Alcoolismo

Por:* Dr. Silvio Saidemberg

Sumário: Doses baixas de álcool são causa importante de acidentes, por prejudicarem o discernimento e a coordenação motora, requeridos para dirigir um carro e para operar máquinas com perícia. Não somente alcoolistas são responsáveis por acidentes. Seja ela bebedora social ou ocasional, qualquer pessoa que dirija sob a influência de bebidas alcoólicas arrisca-se a provocar acidentes. Doses de bebidas alcoólicas baixas ou moderadas aumentam a incidência de reações agressivas a ameaças reais ou imaginárias, também podem encorajar uma pessoa a cometer atos anti-sociais. Abuso físico e psicológico contra esposa e criança, encontra-se entre os assuntos de maior preocupação médica e social. Doses moderadas ou elevadas de bebidas alcoólicas causam prejuízos marcantes para as funções mentais mais complexas, praticamente, impedindo o aprendizado e a recuperação da memória de fatos novos. Depressão respiratória e morte usualmente ocorrem na ingestão em níveis mais altos. O uso contínuo de bebidas alcoólicas leva à dependência física e ao aumento da tolerância, assim, doses progressivamente mais elevadas da bebida alcoólica serão necessárias para causar embriaguez e outros transtornos funcionais. Provavelmente, a súbita interrupção do consumo de bebidas alcoólicas produzirá sintomas de abstinência. Entre esses, encontram-se ansiedade severa, tremores, alucinações, e convulsões. Especialmente quando combinado com nutrição pobre, o efeito a longo prazo do consumo de grandes quantias de bebidas alcoólicas pode acarretar dano permanente a órgãos vitais, tais como, cérebro, coração e fígado. As mães que bebem bebidas alcoólicas durante a gravidez tendem a gerar bebês com a síndrome do alcoolismo fetal. Essas crianças provavelmente sofrerão de retardo mental e outras anormalidades físicas irreversíveis. Dados de pesquisa têm sido consistentes em indicar que filhos de pais alcoolistas têm um risco bem maior do que outras crianças de virem a ser alcoolistas. Quando um dos gêmeos univitelíneos (idênticos) desenvolve alcoolismo, o seu par será mais propenso a desenvolver também alcoolismo, em comparação com o que ocorre em caso de gêmeos fraternos (não idênticos), mesmo se cada um dos gêmeos idênticos fosse criado por diferentes famílias e em ambientes diferentes. Contudo, muitas crianças que possuem parentes próximos alcoolistas não desenvolvem problemas de alcoolismo ao longo da vida. Uma suscetibilidade ou tendência ao alcoolismo é realmente a condição herdada e não o alcoolismo . Finalmente, muitos alcoolistas não têm parentes que são também portadores do mesmo problema, além do mais, não se tem conhecimento de imunidade ao alcoolismo.

Summary: Low doses of alcohol consumption impair the judgment and coordination required to drive a car and operate machinery in the best of one`s ability to rule out accidents. There is a consensus that not only alcoholics are responsible for accidents, we may include anyone else under the influence of alcohol, even social drinkers and occasional drinkers.

Low to moderate doses of alcohol can increase the incidence of aggressive reactions to real or imaginary threats, also can bolster one`s courage to commit antisocial acts. Spouse and child abuse are among the highest public and medical concerns. Moderate to high doses of alcohol cause marked impairments in higher mental functions, practically preventing someone from learning and recalling new facts. Respiratory depression and death usually occur at the highest levels of consumption.

Continued use of alcohol can lead to physical dependence and increasing tolerance, so higher doses of alcoholic beverages will be necessary to cause drunkness and diverse functional impairments. Sudden cessation of alcohol intake is likely to produce withdrawal symptoms, among those are severe anxiety, tremors, hallucinations, and convulsions. Long-term effects of consuming large quantities of alcohol, especially when combined with poor nutrition, can lead to permanent damage to vital organs such as the brain, the heart and the liver. Mothers who drink alcohol during pregnancy may give birth to infants with fetal alcohol syndrome. These infants will probably suffer from mental retardation and other irreversible physical abnormalities. Research have consistently indicated that children of alcoholic parents are at greater risk than other children of becoming alcoholics. When someone develops alcoholism his identical twin sibling will be more prone to become also an alcoholic than it would happen in the case of a dizigotic twin sibling, even if they are raised by different families and in different environments. However, many children that have alcoholic close relatives do not grow up bearing alcoholic problems of their own. A susceptibility or tendency to alcoholism is really the inherited condition and not the alcoholism per se. Finally, many alcoholics do not have relatives that are also alcoholics, besides there is no known immunity against alcoholism.

Introdução: Um Pouco de História

O álcool é presumivelmente a mais antiga de todas as drogas usadas para afetar o cérebro, com o objetivo de mudar a mente e as emoções. O seu uso data com certeza desde a era neolítica e provavelmente desde a era paleolítica, eras da pré história. Qualquer suco de fruta, qualquer pasta de fruta prensada ou de cereais sofre alterações em decorrência de fermentação. A fermentação é o trabalho digestivo de pequenos seres monocelulares conhecidos por leveduras, as quais são espécies de fungos. Seus esporos minúsculos flutuam aos milhões no ar que nos envolve. As leveduras alimentam-se de açúcares, mas, de forma incompleta, em vez de os transformarem em gás carbônico e água, elas deixam o álcool etílico como resíduo. O álcool etílico é uma substância com efeitos puramente depressores sobre o Sistema Nervoso Central, apesar dos efeitos paradoxalmente estimulantes ou euforizantes, observáveis em muitos de seus usuários, o que o torna em bebida promotora de animação e desinibição propícias às reuniões sociais. Se tomado em dose mais alta porá um ser humano inconsciente, portanto, funcionando como um anestésico geral. Contudo a dose que leva à insensibilidade é muito próxima da dose letal. Bebidas destiladas têm estado à disposição das populações somente nos últimos 5 séculos ( Os portugueses no século 16 produziam a bagaceira: destilado do bagaço da uva. A fabricação dessa bebida foi desenvolvida no Brasil, com a cana-de-açúcar em lugar da uva. O gin entra na Inglaterra no século 18, com preço acessível à população).

As bebidas destiladas resultam do fato do álcool etílico possuir ponto de ebulição aos 78.5° C ( graus centígrados), quando passa a ocorrer sua evaporação mais ativa, tornando possível a sua separação da água. A água só entra em ebulição aos 100 graus centígrados, à pressão atmosférica ao nível do mar. Assim, foram produzidos alambiques para separarem o álcool existente nos vinhos e em cervejas, surgindo as bebidas destiladas a partir desse produto de teor alcoólico mais concentrado e aromatizado por uma variedade de substâncias voláteis.

O álcool tem tido uma aceitação social alta, principalmente no mundo ocidental, seja para ser consumido de forma moderada e ocasional, ou em comemorações onde ele pode ser utilizado de forma excessiva. A diferenciação não é fácil entre o beber social, o uso abusivo ou nocivo de álcool e a síndrome de dependência do álcool. É extremamente variável a aceitação individual ou do grupo cultural sobre o que é esporádico, moderado ou excessivo. E ainda, em decorrência da forte desaprovação social ao beber imoderado, a maioria dos alcoolistas com sérios problemas sociais e de saúde tende a negar a sua dependência de bebidas alcoólicas.

