McFarlane e Seu
Estilo Polêmico - 22/08/98
por: Marcelo
Hashimoto
Bom, esta é
a coluna que vai inaugurar essa nova seção intitulada "Coluna do Mês". De
agora me diante, a cada mês, ou até antes, haverá uma nova coluna escrita por mim ou
por outras pessoas, com um assunto do interesse dos fãs do Spawn.
Bom, resolvi começar com um assunto que encheu o "Post Mortem", a seção de
cartas da revista Spawn, durante muito tempo: o estilo polêmico de Todd McFarlane. Embora
eu tenha dúvidas se "estilo" é a palavra certa para o assunto...
Creio que o fato que iniciou toda essa enorme discussão foi a entrevista de Todd
publicada nas primeiras edições de Spawn. Foi uma entrevista longa, na qual Todd falava
de variados assuntos diferentes. Houve um momento em que o entrevistador fez a pergunta:
"Quem você respeita no mundo dos quadrinhos?" e Todd respondeu citando os nomes
de Frank Miller e de seus colegas da Image (naquela época ainda não havia a rixa com Rob
Liefield). Então veio a pergunta perigosa: "E quem você não respeita?", Todd
respondeu que Peter David e John Byrne eram os maiores panacas que conhecia por levarem os
quadrinhos muito a sério. Ferida cutucada.
Todd disse ao entrevistador que a qualidade da revista dependia muito da opinião dos
leitores, e dizer que uma determinada revista é melhor do que outra é ditar ao público
o que gostar e o que não gostar. Quem levasse os quadrinhos mais a sério perdia seu
respeito, pois quadrinhos, segundo a entrevista, são para Todd vinte minutos de diversão
despretensiosa ao gosto dos leitores, não uma arte julgada apenas por quem o faz.
Claro que após três ou quatro edições, o "Post Mortem" mostrou que os fãs,
ou mesmo os admiradores de Peter David e John Byrne não deixaram aquilo barato. Uma
pessoa criticou Todd por "medir a qualidade de uma revista pela sua vendagem."
Para muitos a entrevista acabou deixando essa impressão, o que não é exatamente
verdade. Todd não quis dizer exatamente a vendagem da revista, e sim a opinião do
público. Por exemplo, quase todos que lêem Sin City adoram a história, mas a revista
mal chegou à lista das mais vendidas. Certamente que Todd esperava respostas contra sua
opinião dos dois artistas. Afinal, Todd e quem criticou Todd não estavam certos nem
errados. Eram opiniões, e isso é o que a maioria esquece.
Mas as críticas não foram só nesse ponto. A maioria compara o estilo de McFarlane aos
antigos, e também comentam sobre seu impacto no mundo dos quadrinhos. Em certa carta, um
senhor aparentemente idoso chamado Emenésio Epifânio deixou bem clara sua opinião sobre
Spawn: "Não sei porque meus filhos trocaram minhas Playboys por essa $@#&%! É
muito violenta. Onde foram parar os gibis do Flash Gordon?" É claro que esse senhor
foi escorraçado pelos outros leitores mais tarde. Mas a culpa é dele? Não exatamente.
Devemos lembrar que a geração dele é outra, de Flash Gordon, com seres espaciais e
raios laser. É claro que alguém que admira esse estilo tem um tremendo choque ao ver
Spawn, com desenhos sanguinolentos, demônios, corações arrancados e raios verdes saindo
das mãos. Compreendam esse pobre senhor...
Existem outras opiniões quanto ao estilo de Todd. Há aqueles que o consideram o
"Steven Spielberg dos quadrinhos" com seu estilo revolucionários que mudou os
desenhos. Um pouco de exagero, é verdade, mas percebe-se que há razão em acreditar
nisso. As edições antigas do Homem-Aranha comprovam isso. Enquanto a maioria das
edições ainda estava naqueles desenhos pouco detalhados e simples, Todd McFarlane já
estava com um estilo bem próximo do atual, com rostos cheios de rugas, cabelos detalhados
e caras bem expressivas. Também há aqueles que digam que Todd "já foi" um
revolucionário, mas atualmente seu estilo é muito comum. Ora, quem diz isso não percebe
que ele foi o ponto de partida para esse "estilo comum"? Não estou dizendo que
ele é o melhor desenhista. Como os personagens, todos tem seu apelo próprio. Sal Buscema
tem traço mais ou menos simples, mas sabe fazer expressões faciais como ninguém. Mike
Deodato Jr. sabe desenhar corpos, mas muitos dizem que ele é inexpressivo. E outros como
Jim Lee, J. Scott Campbell, etc... todos tem seus prós e contras. Todos são criticados e
elogiados. Resumindo: todos são seres humanos.
Por falar em estilo revolucionário, dá pra perceber que muitos leitores preferem os
clássicos. Enquanto muitos fãs de quadrimnhos consideravam a Image Comics "o lugar
certo para os melhores artistas", outros a consideravam como "um grupo de
artistas que já foram os melhores mas hoje possuem o estilo mais comum do mundo".
Bem, sobre essa história de "estilo comum" eu já falei...
Há ainda a questão do argumento. Muitos disseram que as primeiras histórias de Spawn
eram ruins. Não era mentira. A história "Retribuição" (Spawn #06 e #07) é
muito fraca. O fato de McFarlane ter contratado roteiristas famosos para fazer algumas
edições já abriu uma brecha para entrarem palavras como "novato",
"inexperiente" e "devia ter ficado só no desenho". Ora, eu detesto me
repetir, mas quem disse coisas desse tipo certamente que não leu mini-séries escritas e
desenhadas por Todd, como Homem-Aranha: Tormento, que por muito tempo ficou como a mais
vendida, Homem-Aranha & Motoqueiro Fantasma e Homem-Aranha & Wolverine, todas com
argumentos muito bons. McFarlane pode ter tido maus momentos nas histórias de Spawn, mas
dizer que ele é um mal roteirista é completamente errado.
Você chegou a alguma conclusão? Eu cheguei? Eu sei que não. Mas minha coluna é para
isso: pensar. Ver sempre todos os lados da história, todas verdades e mentiras, exageros
e faltas, mas a conclusão sempre fica a cargo de você. Espero que isso não cause mais
brigas infantis, mas sim discussões com argumentos inteligentes.
Assim eu termino minha primeira coluna. Apareça mês que vem aqui para conferir a nova.