THE MICTURITION
A FUNÇÃO DA MICÇÃO
Por : Dr. Sílvio Saidemberg
Artigo publicado na revista UROdinâmica - 1998;1(3):136-142.Objetivo:
apresentar uma visão geral dos transtornos de micção com ênfase nos quadros de enurese. A visão psiquiátrica destes transtornos é abordada, tanto os aspectos diagnósticos como os de tratamento.Objective:
this is a presentation of an overview on the micturition disturbances, emphasis being placed upon enuresis. The psychiatric view on these disturbances is discussed, both the diagnostic and treatment approaches.Introdução:
A micção é uma função que vem merecendo muito menos atenção por parte dos teóricos e pesquisadores das questões psicológicas humanas, partindo-se de profissionais com notável formação psicodinâmica e incluindo-se aqueles com notável postura organicista. O que me faz concluir que a micção sofre da falta do "glamour" tão próprio da função sexual com que compartilha algumas estruturas anatômicas e uma vizinhança estrutural a ponto de serem consideradas associadas em um sistema gênito-urinário. É mais audível a psicologia sexual do que a psicologia da micção. E uma das razões é que a micção por ser uma função de ocorrência mais ou menos treinável e educável, mas, não de ocorrência plenamente controlável pela vontade ou pela fé, nunca mereceu maiores atenções dos postuladores da moral e da ética. No máximo, mereceu um capítulo modesto em algum livro de etiqueta, pois tal função deve ser exercida na privacidade de espaços restritos. No entanto, é inegável que uma das sensações mais intensas de prazer encontra-se no ato de esvaziar uma bexiga bem cheia.
Uma das tarefas básicas do desenvolvimento humano é a do controle de esfíncteres. Antes de S. Freud e do advento da psicologia e da neurofisiologia do desenvolvimento, treinava-se crianças a partir de 6 meses de idade no controle de esfíncteres, isto sendo comum na Inglaterra Vitoriana e na Alemanha do século passado. O sucesso desse treinamento precoce deixava a desejar, mas, pelo menos com certeza, uma fonte interessante de conflitos no relacionamento materno infantil poderia ter o seu lugar garantido. Mas, as descobertas sobre psicologia do desenvolvimento contribuíram enormemente para a mudança desses hábitos. S. Freud postulou uma fase anal que abrange o início do 2º ano de vida e que vai até a metade do 3º ano; nesta fase, o controle de esfíncteres é fundamental. Ainda, neste período, a criança descobre que os adultos estão muito interessados no seu controle de esfíncteres e no produto (fezes e urina). Uma das conquistas da psicanálise foi a mudança de atitude dos pais, que passaram a reduzir as pressões e punições nas dificuldades encontradas pela criança em conter seus esfíncteres. O modelo de treino atual é tolerante com os insucessos e incentivador ao sucesso. Contudo, é sempre uma informação que nos conduz à perplexidade quando pais, eles próprios enuréticos durante a infância, não hesitam em envergonhar e são muito punitivos em relação aos seus filhos. Mesmo crianças bem aceitas e apoiadas, ainda assim, sentem-se preocupadas quando portadoras do problema. Crianças com enurese episódica, algumas vezes por mês, têm em ocorrências emocionais uma correlação como fator causal.