Metabolismo do álcool no organismo humano:

A absorção do etanol ocorre com rapidez através do estômago (local onde ocorre 20% de absorção) e intestino delgado (80%). Após a ingestão a concentração plasmática máxima é atingida entre 30 e 90 min. O esvaziamento do estômago é retardado pela presença de alimentos. A absorção no intestino delgado é extremamente rápida e completa, independentemente da presença de alimentos. O álcool é rápida e uniformemente distribuído por todos os tecidos e líquidos corporais, incluindo-se o cérebro. Ele atravessa a placenta ( atingindo no embrião ou feto os mesmos níveis sangüíneos maternos). No adulto, o álcool é metabolizado principalmente no fígado, envolvendo a enzima ADH (álcool desidrogenase no fígado), originando o acetaldeído e daí uma seqüência de etapas metabólicas conduzem à produção final de água e gás carbônico. Em menor proporção, o etanol pode também ser transformado em acetaldeído pelas enzimas oxidases microssômicas (de função mista) no fígado. No caso do consumo de etanol ser mais elevado ou quando se trata de usuários freqüentes, a contribuição deste último sistema enzimático pode ser um tanto maior. O álcool é excretado inalterado na proporção de 2 a 10%, principalmente através dos rins e pulmões. Após ingestão de altas doses, quantidades maiores, até 10% podem ser excretadas inalteradas. A média de redução dos níveis alcoólicos sangüíneos está entre 10 e 20 mg/100 ml de sangue por hora. Podendo ser mais baixa no caso de insuficiência hepática. Variações raciais de enzimas, álcool desidrogenase e aldeído desidrogenase podem explicar em parte a diferença de rapidez metabólica existente em populações.

 

I- Dados Epidemiológicos:

Nos EUA e em muitas sociedades ocidentais, em torno de 10% das mulheres e 20% dos homens fazem uso abusivo do álcool; 5% das mulheres e 10% dos homens apresentam a síndrome de dependência do álcool ou alcoolismo. O álcool tem sido responsabilizado por 50% dos casos de morte em acidentes automobilísticos; tem sido relacionado a cerca de 50% dos homicídios e 25% dos suicídios. Pessoas portadoras de outros transtornos mentais (p. ex., ansiedade, pânico, fobias, depressão, esquizofrenia) apresentam maior prevalência do que a população geral de problemas relacionados ao uso de álcool. Às vezes, o álcool é utilizado pela população como sedativo para inquietação, ansiedade e insônia.

Há abundante e fácil disponibilidade das bebidas alcoólicas, há alta aceitação e incitação social para as mesmas, finalmente, o tempo é bastante longo para graus importantes de adoecimento serem reconhecidos pelos usuários. Estes são fatores que facilitam para que jovens não se detenham diante de advertências que são timidamente apresentadas, como na mensagem: "beba com moderação!". Aparentemente, há pouca vontade política para se prevenir o alcoolismo. Enquanto isto, permanece a ilusão que o álcool gera receita para o governo através de altos índices de taxação. Receita que não se reverte em benefícios para as vítimas diretas e indiretas do alcoolismo. E a culpa recai sobre quem não consegue "beber com moderação", em geral, uma confortável atitude moralista prevalece, o que priva os alcoolistas do reconhecimento de serem portadores de uma doença grave e fatal.

Sobre os danos fetais e ao desenvolvimento infantil causados pelo álcool, temos dois quadros principais o FAS (Síndrome do Alcoolismo Fetal) e o FAE ( Efeito Alcoólico Fetal.). Não há só danos primários, isto é problemas mais visíveis das bebidas alcoólicas durante a gravidez, que são melhor caracterizados no FAS, mas, os problemas secundários como dificuldade de aprendizado escolar, delinqüência juvenil, drogadição e alcoolismo, finalmente, uma alta taxa de desajustamento social serão os resultados futuros. No quadro abaixo, contemplamos os números dessas duas síndromes, as mais importantes do ponto de vista quantitativo, cuja causa poderia ser prevenida. FAS é a causa principal de retardo mental nas nações industrializadas. "Quando uma mulher usa bebidas alcoólicas durante a gravidez, seu feto estará em risco de aborto espontâneo, FAS e outras malformações. Crianças com FAS apresentam dano cerebral, retardamento no crescimento, e um padrão característico de malformações faciais. Enquanto aqueles com defeitos congênitos relacionados ao álcool, mas, menos severos (alcohol-related birth defects ou ARBD) mostram déficits neuro-comportamentais". A maioria desses defeitos serão gerados nas primeiras 8 a 12 semanas de gravidez, a maioria das mulheres não sabem que estão gravidas até a 4ª semana e muitas não sabem até mesmo após a 6ª. semana.

Quadro Epidemiológico:

Número de casos no Canadá e EUA, para cada 10,000 nascimentos:
3:Distrofia Muscular
4: infecção por HIV,
4: Fibrose Cística,
8: Spina Bifida,
10:Sindrome.de Down
20: Síndrome de Alcoolismo Fetal (FAS)
100 Efeito Alcoólico Fetal (FAE) (que provavelmente não será diagnosticado)

II- Dificuldades Diagnósticas:

Em publicação sobre sintomas de abuso de álcool que são freqüentemente não detectados, em outubro de 2000, a NIDA divulgou que a grande maioria dos médicos (de uma amostragem de 648 médicos distribuídos pelas diferentes regiões dos EUA: ``Missed Opportunity: The CASA National Survey of Primary Care Physicians and Patients,'') revelara que teria dificuldade em diagnosticar alcoolismo em seus pacientes. Em parte porque os pacientes tendem a negar problemas com bebidas alcoólicas. Também devido à pressão criada pelo tempo necessário para examinar seus pacientes. Além disso, não há a cobertura pelas seguradoras de saúde, para o diagnóstico e tratamento do alcoolismo e de outras dependências químicas. Finalmente, em torno de 80% dos médicos sentiam-se insuficientemente preparados para lidar com a complexidade de problemas relacionados à dependência química. http://www.casacolumbia.org National Institute on Drug Abuse: http://www.nida.nih.gov . É importante salientar que dependência química é uma área muito complexa, necessitando os médicos de especialização que envolve conhecimentos sofisticados em psiquiatria mas, naturalmente, se os médicos de um modo geral conseguirem detectar alcoolismo em seus pacientes, encaminhamentos apropriados poderão ser feitos.

O Centro Nacional para o Estudo de Abuso de Drogas dos Estados Unidos, publicou um estudo dos anos 1999 e 2000, que investigou o consumo de álcool, drogas e cigarros entre mulheres de mais de sessenta anos de idade, na cidade de New York. Encontrou que os médicos somente reconheceram 1% dos casos típicos de alcoolismo entre as mulheres acima de 60 anos. É notável que 80 % dos médicos teve dificuldade em identificar os sintomas do alcoolismo, encontrando sintomas de depressão e fazendo diagnóstico de depressão sem referência ao alcoolismo. É importante nos reportarmos à estimativa nos EUA de que em torno de 2 milhões de mulheres acima dos 60 anos usam imoderadamente de bebidas alcoólicas; quase 3 milhões abusam de drogas e em torno de 4 milhões e meio são tabagistas. Os autores encontraram que de todas as mulheres que precisam tratamentos para controlar o alcoolismo ou a drogadição, menos de 1 % recebe ajuda.


III- Alguns conceitos básicos sobre o alcoolismo:

  1. Principais sintomas do alcoolismo

O alcoolismo é bem mais comum em homens do que em mulheres Embora muito da diferença que era visualizada no passado resultasse de dificuldades diagnósticas e da identificação de mulheres com problemas de alcoolismo.

A primeira coisa que deveremos ressaltar aqui é que são os familiares e amigos aqueles que notam os sintomas iniciais. No começo a pessoa parece ter uma tendência a beber muito, apenas em ocasiões sociais; mais adiante contudo, os bebedores podem admitir que têm períodos de amnésia ( ou blackouts ) , o que usualmente significa que eles levantam no dia seguinte com nenhuma memória do que aconteceu na noite anterior ou guardam nenhuma recordação do que ocorreu durante o episódio de bebedeira. Se isso acontece com você ou alguém de sua família, reconheça que o blackout é um sinal de dependência.

