Harry
Potter e a Filha do Auror
by
Talita Teixeira
Capítulo 13 ~ A sexta-feira extraordinária
A
primeira coisa extraordinária que aconteceu naquela Sexta-feira foi que
os períodos de Estudos Avançados de Astronomia e Poções
foram cancelados. A maioria dos alunos ficou sensivelmente eufórica,
não por não terem aula com Luna, mas por evitarem os dois períodos
com Snape.
_
Que ótimo! - Rony dizia, na sala comunal da Grifinória - vamos
jogar uma partida de Snap explosivo, Harry?
Harry,
no entanto, estava olhando para Hermione:
_
O que foi, Mione?
Hermione
estava com uma cara de quem descobriu algo muito importante:
_ Raciocinem comigo: se Luna e Snape tiveram suas aulas canceladas, é porque fizeram alguma coisa errada.
Snape
ia testar em nós a poção comprometedora, e Luna nos levou
a Floresta Proibida.
_
Sim...- Harry continuou - ...mas os dois disseram que tinham permissão
de Dumbledore.
_
Aí é que está, Harry...- Hermione prosseguiu -....mas você
tem visto Dumbledore ultimamente?
Harry
pensou por um instante e então se deu conta de que não via Dumbledore
desde o dia da cerimônia de Seleção.
_
Calma, gente...não pode ser tão grave assim....- continuava Rony.
E
então, pela passagem na parede entraram Fred e Jorge.
_
Ei, vocês também tiveram suas aulas canceladas? - perguntaram os
dois, juntos.
_
Sim...- começou Hermione - ....esperem: o que vocês tem hoje?
_
Teríamos dois períodos de Transfiguração depois
de Feitiços....- falou Fred.
_
....mas resolvemos matar Feitiços e tentar aperfeiçoar uns caramelos
explosivos que estamos inventando - continuou Jorge, entrando logo atrás
de Fred no dormitório dos alunos do sétimo ano.
_
Então - falou Hermione, excitada, olhando para Harry e Rony - então
a profª. McGonagall fará uma reunião com os Snape e Luna
durante o horário de Poções!
Rony
abriu um grande sorriso:
_
Precisamos ouvir o que ela dirá a eles!
A
alegria de Hermione murchou na hora:
_
E como você pensa que faremos isso?
Rony
não pensou nem meio segundo para responder:
_
Ora, Harry ainda tem a capa da invisibilidade, não tem? E nós
sabemos onde fica a sala da profª. Minerva, porque estivemos lá
depois que saimos da Câmara Secreta.
Era
verdade: Harry, Rony, Gina e Gilderoy Lockhart foram todos para a sala da professora
Minerva quando resgataram Gina do imenso basilisco que habitava a Câmara
Secreta de Hogwarts, quase três anos antes.
_
Mas, Rony...- começou Hermione - ...não podemos abrir a porta
simplesmente e entrar....
_
Bem...- pensou ele um pouco antes de responder -...acho que podemos esperar
do lado de fora até eles chegarem.
Harry
e Hermione consideraram todas as possibilidades de serem apanhados, até
que Hermione achou melhor não irem.
_
Não vale a pena....
Mas
Harry já estava decidido e foi buscar a capa da invisibilidade. Sabia
que não seriam interrompidos porque o restante dos alunos da Grifinória
ou estava em aulas ou estava pelo pátio. Fred e Jorge trancaram-se no
dormitório dos alunos do sétimo ano e Harry sabia que não
sairiam de lá tão cedo.
_
É muito arriscado, Harry! - Hermione protestava, resoluta, enquanto Harry
e Rony metiam-se embaixo da capa. Ocorreu, no entanto, um problema pelo qual
não esperavam.
A
capa estava muito curta para os dois.
Harry
não havia reparado no quanto Rony crescera no último ano, e só
quando viu os enormes pés do amigo ultrapassando a bainha da capa é
que caiu finalmente na realidade. Hermione parecia feliz:
_
Assim ninguém se mete em encrenca!
Rony
estava muito abalado:
_
Que droga, Harry, que droga....
_
Talvez se andássemos bem abaixados....
Tentaram
andar abaixados, e até conseguiram, mas logo tinham que parar porque
Rony não conseguia manter a posição.
_
É melhor você ir sozinho, Harry...a reunião será
daqui a pouco...- disse Rony, bastante chateado.
