Harry Potter e a Filha do Auror
by Talita Teixeira

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Capítulo 1 ~ O álbum de fotografias

Harry Potter revirou-se mais uma vez, deitado em sua cama, no segundo quarto que fora de seu primo Duda, na rua dos Alfeneiros, n.º 4. Não conseguia dormir e resolvera que não tentaria de novo, pelo menos não naquela noite.

Resignado, acendeu a lanterna escondida sob o travesseiro e consultou as horas no relógio despertador ao lado da cama, consertado cinco anos antes:

_ Duas e vinte! - o sono não vinha.

Harry nem tentou lutar um pouco para se levantar; sabia que ficar sem dormir não era nada bom, mas simplesmente não agüentava mais. Apanhou os óculos na mesinha de cabeceira e espiou para fora da janela. A suave claridade da lua invadia um pedaço do quarto, e o céu estava coalhado de estrelas. Apagou a lanterna para não chamar a atenção, já que abrira a janela para olhar para fora. Nenhuma alma viva transitava na rua dos Alfeneiros àquela hora da madrugada, e o imenso céu estrelado era somente para ele, Harry Potter, o sobrinho dos Dursley. Eles, os Dursley, por sinal, deixaram bem claro que não tolerariam mais nenhuma esquisitice vinda do sobrinho indesejado, o que incluía a 'gentinha' - naturalmente, referiam-se aos Weasley. O episódio envolvendo Duda e os caramelos dos gêmeos Weasley ainda provocava aborrecimentos nos Dursley, de modo que estes procuraram vigiar constantemente os passos de Harry, ameaçando alimentá-lo apenas com biscoitos de cachorro, caso convidasse a 'gentinha' para visitá-los novamente. Assim, tudo fizeram para que Harry tivesse as piores férias - se é que isso era possível - da sua vida. Nem precisavam se esforçar muito para que isso ocorresse, até porque o menino já estava bastante abatido com todos os acontecimentos do seu quarto ano em Hogwarts.

Suspirando, Harry voltou a olhar para o negro céu estrelado lá fora, imaginando que coisas terríveis os centauros da Floresta Proibida estariam vendo, caso estivessem ali com ele. Certamente, seriam maus presságios. Sibila Trelawney, a professora de Adivinhação, nem precisaria analisar a posição dos planetas para predizer uma horrível e dolorosa morte para Harry.

Perdido em seus pensamentos, e ainda observando o céu, Harry tentou recordar os nomes de algumas estrelas, mas parecia que havia deixado seu cérebro e memórias escolares das aulas de Astronomia em Hogwarts. Ao menos, a noite estava perfeita, embora um tanto quente. Harry não lembrava-se de uma noite tão quente quanto aquela. De repente, deu uma risadinha abafada: sabia perfeitamente que não era o calor que o estava impedindo de dormir. Era inevitável; seus pensamentos logo voaram de volta para a preocupação que o aturdia desde o fim do ano letivo: o ressurgimento de Voldemort.

Seu quarto ano em Hogwarts havia sido, como todos os outros, bastante inusitado, principalmente por causa do Torneio Tribruxo. Mentalmente, repassou todos os percalços pelos quais passara, até a trágica morte de Cedrico Diggory. Era doloroso pensar naquilo tudo, apesar dele, Harry, ter sobrevivido mais uma vez a um confronto com o pior bruxo de todos os tempos. A risada aguda e fria de Voldemort ecoou novamente dentro da cabeça de Harry, fazendo com que os pêlos da nuca do menino se arrepiassem de tal maneira que ele sentiu uma onda gélida percorrer seu corpo. Mais ainda havia Dumbledore, e então nem tudo estava indo tão mal assim.

Decidido a não pensar mais em tudo aquilo, Harry apanhou, pelo milionésima vez, o manual do Kit de manutenção de vassouras que Hermione havia lhe dado no seu aniversário de treze anos. Este, e alguns outros livros, estavam escondidos sob a cama de Harry, numa tábua que se desprendia do soalho. O restante do seu material de Hogwarts estava guardado no seu antigo armário-quarto, embaixo das escadas. Sem fazer barulho algum, Harry deitou-se novamente na cama, acendeu a lanterna e tentou ler o manual, apesar de saber praticamente tudo de cor. Do quarto ao lado, vinham os roncos de seu primo Duda, que agora já rivalizavam com os de tio Válter. Entediado, nem o manual conseguia distraí-lo; então lembrou-se que o álbum de fotos dado por Hagrid no seu primeiro ano em Hogwarts estava também embaixo da tábua solta do soalho. Seria ótimo vê-lo mais uma vez, ao menos alguma coisa mágica naquele quarto incrivelmente trouxa que fora do seu primo.