Em estágios posteriores, um alcoolista pode tornar-se extremamente discreto a respeito do seu hábito de beber; copos de suco de frutas podem surgir de uma maneira a não despertar a atenção das demais pessoas em relação a seu conteúdo alcoólico e garrafas podem ser escondidas ao redor da casa.

Freqüentemente, os alcoolistas sentem-se culpados pela sua dependência e tornam-se irritados e agressivos. Tendem a repetir assertivas que estão abandonando a bebida de uma vez por todas, e essas declarações alternam-se com negativas de seu problema com bebidas alcoólicas.

O mecanismo psicológico de defesa do tipo negação é largamente empregado pelos alcoolistas; ainda, eles ficam deprimidos, ciumentos, magoados ou mesmo paranóides, apresentando medos não razoáveis que outras pessoas estão hostis ou conspirando contra eles.

Os alcoolistas não se alimentam adequadamente; por isto, tendem a desenvolver deficiência de vitaminas, particularmente de vitaminas do grupo B.

02- A avaliação clínica de um alcoolista.

Com relação à avaliação, há muitos fatores a se ponderar para que se possa realizar o exame clínico da melhor forma possível ; o relato do próprio paciente nem sempre é válido, o relato de familiares tende a ser mais correto.

Quando o paciente alcoolista conta sobre seus problemas de bebida e de relacionamento com familiares, ele tende a ser menos correto ou menos confiável do que quando ele relata sobre suas condições ocupacionais e de saúde.

Negação, minimização ou mentira óbvia são comuns a pacientes alcoolistas. Déficit de memória, ainda, prejuízo de registro de suas próprias ações e de outros fatos nas ocorrências de blackouts. nas situações mais graves, há nítida dificuldade de recuperação de registros de memória imediata e recente, na condição orgânica temporária ou permanente relacionada ao álcool.

Recomenda-se o uso de informações de fontes possivelmente mais confiáveis, seja uma entrevista com um parente, ou exame dos registros de saúde do paciente. Devemos ser cuidadosos porque os membros da família também podem estar envolvidos na negação; os objetivos da entrevista devem ser esclarecidos pelo psiquiatra e pelos membros da equipe de avaliação.

As entrevistas mais defensivas e menos confiáveis são aquelas realizadas com indivíduos que estão sendo coagidos à entrevista pelo tribunal, pelo chefe, companheiros de trabalho ou pelos membros da família. Uma admissão franca dos problemas relacionados ao álcool é um bom sinal para a adesão ao tratamento.

O alcoolismo ainda é considerado uma doença de classes inferiores; ele é estigmatizado de tal forma que o paciente sente que só irá ter prejuízos se admitir seus problemas com o álcool. No entanto, no caso de pacientes com um diagnóstico principal de abuso de drogas ou esquizofrenia, esses admitirão alcoolismo ao serem examinados por um médico; talvez, porque dependência química de drogas ilegais ou esquizofrenia sejam condições clínicas ainda mais estigmatizadas.

Existem vários distúrbios que freqüentemente mascaram o alcoolismo: fadiga, insônia e disfunção sexual, bem como depressão clínica e transtornos de ansiedade estão amiúde ligados ao abuso do álcool; fraturas, quedas, cicatrizes, convulsões sem explicação e queimaduras também podem qualificar esse abuso. Outras condições de saúde relacionadas são: "sensação de queimação na boca do estômago", náuseas, edema e hipertensão.

O paciente pode não estar consciente da conexão entre o seu abuso de álcool e a sua queixa clínica, centrando-se totalmente durante a entrevista nos sintomas que mais o molestam. Levanta-se suspeita de alcoolismo ou de outra dependência química, quando uma enfermidade não esteja respondendo ao seu tratamento clínico, bem como no caso de pedidos de receitas para tranqüilizantes.

03- Antecedentes pessoais e História familiar

É um fato bem estabelecido que o alcoolismo tende a acontecer em certas famílias.

O alcoolismo de um pai ou de uma mãe aumentam de um modo dramático as chances de que o filho também desenvolva o alcoolismo; isto acontece mesmo quando a criança não é criada pelo genitor biológico estabelecendo assim uma forte ligação genética em muitos casos de alcoolismo. Aqueles que possuem outros parentes biológicos alcoolistas também correm um risco maior.

Há outros sinais na história familiar que assinalam um aumento de risco do indivíduo desenvolver o alcoolismo. Às vezes temos uma história familiar de abstinência, o paciente fazendo parte de um grupo sócio-cultural que é mais propenso ao uso de álcool, uma história de depressão clínica em parente do sexo feminino também pode ser encontrada com maior regularidade no ambiente familiar do alcoolista. Ainda, uma história de desagregação familiar, separação ou divórcio. Pais ausentes e/ou desconhecidos, particularmente no caso do pai, bem como conflitos conjugais importantes como formas mais comuns de mau funcionamento familiar. Por outro lado, são também observados hiperatividade na infância, problemas de ajustamento na escola e dificuldades de aprendizagem.

Precisamos enfatizar que, embora a existência de qualquer um dos padrões anteriores não ser determinante de alcoolismo, os padrões podem servir de marco ou sinal de alerta ao entrevistador no sentido de se investigar a possibilidade do problema com álcool.

04- As fases do uso de álcool:

O usuário de bebidas alcoólicas está sujeito às mesmas fases descritas para as demais drogas, referentes ao processo de desenvolvimento de dependência.

Fase 1: uso experimental ou primeiro uso.

Fase 2: uso ocasional

Fase 3: uso regular ( geralmente, a pessoa considera-se bebedora social)

Fase 4: dependência ou seja, alcoolismo propriamente dito, nos seus diversos graus: leve, moderado ou severo; e ainda em suas subfases: inicial; média e final .

Como fazer a distinção entre bebedor social e alcoolista? Para esta pergunta a resposta não é fácil: se há uso de bebidas alcoólicas para enfrentar as pressões da vida, se há uma preocupação com o controle do consumo de bebidas, se há um mal estar de familiares e de outros a respeito das alterações de comportamento e/ou de saúde em decorrência do uso de bebidas alcoólicas, é possível que o alcoolismo já esteja estabelecido. Algumas pessoas ficam embriagadas com doses muito pequenas de bebidas alcoólicas - este quadro é denominado intoxicação patológica ou idiossincrática.

Se o alcoolista vive no meio de outros dependentes de álcool, a caracterização e aceitação de seu problema fica mais difícil. É comum a expressão "bebo como todo mundo bebe".

Na subfase inicial , como indícios visíveis constam: uso freqüente de bebidas alcoólicas, possivelmente para enfrentar estresses e uma preocupação em controlar o uso de bebidas. Prejuízos pessoais pelo abuso de álcool já são considerados, como também um maior grau de tolerância ao álcool ( acredita-se forte e pouco influenciável pela bebida). Algumas mudanças de personalidade são notadas, particularmente, irritabilidade. Por vezes o quadro de embriaguez é acompanhado por um esquecimento dos fatos ocorridos durante a embriaguez ("blackout").

Na subfase média, aumenta a preocupação em ocultar o comportamento ligado ao álcool e começa-se a beber durante horas de trabalho. Nos finais de semana e nas horas de convivência com a família, o problema está quase sempre presente. A dependência do álcool é moderada ou severa.

