Momentos na vida
Fanfic escrito por Liura Sanchez Lauri    codinomewolverine@ieg.com.br

Personagens: Logan , Jubileu, Jean Grey, Professor X e uma mutante inventada por mim: Ohana.
Categoria: Censurado para quem tem a mente muito imaginativa! :D

Existem alguns momentos na vida onde sonhar é uma necessidade. Momentos esses onde a realidade é tão dura que sonhar pode ser a única escapatória da loucura!

A vida de um mutante pode ser bem difícil, um pouco mais do que a dos ditos “normais”.

Ohana estava tendo um dia daqueles; eram apenas 11:30 da manhã e ela já havia ido trabalhar – chegando atrasada – e acabou discutindo com o chefe e demitindo-se, afirmando – veementemente, para se convencer - merecer um emprego melhor, no mínimo, mais “humano”. Realmente, não era fácil ser operadora de telemarketing de um produto falido! Ainda mais com a cota de vendas que seu ex-chefe –bastardo!- cismava em dar para ela.

“Não é possível que haja alguém capaz de trabalhar sob tamanha pressão! Claro que sempre existirão os que adoram pressionar, mas encontrar algum imbecil a ponto de subjugar-se?!” – pensava, distraída.

Ohana é uma mutante, capaz de mover objetos e pessoas com o poder da mente – telecinesia-, ela sabe disso, porém resolveu relegar a um segundo plano de sua vida. Isso era útil quando estava na banheira e havia esquecido o champagne; se estivesse sentada e quisesse um copo d’água, coisas assim, triviais, sempre dentro de casa... até agora.

Seus pensamentos estavam conturbados e, quando foi atravessar a rua, distraidamente, percebe –alguns segundos antes- que um carro vai em sua direção. Seu reflexo foi tão rápido que, instantaneamente, o carro pára a alguns centímetros dela e é “empurrado” até o farol –a alguns metros de distância.

----------------------------

Enquanto essa cena desenrola-se, a uma certa distância, um baixinho invocado e uma garota travavam um diálogo:

- Então é essa a guria, hum?

- De acordo com o que o professor captou, sim... *mas que perua!* – ela pensa

- Nossa! – o outro comenta, enquanto acende um charuto - olha só como ela tem controle... acho que o Charlie a subestimou...

- Ah! Não! Você tá chamando isso de controle?... A Jean faz isso brincando... – a garota completa, fazendo beicinho.

- Ei, Jubi, cê não tá querendo comparar uma ruiva com outra, né? Quis dizer que pra uma ex-telefonista ela controla muito bem... – ele completa, colocando seu chapéu de cowboy e percebendo como Ohana passa apressada pelos dois, tentando desvencilhar-se da multidão. Ele pôde sentir o cheiro suave de seu perfume mesclado ao seu nervosismo.

- Sei, Wolvi! Sei! Pela sua cara acho melhor eu falar com ela, senão você vai atacá-la! Será possível que não pode ver uma ruiva?! – Jubileu diz, dando claras mostras de ciúme...

- Nada disso, guria! A gente veio junto e vai junto até o final. Além do mais, desde quando cê toma conta da minha vida? – Logan completa, tomando a dianteira e sendo seguido de perto por uma Jubileu emburrada.

 

----------------------------

Ohana estava, no mínimo, assustada! Não queria ter feito aquilo; não com tanta gente olhando. Era perigoso ser mutante. Os debates na TV e os assassinatos contra os “diferentes” estavam virando rotina e, mesmo diante das promessas do chefe de polícia em tentar resolver os casos, nada concreto havia sido feito até o presente.

Algumas quadras depois, a ruiva entra num café; senta-se no bar e pede um duplo. O garçom a encara por alguns segundos, como que para estar certo do pedido e, nesse ínterim, os x-men entram, sentam-se em uma mesa e ficam observando de longe. Jubileu pede um suco de morango e Logan uma cerveja.

O que eles podem observar é uma mulher nos seus 27/30 anos, magra para a altura, com a pele bem branca e os cabelos vermelhos como fogo. A roupa que vestia deixava ver um físico até que “malhado” e também deixava claro a característica independente da pessoa que a usava. Era um tailleur vermelho, porém ela não usava nenhuma blusa por baixo e estava desabotoado até a altura do peito, um sapato de salto agulha também vermelho completava o visual.

A telecinética pede mais um duplo e percebendo que o garçom ia tentar persuadi-la, diz:

- Não... duplo não, apenas um “on the rocks”, ok?

- Humpft!! Além de tudo é bebum! – comenta Jubi, maldosamente.

- Olha, Jubi, as pessoas se comportam de maneiras diferentes diante da mesma situação... ela tá hiper-tensa. Acho que a gente podia falar com ela agora, o que cê me diz?

- Eu digo que você pode ir sozinho. Eu espero aqui... Não tenho paciência com certos tipos de gente!... – completa, tentando parecer má.

- Tá gatinha, eu sei... – o canadense diz, sorrindo e batendo de leve na mesa, enquanto tira o chapéu e deixa perto da Jubi: - Olha pra mim, falô?

Ohana havia acabado de beber; estava decidindo se pedia mais um ou ia para casa. Seus dedos brincavam, nervosamente, com o copo, enquanto seus pés subiam e desciam no apoio da banqueta.

“Posso me sentar aqui e te pagar alguma coisa?” ela ouve; uma voz grave e decidida. Vira-se, rapidamente, topa com um baixinho de cabelo engraçado, calça jeans, camiseta xadrez e botas. Dentro disso tudo um corpo muito malhado.

Diante do movimento brusco da ruiva e para tentar quebrar o gelo, ele diz:

- Ei, ei, eu venho em paz! – com as mãos para cima, dá um sorriso que mais parece uma careta. Nossa! Como seus caninos são afiados!

A mulher emudece e o baixinho não espera por uma resposta. Senta-se ao lado dela e, enquanto chama o garçom, diz:

- Meu nome é Logan. Ainda gostaria de te pagar uma bebida, senhorita?...

- Um conselho, sr. Logan: Creio que esse não é o melhor modo de se aproximar de uma mulher. – sua voz demonstrava todo o nervosismo- O sr. foi, até mesmo, rud... ele a interrompe:

- Bom, funcionou até hoje... e, como pode ver, não tem uma fila de mulheres pra reclamar; se não queria que eu me sentasse e te pagasse algo era só ter falado, tudo bem, não precisava ser rude, moça... – Ele estava certo! Ela é quem havia sido rude, e muito. Logan já estava voltando para a mesa quando Ohana diz:

- Hã... desculpe! Me-meu nome é Ohana e não tive a intenção de ser rude - *e nem de jogar fora a única coisa boa que me aconteceu em semanas*- E-eu aceito seu drinque...

Enquanto a ruiva falava, Logan voltava para o banco ao lado dela. Sua voz era embriagante! Suave, ainda com um tom de nervosismo; mas firme em suas decisões.

- Tá tudo bem... Dia difícil? – o mutante completa.

- É... Você diz por causa da bebida? Eu estou acostumada a beber, sou descendente de irlandeses, mas não faço isso freqüentemente. H-hoje foi um dia bastante incomum...

Confiança! Ele precisava ganhar sua confiança e não poderia ter vindo em melhor hora um programa de entrevista, na tv do bar. A pedido de um cliente, o barman aumenta o som e o assunto é: mutação.

Ohana até mesmo esquece-se de Logan por alguns minutos, tão entretida estava com os rumos do programa. Uma senhora no auditório dizia que todos os mutantes deviam morrer, pois não havia menção deles na Bíblia. Outros discutiam fervorosamente que esse não era o caminho.

Os dedos da moça voltam a brincar com o copo, agora também, uma das mãos mexe nervosamente no cabelo.

Logan gostaria de dizer que partilha de seu nervosismo; pessoas fanáticas são o problema do mundo, ele pensa isso, mas diz outra coisa:

- Eu disse ou fiz algo de errado, Ohana?

Ouvir seu nome a faz voltar à realidade, ela não sabe o que ele disse antes, mas imagina ser sobre a bebida e, por isso, responde:

- Oh! Desculpe a distração! Eu vou querer um blue berry, por favor...

- Um blue pra moça, garçom. – pede, levantando o braço e fazendo-a perceber o quanto ele é forte!

- É pra já, sr... – o novato responde, indo preparar o drinque.