_ Nada disso. Mione vai comigo.
Sob
protestos, Hermione acompanhou Harry pelo corredor que levava a sala da profª.
Minerva. Era dia claro e, apesar de praticamente todos estarem em aula, eles
não podiam arriscar ser vistos por algum professor ou mesmo por Filch.
A capa ajustava-se ainda muito bem aos dois.
_
É aqui? - perguntou, entre sussurros, Hermione.
_
É.
Haviam
parado em frente a uma porta discreta e aguardavam a chegada de alguém
para que pudessem entrar juntos. Não foi preciso esperar muito e a professora
Luna apareceu, elegante como sempre. Bateu na porta e aguardou uns instantes;
Harry e Hermione acharam que a professora Minerva não estava. Luna então
abriu a porta decidida e nem reparou que Harry e Hermione estavam invisíveis
logo atrás. Realmente, a professora Minerva ainda não estava na
sala. Harry e Hermione sentaram-se silenciosamente em um banco de pedra entalhado
na parede, e felizmente tinham muita experiência com a capa da invisibilidade
para cometerem alguma besteira. Além disso, o banco ficava em um canto
da sala particularmente escuro, e eles contavam com a sorte de ninguém
aproximar-se deles.
A
professora Luna não sentou-se em uma das cadeiras que haviam diante da
mesa da professora Minerva; ao contrário, caminhou pela sala, observando
com atenção as pinturas que se moviam, e houve um momento em que
Harry e Hermione temeram que ela viesse para o lado deles. Harry reparou que
a professora tinha os olhos um tanto vermelhos, e parecia que estava lembrando
de coisas boas, pois tinha um sorriso de nostalgia nos lábios bonitos.
Prendia os cabelos com sua habitual trança, onde um fio dourado entremeava-se
harmoniosamente.
_....faz
tanto tempo que eu estive aqui e parece que nada mudou...- falava baixinho.
_
É porque nada mudou.
Harry
sentiu Hermione estremecer ao seu lado, e ele próprio levou um susto:
há quanto tempo Snape estivera parado ali observando a professora?
_
Severo...porque você sempre tem que chegar assim? - disse Luna, virando-se
para ele, com uma mão nervosa apertando o peito.
Snape
adiantou-se alguns passos e parou, virando-se lentamente para o lado onde Harry
e Hermione estavam sentados. Os olhos negros e frios do professor os atravessaram.
O coração de Harry bateu muito forte e ele sentiu as unhas de
Hermione cravarem-se em seu braço esquerdo. Um minuto depois ele voltou-se
novamente para Luna, falando num tom irônico:
_
A senhorita tem idéia do que a vice-diretora quer nos dizer?
A
professora Luna tinha as faces afogueadas e o sotaque acentuara-se consideravelmente
quando respondeu:
_
Pensei que você pudesse me dizer alguma coisa. E pare de me chamar de
senhorita como se eu fosse uma das suas alunas de treze anos!
Harry
e Hermione vibravam por debaixo da capa da invisibilidade. Nesse momento, a
professora Minerva entrou por uma porta lateral:
_
Bom dia. Desculpem o atraso. - e foi sentar-se atrás de sua escrivaninha,
indicando a Luna e Snape as duas cadeiras a sua frente.
_
Bem, vamos direto ao assunto....estão aqui por terem cometido, cada um,
graves faltas em sala de aula.
"Sei
que as razões de ambos são justificáveis, mas não
gostaria que isso se repetisse, até porque o diretor, como vocês
mesmos sabem, está empenhado numa missão de paz com os gigantes.
Ele não está sabendo do que se trata, e eu gostaria de esclarecer
isso o quanto antes".
_
Não entendo o porquê da minha presença aqui, diretora....-
começou Snape, num tom de voz desagradável.- Ao que me consta,
não fui eu quem expôs os alunos aos perigos da Floresta Proibida...
Snape
e Luna estavam de costas para Harry e Hermione, e assim eles não podiam
ver a expressão do rosto de ambos. A professora Minerva observou Snape
por cima dos óculos e então falou duramente:
_
Professor Snape....o senhor sabe que também faz coisas perigosas desde
o seu primeiro ano em Hogwarts.
Harry e Hermione apertavam as mãos por debaixo da capa, numa espécie
de entendimento solidário. Ambos sentiam-se como se estivessem assistindo
a dois alunos serem punidos por namorarem escondido.