Na subfase final, o alcoolista só tem uma ocupação; a obtenção de mais uma dose. A saúde permanece descuidada, há sintomas depressivos associados, irritabilidade, tensão, sentimentos de culpa, fraqueza física e desnutrição. Geralmente, é nesta subfase final que evidenciam-se quadros claros de Síndrome de Abstinência de Álcool, de Delirium Tremens , Síndrome de Wernicke e por último Psicose de Korsakov. Outros problemas decorrentes do uso de álcool estão presentes na fase final: polineuropatia periférica, insuficiência hepática, crises de pancreatite aguda ou pancreatite crônica, rabdomiólise com conseqüente dano aos rins e insuficiência renal, esofagites e gastrites, hipertensão porta, varizes de esôfago e dano cerebral mais generalizado, nesse último caso, com severa decadência da afetividade, da apresentação pessoal e do desempenho intelectual.

05- Características dos quadros clínicos decorrentes do uso de álcool:

Intoxicação aguda: é o estado imediato de embriaguez que corresponde ao conjunto de evidentes alterações físicas e de comportamento após a ingestão de bebidas alcoólicas. O grau de intoxicação depende do tipo, da quantidade e da rapidez de bebida ingerida, se ocorre em jejum, durante ou após a ingestão de alimentos, condições físicas de saúde, fadiga, medicamentos associados etc. O estado de intoxicação aguda e seus problemas correlacionam-se com o nível de álcool no sangue (alcoolemia; que pode ser detectada direta ou indiretamente: respectivamente, coleta de sangue para exame ou do ar expirado através de um "bafômetro" ).

Uma pessoa intoxicada por álcool pode apresentar ataxia (incoordenação dos movimentos do corpo), fala arrastada, humor instável, concentração e memória reduzidas, julgamento fraco, rubor facial, pupilas dilatadas e movimentos oscilatórios curtos e bruscos da movimentação dos olhos (nistagmo); embora o álcool inicialmente exerça um efeito estimulante paradoxal, níveis crescentes resultam em depressão respiratória, redução dos reflexos da pressão sangüínea e da temperatura corporal, que é seguida por estupor, coma e morte, nesta seqüência.

Os níveis sangüíneos de álcool são medidos em gramas por cento ou gramas por 100 ml de sangue; os motoristas são considerados prejudicados em níveis de 0,05% e sob influência em níveis de 0,06 a 0,1% (correspondem à variação de 60 a 100mg de álcool por decilitro de sangue). A ausência de intoxicação em níveis de 100mg por decilitro de sangue é evidência para o fenômeno de tolerância e neste caso, deveria ser suspeitado um transtorno de dependência por álcool.

Uso nocivo ou abusivo: Conceitua-se assim o consumo de bebida alcoólica causador de prejuízo físico, mental, familiar, profissional ou social, de forma contínua ou eventual.

Síndrome de dependência: A dependência física não corresponde à busca da saciação de um simples hábito ou de necessidades emocionais, mas, sim, corresponde à saciação de ar, de alimento ou de água. Constata-se um desejo irresistível de consumir bebidas alcoólicas mesmo que isto traga prejuízo para o seu desempenho pessoal, profissional ou social. Com o consumo continuo do álcool, desenvolve-se o fenômeno de tolerância, caracterizado pela necessidade de consumir doses crescentes de bebida alcoólica para obtenção de efeitos que originalmente eram obtidos com doses mais baixas. ( em alcoolistas, ocorre a tolerância cruzada para várias substâncias, como anestésicos, barbitúricos e benzodiazepínicos; isto é: quantias maiores daquelas substâncias serão necessárias para a obtenção do efeito normalmente esperado com doses menores). Há um abandono progressivo de interesses, de atividades ou de prazeres. A vida estará cada vez mais centrada na atividade de beber. A maior parte do tempo do alcoolista é orientada para a procura, para o consumo da bebida e para a recuperação dos efeitos dos episódios de embriaguez. Prossegue-se bebendo apesar das evidencias claras dos prejuízos físicos, psicológicos, familiares e sociais. Considera-se também como sendo perda do controle sobre o consumo, quando bebe-se quantidades excessivas com freqüência. Se o consumo diminuir ou for interrompido subitamente, surgem os sintomas físicos e psíquicos da abstinência alcoólica.

A síndrome de abstinência caracteriza-se por tremores, sudorese, aumento da pulsação, náuseas, insônia, agitação, ansiedade Em casos mais graves, convulsões e o delirium tremens podem ocorrer. Ao último, alucinações acrescentam-se aos sintomas da síndrome de abstinência. Freqüentemente, trata-se de percepção visual de bichos subindo nas paredes ou sobre o próprio corpo, alucinação tátil de linhas embaraçadas nos dedos das mãos etc.

Os sintomas usuais através do período de abstinência alcoólica.

Em alguém dependente de álcool, parar subitamente ou reduzir a quantidade ingerida de álcool pode resultar em sintomas de abstinência. Estes refletem uma alta excitabilidade do sistema nervoso central, com ativação excessiva do sistema neuro-vegetativo. Os sintomas começam a aparecer entre 4 e 24 horas após a última ingestão de álcool; geralmente atingem seu ápice entre 36 e 48 horas e acalmam-se em 5 dias, aproximadamente.

Os sintomas , tipicamente são proporcionais à duração do beber, porém, a presença de doença associada pode aumentar a severidade. A abstinência leve pode se manifestar como insônia, irritabilidade, ansiedade e problemas gastrointestinais leves, que se iniciam algumas horas após a interrupção do uso de álcool e duram até 48 horas. Os sintomas podem progredir primeiro para tremor, sudorese, taquicardia, pressão sangüínea elevada, náusea, vômitos e diarréia e então para febre, alucinações, delírios, confusão, agitação e convulsões ou outras manifestações epilépticas focais. As alucinações podem aparecer dentro de 24 a 96 horas e podem ser auditivas, táteis, sendo mais comuns as visuais.

O delirium tremens geralmente aparece entre 24 e 72 horas após a última ingestão de bebidas alcoólicas e tem uma taxa de mortalidade de 5 a 15%. Dura 5 dias essa síndrome que é caracterizada por agitação extrema, delírio, psicose (delírios e alucinações) e febre. Quanto às convulsões por abstinência de álcool, elas ocorrem mais freqüentemente entre 6 e 48 horas após a interrupção ou redução da ingestão de álcool e manifestam-se em 5 a 10% dos alcoolistas em abstinência alcoólica.

As convulsões cessam geralmente entre 6 e 12 horas de abstinência; podem ser múltiplas e são generalizadas ( do tipo grande mal) Se o paciente tem uma história anterior de convulsões por abstinência de álcool o risco de novas ocorrências é 10 vezes maior. Já que mais de 5% das crises epilépticas por abstinência ao álcool são focais, outras causas como hematomas subdurais deveriam ser avaliadas (sangramentos pós traumas cranianos);. Convulsões que ocorrem além de 48 horas podem ser decorrentes de causas como abstinência de tranqüilizantes menores (benzodiazepínicos). Convulsões também podem ser causadas por transtornos metabólicos como hipoglicemia ou hipomagnesemia (respectivamente, baixas taxas sanguíneas de glicose e de magnésio) que são relativamente freqüentes nos alcoolistas.

Transtorno psicótico alcoólico

Esta condição ocorre na história médica de 3% dos alcoolistas.

Pode ocorrer durante ou imediatamente (dentro de 48 horas ou até 2 semanas) após o uso de álcool, e usualmente é caracterizado por vívidas alucinações auditivas, mas, outras modalidades sensoriais podem também ocorrer. Idéias delirantes, geralmente de fundo persecutório ou convicção de que o pensamento e o diálogo das demais pessoas giram em torno de sua pessoa (idéias de referência), afeto é anormal e varia de medo intenso à êxtase. Este transtorno resolve-se parcialmente dentro de um mês, geralmente, há recuperação total no prazo de 6 meses.

