EXCLUSIVA
PARA A ABRIL JOVEM
(Entrevista
concedida a Mário Luiz C. Barroso para a revista Spawn em Outubro de 1997)
Por que você parou de desenhar Spawn?
Um dos meus objetivos é fazer com que o sucesso de Spawn não se limite aos
quadrinhos. Para tanto, precisei levar o personagem a novos meios: brinquedos, desenhos
animados e um filme de cinema. Mas eu não queria simplesmente deixar minha criação a
cargo de outras pessoas em troca de dinheiro, pois elas não seriam fiéis aos meus
padrões. Senti que precisava ter participação direta nesses empreendimentos. Tive que
dividir o trabalho artistico (ficando apenas com a arte-final) para ganhar tempo. Acho que
valeu a pena, pois os fãs percebem que o que está nos quadrinhos pode ser encontrado nos
brinquedos, na tevê e no cinema.
O que levou você a escolher Greg Capullo
como seu substituto?
Eu acompanhei sua carreira na Marvel, e estava procurando alguém com estilo,
tremenda capacidade narrativa e senso de expressão corporal. Eu e Greg já completamos
quarenta edições juntos. Seu trabalho superou minhas expectativas. Posso afirmar com
sinceridade que Spawn, após cinco anos de publicação nos EUA, progrediu muito graças
ao enorme talento de Capullo.
Você pretende convidar algum artista
brasileiro para desenhar Spawn?
E uma ótima idéia trazer um talento local para a revista. Contudo, é preciso
lembrar que Spawn é publicado em mais de cem países e cada um deles gostaria de ter seu
representante na equipe de criação. Obviamente, concretizar isso seria um pesadelo. Já
chegamos a publicar pôsteres de artistas locais, quem sabe essa seia uma alternativa. De
qualquer forma, o profissional só vai ser chamado com base em sua capacidade, e não no
lugar onde mora.
Como foi trabalhar com Frank Miller em
Spawn/Batman?
Legal. Tive a oportunidade de trabalhar com alguém que admiro há anos.
Produzimos uma história que agradou muito aos dois.
Você não sente falta de desenhar Spawn? E
o Homem-Aranha?
Eu adoraria fazer de tudo na vida, mas é impossível. Isso não quer dizer que
não esteja criando ou desenhando em outras áreas. Eu gosto de estar envolvido com a arte
e isso pode assumir várias formas. Desenho muito quando estou criando brinquedos,
desenvolvendo desenhos animados, storyboards, na pré-produção do filme e dos gibis.
Qual é seu personagem preferido fora do
universo de Spawn?
Como comecei a ler quadrinhos muito tarde, não tenho um favorito. Em
compensação, descobri que cada personagem tem seu apelo. Mas, se você apontar uma arma
pra minha cabeça, eu digo que é o Batman.
E seus favoritos no universo de Spawn?
É claro que, antes de todos, o Spawn. Depois dele, adoro a dicotomia dos
detetives Sam e Twitch, e o misticismo de Cogliostro.
Por que você não permitiu que o Spawn 10
original, escrito por Dave Sim, fosse publicado em outros paises?
Foi uma decisão conjunta. Achamos que a história foi importante para o momento
e o local em que foi publicada e não deveria fazer parte da cronologia depois disso. Ela
criticava a política dos quadrinhos naquela época e não faz muito sentido fora de
contexto.
Em quantos países Spawn é publicado hoje?
Spawn é distribuído em 120 países.
O que você acha da versão brasileira de
Spawn?
Estou feliz com a qualidade e consistência da revista brasileira. Tenho recebido
inúmeras cartas de fãs brasileiros comentando a excelente tradução que a Abril Jovem
tem feito. Espero que nossa relação se prolongue por muito tempo e continue obtendo
sucesso.
Você lê nossas seções de
correspondência. Em que os leitores brasileiros e americanos são diferentes?