- E, então, sr. Lo...

- Me chama só de Logan, ok?

- Certo! – sorri - Então, Logan, sempre fica oferecendo drinques para as solitárias desse bar? – inquire, cruzando as pernas e deixando-o ver os músculos de sua coxa.

Ele olha, sem nenhum disfarce e sorri. É bom saber que ela também está a fim dele... Se tem algo que o canadense sabe é como é difícil para ele chamar a atenção de alguma mulher. Isso o deixa um bem à vontade, porque ambos queriam a mesma coisa.

- Na verdade, eu nunca entrei nesse bar antes! E digo que, por ser a primeira vez, ele me surpreendeu. – termina, dando uma olhada geral.

Ela cora de leve, seu pensamento não era o que se podia chamar de modelo de pureza, naquele instante, e ele ainda dizia isso? Era música para seus ouvidos! Finalmente sairia daquela maré de azar atual... Não que dormir com um estranho fosse saída para algo, mas ela percebia alguma honestidade nos olhos daquele homem.

- Ora! Fico lisonjeada! – ela acena com a cabeça - pelo menos é o melhor que já ouvi nesse bar... Você não gostaria de ir até minha casa, fica a alguns quarteirões daqui. - *mas o que está fazendo, Ohana! Desse jeito ele vai perguntar quanto custa!!*

A pergunta o surpreende. Realmente ela era rápida e decidida; infelizmente ele teria que falar do Instituto. Negócios antes do prazer... Ele ia começar a puxar papo só pra garantir que não ia levar um tapa na cara pelo que tinha a dizer, quando ela o interrompe:

- Antes que fale alguma coisa: não, eu não costumo levar caras pra lá. É que, sei lá... Você parece diferente. – ela morde o lábio, nervosamente.

- Fica tranqüila, Ohana! Eu sou tão diferente quanto você. Aliás, impressionante o que cê fez com aquele carro. Eu {SPLATCH}

- Seu filho da mãe!! Você me seguiu? É um daqueles loucos que caçam mutantes?! – ela fala alto.

É... ele não se livrou do tapa na cara. Claro que não doía na carne, só no ego e, essa sim, era uma dor e tanto!

Ela ia dar outro, talvez devido à demora dele em falar algo, mas Logan não deixa; segura sua mão, puxa-a para si e dá-lhe um beijo, sem cerimônia nenhuma, um beijo como a muito ela não recebia. Nele ela pôde perceber o quanto ele também estava a fim dela, um frio percorre seu estômago e, antes que pudesse pensar em algo, ele pára. Por algum motivo, não podia prosseguir...

As mãos que queriam bater, agora estavam enlaçadas por outras mãos fortes. Ela jamais esperaria por essa. Senta-se e com o semblante neutro, diz:

- Fala! Sou todo ouvidos... – sua voz não era mais nervosa. Tinha um quê de tristeza. – Você é daqueles, primeiro os negócios depois a diversão? Se você está tentando me vender um seguro de vida... bom, eu não preciso, como deu pra ver...

Ironia. Da mais pura e sarcástica. Logan sente que as palavras não querem sair de sua boca. Ele preferia ter aceitado o convite, mas acha isso uma sacanagem. Senta-se, dá um gole na cerva e diz:

- Como eu disse, gata, sou tão diferente quanto você. Não consigo fazer as coisas flutuarem, mas tenho... digamos, uns acessórios que compensam.

- Não veio até aqui pra me contar sua história, né?

Ohana não o olhava mais nos olhos. Ela não queria ter mais nenhum contato! E pensava: “Quando se pensa que não pode piorar, as coisas acontecem...”

- Ei! Se não tá a fim de ouvir, pode ir... não vou gastar saliva com quem não tá nem aí!

- Como você pode me dizer isso depois do que fez?! –ela exalta-se, suas artérias aparecendo no pescoço - e ainda não respondeu se é um “caça-mutantes”.

Diz essa última palavra com desdém, afinal, se ele for não faz diferença agora. Isso só ia comprovar o que já sabia: nunca soube escolher os caras certos. Nunca!

- Cê queria que eu tivesse dito depois? Não ia ser pior ainda? E não, se eu fosse te caçar, cê já ´taria morta!

- Hu!... Quer dizer que é assim seu verdadeiro eu?

- Do que cê tá falando? Não sabe nada sobre mim e não faço questão disso. Olha, – ele completa, escrevendo algo num papel e batendo a mão na mesa - nesse cartão tem o telefone do Instituto. Quando deixar de sentir auto-piedade e quiser fazer a diferença, liga pra esse número! *ggggrrrrr*

A ruiva assusta-se com a atitude de Logan. Recolhe o cartão, devagar, permanecendo sentada na mesma posição.

O baixinho caminha até a mesa e, no caminho, solta um “tá olhando o quê?!” para um casal sentado na mesa ao lado.

- S’imbora, Jubi! Não temos mais o que fazer aqui! –ele deixa uma nota de 20, pega seu chapéu e sai, muito “p” da vida. A garotinha vai logo atrás, sorrindo da cena e terminando de tomar seu suco.

- O que aconteceu lá, Wolvi? – ela pergunta, depois de alguns quarteirões em total silêncio.

- Não quero tocar no assunto...

O resto do caminho é silêncio total. Chegam no hotel depois de quinze minutos, cada qual vai para seu quarto e ambos jogam-se na cama e ficam assim algum tempo.

No bar, a telecinética fica alguns minutos sentada, depois que os dois saem. Lê a frente do cartão:

 

INSTITUTO XAVIER PARA JOVENS SUPERDOTADOS

Westchester - NY

Tel.: 53-25-15-00

 

Ela vira-o e lê um número escrito apressadamente: 45-10-17-73 h. plaza

- Mas que raio! Depois que resolver tudo isso, prometo nunca mais reclamar da vida!

Havia algo em Logan que Ohana não sabia dizer o quê. Mas cogitava ser sinceridade; algo que em sua vida, pôde presenciar por poucos momentos em raríssimas pessoas. Ela paga o que deve, atravessa a rua e liga a cobrar, depois de verificar que sua bolsa estava vazia:

{TRIM} – Recepção do Hotel Plaza, pois não?

- Ligação a cobrar, sr. Logan, é da senhorita Ohana, o sr. aceita?

- Hum... aceito sim. Fala, guria...

- Hã... Sei que é piegas mas, me desculpe... não te dei a chance para falar e não agi como gostaria que agissem comigo...

- Essa é tua filosofia?

- É... sim.

- Acho que tá na hora de tu repensar ela...

- Olha! Eu errei! E-estou disposta a te ouvir; estou mais calma agora. Eu pensei que as coisas iam tomar um rumo diferente e você... a sua sinceridade me deixou sem ação!

- Hum, hum...

- Ah! Droga! Eu vou até o bar do hotel Plaza, tá? Vou ficar uma hora esperando por você, se não aparecer, vou embora e será um castigo bem merecido pra mim, ok?

- Ok... {TUM, TUM, TUM}

- Mas que filho da...! Desligou na minha cara! Aiaiai, Ohana, você só se mete com caras doidos, isso ainda vai acabar com você...

Depois de alguns minutos ela chega na recepção do Plaza, pergunta onde é o bar e, só pra não acostumar, pede uma vitamina de frutas. Fica esperando e, agora que estava mais tranqüila, começa a pensar na palavra “superdotados” na frente do cartão....

No quarto, Logan resolve não deixá-la esperando muito. “Só uns vinte minutos”, ele diz para si; levanta-se e, sem mesmo avisar Jubileu, desce pelo elevador indo para o bar; na entrada ele pôde sentir o cheiro da moça e, alguns passos depois; vê-la. Ela estava bem mais calma, isso ele conseguiu constatar.

Ficou olhando-a, tentando entender o que ela tinha de diferente que o prendia assim, porém, não pôde olhar muito, a ruiva virou-se, como se tivesse sentido que estava sendo observada. Logan disfarça e, sentando-se ao lado dela, comenta:

- Você não é telepata também, né?

- Eu sempre consigo sentir quando estou sendo observada – diz, sorrindo - acho que isso não me faz uma telepata...

- É... Dever ter alguma relação com a telecinesia, já que seu cérebro acaba ficando mais “alerta” do que o normal, digamos...

