. Espero que aproveitem. Qualquer coisa é só me
chamar... – ele fica algum tempo ali, parado, como quem espera alguma reação
dos dois, uma desculpa, mas tudo o que ele ouve é:
-
Tá tudo ok, guri! Se precisar a gente te chama. Agora vai andando... – Logan
diz, pegando um garfo e comendo com gosto um pedaço de lula.
A
ruiva sorri. Ela percebeu que ele esperava uma desculpa e, servindo-se também
de um pedaço de peixe, ambos comeram e beberam sem nada falar.
O
canadense pareceu descontar toda sua alegria e nervosismo na comida. Pediu três
pratos principais e bebeu duas garrafas de vinho sozinho. Ohana estava perplexa,
ele nunca havia comido tanto assim!
Por
volta das 11 p.m. ele finalmente resolve pedir a conta. Paga mais uma rodada
para todos os presentes, apresenta você a eles e, totalmente aturdido, sai,
levando Ohana pela mão.
Chegando
perto do corvette a ruiva decidi agir:
-
Logan, você está bem? Comeu como nunca, agiu estranho e, acima de tudo, não
conversou muito comigo. Você...
Mas
ela é impedida de continuar a falar. Segurando-se no capô do carro, Wolverine
cai ajoelhado, sem emitir nenhum som!
Rapidamente
Ohana olha ao redor, esperando encontrar algum agressor escondido e, sem nada
perceber, corre até onde Logan está.
-
O que aconteceu? Logan!
Ele
se vira, ofegante e o que Ohana pode ver é um rosto banhado em lágrimas:
-
E-eu vou ser pai, Ohana! Eu... – e reinicia a chorar. Como uma criança.
Só
então a ruiva entende que todas as atitudes tomadas antes eram uma fuga, um
meio de tentar não demonstrar o que realmente sentia. Mas nem mesmo um
organismo tão “frio” pode ficar muito tempo apático a uma notícia dessas.
-
Querido! Mas é claro que será pai! E acredito que será um ótimo, ainda! –
ela o afaga, ajudando-o a levantar. Leva-o até o banco de passageiros e vai
sentar-se no do motorista.
Ohana
não faz menção de dar a partida. Ela queria ter certeza de que ele já estava
recuperado e tinha voltado ao normal, ao invés disso, ela segura a mão dele,
carinhosamente:
-
Como você está, me diz alguma coisa. Esse silêncio me mata!
-
Ohana... Eu quero te dizer tanta coisa, mas...
-
Me diz, aos poucos. Ninguém quer que você diga tudo de uma vez! Eu vou estar
sempre aqui. Não vai se livrar de mim tão cedo. – ela brinca.
-
Espero que não, mesmo! – ele faz um carinho no rosto dela – Sabe, depois da
Mariko, minha fera interior voltou mais forte, querendo rasgar e quebrar, eu
tinha que ter uma força de vontade do cacete pra não ceder a ela. No momento
em que te conheci, ela aquietou. Algumas vezes mais do que eu gostaria e, nesse
momento, eu nem mesmo a sinto! Tô num mato sem cachorro! Me sinto estranho e,
de uma forma mais assustadora ainda, isso me faz bem... Eu só preciso de um
tempo pra cair na real e passar a fazer mais parte da tua vida. Sei que tenho
sido meio distante, fiz isso pensando que tava protegendo a gente... Mas, se você
se sente como eu me sinto agora, eu... Queria pedir desculpas, tá?
Ele
fez aquela cara de “cachorro pidão” que deixava Ohana sempre sem ação.
Ele podia conseguir o que queria com aquele olhar e, talvez por isso, raramente
o fazia. A ruiva se derrete por dentro. Incapaz de acreditar que ele realmente
havia dito aquilo e, acima de tudo, pedido desculpas!
-
Não tem do que pedir desculpas, amor! Só sinto que não tenhamos tido uma
conversa dessas antes...
-
Quanto a isso, bom, tem outra coisa que eu quero te dizer: Eu... sabe... Te amo,
Ohana!
Aquilo
foi demais! Dose cavalar de carinho pra uma só noite! Totalmente sem saber o
que dizer, a telecinética arregala os olhos e, levada por ele a sentar-se em
seu colo, beijam-se e ficam assim por um longo tempo.
Se
não percebessem que o restaurante tinha fechado, jamais teriam se dado conta do
tempo. Já passava da 1 a.m.! Dando a partida, Ohana inicia a volta para o
Instituto.
CONTINUAAAAAAAAA!!! Qndo não sei... mas continua :)
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Bom, é isso! Espero que tenham gostado! Qualquer opinião, e-mail
me!
codinomewolverine@ieg.com.br