Seguiu-se
um silêncio mórbido, e então a professora Luna falou, numa
voz que fez Harry perceber que a jovem mulher estava chorando, ainda que muito
disfarçadamente:
_
Professora....eu não quis expor meus alunos a perigo algum....apenas
pensei em apresentar-lhes Firenze e....
Snape
remexeu-se nervosamente na cadeira, e a professora Minerva falou, um tanto transtornada:
_ Firenze é um centauro amigável, professora Luna....e o único! O que ocorreu há muitos anos atrás poderia ter-se repetido, e com qualquer um daqueles meninos! certamente, a senhorita não se deu conta de que tinha Harry
Potter
entre seus alunos, e que o menino corre grave risco agora que....que....
A
menção do seu nome, Harry engoliu em seco, mas já estava
tão acostumado a viver com ameaças de morte que continuou
ouvindo com atenção. Hermione apertava nervosamente sua mão.
_
...que o Lord das Trevas voltou. - completou Snape, num tom de voz um tanto
assustado e fascinado ao mesmo tempo.
_
Caso a senhorita não saiba - prosseguiu, mais calma, McGonagall - o menino
sofreu um acidente sério entre seus parentes trouxas. Foi atingido por
um balaço e caiu de um telhado, poderia ter quebrado o pescoço
se não fosse por...bem..não vem ao caso agora...no entanto, tememos
que já tenham descoberto onde o garoto mora. - completou, um tanto desolada.
A
professora Luna olhava para baixo e parecia muito infeliz. Harry teve vontade
de correr para consolá-la, dizer que estava tudo bem. Snape segurava
a cadeira com ambas as mãos, lembrando muito Neville Longbotton.
_
Eu realmente sinto muito, professora. Isso não vai se repetir. - falou,
numa voz controlada.
McGonagall
então encarou Snape:
_
E quanto ao senhor, professor Snape....gostaria de saber quem foi que lhe autorizou
a ensinar as poções comprometedoras aos alunos do quinto ano,
se este não é definitivamente o conteúdo que o senhor teria
que ensinar a eles? E porque somente para a turma da Sonserina e da Grifinória?
Harry
imaginou que Snape encarava a professora com sua habitual frieza, mas seus dedos
agarravam nervosamente o assento da cadeira:
_
Eu apenas pensei....- falou, num tom de voz letal - que seria interessante que
alguns alunos conhecessem o uso destas poções...
_
Alguns alunos? quais alunos, professor Snape? O senhor refere-se a Draco Malfoy,
que já tem antecedentes demais para as Artes das Trevas?
Snape
hesitou por um minuto e então falou devagar:
_
Não. Eu pensei em Potter e Granger.
A
professora Minerva encarou-o e perguntou:
_
Estou surpresa. E porque os dois?
Snape,
que ainda agarrava-se com força na cadeira, respondeu na sua voz de sempre:
_
Granger é brilhante, embora um tanto irrtante....ela aprenderia a fazer
qualquer poção sem a ajuda de ninguém. E Potter...ele precisava
ver como essa poção agia, apenas isso....
Luna,
que estivera calada até aquele momento, falou, irritada:
_
E foi por isso que você testou a poção no menino?
A
professora Minerva arregalou os olhos:
_
Professor Snape! O senhor testou uma poção controlada pelo Ministério
da Magia em Harry Potter?
Snape
lançou um olhar gélido para Luna e os nós de seus dedos
ficaram muito brancos:
_
Exatamente.
Harry
e Hermione continuavam apertando as mãos fortemente sob a capa, mas Harry
adivinhava que a amiga estivesse sorrindo. A professora Minerva considerou a
situação por um minuto e então falou, num tom conciliatório:
_
Eu sinto muito por ter tido esta conversa com vocês....eu sei o quanto
esta sala e a atmosfera de Hogwarts faz às pessoas....mas, nos tempos
difíceis que estamos vivendo, não podemos nos dar ao luxo de perder
mais ninguém para o lado das trevas...é só isso....
E
então os três se levantaram e saíram pela porta, com Harry
e Hermione nos calcanhares.
A
segunda coisa extraordinária daquela Sexta-feira ocorreu minutos depois
que eles saíram da sala da professora McGonagall. Harry e Hermione teriam
que descer, como todos os alunos, para almoçar no salão principal.