O álbum de fotografias que Harry possuía era um dos seus bens mais preciosos, não perdendo nem mesmo para a capa da invisibilidade que fora de seu pai ou sua veloz vassoura Firebolt, que ele ganhara de seu padrinho, Sirius Black, dois anos antes. Como tudo naquele estranho mundo ao qual pertencia Harry Potter, as fotografias eram, também, encantadas. As pessoas ali se moviam, sorriam ou até mesmo se escondiam. Harry prezava muito aquele seu álbum - uma porque fora presente de seu amigo Hagrid, o imenso guarda-caça de Hogwarts, outra porque ali, somente ali, podia ver seus pais, assassinados por Voldemort momentos antes dele, Harry Potter, sobreviver ao atentado destruindo os poderes do bruxo, e ganhando apenas uma cicatriz em forma de raio no meio da testa. Harry conhecia bem as primeiras fotos do álbum: seu pai, Tiago, com os mesmos cabelos do filho - negros, que espetavam na nuca -, e sua mãe, Lílian, com profundos olhos verdes, iguaizinhos aos seus. Eram fotos alegres, seus pais sorriam e acenavam para ele. Nas fotos do casamento dos dois, Harry podia ver também seu padrinho, Sirius, antes de ser mandado injustamente para Azkaban, a prisão dos bruxos. O jovem Sirius da fotografia - que pouco lembrava-lhe o Sirius de agora, maltratado pelos doze longos anos em Azkaban - lhe deu uma piscadela amistosa, ao que ele retribuiu com um sorriso divertido. Virando as páginas lentamente até o final, Harry contemplou uma série de fotografias recentemente tiradas, todas presenteadas pelo seu admirador, Colin Creevey.

Era fato que Colin, fã de Harry, o perseguia pelos corredores de Hogwarts empunhando valentemente sua máquina fotográfica, sempre pronto para um clique. A insistência de Colin já causara inúmeros aborrecimentos à Harry, especialmente com relação às piadinhas sarcásticas de Draco Malfoy, a pessoa em Hogwarts que o garoto mais odiava, superando em milímetros o professor de poções, Severo Snape. Apesar do constrangimento que era ter Colin às suas costas, Harry sentiu-se feliz por ele ter-se dado ao trabalho de fazer cópias de suas fotos, pois só assim alegrava-se um pouco, ante a visão animada dos seus amigos. Em uma das fotos, Harry, Rony e Hermione sorriam e acenavam (Hermione sorria de boca fechada, pois quando Colin tirara a foto, a garota ainda conservava seus grandes dentes da frente). Harry sorriu para Rony, que agora lhe fazia caretas. Em outra foto, Hagrid acenava a manzorra, enquanto Canino agitava a cauda freneticamente. Outra foto, do time de quadribol da Grifinória, fez Harry sorrir: ali estavam Olívio Wood, Katie Bell, Alícia Spinnet, Angelina Jonhson, os gêmeos Weasley e ele, Harry (o menor de todos na foto) empunhando a taça do campeonato de quadribol das casas, no seu terceiro ano em Hogwarts. Todos muito felizes e suados, cumprimentando-se com tapinhas nas costas. Outras fotos se seguiram, e muitas caras conhecidas desfilaram pela sua frente: Neville Longbotton, Dino Thomas, Lino Jordan, Simas Finnigan, Parvati Patil, Lilá Brown, Gina Weasley, todos da Grifinória, como ele. Naquele momento, talvez, ele esperasse - embora soubesse que era impossível, pois já havia visto aquelas fotos inúmeras vezes - ver o rosto gracioso de Cho Chang, a aluna da Corvinal que ele tentara convidar para o baile de Inverno. A lembrança da recusa da garota ainda fazia o seu rosto corar de vergonha. Harry focou mais uma vez os ponteiros do relógio: três horas. Sentiu-se sonolento, mas logo amanheceria e ele teria que agüentar seus parentes trouxas, e então teria que estar bem desperto para escapar das armadilhas de Duda e tia Petúnia. Apagou a lanterna e, mecanicamente, abaixou-se para guardar o álbum sob a tábua solta. Sem querer, porém, o álbum lhe escapou das mãos, fazendo um pequeno ruído ao colidir com o chão, nada que abalasse o sono dos tios e primo. Contrafeito com seu descuido (imagine se fosse outra coisa, como a gaiola de Edwiges, por exemplo!), apanhou-o desajeitado, acendendo novamente a lanterna para guardá-lo em segurança sob o soalho. Ao erguê-lo, no entanto, percebeu que uma das páginas despregara-se do álbum. Aborrecido consigo mesmo, Harry apanhou a folha solta e recolocou o álbum sobre a cama, afim de consertá-lo. Só então reparou que a folha, dupla, lembrava uma espécie de envelope. Intrigado, forçou a abertura firmemente colada, e então, de dentro da página dupla do álbum, caíram três fotografias que ele jamais havia visto.




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