Ohana presta muita atenção, não diz nada, apenas ouve:

­­- Ruiva, como você pode ver no cartão, faço parte de um Instituto que ensina e protege mutantes. Na verdade também serve de fachada para algo mais sério, pra coisa de “gente grande”, entende?

- Está um tanto vago até agora, mas prossiga. - diz isso apoiando os cotovelos na bancada do bar.

Ele pára uns poucos instantes e surpreende-se com o olhar de “menininha interessada” dela. Grandes olhos verdes arregalados. Volta a falar:

- Bom, o nosso mentor e criador do Instituto, Professor Charles Xavier é um dos maiores telepatas do mundo e...

- Eu já vi esse cara na tv! Ele-ele é paralítico, não?

- É ele mesmo. E por ser um telepata tão desenvolvido ele consegue detectar mutantes quando eles ativam seus poderes. Foi assim que ele te achou e como percebeu que você estava passando por um período muito conturbado da sua vida, pediu pra que a gente viesse te oferecer a oportunidade de desenvolver sua mutação em prol de algo maior. A gente tá sempre na tv, usando roupas engraçadas – ele sorri - não sei se já viu. Somos os x-men! –completa com um sorriso inteiro, daqueles que aparecem toda a arcada dentária.

- Putz!! Os x-men?! – Ohana surpreende-se, enquanto pensa “acho que eles me confundiram! Não tenho “cacife” para entrar em algo assim!!”

A demora em responder faz com que Logan quebre o silêncio:

- Gata, você não precisa responder agora e, muito menos, é obrigada a aceitar se não se sentir preparada... –o canadense termina, colocando a mão sobre a da ruiva.

- São todos tão dedicados quanto você, no Instituto? – ela inquiri, sorrindo, sem malícia - É porque faz muito tempo que eu não me sinto num lar de verdade... Parece que você sabe o quanto é duro se sentir sozinho... –completa a telecinética, levantando e abraçando-o.

- Cê tem certeza que não é telepata, gata? – ele diz, retribuindo o abraço de forma bem espontânea.

Ohana sorri:

- Acho que o Professor terá que descobrir isso... Na verdade, o palpite surgiu por você não desistir de mim, mesmo quando eu mereci isso. É só uma prova de que você passou por algo parecido na vida. Eu juntei as partes, só isso.

Ela torna a sentar-se. Ambos sorriem e a alegria é até mesmo palpável.

- Até quando eu posso decidir?

- Bom, eu não gosto de pressionar, mas o avião sai hoje, às 9 p.m. Ah! Eu também tô acompanhado – ele completa.

- Ah... tudo bem... hum – essa última informação a deixa meio sem jeito - Eu não quero atrapalhar nada, ok?

Agora quem fica sem jeito é ele, coloca a mão sobre a nuca, pigarreia:

- Não, Ohana! Ela é uma espécie de pupila minha, como uma filha, sabe? Seu nome é Jubileu Lee...

- O-ok, então... – ela faz menção de levantar-se - Já que eu decidi ir, acho melhor fazer minhas malas.

Pareciam crianças, ambos sem saber o que dizer, tamanha era a atração mútua... Por sorte, Wolvie nunca foi muito de falar; mas de agir... Enquanto ela virava-se para sair, ele a pegou firmemente pelo braço, chegou-a a si e deu-lhe outro beijo, ao qual, igualmente, ela não põe resistência; parecia algo que deveria ser. A ruiva sente como se, desde sempre, devesse ser abraçada pelos fortes braços dele. O sentido de “completude” ficava nítido naquele momento.

Ele, por sua vez, sentia-se muito diferente. Aquilo não estava tomando o rumo de mais um “casinho”. Logan sentia que o animal dentro de si também apreciava o momento. Algo que não acontecia comumente... Isso o punha numa situação singular.

O calor dela, sua pele, seu cheiro; tudo parecia no lugar certo, pela primeira vez ele estava em concordância consigo. Pela primeira vez, depois de Mariko Yashida... Isso era bom!

- Você não quer ir me ajudar a arrumar as malas? – pergunta Ohana, logo após o beijo; com a sensação mais gostosa do mundo em si: felicidade plena.

- Claro! – completa Logan, segurando-lhe a mão.

Na saída, ele deixa um recado com a recepção de com quem estava e de que logo voltaria, caso Jubi se inquietasse.

- Você preocupa-se mesmo com a garota, hein?

- Ela é minha família, assim como o pessoal do Instituto. Antes deles eu não me sentia bem em nenhum lugar, vivia sem propósito, desgarrado do mundo. Como me disse uma vez o Charlie: “solitário, encontrou um lar; descrente conheceu algo em que acreditar”. Isso me define muito bem, antes e depois dos X-men. Eu posso até querer ter meus momentos de solidão – aos quais eles respeitam - mas eu sempre acabo voltando. Lá é meu verdadeiro lar...

- Hum... Quer dizer, então, que você tem um passado e tanto, não? – ela brinca, fazendo cara de “você está me escondendo algo”.

- Ah! Ruiva, se eu fosse contar, cê não ia acreditar! Se cê ficar firme no grupo, eu vou te contando aos poucos; pelo menos, as partes que eu me lembro... –completa, deixando o semblante dela um tanto carregado.

Mais alguns passos e ela diz:

- Chegamos! – sobe um lance de escadas - Seja bem-vindo ao meu humilde lar! – ela abaixa o tronco e estende as mãos, para que ele entre. Logan o faz, sendo seguido por Ohana.

O que ele vê é uma típica casa de classe média; um estreito, porém aconchegante, corredor onde ao fim pode-se ver uma escada de algumas dezenas de degraus. À esquerda, uma entrada para a sala, sem nada de muito esdrúxulo. É uma pessoa normal, sem muitas pretensões. A próxima porta à direita era a cozinha e, subindo os degraus, do lado direito do hall ficava o quarto da moça e, em frente, o banheiro. Tudo muito arrumado e cheiroso.

Depois de dizer o que era cada cômodo, a ruiva, entrando no quarto, fez descer da parte de cima do armário uma mala, não muito grande; a qual foi levitando até a cama e abriu-se.

Enquanto isso ela pergunta:

- Você não disse como eu vou pagar pela minha estadia...

- O Charlie é rico, Ohana. O seu dinheiro é seu... O que a gente quer em troca é sua disposição em aprender e treinar sua mutação, só isso. – ele conclui.

- Bom, se vocês têm treinamento é porque combatem alguma coisa, certo? Que tipo de coisa é? – ela questiona, começando a abrir as gavetas mentalmente e fazendo algumas roupas ajeitarem-se na mala, enquanto vira-se para ele e espera a resposta.

Logan impressiona-se com o controle, levando em conta que ela nunca direcionou seu treinamento para desenvolver todo seu potencial.

- Hã... Na verdade, combatemos nossa própria espécie. Parece irracional, mas é o que acontece.

- Como assim? Por quê?

- Alguns mutantes acreditam que enquanto existir o ser humano, nunca conseguirão viver em paz. Eles acreditam que o homo sapiens deve ser eliminado. E um deles, inclusive, auto-intitula-se capaz de liderar os mutantes nessa empreitada. É coisa de maluco, mesmo...

- Eles querem fazer o mesmo que os humanos fazem por séculos... Exterminar não é a saída – a ruiva termina, “colocando” alguns frascos de perfume na parte externa da bolsa e fechando-a. Enquanto a trás para si, Logan pergunta:

- É nisso que cê acredita?

Seus olhos lúcidos olham nos dele:

- Sim. Sempre...

- Então, seja bem-vinda – ele diz, passando a mão em seu cabelo, beijando seu pescoço, abraçando-a. Ela pousa a mala no chão, perto da cama e retribui os carinhos. Desabotoando a camisa dele e passando suas mãos pelo tórax, costas; ao mesmo tempo em que ele também desabotoa seu tailleur.

Fazia tempo que Ohana não sentia essas sensações. Como ela mesma havia se censurado, nunca soube escolher os caras certos, até agora.

Ela deixa-se ser despida e, mesmo não sabendo que ele é o melhor naquilo que faz, naquela noite, ela comprova o fato. Apesar de ser, até a presente data um solitário incorrigível, ela sabia o que fazer com uma bela mulher.

Ao final, a ruiva não tem dúvida de esta ter sido a melhor tarde da sua vida!

Adormeceram juntos, ele abraçando-a por trás e ela segurando suas mãos.