Hermione, no entanto, dissera que precisava ir para a Biblioteca e Harry, certificando-se
de que não havia mais ninguém nos corredores, resolveu sair também
de debaixo da capa.
Só
que, no momento em que ele ia tirar a capa, alguém falou o seu nome muito
claramente:
_
Potter.
Era
o verdadeiro Olho-Tonto Moody e, tanto ele, quanto sua réplica do ano
anterior, podiam ver através de capas de invisibilidade.
Harry
odiou-se por alguns segundos, e perguntava-se de onde diabos saíra o
professor.
_
De onde você está vindo, Potter? - seu tom de voz era tão
frio quanto o de Snape.
Harry
engoliu em seco e então saiu de debaixo da capa.
_
Eu...eu estive espiando os treinos de quadribol da Sonserina, só isso....não
queria que me vissem.... - falou, duvidando muito de que o professor fosse acreditar
naquela sua mentira deslavada.
O
olho normal e o olho mágico de Moody examinavam atentamente Harry, e
se demoraram algum tempo na cicatriz. Harry sentia-se como se estivessem vendo-o
nu.
_
Sei, Potter, sei....vamos a minha sala.
_
Mas professor....eu preciso descer para almoçar e....
_
Agora.
Harry
não teve outra escolha e seguiu o professor pelos corredores até
a sala onde o falso Moody ocupara no ano anterior. Quando iam dobrar um corredor,
no entanto, esbarraram com a professora Luna. A conversa que se seguiria seria
a segunda coisa extraordinária daquela Sexta-feira:
_
Moody. Como você está? - Harry notou que ela parecia muito triste.
- Ei, onde você está levando Harry?
Olho-Tonto Moody pareceu bem contrariado:
_
Como está seu pai, senhorita....Cortazar? - Harry achou estranho que
ele falasse assim com a professora Luna.
_
O senhor sabe perfeitamente que meu pai morreu há alguns anos. - falou,
olhando-o gelidamente.
_
Certamente, senhorita...mas um nome tão... honrado....nunca morre, não
é? Porém, pelo visto a senhorita já o esqueceu..... - falou
ironicamente Moody.
A
professora Luna desviou o olhar por um segundo e parecia tentar se controlar:
_
Professor Moody....eu me surpreendi de ver o senhor por aqui....mas quanto ao
nome de meu pai....ele está enterrado com ele....Cortazar é o
nome de solteira de minha mãe.
Moody
então abriu um sorriso que o deixou assustador:
_
Pensei que a senhorita tivesse orgulho do seu pai....ao menos, foi o que sempre
pareceu.....o que será que Severo Snape pensa disso, hein?
Luna
ficou com o rosto vermelho e Harry lembrou-se do dia em que assistira o falso
Moody repreender Snape, enquanto ele, Harry, ficara com a perna trancada na
escada:
_
Chega, professor! - disse, séria - O que este menino está fazendo
com o senhor? Ele precisa descer para almoçar! Com licença! -
E, dizendo isso, agarrou a mão de Harry e arrastou-o pelos corredores.
Moody ficou para trás, com uma cara muito feia.
_
Harry - falou a professora, parando quando estavam longe de Moody. _ por favor,
esqueça o que você ouviu.
_
Tudo bem, professora.
E então aconteceu uma terceira coisa extraordinária. A professora Luna lhe deu um beijo na bochecha.
Na
Sexta-feira à tarde, Harry, Rony e Hermione estavam conversando sobre
tudo o que ouviram sobre Luna e Snape:
_
Tudo isso é muito estranho...- falou Hermione -....os dois terem mentido
sobre a aprovação de Dumbledore....
_
Vai ver - disse Rony, comendo um sapo de chocolate - vai ver os dois estão
mancomunados com Você-Sabe-Quem.
_
Não, Rony...acho que não é isso....parece que eles já
se conheciam antes de darem aulas aqui em Hogwarts....- disse Hermione, pensativa.
Nesse
instante, Edwiges entrou como um furacão na sala comunal da Grifinória.
_
É a resposta de Sirius! - Harry disse, correndo para apanhar a carta
na perna da coruja.
Caro
Harry
Você
deveria ter me contado antes sobre o seu acidente. Isso é muito grave.