Síndrome de Wernicke Korsakoff

A doença de Wernicke-Korsakoff ( encefalopatia de Wernicke ) é caracterizada por confusão e sonolência, ataxia (dificuldades com a marcha) e distúrbios oculares geralmente devidos à fraqueza e à paralisia do sexto par de nervos cranianos (abducente), incluindo-se também nistagmo (movimentos oculares anormais); sintomas de parestesia em extremidades (formigamento nos pés ), a síndrome de Wernicke (oftalmoplegia, ataxia, nistagmo e confusão mental ) pode ter início agudo ou se desenvolver lentamente ao longo de uma semana aproximadamente

A psicose de Korsakoff é um estado de amnésia que em geral ocorre em seguida à síndrome de Wernicke. Os pacientes apresentam amnésia anterógrada, isto é, inabilidade de reter memórias novas até mesmo o nome do seu médico e possivelmente amnésia retrógrada ( inabilidade de recordar o passado ). Esta síndrome é permanente em pelo menos 50 a 70% das pessoas afetadas.

Por outro lado, eles parecem alertas, responsivos e normais e podem tentar encobrir seu problema de memória fabricando respostas (confabulando ). No teste da corda usada no diagnóstico da psicose de Korsakoff, o médico pede ao paciente para tomar uma corda imaginária em suas mãos e o paciente concorda com isso como se a corda fosse real.

Outras Complicações neurológicas

O álcool em consumo prolongado pode causar quadro demencial progressivo, onde as dificuldades de memória acompanham um déficit persistente das funções cognitivas levando à perdas na formação e compreensão de pensamentos abstratos e para aprender coisas novas (tomografias e imagens por ressonância magnética sugerem atrofia cortical acompanhada por alargamento dos ventrículos cerebrais).
A neuropatia periférica é geralmente simétrica e ocorre nas extremidades inferiores. Encefalopatia hepática pode ocorrer porque o fígado não é mais capaz de metabolizar e de neutralizar a toxicidade de substâncias, sintomas iniciais incluem confusão, agitação e mudanças da personalidade.

Outras complicações médicas do uso crônico de álcool

São várias: complicações gastrointestinais que incluem gastrite, úlcera péptica (gástrica ou duodenal), esofagites, varizes esofágicas, hepatite alcoólica, cirrose hepática; algumas dessas condições podem ser parcial ou totalmente reversíveis com a abstinência de álcool. Embora uma minoria de alcoolistas , de 15% a 20% desenvolva cirrose; a maioria de pacientes com cirrose é alcoolista, de 50% a 80%.

Complicações cardiovasculares

Hipertensão está associada ao consumo excessivo de álcool. Pacientes que continuam a beber pesadamente podem não responder tão bem à medicação anti-hipertensiva ; com a abstinência muitos pacientes voltam a apresentar pressão normal..

A miocardiopatia alcoólica tem uma apresentação geralmente inespecífica. O diagnóstico em geral é baseado na história de consumo de álcool; ela deveria ser suspeitada em pacientes com idade inferior a 50 anos que apresentam insuficiência cardíaca. Ingestão de álcool e abstinência de álcool causam taquicardia sinusal.(freqüência cardíaca elevada).

Complicações pulmonares

Os alcoolistas apresentam incidência aumentada de tuberculose e de pneumonias bacterianas. Além disso, pneumonia por aspiração pode ocorrer com vômito, havendo níveis alterados de consciência. Uma vez que pelo menos 90% dos alcoolistas são fumantes, a incidência de bronquite crônica e enfisema e doença pulmonar obstrutiva crônica é maior.

Complicações hematológicas

A macrocitose ( glóbulos vermelhos aumentados ) é uma manifestação laboratorial precoce do alcoolismo crônico; ela pode ser causada por deficiência de folato ou por toxicidade direta do álcool ( não relacionada à diminuição de vitamina ). Anemia por privação de ferro pode ocorrer em alcoolistas por causa de sangramento gastrointestinal crônico, porém o volume corpuscular médio baixo (glóbulos vermelhos menores) a ela associado pode ser mascarado por macrocitose simultânea.

O álcool prejudica a produção e funcionamento dos glóbulos brancos, tanto neutrófilos como linfócitos e aumenta o risco de infecção. A produção de plaquetas também pode ser reduzida e a função plaquetária prejudicada; ademais esplenomegalia (aumento do baço) secundária à doença hepática podem causar trombocitopenia pelo seqüestro aumentado de plaquetas ( condição que torna o alcoolista sujeito a hemorragias que põem em risco a sua sobrevivência).

Síndrome do Alcoolismo Fetal

Uma mulher grávida que é alcoolista sujeita seu feto ao risco de apresentar retardo no desenvolvimento mental e/ou físico. E isso se torna mais sério se ela bebe de uma forma mais contínua durante a gravidez; a ingestão de álcool pela mãe e uma variedade de anormalidades do desenvolvimento do recém- nascido, tem sido firmemente estabelecida e é chamada de síndrome do alcoolismo fetal.

A mulher com problemas de alcoolismo tem pelo menos 40% de chance de ter um bebê com a síndrome do alcoolismo fetal, isto é , em cada dez bebês nascidos de mulheres que apresentam o problema do alcoolismo, quatro deles terão a síndrome do alcoolismo fetal o que é um índice extremamente alto; mas mesmo beber esporadicamente, ou pequenas porções nos estágios críticos da gravidez pode também afetar a criança. Mulheres que bebem também têm risco maior de aborto expontâneo, nascimentos prematuros e natimortos e crianças de baixo peso.

Enquanto não se sabe qual é o nível seguro de álcool durante a gravidez, porque não foi estabelecido ainda, a recomendação é de que não se use em absoluto bebida alcoólica na gravidez.

06- A personalidade do paciente alcoolista .

A combinação de traços de caráter que possa distinguir o alcoolista do não alcoolista trouxe-nos uma porção de conceitos que foram usados em diferentes épocas. Entre esses conceitos temos ego frágil, hipersensibilidade e sofrimento físico e emocional, baixa tolerância à frustração, imaturidade, passividade, dependência, impulsividade, insegurança, auto-conceito, auto-estima e auto-imagem pobres. Acrescentam-se ansiedade, hostilidade, sociopatia e depressão.

Estas características estariam presentes antes do alcoolismo constituindo-se em uma das causas para o seu desenvolvimento? Seriam elas o resultado de muitos anos de uso de álcool?

Certamente, a discussão sobre o que vem em primeiro lugar pode ser relevante; principalmente, quando se consideram o tratamento e o prognóstico.

Como na maioria das questões relativas ao alcoolismo e aos distúrbios a ele relacionados, o diagnóstico não é muito simples, esses traços realmente aparecem de uma forma ou de outra em muitos alcoolistas mas não estão presentes em todos os alcoolistas e nem sempre aparecem como uma síndrome. São características encontradas em portadores de muitos quadros psiquiátricos. Muitas pessoas portadoras de personalidade similar não sentem nenhuma inclinação para o alcoolismo. No entanto, há uma associação notável, 80% dos portadores de personalidade anti-social apresentam problemas severos de alcoolismo no curso de sua existência.

07- Importância na determinação do diagnóstico duplo:

(O diagnóstico de outros transtornos associados e freqüentemente agravantes para o alcoolismo ou agravados pelo último)

O diagnóstico duplo é extremamente comum e amiúde não reconhecido De todos os pacientes com transtorno por substância, aproximadamente 50% apresentam pelo menos um outro transtorno psiquiátrico, mais comumente o transtorno de humor ou de ansiedade. Por outro lado, quase 30% dos pacientes com outros transtornos psiquiátricos apresentam também uma história de abuso de substâncias.