O avião sairia às 9 p.m. e, lá pelas 6:30 p.m. eles despertam; na verdade, a ruiva desperta e dá de cara com um Logan já arrumado, sentado ao lado da cama, olhando-a. O queixo apoiado nas mãos e estas nos joelhos.

Ohana abre os olhos devagar... Sem estar totalmente acordada. Os sentimentos e sensações das horas precedentes começam a voltar e, com eles, ela retorna à realidade. Espreguiça-se:

- Hum!... Faz tempo que está aí? – ela quebra o silêncio.

Apenas levantando um pouco a cabeça, ele responde:

- Algum tempo. Não tive coragem de te acordar e, te olhando, não vi a hora passar. – diz com um sorriso e uma breve olhada no relógio - Temos 2 horas antes do vôo.

Ela puxa o lençol, coloca-o no corpo enquanto senta-se na cama, logo em seguida levanta-se, vai até ele, beija-o e diz:

- Vou tomar um banho rápido, já volto, ok? Quero ir num lugar antes de viajar. - pelo cheiro gostoso e pelo cabelo um pouco molhado, ela conclui que o canadense já o fez e provoca:

- Ah! Que pena você já ter tomado banho... Eu ia te convidar pra ir comigo. – pisca, beija a cabeça dele e vai.

No chuveiro, relembra cada momento, desde que o vira pela primeira vez e não acreditou em como tudo aconteceu de repente, com essa estranha sensação de “o conhecer desde sempre”.

Coloca uma roupa mais formal – jeans e camiseta - faz uma trança e encontra-o sentado na mesma posição, um olhar distante.

- Logan, você está bem? – tocando-o no ombro.

Ele segura a mão da moça, beija-a e diz, meio distraído:

- A vida é tão estranha. Cê não sabe como é difícil pra mim ter esses momentos. E, pensando, percebi que é porque eu me afasto... Sofri e amei muito. Os dois ao mesmo tempo; que acho estranho amar sem sofrer...

Ela senta-se no colo dele, com uma cara de dó. O tom de voz dele era de real tristeza. Ohana acaricia-lhe o rosto, enquanto tenta imaginar o que poderia ter sido tão ruim assim; mas suas experiências não têm nada a ver com as dele, nada do que ela imagina condiz com a realidade...

O canadense segura-lhe a mão e suspira, dizendo logo em seguida:

- Gata, tenho que te dizer uma coisa: não amei muito na vida, mas os amores que tive... Como posso dizer isso. Posso parecer brusco, eu sinto muito. – ele mede suas palavras, pela primeira vez - Foram assassinados!...

Os olhos verdes dela arregalam-se e ele continua:

- Durante minha vida, fiz mais inimigos do que amigos, talvez pela minha natureza. Tenho que te avisar... Eu sou virtualmente indestrutível. – ele afasta-a delicadamente e levanta-se - Lembra dos acessórios que eu disse que compensavam o fato de eu não ser telecinético? Bom, {SNIKT} esse é um deles.

A ruiva pula pra trás, colocando a mão na boca e dizendo:

- Agora entendi o porque de ter dito que se fosse me matar, já estaria morta! – Ela aproxima-se, toca a mão dele, sente as garras:

- Mas elas são de metal! Como isso é possível?

- Eu tenho esse metal no corpo todo, na verdade, meu esqueleto é desse metal. Chama-se adamantium e é indestrutível. Também tenho um fator de cura acelerado, por isso não sangro e, além disso, meus sentidos são superaguçados, tanto olfato quanto audição.

A garota presta atenção, não acreditando que pudessem existir mutantes assim.

- Mas... você nasceu com esse metal? Eu... não entendo...

{SNIKT} Ele recolhe as garras, volta a sentar-se. Ohana senta-se na cama:

- Contra a minha vontade, eu fui submetido a um projeto canadense, feito para criar a arma perfeita. Por isso eu também comentei sobre ir te contando da minha vida, as partes que eu lembrasse. Porque além de implantarem esse metal em meus ossos, eles também bagunçaram minha mente, colocando implantes que facilitassem o controle, pra eles... Muitos momentos da minha vida foram criados e colocados em meu cérebro, mas de forma tão complexa que nem mesmo o Charles pôde me ajudar. Ele não conseguiu diferenciar quais são as memórias reais das implantadas. Ele acredita, mesmo, que elas já são parte integrante de minha personalidade e, mexer nelas podia me causar mais mau que bem. – o tom de sua voz era baixo e sem esperança - Os meus inimigos resolvem vingar-se de mim nas pessoas que amo. Achei que devia saber disso...

Ela nem mesmo pisca. Morrer não fazia parte de seus planos, mas ficar sem ele também não. Resolve não pensar muito sobre isso, não agora; poderiam conversar melhor depois.

- E-eu agradeço, acho. – ela brinca - Mas como deu pra perceber, sei cuidar de mim mesma....

- Tá falando do carro?! – a voz mais grave que de costume - Aquilo foi doce... Primeira etapa dos níveis de treinamento! Ah! Garota – ele a abraça e muda o tom de voz, tentando convencer-se - cê vai adorar treinar e ser uma X-man!

Ela deixa-se ser abraçada, não reage, mas em sua mente um turbilhão de pensamentos converge e “morre”, sem ser expresso ou continuado. Logo em seguida, ela trás a mala para si, porém, ele a pega e caminha para a porta. Ohana pensa em como havia espaço para o cavalheirismo e para o amor em tanta –aparente - rudeza. Definitivamente, aquele homem era um mistério...

O local que Ohana queria visitar era o cemitério. Ficava a algumas quadras antes do hotel e era antigo a julgar pela idade de alguns mausoléus. Eles entram e caminham até um deles, meio afastado da entrada:

- Meus pais estão enterrados aqui e eu espero juntar-me a eles, quando meu dia chegar.

Ele acena com a cabeça e fica em silêncio, lembrando-se do túmulo de Mariko.

O mausoléu era de mármore branco com uma escada de três degraus e dois leões de cada lado, guardando a cripta. Mais ao canto, próximo a porta, dois vasos de cristal suportavam, de um lado uma rosa amarela, de outro um cravo vermelho. Ela ajeita as flores, tira algumas folhas que estavam nos degraus e ajoelha-se no primeiro deles. Fazendo uma pequena prece em voz baixa. Logan fica a alguns passos dela, olhando o local por inteiro e pensando que não deseja revê-lo tão cedo.

Andam até o hotel, sem nada falar, um por pensar que não devia ter avisado, pelo menos não daquela maneira; outra pelo que foi avisado, mas crendo que havia exagerado na narrativa...

Já no hall do hotel, encontram uma Jubileu furiosa, com beicinho e batendo o pé esquerdo no chão, enquanto os braços cruzados davam claras mostras de inimizade:

- Resolveu vir pro nosso lado, então? – a garotinha comenta.

- Guria, isso não é jeito de se portar! Por que cê ta assim? – o canadense diz, num tom paternalista, enquanto bagunça o cabelo dela.

Isso apenas a irrita mais e ela ameaça soltar uma rajadinha nele. “De nada vai adiantar, cê sabe disso”, é a resposta e Jubi cala-se. Nem mesmo indo cumprimentar Ohana. Ela não se importa; a julgar pela idade da menina e pelas mostras de ciúme que na verdade apenas demonstram o grande carinho que ela sente por ele, a ruiva imagina que faria o mesmo no lugar da menina.

Logan avisa Ohana que irá subir para pegar algumas coisas; ela prefere esperar ali mesmo e, apenas para não fazer companhia a ela, Jubileu sobe. Alguns minutos passam-se, assim que o elevador abre as portas o canadense aparece com uma pequena mala e o chapéu na mão.

- A gente vai chamar um táxi e já vamos para o aeroporto. Sempre é bom chegar um pouco antes. - explica

- Tudo bem, Logan! – dá-lhe um beijo no rosto e, nesse instante, Jubileu sai do elevador. Ficando com cara de poucos amigos.

A espera do táxi torna-se muito incômoda. Os três vão para a frente do hotel e ficam esperando, em silêncio.

Assim que ele chega, Ohana entra, logo em seguida Logan e, por último, Jubileu. Todos no banco de trás.

Para tentar quebrar o incômodo gelo, a telecinética pergunta:

- São quantas horas de vôo?...

A olhada de Jubi é indescritível! Ignora completamente a questão e abre um chiclete, começando a entreter-se fazendo bolas.