Eu e Lupin estamos em Hogsmeade e esperaremos vocês três na gruta
que vocês já conhecem. Tragam as fotos e alguma coisa para comer,
também. Quanto aquele outro assunto, acho que poderei lhe dar algumas
aulas.
Sirius
_ Ei - disse Rony - que outro assunto é esse?
Harry
ficou muito vermelho e então apontou para o próprio rosto. Não
queria falar na frente de Hermione, mas não teve escolha:
_
É que....pedi a Sirius para me ensinar a fazer a barba....sabem, não
quero acabar como Neville...
Rony e Hermione riram muito. No fim, Harry acabou rindo também.
Na hora do jantar, todos desceram para o salão principal. Depois que
comessem, Harry, Rony e Hermione esperavam dar um pulo na cozinha para ver se
conseguiam alguma comida extra com os elfos domésticos para levar para
Sirius e Lupin.
O
salão estava bastante cheio, e Harry sorriu timidamente ao ver que Cho
olhava para ele.
_
Veja, Harry...a professora Luna não está na mesa...mas Dumbledore
voltou...- apontou-lhe Hermione.
Harry
então sentiu que um grande peso estava sendo tirado de sua cabeça,
porque confiava em Dumbledore acima de tudo. Antes de se iniciar o jantar, o
diretor pediu silêncio:
_
Prezados alunos: gostaria de justificar a minha ausência dizendo-lhes
que estive numa missão muito importante, que por ora não me cabe
revelar a vocês. O que tenho para lhes dizer é que este ano realizaremos
uma Festa do Dia
das Bruxas realmente inesquecível.
O
salão inteiro prorrompeu em vivas. Dumbledore, sorrindo, prosseguiu um
minuto depois:
"Eu
acredito que, nestes momentos difíceis que estamos todos vivendo, nada
melhor do que a alegria para combater o mal e a tristeza. Por isso, faremos
uma bela festa do Dia das Bruxas e, depois, os alunos do quarto ano em diante
terão uma comemoração especial, muito parecida com o Baile
de Inverno que tivemos no ano anterior".
O
salão principal veio abaixo, com gritos, assobios e palmas. Harry, que
aplaudia freneticamente olhando para Dumbledore, reparou quando uma coruja marrom
entrou voando por uma janela e largou uma carta na frente de Snape. O diretor
observou o vôo da coruja e então abriu um largo sorriso.
_
Bem, vamos agora ao nosso delicioso jantar! - e então, magicamente, surgiram
vários tipos de pães, bolos de frutas,
geléias, biscoitos, sucos de abóbora e maçã e outras
coisas gostosas.
O
jantar foi muito agradável, e o clima geral no salão era ótimo.
Se Dumbledore tentava manter Hogwarts funcionando perfeitamente, apesar de Voldemort
ter ressurgido, estava conseguindo.
_
Vamos agora até a cozinha? - perguntou Hermione a Harry e Rony.
_
Vamos. É melhor aproveitarmos que estão todos ainda jantando.
- Rony respondeu.
E
os três saíram sem serem notados, pois o salão estava ainda
muito cheio de gente e todos riam e falavam alto.
Para
chegarem à cozinha, Harry, Rony e Hermione precisavam fazer praticamente
o mesmo trajeto que os levava às masmorras onde tinham aula com Snape.
Naquela noite seguiam, cautelosos, pelos corredores desertos:
_
Será que Winky permaneceu trabalhando aqui em Hogwarts? - perguntou Hermione,
num tom de preocupação.
_
Acho que não, Mione.... - considerou Harry - ....você lembra como
ela ficou depois do que aconteceu com os Crouch.
_
Espero que Dobby esteja por lá....aquele bolo de cerejas estava tão
bom.... - falou Rony, estalando a língua.
_
Você só pensa em comida, Rony....- Hermione ensaiou um protesto,
mas então estacou. Harry e Rony também pararam.
Ouviam
mais passos no corredor, e não eram os seus.
_
Depressa - falou Harry, desesperado, a Rony e Hermione - vamos nos esconder
nas masmorras! - Algo lhe dizia que eles deveriam se esconder, e rápido.
E
os três desceram as escadas aturdidos e entraram na masmorra onde tinham
aula de Poções, indo rapidamente se esconder embaixo das carteiras
no fundo da sala. Para o horror dos três, o dono dos passos desceu as
escadas e entrou nas masmorras também.