O complexo quadro diagnóstico de um alcoolista altera-se de acordo com o seu grau de intoxicação ou caso encontre-se em fase de abstinência. A patologia emocional e orgânico-cognitiva freqüentemente associada ao alcoolismo torna-se mais clara depois de pelo menos duas semanas de abstinência. Na fase de abstinência, os sintomas encobertos no período de intoxicação tornam-se progressivamente mais aparentes, juntamente com um ganho importante de confiabilidade das respostas do paciente. Um período de desintoxicação aumenta certamente a validade das conclusões diagnósticas.

Devemos examinar com rigor a possibilidade do diagnóstico duplo em pacientes alcoolistas; além do alcoolismo pode haver um transtorno psiquiátrico bem identificável, anterior ou posterior ao estabelecimento do alcoolismo. Em geral os pacientes com diagnóstico duplo apresentam morbidade mais alta (maior gravidade da doença), taxas aumentadas de hospitalização, todavia, adesão precária ao tratamento; tendência mais baixa para o sucesso no tratamento inicial e taxas de recaídas mais altas. O risco para o suicídio deste grupo é mais elevado.

Estabelecem-se ligações genéticas entre determinados transtornos psiquiátricos e transtornos por uso de substância; constatamos este fato em pacientes nos estágios mais avançados do alcoolismo com uma história de depressão maior diagnosticada; a história familiar mostra que outros familiares foram também dependentes de álcool, com episódios depressivos ao longo da vida. Além de alcoolismo e de depressão nós encontramos também ocorrência maior de suicídios nessas famílias. O transtorno de personalidade anti-social é altamente correlacionado ao abuso de substâncias; chega-se a correlacionar até 84% dos indivíduos com transtorno de personalidade anti-social com uma história de abuso de substância. Ainda, 32% dos indivíduos com transtorno de humor puderam no mesmo estudo serem associados ao abuso de substância.

Transtornos psiquiátricos específicos estão associados a drogas de abuso específicas, como transtorno bipolar com álcool e transtorno de pânico com sedativos e hipnóticos. Alguns pacientes portadores de fobia social severa verificam que o álcool alivia sua ansiedade o suficiente para permitir-lhes funcionar em seu emprego ou em suas atividades sociais.

Com o uso repetido do álcool eles gradualmente adquirem a dependência, que no início pode ser um quadro mais discreto; mais ansiedade como um sintoma de abstinência os leva a beber mais e mais freqüentemente, acarretando uma progressiva dependência pela bebida alcoólica.

No caso dos transtornos bipolares, os pacientes podem apresentar períodos longos de abstinência de álcool , contudo, toda vez que eles entram em episódio da mania eles cessam de freqüentar os grupos de AA, abandonam o tratamento psiquiátrico e psicoterápico e recomeçam a beber.

Muitos pacientes utilizam-se de bebidas alcoólicas para se automedicarem de sintomas psiquiátricos. Fica a questão: A dependência por álcool é uma conseqüência ou é uma das manifestações do transtorno psiquiátrico?

A presença de abuso de substâncias pode também tornar mais difícil o diagnóstico de cada um dos transtornos; é necessário caracterizá-los para tratá-los de forma específica.

Os pacientes não abusam de drogas sem efetuar uma escolha criteriosa, eles primeiro determinam se uma droga tem o poder de aliviá-los de desconforto físico e emocional antes de a elegerem como substância empiricamente útil para lidar com suas circunstâncias e tarefas. O uso repetitivo da droga os conduz à dependência; tratamento bem sucedido de transtorno psiquiátrico pode não eliminar a dependência química que continuará a necessitar de seguimento clínico e psicoterápico.

Alcoolismo pode estar mascarado nas condições abaixo:

Muitos sintomas psiquiátricos podem ser causados por uso ou abstinência do álcool; os sintomas depressivos como insônia, redução da libido, anedonia (falta de prazer) e ideação suicida são com freqüência observados no alcoolismo crônico. Quanto aos sintomas maníacos como euforia e auto-estima exagerada, eles podem ser a resposta da intoxicação pelo álcool.

Abstinência de álcool também pode provocar sintomas psiquiátricos como as idéias delirantes e alucinações associadas ao delírium tremens ou como a agitação psico-motora associada à abstinência seja de álcool ou de tranqüilizantes utilizados pelo paciente. Finalmente o abuso de álcool pode induzir outros transtornos psiquiátricos que persistem mesmo após o uso de álcool ser interrompido por muitos meses. A psicose de Korsakoff ou a demência alcoólica são exemplos.

08- Tratamento

O que podemos fazer em caso de alcoolismo? Se você detectar sinais de alcoolismo em você mesmo, reduza a quantia e a freqüência de sua ingestão de bebida alcoólica, tanto para o seu próprio bem quanto para o bem de sua família; se descobrir que isto é impossível, procure ajuda imediatamente. Ajuda psiquiátrica ou um programa reconhecido para o tratamento da dependência alcoólica. No caso de alguém próximo a você mostrar sintomas de alcoolismo, paradoxalmente negando que esteja bebendo muito, então, oriente-se com um psiquiatra a respeito desse problema . Você não pode forçar alguém a procurar ajuda mas, a persuasão de um psiquiatra ou então de um psicólogo ou outro membro da equipe de saúde mental, é freqüentemente efetiva.

Em alguns casos, o tratamento abrangente é ministrado por médicos psiquiatras associados a uma equipe de profissionais da saúde. Usualmente, inicia-se por completo exame físico, mental e psicossocial, para se avaliar a saúde emocional, a situação familiar, a qualidade de vida social e os estresses ocupacionais. O tratamento depende de uma equipe que possa assistir ao período de desintoxicação da droga ou de drogas que conduzem à dependência. O tratamento durante o período de desintoxicação deveria ser orientado por médicos psiquiatras experientes, em decorrência das possíveis complicações e do intenso desconforto físico e emocional do paciente. Durante esta fase é crucial que esse paciente seja informado sobre os seus problemas e seja incentivado a assumir o próprio engajamento em um tratamento de longo prazo.

O próximo assunto referente ao tratamento diz respeito à necessidade de se lidar com as conseqüências médicas e as perdas emocionais, econômicas e sociais causadas pelo uso de drogas no passado, bem como outros transtornos associados tais como depressão,. Transtornos conseqüentes desse uso ou até mesmo, conseqüentes do período de readaptação à vida no período de abstinência. Além disto, em muitos casos, quadros depressivos são freqüentemente detectados na história do dependente de álcool. São os sintomas depressivos fatores que antecedem e têm um peso importante na causa e no desenvolvimento do alcoolismo.

A prioridade é alta para o aconselhamento voltado aos pacientes e familiares a respeito da natureza da dependência química e para a busca de alternativas positivas ao uso de drogas; o paciente pode ser tratado em regime ambulatorial ou ser hospitalizado, ou numa combinação de ambas abordagens.

O tratamento depende da severidade da dependência , da condição de saúde geral e da natureza dos apoios sociais existentes a favor do paciente. Busca-se ajuda prática daqeles que se importam com o paciente; a duração do tratamento também varia de pessoa para pessoa ; usualmente, quanto mais cedo se puder diagnosticar e intervir, melhor é o resultado.

Em relação ao tratamento da fase aguda da abstinência de álcool, apesar da hiperexcitabilidade, a maioria dos pacientes interrompe o álcool sem medicação de apoio. Porém pacientes com sintomas moderados e severos devem ser tratados com sedativos e com medidas terapêuticas coadjuvantes para manter o seu estado geral. O sofrimento excessivo causado pela síndrome de abstinência tende a desencorajar o alcoolista a buscar tratamento e recuperação em caso de recaída.