Logan vira-se para ela e, com certeza, reprova-a com o olhar, pois a garota mostra-lhe a língua. Vira-se para Ohana e diz:

- Nem são horas... Só 1 hora e meia. Já voou? – comenta, decidido a ignorar o comportamento de Jubileu.

- Não, já fiz uma longa viagem de ônibus, mas nunca cheguei perto de um avião.

- Outra coisa que cê vai se acostumar. – aproxima-se do ouvido dela e cochicha: Nós temos um jato no Instituto... – afasta-se com um largo sorriso.

A ruiva sorri de volta e lhe dá um beijo rápido, ao qual surte um efeito inesperado em Jubileu que sentencia:

- Sabia! Você não perde tempo, né, Wolvie?! – cutuca-o enquanto estoura uma bola.

Vendo que outro embate ia começar, já que ele se mostrou muito irritado, Ohana segura-o no braço e, dirigindo-se para Jubi, diz:

- Desculpe, senhorita Lee! Mas é um absurdo a senhorita não conversar comigo! Eu pretendo fazer parte da equipe. Irá ver-me todos os dias e, cedo ou tarde, terá que se acostumar... Por favor, não me ignore! Percebi o grande afeto que tem por Logan e, acredite-me, não vou e nem pretendo roubá-lo de você! Já ponderei e vi que em seu lugar faria o mesmo, mas, por favor, não briguem mais!

Nós nos amamos, sim; e isso só aumentou o que senti por ele desde que o vi da primeira vez... Por conhecê-lo a mais tempo que eu deve saber que é impossível resistir ao seu jeito. Acredito que ele deva suscitar esse sentimento em você e em outras também... Mas se sentir isso significa não ter exclusividade, eu me submeto. Contudo, gostaria de ser sua amiga também. Espero que considere essa possibilidade... Espero poder provar que não sou a imagem que fez de mim. Dê-me uma chance, sim?

Durante o pequeno discurso, as expressões de Jubi foram da inconformação geral ao descrédito, passando para a raiva e acabando, finalmente, na perplexidade total! Parou pra pensa e, realmente, havia feito um pré-julgamento e a ruiva havia ganhado pontos por dizer que faria o mesmo no lugar dela e por mostrar tanto afeto para com Logan; porém, ela não queria mostrar-se tão volúvel e, ainda com a cara fechada, sussurrou:

- Tá bom... – fazendo um grande bico depois.

Conhecendo a natureza da protegida, o canandense sorri, pois sabia que aquilo significava um sim.

A viagem correu sem mais novidades e, quando viu a extensão do Instituto, Ohana realmente gostou! Tanto verde, tanta calma; isso somente faria bem a ela...

Chegando na entrada da mansão, foi apresentada a uma outra ruiva. Logan levou sua bagagem até o início da escada, ficando lá:

- Boa noite! Meu nome é Jean Grey e será um prazer ter uma telecinética com seus talentos entre nós! – com um sorriso amigável enquanto fazia uma rápida leitura na mente de Ohana - Também tenho essa habilidade, mas também sou telepata. – completa, estendendo a mão para cumprimentá-la.

A telecinética retribui o cumprimento e acrescenta:

- O prazer é meu! Chamo-me Ohana Brownsea, mas creio que já saiba disso e de outras coisas também – termina, colocando o dedo indicador em sua cabeça - Mas está tudo bem, eu não tenho nada a esconder...

Jean recebe o comentário, não sem uma certa surpresa. A perspicácia dela era algo a se ponderar.

A irlandesa gosta muito do jeito de Jean e esta fica aliviada por seus pensamentos não serem incomuns; o ciúme também aparece devido aos pensamentos dela com relação a Logan.

Jubileu pede licença e vai para seu quarto, pensativa sobre as coisas que ouviu...

Jean explica que Logan a levaria para o quarto dela, mas ela não os acompanharia, pois ia conversar com o professor. Anda pelo corredor e entra numa porta, quase ao fim deste.

Tudo era de madeira escura e velha e conferia ao lugar uma aura de mistério.

Chega perto da escada e o canadense diz:

- Vem comigo! Vou te mostrar o seu quarto. – com voz alegre, levando a mala.

- Ah! – a moça faz cara de choro - Pensei que os quartos fossem divididos... – olha para ele e pisca.

- Depois que cê ver como é o quarto, vai querer ele só pra você! Além do mais, a gente pode dividir um sempre que quiser! – completa, chegando na frente de uma porta e abrindo-a.

Os olhos de Ohana arregalam-se! Era quase do tamanho de sua casa inteira! Cama, armários, tudo era grande e confortável!

Ela entra e Logan vem logo atrás:

- Não te disse? Vem olhar o toalete.

- É uma suíte? Todos são?

- É isso aí!

Abre a porta e um cômodo do tamanho de dois cômodos de sua antiga casa surge. Com banheira e todos os luxos pensáveis.

- UAU!! – é tudo que ela diz, como uma criança em frente aos doces.

- Que bom que gostou. Saiba que não tem privilégios. Todos são assim! Agora, olha em cima da cama.

Ela sai, vai até a king size e uma caixa com um x prateado está sobre ela. Tem um laço vermelho, a ruiva vira-se para ele com uma cara de surpresa ao que ele diz:

- Coisas de Jean... – dando de ombros.

Ela abre e dá de cara com uma roupa que parece couro preto. De duas peças que continha pequenos “x” como adereço. Porém, ao pegá-las pôde notar que eram bem maleáveis.

- É lindo! Isso é o que eu estou pensando?

- É só um uniforme pra treino. Assim que resolver fazer o seu é só falar com a Jean que ela ajeita tudo. É feito de um material especial, é térmico e contém receptores capazes de, em casos extremos, salvar sua vida.

- Mesmo? E ainda é tão fashion? – comenta, retirando-o da caixa e vendo que havia sido feito sob medida pra ela.

Ele sorri ao comentário e quando ela vira-se, pergunta:

- Você também vai usar um desses, Logan?

- No começo usei um desse, mas agora escolhi um diferente. Na verdade o meu é bem mais colorido do que o seu, mas tem os mesmos receptores. Como eu tenho esse lado animal, ele foi desenhado para assustar o oponente. Você vai ver como ele é.

- Agora fiquei curiosa...

Ambos aproximam-se, abraçam-se e beijam-se.

Nisso, uma preocupada Jean cruza o corredor a caminho do quarto da nova hóspede, só para saber se estava tudo certo.

Ele sente o cheiro dela tarde demais! Quando interrompe o beijo e vira-se, ela já está na porta, tentando mostrar que não se importa.

Ele afasta-se de Ohana, deixando a moça ciente de que ambos já tiveram algo, ou estão tendo. Para não se fazer de vítima, diz:

- Algum problema, Jean?

- Não, vim ver se estava tudo bem. Posso ver que sim... – olhando rapidamente para Logan- O professor quer vê-la. Gostou do quarto?

- Só! É muito lindo! E o quanto antes conhecr o professor, melhor! – ela sai, deixando os dois para trás e indo à mesma sala onde Jean havia entrado. Por sorte era a sala certa! Ao entrar um simpático senhor, numa diferente cadeira de rodas, aproxima-se:

- Seja bem-vinda ao Instituto, Ohana! Posso chamá-la pelo primeiro nome? –questiona, muito simpático.

- O prazer é meu em estar aqui! Pode chamar-me como desejar... – sorri, enquanto estende a mão e cumprimenta-o.

- Onde está Jean? – ele questiona.

- Provavelmente com Logan, em meu quarto. Pelo menos foi lá que os deixei...

O professor já havia checado onde ela estava e surpreendeu-se com a sinceridade da moça, mesmo diante dessas circunstâncias.

- Bem, meu nome é Charles Xavier e, creio que já devam ter contado qual o escopo de nosso Instituto, não?

- Sim, Logan disse-me algo. É uma idéia bonita, tem funcionado?

- Hum, creio que aos poucos estamos chegando lá. É difícil quando os próprios mutantes usam suas habilidades para roubar e matar... Muitas vezes, o que levamos meses para construir, quando sentimos que as pessoas estão mais receptivas, é destruído por uma simples ação, de algum mutante desinformado.

- Se isso acontece é porque não estava tão sólido assim... Acha que eu poderei ajudar de algum modo? – pergunta, seriamente.