_
Estamos perdidos...estamos perdidos - balbuciava Hermione, baixinho.
Quem
quer que fosse, esperava em pé. Então, novos passos apressados
surgiram, e os garotos perceberam que as pessoas que estavam na sala além
deles mesmos eram Snape e Luna.
_
Gostaria de saber o que a senhorita deseja comigo - falou Snape, numa voz que
fez Harry gelar. Então era isso: Luna mandara uma coruja para Snape na
hora do jantar.
_
Eu já lhe disse - falou, no mesmo tom gelado - que não suporto
ouvir você me tratando como uma garota de treze anos de idade!
Um
silêncio mórbido se seguiu, e só a respiração
apressada da professora Luna era bem audível.
_
Bem, se estamos aqui para discutir tolices.....- Snape começou, mas foi
interrompido por Luna. A jovem mulher estava muito brava, e não conseguia
nem mesmo controlar o sotaque espanhol.
_
Não, não são tolices, e você sabe muito bem disso!
Como foi que McGonagall soube que levei os alunos do quinto ano para ver Firenze?
Snape
caminhou alguns passos e parou próximo a classe onde Rony se escondera:
_
Ora...como posso saber, se nem sei como ela soube sobre a minha aula de Poções....-
disse, irônico.
Luna
caminhou até onde Snape estava e falou numa voz descontrolada:
_
Não seja cínico, Severo! Foi você quem contou a ela sobre
a minha aula, como...como...como aquela vez! - e prorrompeu em lágrimas.
E
então, ocorreu a quarta e última coisa extraordinária naquela
Sexta-feira.
Snape
se virou e falou num tom de voz que não era frio, nem de desdém,
nem de humilhação. Parecia um tom de voz de quem está muito
arrependido:
_
Luna...- disse ele, e deu uns passos em direção a professora -
...você ainda guarda esse ressentimento de mim...eu nunca pude esclarecer
o que aconteceu naquele dia, porque seu pai transferiu você para Beauxbatons...e
só fomos nos ver tanto tempo depois....e em circunstâncias tão
tristes...
Harry ouviu os soluços abafados da professora e imaginou, com um certo
desespero, que Snape a tivesse abraçado:
_
Não fui eu quem falou a Minerva sobre Firenze...nem hoje, nem antes...mas
eu sei que foi você quem falou a ela sobre as minhas aulas...eu vi você
conversando com Patil, ela deve ter-lhe contado que apliquei a poção
comprometedora em Potter....
E
então, se a professora estava abraçada em Snape, ela deveria ter
quase o jogado longe, porque seus passos foram duros e sua voz era decidida:
_
Minta o quanto quiser, Severo, mas não invente coisas tolas sobre mim!
- e então, inesperadamente, um sonoro tapa se fez ouvir.
O
silêncio reinou entre eles por alguns segundos tensos, e então
Snape falou, e sua voz tornara a ser fria e cruel:
_
Eu esperava isso de você, Luna Palomba....mas o seu pai batia mais forte.
E
então a professora Luna virou-se e saiu pisando duro da masmorra.
Snape, porém, puxou a cadeira de sua própria mesa e sentou-se. Permaneceu ali alguns minutos, e Harry imaginou que estivesse com os braços cruzados e a cabeça baixa, como ele mesmo, Harry, fazia tantas vezes.
_
É coisa demais para uma Sexta-feira só! - Rony falava, excitado,
enquanto entravam pelo quadro da Mulher Gorda.
_
Não sei como não fomos pegos - prosseguiu Hermione, olhando atravessado
para Rony - , aquele tapa deve ter afetado a cabeça de Snape.
Harry
estava muito pensativo.
_
Você tinha razão, Mione...ela e Snape já se conheciam...e
como foi que ele chamou ela memo?
_
Luna Palomba....- Rony completou - ....é um nome espanhol, Mione?
A
garota assentiu com a cabeça:
_
Isso mesmo. Estive consultando na biblioteca alguns dicionários de espanhol,
só para me familiarizar com as palavras.
_
Talvez Sirius possa nos esclarecer sobre ela....
_ É melhor irmos dormir então, Harry - começou Hermione -...foram coisas demais para uma Sexta-feira.
<<Voltar para o capítulo anterior Ir para o próximo capítulo>>