De um modo geral, os benzodiazepínicos foram considerados como os mais úteis e os mais práticos; os benzodiazepínicos de longa ação como o clordiazepóxido, diazepan ou clorazepato são usados em doses decrescentes para prevenir convulsões e para reduzir outros sintomas de hiperexcitabilidade. No caso de pacientes com doenças hepáticas severas que podem ter problemas com acúmulo de benzodiazepínicos de longa ação e seus metabólitos, o oxazepan é recomendado devido a não produzir metabólitos ativos e por sua independência do metabolismo hepático. Oxazepan e lorazepan podem ser administrados por via intramuscular.

O tratamento das convulsões por abstinência de álcool

Os benzodiazepínicos têm sido usados para prevenir e tratar as convulsões por abstinência. Mais comumente, drogas de longa ação como clordiazepóxido , diazepam ou clorazepato. Alguns clínicos evitam uso de diazepam porque ele pode causar euforia em pacientes idosos ou pacientes com função hepática comprometida ; os benzodiazepínicos de curta duração como oxazepan ou lorazepan não causam o acúmulo de metabólitos e podem ser administrados por via parenteral.

Tratamento do abuso e da dependência de álcool após a abstinência.

Dissulfiram tem sido usado como substância que provoca reação aversiva para a ingestão do álcool; ela inibe a enzima aldeído desidrogenase que quebra o aldeído da cadeia metabólica do álcool. Um paciente que bebe enquanto toma dissulfiram tem o nível aumentado de aldeído na corrente sangüínea o que provoca rubor, latejamento e dor de cabeça, náusea, vômito, taquicardia, hipotensão e hiperventilação. A manutenção com uma dose diária de Dissulfiram deve ser feita sob supervisão psiquiátrica cuidadosa, assim, evitam-se conseqüências mais sérias como seria o caso do paciente voltar a beber ou inadvertidamente entrar em contato com o álcool.

A naltrexona, um bloqueador de opióides foi aprovada para uso no tratamento de problemas relacionados ao álcool; ela reduz o desejo e a propensão de continuar a beber se o paciente apresentar recaída, uma vez que a propriedade reforçadora do álcool parece ser atenuada . Para alguns usuários a naltrexona é útil como coadjuvante ( junto com psicoterapia, orientações sistematizadas e grupos de auto-ajuda ) no tratamento da dependência de álcool; um estudo relatou o uso de naltrexona além de 12 semanas.

O tratamento do transtorno psicótico alcoólico

Usualmente, esse transtorno é tratado de acordo com a sintomatologia presente, se há mais alterações semelhantes às dos quadros esquizofrênicos o tratamento é com medicamentos neurolépticos e medidas gerais. Se as manifestações clínicas são predominantemente afetivas (depressão ou quadros de excitação psíquica do tipo mania), o tratamento será baseado no uso de medicação antidepressiva e no caso do quadro de excitação o tratamento será neuroléptico.

O tratamento dos quadros de Wernicke- Korsakoff

O tratamento com tiamina ( vitamina B1 ) associada a outras vitaminas do grupo B e outras medidas nutricionais, pode reverter as anomalias oculares e a ataxia quase completamente, porém a confusão e os problemas amnésicos podem não responder tão bem. O tratamento rápido da síndrome de Wernicke pode prevenir o início da psicose de Korsakoff; sem tratamento o paciente pode se tornar demenciado, incapaz de cuidar de si próprio. Sendo assim a encefalopatia de Wernicke é uma emergência médica.

8-1:Reabilitação Psicossocial: o tratamento de longo prazo:

Os tratamentos psiquiátricos precoces devem ser completados com intervenções psicossociais durante períodos mais longos de tempo e quanto mais precoce for o tratamento maior a chance de recuperação.

Não podemos deixar de lado a função importante dos grupos de auto-ajuda entre os quais os Alcoólicos Anônimos que podem ser encontrados em muitas comunidades; esse apoio é muito importante para o progresso e bem estar do paciente, mas nós não podemos esquecer que toda família necessita de orientação psiquiátrica, de programas especiais conduzidos por psicólogos e assistentes sociais e de programas de auto-ajuda.

Em relação às perspectivas de longo termo, o que se sabe é que as pessoas têm uma história de alcoolismo que é altamente variável; se estão determinadas a abandonar a bebida alcoólica poderão fazê-lo caso tenham ajuda apropriada. Admitir que se necessita de ajuda é sempre o primeiro passo a ser dado.

O Álcool causando Acidentes e outros Crimes :

Em 1998, ocorreram cerca de 258 mil acidentes de trânsito com vítimas no Brasil, causando a morte de cerca de 20 mil pessoas (REDETRAN, 2000). Além disso, eles são responsáveis por cerca de 311 mil pessoas feridas, muitas delas, temporariamente ou definitivamente incapacitadas (tabela 1). São altos os custos diretos ou indiretos desses acidentes.

Anualmente, nos Estados Unidos, a associação entre o uso de álcool e a direção de veículos motorizados está relacionada a 25 mil mortes e a 150 mil pessoas permanentemente incapacitadas.

Tabela 1:

Índice/ Dado

1995

1997

1998

População

153,725,670

159,636,413

161,790,311

Frota

26,609,232

28,893,441

30,939,466

Acidentes (c/vítimas)

255,537

327,640

257,751

Vítimas Fatais

23,020

22,313

19,664

Vítimas não Fatais

286,732

297,993

311,126

Total Vítimas

309,752

320,306

330,790

Motorização

17.31

18.10

19.12

Mortos por 10.000 Veículos

8.65

7.72

6.36

Mortos por 100.000 Habitantes

14.97

13.98

12.15

Feridos por 1000 Veículos

10.78

10.31

10.06

Feridos por 10.000 Habitantes

18.65

18.67

19.23

Acidentes (c/V) por 1.000 Veículos

9.60

10.34

8.33

O novo Código Nacional de Trânsito (1998) estabelece a criminalização do ato de dirigir sob efeito de álcool e/ou outras drogas de efeitos análogos, com penas de prisão de até três anos, além da suspensão ou mesmo proibição do direito de dirigir.

Definiu-se, no artigo 276, o que é impedimento para dirigir veículo automotor: nível de alcoolemia de 0,6 g/l ou eqüivalente para outras formas de medir a mesma ("bafômetros"). No entanto, com taxas menores, por exemplo de 0,5g/l de alcoolemia já ocorre alterações na atenção, concentração e rapidez de resposta. É inquestionável o vínculo existente entre os acidentes de trânsito, a presença de álcool no organismo dos condutores, principalmente considerando-se que a velocidade de reação e percepção são alteradas pela ingestão de álcool. A legislação brasileira atual permite uma concentração de até 0,6g de álcool por litro de sangue (Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN), porém este limite deve ser questionado, reduzido e controlado de forma mais eficiente, pois são inúmeros os casos de acidentes provocados por motoristas alcoolizados, cujas concentrações de álcool no organismo estão muito acima da permitida.

[ A Lei de Trânsito; resolução 476 de 1974 estabelece que alguém dirige sob influência perigosa de bebidas alcoólicas, quando o nível de álcool no sangue for igual ou superior a 0,8g/l (nível de alcoolemia) ou o nível de álcool no ar exalado for 0,00038g/l (teste do bafômetro). ]

Pouco é feito para se averiguar níveis de outras drogas além do álcool no Brasil, o que deveria ocorrer através dos IML, ( IML= Instituto Médico Legal ) (rotineiramente, outras drogas não são avaliadas: benzodiazepínicos, maconha, cocaína, antihistamínicos, estimulantes, antidepressivos, fitoterápicos sedativos etc. ). O preenchimento pouco cuidadoso de requisições para exames de taxas de alcoolemia impede uma boa correlação entre o álcool e o acidente ou crime que se quer averiguar.