- Acho que, com o devido treinamento, tanto físico quanto de sua mutação, você poderá ajudar sim. Estamos precisando de pessoas com seus valores para ajudar-nos a solidificar a confiança dos que se julgam diferentes de nós. Qualquer auxílio nesse sentido é bem-vindo – sorri, enquanto convida-a a seguí-lo e mostra os vários níveis da mansão.

----------------------------

Nesse ínterim, Logan e Jean conversam:

- Que que cê achou dela, ruiva?

- Bonita, simpática e extremamente sincera! Fi-fico feliz que tenha encontrado alguém...

- Sei que uma parte tua pode até tá feliz... mas cê não consegue mentir pra mim, Jeannie... Que que tá acontecendo? Você e o Scott...

- Não! – ela interrompe - nós estamos bem... é só que... ah! Eu não consigo ser tão sincera quanto ela! – sorri, mexendo nervosamente no cabelo.

Ele aproxima-se, segura as mãos dela e diz:

- Olha, ruiva; nunca vou deixar de sentir o que sinto por você. Nesses anos todos o amor amadureceu e transformou-se num grande respeito e numa vontade louca de que cê seja feliz! Por isso, se essa situação te incomoda, Jeannie, eu quero saber, falou? Eu preciso saber! Porque se tem algo no mundo que eu detesto e que faria com que me detestasse seria te deixar triste.

Ela solta-se, acaricia-lhe o rosto:

- Logan, também quero que você seja feliz. Não é fácil pra mim, mas eu te peço tempo para me acostumar com a idéia, tá bem? Estou realmente feliz por você! –termina de falar e ele ouve em seus pensamentos: “Você tem muita sorte, Logan! Ela te ama muito e, pelo que eu posso sentir, você também a ama. Sejam felizes!”

Beija-o na face e sai, deixando-o com seus pensamentos...

 

----------------------------

De volta a sala do professor, Ohana ainda trás estampado no rosto as impressões de espanto quanto à tecnologia do lugar.

- Bem, Ohana, é isso que temos a oferecer. Em troca, queremos sua dedicação e algum comprometimento com nosso “modus operanti”. Afinal, não gostaríamos de treinar futuros assassinos aqui. – termina assim o maior telepata do mundo.

- Sr. Xavier, gostei do que vi e sinto que posso ser mais útil aqui do que tentando levar uma pretensa vida normal. Parece o ápice de minha vida. O porquê de minha existência... – resume a ruiva, enquanto todos os sentimentos e pensamentos, unidos numa enxurrada de felicidade, contentamento e completude, permeiam o professor. X, fazendo-o ter certeza de haver escolhido certo.

 

----------------------------

O tempo vai passando...

Tanto Jubileu como Jean acostumam-se a presença dela, esta última de tal modo que ambas tornam-se ótimas amigas e confidentes. Talvez, por Jean ter, através de Ohana, seus anseios realizados. Já da parte da telecinética, foi por pura afinidade...

Logan não cabia em si de contente! Seu “estado tão alterado” fez com que todos o estranhassem, por meses!

Andar sempre sorrindo; viver dando flores, bombons e outros presentes; pensar em passar algum tempo no shopping e, acima de tudo, abdicar – por livre vontade - de sua solidão.

Ele mostrou-se até um pouco “abelhudo”, pois queria inteirar-se da vida de todos e parecia estar sempre correndo atrás do “tempo perdido”...

Ohana dominava ainda mais sua mutação. Descobriu-se que seu cérebro podia usar, ao mesmo tempo e em pontos distintos, 70% da capacidade mental. Também seus treinamentos de artes marciais – a cargo de Logan - renderam-lhe um ótimo conhecimento de auto-defesa, além de definirem seu físico. Em suma: os melhores anos de sua vida.

Apesar da relação com Logan não avançar – por mais de uma vez ela achou que ia ser pedida em casamento, mas não... - ela também não regredia e, como ele mesmo dizia: “cada dia comigo é sempre único, gata”, isso não a permitia reclamar já que, realmente, não havia monotonia!

Em alguns poucos meses ela teve o desprazer de conhecer Lady Letal, Cyber e Dentes-de-Sabre. Isso sem contar alguns tantos outros que sempre encrencavam com ele em bares, cinemas, restaurantes...

Ela já havia tecido uma teoria de esse ser o vício dele e isso fez com ela e Jean dessem boas risadas:

- Não, Jean! Não pode ser outra coisa! E o pior de tudo é que ele nunca começa,...

- Mas sempre termina, não? – a telepata a corta.

- Sim! Isso mesmo! Do mesmo jeito que eu fujo dessas brigas é o jeito que ele foge quando toco no assunto “filhos”... – diz, resignada.

- É, nesse ponto, ele e o Scott são idênticos. – Jean diz e sorri.

Ambas olham-se e caem na gargalhada.

- Você acredita que eu não posso parar para admirar uma roupinha, um carrinho, que ele já vem dizendo: “nada disso, sra. Summers, nada dessas idéias...”

Novamente riem. A imitação de Jean é impagável!

- É... Já Logan diz que esse mundo é só sofrimento e que não quer “botar um nenê nele”. Mas eu tenho vivido momentos tão felizes que queria compartilhá-los com um bebê. – as risadas param. As duas abraçam-se e ficam assim por algum tempo.

 

----------------------------

Abrindo um parêntese para relembrar:

É de se imaginar que o casal “Logan” já tenha conhecido vários perigos e enfrentado-os no dia-a-dia, sempre unidos e não pensando muito no amanhã. Dentro dessa filosofia, tinham vivido muito bem. Desse modo, Logan não sofria tanto e, assim, acreditava estar preservando seu amor da insanidade do mundo. Ele cria piamente nisso, apesar de seus sentimentos o contradizerem... Isso iria mudar, com a chegada da criança.

Já do lado dos vilões, após algum tempo, eles perceberam que a ruiva era o “calcanhar de Aquiles” do canadense; várias vezes tentaram drogá-la, raptá-la, esquartejá-la, matá-la; mas todas as vezes, saía ilesa e isso sempre aumentava a paixão de ambos e os unia mais.

As mais sérias necessitaram da intervenção dos poucos amigos que tinham, mas que podiam contar, pois o “dar a vida” era recíproco.

Chega um dia onde, até os mais burros, percebem o óbvio: A união faz a força; mesmo a união das mentes criminosas. A força dos “mocinhos” está na união e, o único motivo pelo qual ganham dos outros é o caos e a desorganização na qual estes vivem.

Com o estrondoso crescimento dos mentalmente manipulados para o lado do bem, os poucos reincidentes no crime resolveram unir-se. Já não importava a quantidade, mas a qualidade; estavam armando um plano que acabaria com a soberania dos X-men e, desse modo, a quantidade viria, com o tempo...

Sob a liderança de Metabolisis, um mutante capaz de alterar o metabolismo das coisas, foi criado um grupo chamado “NeoGênesis”. Este grupo possuía por volta de 50 membros, todos muito bem treinados e alguns em nível alpha...

Fechando o parêntese e voltando...

 

Já faz dois anos que Ohana chegou ao Instituto. Nunca os preceitos de Xavier estiveram tão vivos em sua mente e atos; nunca a paixão pela batalha mostrava-se tão forte! Seus olhos brilhavam a cada captura bem sucedida e lágrimas vertiam, copiosamente, cada vez que um inocente era morto por mutantes fanáticos.

O quarteto: Jean x Ciclope, Ohana x Logan era insuperável em suas capturas.

Devido à grande quantidade de mutantes revoltosos, a solução encontrada foi: capturar e converter.  Diante do caos reinante, não foi possível outra interferência. Aqueles – poucos - que teimavam em sua maldade, eram “convertidos” por uma mente mais forte que a deles. Porém, outros tantos, estavam apenas sem rumo, desinformados, com raiva pelos motivos errados...

A empreitada tomou proporções gigantescas! Em vários países abriram-se filiais do Instituto, com o mesmo fim...

Treinando na sala de perigo estava Ohana, nível oito, só para relaxar... Por mais reais e complexos que parecessem, os hologramas nunca poderiam ser comparados à realidade... De repente, uma forte dor no ventre!

- Parar simulação!... – grita, apoiando-se na parede e segurando o ventre com a outra mão.

- Simulação cancelada. Prévia de pontos? – pergunta uma voz feminina e metálica.