Anatomia e fisiologia:
A ação do detrusor e dos músculos do esfíncter é reflexa e involuntária. O esfíncter vesical interno é gerido pelo sistema nervoso autonômico. A função simpática sendo a de manter o tônus muscular ao redor do colo da bexiga e da uretra proximal, estabelecendo continência. O nervo pudendo interno supre fibras sensórias e motoras do 1º, 2º e 3º segmentos sacrais ao músculo do esfíncter externo, uretra e músculos perineais. Quando a bexiga possui (no adulto) de 400 a 500 ml de volume urinário os receptores referentes ao estiramento do detrusor transmitem impulsos via nervos aferentes pélvicos para o centro de reflexo sacral e através do "fasciculus gracilis" ao cérebro. A sensação de bexiga cheia (distensão e dor) inicia o desejo de esvaziar. Principalmente a partir dos lóbulos paracentrais, impulsos do cérebro são transmitidos via fibras descendentes, justapostas e anteriores aos tratos córtico-espinais, até o centro da micção na parte sacral da medula espinal e através dos nervos pélvicos e pudendos atingem o detrusor e esfíncter para iniciar o ato da micção. Um relaxamento inicial da uretra proximal e dos músculos períneos precede a contração do detrusor. O tensionamento de músculos abdominais e do diafragma leva a aumento da tensão intra-abdominal e contribui mas, não é essencial para iniciar o esvaziamento.Desenvolvimento fisiológico e dados epidemiológicos:
A micção no 1.º ano de vida é determinada por um reflexo espinal simples, no 2.º e 3.º anos de vida, gradualmente os centros mais elevados do SNC desenvolvem maturação funcional que facilita o controle voluntário. Aos 30 meses de idade, a maioria das crianças possuem controle voluntário sobre esfíncteres retais e urinários. No caso de crianças acima de 3 anos de idade que molham a cama persistentemente ou apresentam perda de controle após exercê-lo por algum período, problemas clínicos devem ser investigados, sejam eles urológicos, neurológicos, endócrinos ou psiquiátricos. No entanto, nos EUA, 15% dos meninos e 10% das meninas apresentam enurese na idade de 5 anos. Ainda, 5% das crianças são enuréticas aos 9 anos. No levantamento epidemiológico da Universidade de Rochester (EUA-1996) 33% das crianças de 5 anos; 18% aos 8 anos, 7% aos 11 anos, 0,7% dos adolescentes aos 17 anos têm enurese identificada; sendo que cerca de metade dessas crianças e adolescentes apresenta menos de 6 episódios por ano. Fatores sócio-econômicos têm sido apontados como associados à uma prevalência maior de enurese em crianças de famílias em desvantagem, possivelmente em função de haver menos treinamento consistente de esfíncteres neste grupo. Epilepsia ,"diabetes mellitus" ou "insipidus", infecções insuspeitas, retardo no desenvolvimento, regressão psicológica em função do nascimento de um novo bebê são causas mais específicas na clínica.Definição de enurese:
O termo enurese (do grego enoureein = urinar) tem como sinônimo; incontinência. Corresponde a urinar involuntário, completa ou parcialmente, ainda, durante o dia ou à noite. Crianças respondendo a pressões emocionais, podem apresentar incontinência involuntária e até mesmo voluntária. Um sintoma proeminente na involuntária é urgência urinária, a necessidade imediata de urinar e o desconforto, inquietação, dor abdominal e em alguns casos gotejamento e perda de controle durante o dia. Uma maior freqüência urinária tende a ocorrer em enuréticos, é mais difícil para eles posporem o momento de esvaziamento, com a tensão emocional contribuindo para agravar o problema. Enurese diurna é quase sempre associada à enurese noturna (noctúria). Enurese precisa ser distinguida da incontinência urinária, quando o controle vesical está perdido e a passagem de urina é automática. A condição em adultos é mais denominada de incontinência. Pode ocorrer durante o riso, a tosse ou choro, fatores que facilitam a manifestação diurna em indivíduos susceptíveis. Transtornos orgânicos de lobo frontal estão associados à perda do controle voluntário da micção.Retenção urinária é um extenso capítulo a ser tratado à parte:
Dano ao trato bulbo-espinal a partir do núcleo de Barrington até à coluna intermediolateral sacral leva à perda de coordenação da função da bexiga. Após trauma agudo de medula espinal, há perda da contração reflexa, podendo haver recuperação em uma ou duas semanas. Injúria aos nervos sensórios causa excesso de enchimento e esvaziamento incompleto. Os transtornos emocionais relacionados dependem do nível de incapacitação e das limitações reabilitativas. Depressão emocional e ideação suicida devem ser investigados.