Parece haver uma certa unanimidade entre os fãs. Tenho a impressão de que os
leitores do mundo inteiro gostam de Spawn pelos mesmos motivos.
Wanda, Cyan, Al Simmons e Terry Fitzgerald
são pessoas próximas a você. Quem mais você transformou em personagens?
A avó de minha esposa (que faleceu recentemente, aos 95 anos de idade) virou a
vovó Blake. A presença de espírito veio dela. Certos vilões e vagabundos foram
batizados em homenagem a amigos, jogadores de hóquei, vizinhos e gente que joga beisebol
comigo.
O quanto podemos encontrar de sua esposa e
filha em Wanda Blake e Cyan Fitzgerald?
Como minha esposa, Wanda Blake é linda, dedicada e se sai bem nos negócios. Ela
adora a famflia e divide bem seu tempo entre trabalho, amigos e outras atividades. A
verdadeira Cyan agora está com seis anos de idade e ficou dificil aplicar sua
personalidade em uma personagem tão nova. Mas, há poucos anos, eu aproveitava muitas de
suas travessuras na revista. Agora, temos outra filha, Kate (que fez três anos no dia 11
de outubro), e ela serve de inspiração para muitos momentos da Cyan dos quadrinhos.
Você pretende realizar algum encontro entre
Spawn e o Homem-Aranha ou o Motoqueiro Fantasma?
No momento, não pretendo produzir nenhum desses eventos.
Você esperava que o filme do Spawn fizesse
tanto sucesso?
Sim. Na verdade, eu esperava que fosse o mais assistido em seu fim de semana de
estréia. Infelizmente, chegamos ao cinema ao mesmo tempo que Força Aérea Um, estrelado
por Harrison Ford e elogiado por Bill Clinton. Ficamos com um honroso segundo lugar, mas
nada mal para nossa primeira vez em Hollywood! Todos os demais envolvidos na produção
reagiram como se Spawn tivesse chegado em primeiro.
Podemos esperar por uma continuação?
Há uma grande possibilidade de isso acontecer.
Quem você escolheria para fazer o papel de
Ângela em um segundo filme?
Não acho que Ângela tenha presença obrigatória no segundo filme, mas, com
certeza, vamos mostrar o Céu e suas tropas de alguma forma.
Você e o canal HBO pretendem fazer mais
episódios do desenho animado do Spawn?
Eis uma coisa que superou nossas expectativas. Estamos produzindo mais seis
episódios neste momento (que devem ser transmitidos a partir de março de 1998) e a HBO
se comprometeu a fazer mais doze. Infelizmente, houve um intervalo entre as temporadas,
pois a emissora queria analisar o impacto do desenho no público devido ao seu custo
elevado. A empresa percebeu que tinha um sucesso em mãos e recomeçamos o trabalho. O
problema é que a produção de um desenho com tanta qualidade é muito lenta...
Vocês foram criticados pela violência
presente nos episódios?
Não, e a HBO está sendo muito responsável quanto a isso. O desenho jamais foi
anunciado em um horário onde as crianças pudessem saber de sua existência. Ele foi
transmitido APENAS à meia-noite, com muitos avisos quanto à natureza da série. Ninguém
deveria se surpreender ao assistir Spawn e, com certeza, nenhuma criança deveria estar
assistindo tevê a essa hora. A fita de vídeo com o desenho está entre as dez mais
vendidas nos EUA desde que foi lançada.
Você pretende vir ao Brasil algum dia?
Tenho muitas propostas para viajar para o exterior e, num momento diferente da
minha vida, eu adoraria. Quem não quer conhecer o mundo? Mas tenho compromissos por aqui,
tanto profissionais quanto pessoais, que não me permitem esse luxo. Lamento, mas não
tenho planos de ir para o Brasil.
Você gostaria de mandar algum recado para
seus leitores brasileiros?
Obrigado por todo o apoio que tên dado ao Spawn. Espero que continuem gostando
da revista e me mandando suas opiniões. TUDO DE BOM!!