- Na-não... – a dor aumenta - Ai! Meu Deus, mas o que é isso?! – essas são suas últimas palavras antes de desmaiar. Quem a encontra é um dos novos alunos, ele seria o próximo a usar a sala.

Ela é levada às pressas para o Labmed e colocada na maca. Logo em seguida, Jean chega. Na ausência do Dr. Hank, ela era a segunda a operar o computador.

Rapidamente os sinais vitais são estabilizados e uma rápida varredura é feita. Conforme ia percorrendo o corpo ainda dormente de Ohana, um sorriso aparecia nos lábios de Jean. Ao final, o resultado é proferido pela máquina:

- Sinais vitais estabilizados; nenhuma anomalia encontrada; objeto de estudo na terceira semana de gravidez, feto um pouco acima do tamanho, sem alterações físicas presentes; acompanhamento médico sugerido... – termina o programa.

Jean coloca a mão no lábio e arregala os olhos enquanto diz, baixinho: Oh! Ela está grávida! Isso é ótimo – dá uma pausa - ...ou não?

Após alguns minutos Ohana desperta e encontra Jean explicando para Logan que aquilo foi apenas uma indisposição.

- Hum... – ela chama a atenção para si - perdi alguma coisa?

- Se cê perdeu, imagina eu?! Fiquei te esperando no restaurante, gata e quando ligo pra cá, dizem que cê tá desmaiada!! Com´é que cê tá? – Logan fala, sentando-se ao lado dela e pegando sua mão.

Ela acaricia-lhe a mão, o rosto e diz:

- Agora estou. Só me lembro de estar treinando na sala de perigo, de ter desmaiado; não sei de mais nada, até agora. Mas seu que a “Dra. Grey” fez seu melhor! – sorri para a amiga.

Jean aproxima-se, confirmando com a cabeça e fala, dirigindo-se para Logan:

- Agora que ela despertou, tenho que fazer mais alguns exames. Rotina. Nos dá licença, por favor?

- Claro, ruiva! – levanta-se - Nosso almoço ainda tá de pé, viu? – para Ohana.

- Tudo bem, mas eu preferia que fosse um jantar, pode ser?

- Tá ok. A gente se vê mais tarde. Tchau, Jeannie.

Jean acena com a mão e, assim que a porta se fecha, ela começa a falar; os olhos brilhantes:

- Isso foi só um pretexto para que ele saísse! O que tenho pra te dizer será chocante!

- Credo, Jean! Pára com o suspense senão você me mata!

- Se isso acontecesse, seria duplo homicídio!

- Quê!?!? – ela arregala o olho e senta-se na maca.

- Você está grávida, Ohana!

Tudo emudece. Era possível ouvir as gotas de soro caindo na mangueira. As respirações ofegantes. Parecia que o tempo havia parado...

No interior da irlandesa a felicidade fazia-se presente em grande escala; mas havia uma pequena e insistente insegurança que a impedia de manifestar seus reais sentimentos...

“O que Logan fará?”- era a pergunta que não calava! Porém, resolvida a tomar uma atitude, ela esboça um sorriso. Não importa o que Logan fosse dizer ou fazer. Ela criaria a criança com ou sem ele!

E, em seu consciente, sabia do “poder de persuasão” que um bebê podia ter, mesmo ainda no ventre.

Ela entendia a preocupação dele com relação à maldade do mundo, contudo, aconteceu! O que podiam fazer?

Jean sente os sentimentos da amiga, mas resolve não interferir; deixando que a amiga decida o que fazer e quando falar.

- I-isso é incrível, Jean... – ela sussurra - estou muito, mas muito, feliz!

- Fique tranqüila, ele não pode nos ouvir daqui. A sala é à prova de som - Jean pisca, colocando a mão sobre o ombro da futura mãe.

- Prefiro não arriscar! – ela senta-se na maca e abraça Jean – Não quero que ele saiba de outro modo, além de mim mesma contando. – diz no ouvido da amiga, ficando em silêncio.

Jean explica que, por precaução, colocará todos os arquivos encriptados e acessados somente por ela, através de senha.

Ela realiza mais alguns testes para determinar o porquê do bebê ter sido descrito como acima do tamanho e, realmente, a gestação, apesar de estar na 3ª semana, parecia estar no 1° mês! Isso era incrível e demonstrava, de pronto, que o metabolismo do feto era parte de sua mutação.

Ela explica tudo para Ohana e aconselha a fazer um acompanhamento semanal, para garantir a saúde de ambos.

A telecinética acena com a cabeça, levantando-se e fazendo menção de sair:

- Posso me arrumar para o jantar, Jean?

- Claro! Espero que dê tudo certo! Estou muito feliz por você!

- Obrigada, amiga! – termina, segurando na mão da “doutora” e subindo para tomar um banho e arrumar-se.

Já terminando de arrumar-se, Ohana estava apenas fazendo uma trança no longo cabelo e colocando brincos e pulseiras. Seu vestido preto de alças e com um grande decote nas costas deixava seu físico em evidência. O orgulho de ser mutante está estampado em cada gesto seu, ela é altiva e confiante. Termina de trançar o cabelo, acaricia a barriga – apenas ela é capaz de notar a pequena diferença - e, quando vira-se vê que Logan está na porta; braço encostado no batente, uma perna cruzada; estava de smoking e tinha prendido o cabelo para trás, num rabo de cavalo. Assim que se vira, ele solta um “fiu, fiu”

- Cê tá linda, Ohana! – ela adorava ouvir seu nome pronunciado pela voz dele, tão grave e sexy - hum... vestido novo...

- Obrigada, Loggie! – retruca, dando uma volta e perguntando: Gostou do vestido?

- Tá ótimo! Mas cê sabe o quanto sou ciumento...

- Ah! Como seu eu não fosse! A diferença é que eu não arrumo encrenca! – diz, indo na direção dele e abraçando-o no pescoço. Ele segura-a pela cintura, gira-a uma vez e, sorrindo, Ohana fala: Você está lindo, amor!

Ele ainda ficava sem palavras quando ouvia a palavra amor. Não era sempre que a telecinética dizia, justamente por isso, mas quando era espontânea, sempre escapava. Ela finge que não disse nada e segue em frente.

- Vamos? – ela pergunta.

- Claro! Sim! – responde o canadense, enquanto um milhão de coisas passam por sua mente! Ele também a ama, mas não tinha coragem de falar, com medo de que essa fosse a palavra mágica que ativasse o botão de autodestruição...

Avisam a todos que vão sair, só para serem localizados em caso de emergência. Esta noite eles não eram X-men, mas sim, apenas um casal querendo passar bons momentos juntos.

Pegam um corvette conversível, apenas com o símbolo nas rodas; a noite estava extremamente agradável, a lua cheia fazia tudo ter uma cor sensualmente sombria, o vento soprava vagarosamente... Tudo estava perfeito!

A ida até a cidade acontece sem maiores problemas, com trocas mútuas de carinho e muita alegria.

Chegam ao restaurante e, após confirmar a mesa, o garçom leva-os até um reservado que deixava à vista um mimoso jardim.

O garçom puxa a cadeira e Ohana senta-se, logo em seguida Logan também se senta e o garçom diz:

- Boa noite! Sou Gautier, seu garçom e estarei trazendo, como oferta da casa, um cálice de vinho do porto, juntamente com o menu. Retornarei prontamente, oui?

Ambos acenam com a cabeça e ele deixa-os a sós.

Ohana pega na mão dele e, com olhos brilhantes, anuncia:

- Tenho algo muito importante para te dizer!

A expressão facial do canadense muda. De romântico para interessado. Ele coloca a outra mão sobre a de Ohana e completa:

- Cê sabe que pode me contar tudo, gata! – e sorri.

- É, eu sei... Mas isto está sendo um pouco mais complicado, talvez por meu próprio receio de como você irá reagir...

O óbvio passa pela cabeça dele: “ela vai me deixar! E eu nem mesmo disse o quanto a amo!”

Nesse instante o garçom retorna e, vendo ter interrompido algo importante – pela cara que Logan fez -, diz:

- Assim que escolherem é só me chamar... – retira-se, deixando os cálices de vinho e o menu no centro da mesa.

- Hã – a ruiva tenta retomar - Você lembra-se do passeio que demos nas Rochosas, a três semanas atrás?