Prevenção no tráfego viário:

Estamos nos deparando com a ocorrência bastante comum de pessoas que ingerem bebida alcóolica ou abusam drogas se propondo a dirigir veículo ou operar maquina que exige bom estado de alerta, coordenação motora e rapidez de resposta. Informação disponível e divulgada não tem sido geralmente suficiente para deter esta tendência de se minimizar o problema e de se continuar agindo apesar de perda de sobriedade. Falta uma atitude mais consistente de familiares e companheiros no sentido de se colocar um limite absoluto. Até mesmo, quem fizer uso de pequenas quantias de bebida alcoólica não deveria dirigir, ou se vier a dirigir, não deveria contar com passageiros.

Medidas Preventivas Essenciais:

I- Informações básicas sobre o risco de se dirigir sob influência de álcool deveriam estar disponíveis nos locais onde são servidas bebidas alcoólicas:

II- Implementação da legislação que proíbe venda de bebidas alcoólicas ao longo das rodovias.

Mesmo que o álcool não seja detectado em níveis mais elevados de acordo com as leis referentes ao consumo de álcool e dirigir, ainda assim, a influência do álcool compõe-se com cansaço e com o uso de outras substâncias que agem no SNC (medicamentos, maconha etc.) . Portanto, há necessidade de se alertar motoristas com freqüência suficiente alta para despertar o senso de responsabilidade à direção de veículos.

Um dos problemas da averiguação da correlação de acidentes e estado de intoxicação de motoristas deriva-se do mau preenchimento de solicitações de exames ao IML. Um cruzamento de dados precisaria ocorrer em todos os níveis, os policiais precisam preencher melhor essas solicitações.

ÁLCOOL E ACIDENTES:

Em proporção à dose ingerida, as pessoas que estão sob influência de bebidas alcoólicas terão uma redução da capacidade de estabelecer julgamento sobre a sua competência para executar tarefas complexas, como as exigidas para dirigir veículos, operar máquinas e demais atividades que implicam em exercício de coordenação motora, reflexos rápidos ou habilidades intelectuais de maior elaboração, rapidez e precisão. Em conseqüência do prejuízo para o desempenho cognitivo durante o estado de alcoolização, aqueles que escolham beber, previamente precisam ter em mente que deverão evitar todas as tarefas que exijam um melhor desempenho do Sistema Nervoso Central, por muitas horas ou talvez por mais de 24 horas após a ingestão de bebidas alcoólicas.

Quem se utiliza de bebidas alcoólicas deveria se abster por um período longo de guiar ou de operar máquinas que exijam atenção, concentração, memória e coordenação motora. Período que vai variar de horas ou até mais de um dia, dependendo da quantidade de bebida ingerida e ainda do uso de medicamentos e de outras substâncias que podem potencializar os efeitos indesejáveis do álcool no Sistema Nervoso Central. Outros fatores que regulam a influência do álcool no organismo são massa corporal, sexo, idade, estado de alerta e grau de fadiga; além do ritmo metabólico e do estado de saúde. Beber lentamente, tomar água ou outra bebida não alcoólica, ingerir a bebida alcoólica com alimentos ou logo após uma refeição todas essas são medidas que fazem com que as taxas sangüíneas de álcool subam mais lentamente, em conseqüência de se tornar mais longo o tempo de absorção pelo sistema gastrointestinal. As taxas de concentração de álcool no sangue correlacionam-se com prováveis efeitos e riscos. (veja tabelas abaixo: de 2 a10)

Tabela 2

Prevenção para redução de acidentes/ pontos a ponderar:

1- Falta de informações alertando sobre acidentes nos locais onde se servem bebidas alcóolicas.

2- A nova legislação brasileira permite uma concentração de até 0,6g de álcool por litro de sangue (Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN)

3- Estamos nos deparando com a ocorrência bastante comum de pessoas que ingerem bebida alcóolica ou abusam drogas se proporem a dirigir veículo ou operar máquina que exige bom estado de alerta, coordenação motora e rapidez de resposta. Informação disponível e divulgada não tem sido geralmente suficiente para deter esta tendência de se ignorar o problema e de se continuar agindo apesar da perda de sobriedade.

  1. Falta uma atitude mais consistente de familiares e companheiros no sentido de se colocar um limite absoluto. Quem usa mesmo que pequenas quantias de bebida alcoólica ou de drogas que afetam funções mentais não deveria dirigir, ou se dirigir, não deve contar com passageiros. Esta também é a atitude que os dependentes químicos em recuperação precisam encontrar em seus familiares que se julguem etilistas sociais.

 

Tabela 3

HÁBITOS EM RELAÇÃO À SEGURANÇA:

1- Antes de dirigir, presta-se atenção à fadiga corporal?

2- Advertências precisam ser lidas, para se estabelecer se os medicamentos são causadores de sonolência .

3- Mesmo medicamentos diários, tais como aqueles que reduzem colesterol, antidepressivos e remédios usados como sedativos de quadros gripais e alérgicos, podem eles reduzir a habilidade de dirigir: por causarem sonolência, por comprometerem a coordenação motora e por tornarem mais lento o tempo de reação.

Tabela 4- NÍVEIS DE ÁLCOOL NO SANGUE E ACIDENTES:

1,2 g/l risco aumenta 16 vezes

0,8 g/l " " 5 vezes

0,5 g/l " " 3 vezes

Tabela 5 - Estado de alcoolização leve para moderada:

  • Os reflexos e o tempo de reação já são mais lentos e a coordenação psicomotora sofre perturbações.
  • O condutor sente-se eufórico.
  • Alcoolemia: 0,5 a 0,8 g/L
  • Tabela 6 : A ELIMINAÇÃO DO ÁLCOOL NO SANGUE

    Exemplo:

    Um indivíduo tomou algumas bebidas, atingindo uma taxa de alcoolêmia de 3g/l próximo da meia noite, com a média referida, só às 20.00 horas do dia seguinte o organismo haverá eliminado completamente o álcool do sangue.

     

     

     

    Tabela 7- METABOLIZAÇÃO DO ÁLCOOL

    (níveis sangüíneos de álcool = alcoolêmia)

    Meia noite ------------------ 3,0 g/l

    8:00 horas ----------------- 1,8 g/l

    meio dia -------------------- 1,2 g/l

    16.00 horas ---------------- 0,6 g/l

    20.00 horas ----------------- 0,0 g/l

    Nota-se que somente após 14 horas o motorista estará em condições legais para dirigir.

    Não há nenhum processo para acelerar a eliminação do álcool no sangue, nem mesmo tomando-se café, sais minerais, ou quaisquer outros produtos.

    Tabela 8- PREVENÇÃO NO TRÁFEGO VIÁRIO/ algumas propostas:

    1- Educando-se de forma contínua a comunidade através dos meios de comunicação.

    2- Cursos sobre direção responsável como pré-requisito para se obter uma licença para dirigir.

    3- Médicos informando seus pacientes sobre efeitos de seus medicamentos e advertências constando em embalagens e frascos.

    4- Informações básicas deveriam estar disponíveis nos locais onde bebidas alcoólicas são servidas.

    1. Implementando-se a legislação que proíbe venda de bebidas alcoólicas ao longo das rodovias.

     

    Tabela 9- ADVERTÊNCIAS PARA SE EVITAR ACIDENTES:

     

     

     

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    *Dr. Silvio Saidemberg, professor de psiquiatria da FCM da PUC Campinas;

    ssaidemb@yahoo.com