A
Primavera Silenciosa
Rachel
Carson
Um dos livros que marcaram o século XX
Ao ser introduzido para uso no combate a pragas, o DDT — o mais poderoso pesticida que o mundo já conhecera — terminou por mostrar que a natureza é vulnerável à intervenção humana. A maior parte dos pesticidas é efetiva contra um ou outro tipo de insetos, mas o DDT era capaz de destruir de imediato centenas de espécies diferentes de insetos. O DDT, cujo inventor recebeu o Prêmio Nobel, tornou-se conhecido durante a II Guerra Mundial, quando foi usado pelas tropas americanas contra insetos causadores da malária. Ao mesmo tempo, na Europa, começou a ser usado sob a forma de pó, eficiente contra pulgas e outros pequenos insetos.
No
livro Silent Spring (A Primavera Silenciosa), lançado em 1962, Rachel
Carson mostrou como o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se
nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem (chegou a ser detectada
a presença de DDT até no leite humano!), com o risco de causar
câncer e dano genético.
A grande polêmica movida pelo instigante e provocativo livro é
que não só ele expunha os perigos do DDT, mas questionava de
forma eloqüente a confiança cega da humanidade no progresso tecnológico.
Dessa forma, o livro ajudou a abrir espaço para o movimento ambientalista
que se seguiu. Juntamente com o biólogo
René Dubos, Rachel
Carson foi uma das pioneiras da conscientização
de que os homens e os animais estão em interação constante
com o meio em que vivem.
Quando o DDT se tornou disponível para uso também por civis,
poucas pessoas desconfiavam do miraculoso produto, talvez apenas aquelas que
eram ligadas a temas da natureza. Uma dessas pessoas foi o escritor E. W.
Teale, que advertia: "Um spray que atua de forma tão indiscriminada
como o DDT, pode perturbar a economia da natureza tanto quanto uma revolução
perturba a economia social. Noventa por cento dos insetos são benéficos
e, se são eliminados, as coisas em pouco tempo fogem do controle."
Outra dessas pessoas foi Rachel
Carson, que propôs um artigo para o Reader's Digest falando
sobre a série de testes que estavam sendo feitos com o DDT próximo
a onde ela vivia, em Maryland. A idéia foi rejeitada.
Treze anos mais tarde, em 1958, a idéia de Rachel de escrever sobre
os perigos do DDT, teve um novo alento, quando ela soube da grande mortandade
de pássaros em Cape Cod, causada pelas pulverizações
de DDT. Porém seu uso tinha aumentado tanto desde 1945, que Rachel
não conseguiu convencer nenhuma revista a publicar sua opinião
sobre os efeitos adversos do DDT. Ainda que Rachel já fosse uma pesquisadora
e escritora reconhecida, sua visão do assunto soava como uma heresia.
Então, ela decidiu abordar o assunto em um livro.
A Primavera Silenciosa levou quatro anos para ser terminado. Além da
penetração do DDT na cadeia alimentar, e de seu acúmulo
nos tecidos dos animais e do homem, Rachel mostrou que uma única aplicação
de DDT em uma lavoura matava insetos durante semanas e meses e, não
só atingia as pragas, mas um número incontável de outras
espécies, permanecendo tóxico no ambiente mesmo com sua diluição
pela chuva.
Rachel concluía que o DDT e outros pesticidas prejudicavam irremediavelmente
os pássaros e outros animais, e deixavam contaminado todo o suprimento
mundial de alimentos. O mais contundente capítulo do livro, intitulado
"uma fábula para o amanhã", descrevia uma cidade americana
anônima na qual toda vida — desde os peixes, os pássaros,
até as crianças — tinham sido silenciadas pelos efeitos
insidiosos do DDT.
O livro causou alarme entre os leitores americanos. Como era de se esperar,
provocou a indignação da indústria de pesticidas. Reações
extremadas chegaram a questionar a integridade, e até a sanidade, de
Rachel
Carson.
Porém, além de ela estar cuidadosamente munida de evidências
a seu favor, cientistas eminentes vieram em sua defesa e quando o Presidente
John Kennedy ordenou ao comitê científico de seu governo que
investigasse as questões levantadas pelo livro, os relatórios
apresentados foram favoráveis ao livro e à autora. Como resultado,
o governo passou a supervisionar o uso do DDT e este terminou sendo banido.
A visão sobre o uso de pesticidas foi ampliada e a conscientização
do público e dos usuários começou a acontecer. Logo,
já não se perguntava mais "será que os pesticidas
podem ser realmente perigosos?", mas sim "quais pesticidas são
perigosos?"
Então, em vez dos defensores da natureza terem de provar que os produtos
eram prejudiciais, foram os fabricantes que passaram a ter a obrigação
de provar que seus produtos são seguros.
A maior contribuição de A Primavera Silenciosa foi a conscientização pública de que a natureza é vulnerável à intervenção humana. Poucas pessoas até então se preocupavam com problemas de conservação, a maior parte pouco se importava se algumas ou muitas espécies estavam sendo extintas. Mas o alerta de Rachel Carson era assustador demais para ser ignorado: a contaminação de alimentos, os riscos de câncer, de alteração genética, a morte de espécies inteiras... Pela primeira vez, a necessidade de regulamentar a produção industrial de modo a proteger o meio ambiente se tornou aceita.
Revisada em 24.09.2003