O mutante sorri, maliciosamente, de canto de boca e responde:

- Claro! Tivemos a infelicidade de encontrar o Dentes, mas assim que cuidamos dele, foi uma noite e tanto! Aliás, eu me lembro até do tailler vermelho que cê usava da primeira vez que te vi, de cada detalhe, imagina se não vou lembrar de uma coisa que aconteceu há três semanas... Por que a pergunta, ruiva?

Ela sorri diante do comentário. Mas que memória ele tinha!

Acariciando-lhe a mão, como que tentando encontrar a palavra certa, perdida em alguma linha ou músculo:

- Bem... Naquela noite eu... Você... – “fala de uma vez, Ohana!” - Logan, você vai ser pai! – olha-o nos olhos para não perder nada, nenhuma mudança de humor.

Pela primeira vez, desde que ela se lembra, ele não tinha nenhuma resposta, o “Sr. Resposta afiada” ficou mudo; seu rosto congelou na expressão de surpresa total!

Não sabendo o que fazer, ela decide ficar quieta e simplesmente continua olhando-o, sem preconceitos ou qualquer pensamento, além de alívio! Ela ter conseguido falar era o que importava! Claro que ela gostaria de o ter ao seu lado, criando a criança, mas não poderia obrigá-lo.

Contudo, depois de três minutos como que catatônico, quem aparece para interferir foi o garçom. Achando que haviam demorado muito, ele aparece e Logan, mais que rapidamente, segura-lhe forte o braço e diz, entre dentes:

- Xará, vê se trás o prato que demore mais pra ficar pronto! – e olhando-o ameaçadoramente, diz: Cuide pra que demore mesmo, falô?

O pobre empregado acena com a cabeça e vai rapidamente pedir para que preparem o jantar mais demorado possível...

Voltando-se para Ohana, levantando-se e apoiando as duas mãos na mesa, ele diz:

- Guria! Cê só pode tá brincando!!

- Humpft! Você ficou três minutos em estado de letargia pra me dizer isso?... Sinceramente... – ela encara-o - Se eu quisesse brincar, teria inventado alguma outra desculpa! Sei como esse assunto incomoda você.

Ele volta a sentar, pega um charuto e diz:

- Bom, então, acho que temos que celebrar.

Chama o garçom que chega meio ressabiado e fala:

- Quero que cê sirva o melhor champagne pra todo mundo! Minha mulher está grávida! – e acende o charuto, com um sorriso nos lábios.

De outra pessoa, Ohana teria entendido como cínica a cena, mas vinda dele, era, simplesmente, normal... Agora quem estava com cara de boba era ela. E de uma coisa ela tinha certeza: Ele jamais seria capaz de decifrar; seus humores eram mais instáveis do que o clima! Ela maneia a cabeça e comenta:

- Por essa, eu não esperava...

O rosto dele estava totalmente luminoso! Ele nunca pensou que conseguiria perpetuar seus genes, deixar alguém pra contar a história, alguém que ele pudesse educar como ele não teve a oportunidade de ser. Ou foi? Esses momentos ele nunca ia esquecer. Seria seu triunfo! O prova de que era mais do que uma aberração solitária. Ele ia ser pai!!

Olhando Ohana nos olhos ele comenta, após uma longa baforada de charuto:

- O que cê queria? Que eu colocasse esse restaurante abaixo, num ataque de loucura?

- Não sei! – ela comentou – Apenas não esperava essa felicidade. Dá pra ver pelo seu rosto que está genuinamente feliz! Eu pensei que fosse ter alguma resistência de sua parte. Não que eu a quisesse, mas...

Ela é interrompida:

- Se cê não queria, então devia estar tão feliz como eu. Sabe, os anos passam, mas eu nunca vou entender as mulheres... – dá mais uma tragada, com cara de totalmente perplexo.

Finalmente Ohana sorri; ambos sorriem! O garçom retorna e, trazendo um belo prato de frutos do mar, acompanhado de vinho branco:

- Aqui está o seu pedido. Espero que aproveitem. Qualquer coisa é só me chamar... – ele fica algum tempo ali, parado, como quem espera alguma reação dos dois, uma desculpa, mas tudo o que ele ouve é:

- Tá tudo ok, guri! Se precisar a gente te chama. Agora vai andando... – Logan diz, pegando um garfo e comendo com gosto um pedaço de lula.

A ruiva sorri. Ela percebeu que ele esperava uma desculpa e, servindo-se também de um pedaço de peixe, ambos comeram e beberam sem nada falar.

O canadense pareceu descontar toda sua alegria e nervosismo na comida. Pediu três pratos principais e bebeu duas garrafas de vinho sozinho. Ohana estava perplexa, ele nunca havia comido tanto assim!

Por volta das 11 p.m. ele finalmente resolve pedir a conta. Paga mais uma rodada para todos os presentes, apresenta você a eles e, totalmente aturdido, sai, levando Ohana pela mão.

Chegando perto do corvette a ruiva decidi agir:

- Logan, você está bem? Comeu como nunca, agiu estranho e, acima de tudo, não conversou muito comigo. Você...

Mas ela é impedida de continuar a falar. Segurando-se no capô do carro, Wolverine cai ajoelhado, sem emitir nenhum som!

Rapidamente Ohana olha ao redor, esperando encontrar algum agressor escondido e, sem nada perceber, corre até onde Logan está.

- O que aconteceu? Logan!

Ele se vira, ofegante e o que Ohana pode ver é um rosto banhado em lágrimas:

- E-eu vou ser pai, Ohana! Eu... – e reinicia a chorar. Como uma criança.

Só então a ruiva entende que todas as atitudes tomadas antes eram uma fuga, um meio de tentar não demonstrar o que realmente sentia. Mas nem mesmo um organismo tão “frio” pode ficar muito tempo apático a uma notícia dessas.

- Querido! Mas é claro que será pai! E acredito que será um ótimo, ainda! – ela o afaga, ajudando-o a levantar. Leva-o até o banco de passageiros e vai sentar-se no do motorista.

Ohana não faz menção de dar a partida. Ela queria ter certeza de que ele já estava recuperado e tinha voltado ao normal, ao invés disso, ela segura a mão dele, carinhosamente:

- Como você está, me diz alguma coisa. Esse silêncio me mata!

- Ohana... Eu quero te dizer tanta coisa, mas...

- Me diz, aos poucos. Ninguém quer que você diga tudo de uma vez! Eu vou estar sempre aqui. Não vai se livrar de mim tão cedo. – ela brinca.

- Espero que não, mesmo! – ele faz um carinho no rosto dela – Sabe, depois da Mariko, minha fera interior voltou mais forte, querendo rasgar e quebrar, eu tinha que ter uma força de vontade do cacete pra não ceder a ela. No momento em que te conheci, ela aquietou. Algumas vezes mais do que eu gostaria e, nesse momento, eu nem mesmo a sinto! Tô num mato sem cachorro! Me sinto estranho e, de uma forma mais assustadora ainda, isso me faz bem... Eu só preciso de um tempo pra cair na real e passar a fazer mais parte da tua vida. Sei que tenho sido meio distante, fiz isso pensando que tava protegendo a gente... Mas, se você se sente como eu me sinto agora, eu... Queria pedir desculpas, tá?

Ele fez aquela cara de “cachorro pidão” que deixava Ohana sempre sem ação. Ele podia conseguir o que queria com aquele olhar e, talvez por isso, raramente o fazia. A ruiva se derrete por dentro. Incapaz de acreditar que ele realmente havia dito aquilo e, acima de tudo, pedido desculpas!

- Não tem do que pedir desculpas, amor! Só sinto que não tenhamos tido uma conversa dessas antes...

- Quanto a isso, bom, tem outra coisa que eu quero te dizer: Eu... sabe... Te amo, Ohana!

Aquilo foi demais! Dose cavalar de carinho pra uma só noite! Totalmente sem saber o que dizer, a telecinética arregala os olhos e, levada por ele a sentar-se em seu colo, beijam-se e ficam assim por um longo tempo.

Se não percebessem que o restaurante tinha fechado, jamais teriam se dado conta do tempo. Já passava da 1 a.m.! Dando a partida, Ohana inicia a volta para o Instituto.

CONTINUAAAAAAAAA!!! Qndo não sei... mas continua :)

-    -    -    -    -    -

Bom, é isso! Espero que tenham gostado! Qualquer opinião, e-mail me!

codinomewolverine@ieg.com.br