Índice

Index
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Introdução
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A História da Pesquisa
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Das Populações Pré-históricas da Ilha de Santa Catarina
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Terminologias e Convenções para o Estudo da Arte Rupestre
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As Possibilidades de Estudo do Material Rupestre
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Análise Comparativa
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Descrição do Material Rupestre da Ilha de Santa Catarina 
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Análise e Documentação
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Os Sítios de Arte Rupestre
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Considerações Finais
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Referências Bibliográficas
 

Análise Comparativa



Este capítulo tem por objetivo traçar uma análise comparativa com diversos aspectos das culturas que habitaram a Ilha de SantaCatarina e de outras culturas do restante do país do mesmo macro tronco (Jê e Guarani), na tentativa de ilustrar semelhanças culturais. Em hipótese nenhuma tem-se a pretensão de identificar os autores em potencial da arte rupestre, o que seria muito arriscado com a pouca informação acessível. Talvez esta análise venha auxiliar em futuras pesquisas, com o surgimento de novos dados que esclareçam melhor este passado pré-histórico da Ilha de Santa Catarina.

Esta busca por semelhanças deve começar pela cultura material, e se tratando das culturas indígenas brasileiras, talvez um ponto de partida seja a cerâmica. Na cerâmica Guarani aparecem, tanto a nível regional (Alto-Uruguai / SC), quanto a nível local (praia de Naufragados), decorações pintadas que se manifestam pelo estilo geométrico abstrato, assemelhado-se aos petroglifos nos comuns zigue-zagues e séries de triângulos.

A Ilha de Santa Catarina apresenta dois períodos de ocupação cerâmica: o dos Guarani (Carijó), o índio do contato com o colonizador; e o dos itararé, período anterior ao guarani.

A cerâmica Guarani da Ilha é composta pelas decorações plásticas corrugada, ungulada e pintada, como constata-se nos já citados sítios da Base Aérea, Tapera, Rio Tavares, Porto do Rio Vermelho, Naufragados e Pântano do Sul. 

Reconstituição de um vaso cerâmico ItararéJá a cerâmica Itararé, não apresenta decoração, o que impossibilita qualquer forma de comparação.

Quanto a pintura corporal, aparece como prática comum nas três tradições: caçador e coletor, Itararé e Guarani. Infelizmente só a pintura guarani é possível de ser analisada. As pertencentes aos outros dois grupos só são constatadas por presença de pigmentos nos ossos de sepultamentos. 

A Ilha do Campeche foi ocupada pela tradição Itararé, possível de ser constatado pelos cacos de cerâmica preta sem decoração que afloram do solo de onde seria a aldeia, nos arredores das dependências do Clube Ecológico Couto de Magalhães. Além da cerâmica, encontram-se também adereços fuseiformes, batedores, lâminas e diversas lascas (alguns sócios alegam que frequentemente encontram também machados polidos).

A tradição Itararé, conforme mencionado anteriormente, está ligada à tradição Jê. As aldeias Jê são, algumas vezes, de forma circular radial, onde no ponto central decide-se variados assuntos relacionados aos interesses da aldeia, sendo também o centro uma espécie de local de festividades.


 
A Esquerda - Índio explica como é a aldeia Jê. Grupioni, 1994.

A direita - petroglifo da Ilha do Campeche, sítio 6.

Paralelos com instrumentos, armas e adornos também é utilizada por diversos arqueólogos rupestres como elemento de comparação.
 

A Esquerda - adorno lítico.
 
 

A direita - petroglifo da Ilha do Campeche, sítio 6.

A cerâmica, quando decorada, torna-se uma valiosa ferramenta dentro de uma análise comparativa, sendo utilizada para tal fim por arqueólogos rupestres de várias regiões do mundo.

A decoração cerâmica Guarani apresenta elementos geométricos, que em alguns casos se assemelham aos petroglifos. Pedro Ignácio Schmitz remonta grande parte dos motivos decorativos da cerâmica Carijó da Ilha de Santa Catarina (Schmitz, 1959: 267 a 324), e com base em seus desenhos, monta-se a seguir uma série de comparações:
 
 

Petroglifo
Motivo Cerâmico Guarani

Ilha dos Corais

Ilha das Aranhas

Praia Mole

Ilha do Campeche

 

Os círculos aparecem com grande frequência, em quase todos os sítios, o que pode sugerir ser este um elemento de demasiada importância para os habitantes pré-históricos da Ilha. As habitações itararé, segundo evidências arqueológicas e conforme mencionado anteriormente, eram provavelmente de forma circular.

Adereços plumários também faziam parte das vestimentas dos carijós, muito usado pela maioria dos grupos indígenas do Brasil.
 

1 2 3
1- Adereço utilizado na ocasião da morte de um índio bororo. A morte desencadeia um longo ciclo de rituais, danças, cantos, caçadas e pescarias coletivas e representações cerimoniais, que tem por finalidade efetuar a passagem da "alma" para a aldeia dos mortos e reorganizar a sociedade dos vivos que perdeu um de seus membros (Grupioni, 1994: 185).

2 e 3 - Representações antropomorficas da Praia do Santinho e Ilha dos Corais. Percebe-se a divisão das representações em duas modalidades: os com cabeça em círculos e os com cabeça em ponto.