Fatores associados:
A enurese tem sido reconhecida há mais de 3500 anos, como um transtorno que requer tratamento. Pode ser um sintoma de defeitos orgânicos na bexiga e na uretra em pacientes que não respondem ao manejo visando continência. O treinamento de controle vesical é realizado de forma bem sucedida entre os 12 e 15 meses de idade, quando a maioria das crianças está pronta para responder a este treinamento. Depende das práticas maternas de acordar a criança à noite e de chamar a sua atenção para esta necessidade, durante o dia. Estudos prospectivos mostraram que meninas adquirem controle mais cedo. Crianças de peso igual ou inferior a 2500 g. ao nascimento, adquirem controle mais tardio que crianças com peso superior. Crianças impulsivas apresentam reincidência mais freqüente. Um fator hereditário é nitidamente identificado através dos estudos de gêmeos e de incidência familiar de enurese. A concordância entre gêmeos monozigóticos é em 2/3 dos casos, enquanto só em 1/3 dos casos, em gêmeos dizigóticos. Enurese é vista como uma anormalidade hereditária do desenvolvimento da função vesical, a principal característica sendo uma dificuldade em inibir a contração da bexiga e daí uma urgente necessidade de esvaziar a bexiga, em volume abaixo do normal para a idade. No caso de crianças que demoram até atingir a faixa dos 6 aos 8 anos de idade para conseguir controle vesical, pensa-se mais em atraso no desenvolvimento do que em anormalidade funcional. Achados referentes a crianças de níveis sócio-econômicos diferentes, sugerem que nos grupos mais prósperos da sociedade existe maior consistência em se treinar crianças. Crianças negras enuréticas deveriam ser avaliadas para detecção de anemia falciforme. Enurese ocorre predominantemente nos estágios 3 e 4 de sono e mais raramente durante o estágio REM. Um padrão de atividade lenta no EEG foi descrito e freqüentemente confirmado. Crianças com retardo mental moderado são prontamente treináveis à mesma idade que crianças normais, o receio de mães que enurese corresponda à retardo mental é largamente infundado.Enurese não orgânica na classificação internacional de transtornos mentais e de comportamento, (CID-10: F98.0):
É um transtorno caracterizado por eliminação não intencional de urina durante o dia e/ou à noite, usualmente à noite. Este esvaziamento involuntário é anormal em relação à idade mental do indivíduo excluída falha no controle vesical devida a transtornos neurológicos, ataques epilépticos ou à qualquer anormalidade estrutural do trato urinário. A enurese pode estar presente desde o nascimento ou pode ocorrer após algum período de controle vesical. Pode ser parte de um conjunto de sintomas de um transtorno emocional ou de comportamento, podendo também ser o sintoma único. Enurese é apenas diagnosticada em crianças com idade acima de 5 anos e idade mental acima de 4 anos.Transtornos psicogênicos da micção, CID-10
(F45.34 ). Estão caracterizados entre as disfunções autonômicas somatoformes. Os sintomas são apresentados pelo paciente como se fossem decorrentes de um transtorno físico do aparelho urinário. Os sintomas são usualmente de dois tipos, nenhum dos quais indica um transtorno físico do órgão ou sistema envolvido. O primeiro tipo, do qual este diagnóstico depende amplamente, é caracterizado por queixas baseadas em sinais objetivos de excitação autonômica, tais como palpitações, sudorese, rubor e tremor. O segundo tipo é caracterizado por sintoma idiossincráticos, subjetivos, inespecíficos tais como sensações de dores fugazes, ardor, peso, aperto e sensações de estar inchado ou com distensão abdominal. O paciente acredita que o que apresenta está ligado ao sistema gênito-urinário principalmente se houver freqüência urinária aumentada e disúria psicogênica.Diagnóstico diferencial:
Crianças desenvolvem enurese orgânica como um resultado de cistite ou poliúria do diabetes. Mas, a enurese de causa orgânica não deve persistir após a infecção ter sido resolvida ou o diabetes e poliúria terem sido controlados. Quando persiste, quadros concomitantes não orgânicos devem ser explorados. Convulsões febris e epilepsia são de ocorrência em enuréticos. Molhar a cama é ocasionalmente um sintoma de manifestações epilépticas. Um defeito congênito no trato urinário deve ser suspeitado quando o fluxo urinário é pequeno, quando começar a micção é difícil e quando gotejamento é proeminente. Doenças do sistema nervoso central devem ser pensadas principalmente, quando a incontinência ou a retenção têm início após período de controle adequado.Incontinência, conseqüências emocionais:
Na clínica psiquiátrica e psicoterápica, não raro um paciente conta sobre momentos em que a micção os deixou embaraçados ou envergonhados. O perder controle sobre esfíncteres pode significar mais do que alguns arranhões no prestígio. Pode significar também atitudes de evitação defensiva em relação àqueles que presenciaram o "acidente".Tratamento: 1) enurese:
em entrevista com os pais e com a criança; informa-se sobre o problema específico da criança e sobre o risco de certas atitudes indesejáveis para se abordar o problema. Precisa-se detectar más atitudes que irão piorar o problema por aumentar o sofrimento moral da criança e por despertar o negativismo e resistência às iniciativas dos familiares. Pais que se culpam pelo problema, podem estar tendo uma reação excessiva ao que supõem haver causado. Crianças que resolvem a sua enurese em realidade obtém um ganho importante já que o assunto as aborrece, além de se livrarem de sentimentos de desespero, vergonha e culpa. Na prática, obtém-se uma redução da ansiedade secundária com a solução do problema. O tratamento com Imipramina é bastante efetivo e, doses que variam entre 25 a 100 mg na hora de se deitarem; para crianças acima de 8 anos de idade. O tratamento ocorre por 8 semanas e após, gradualmente a medicação é retirada, se houver reincidência, um novo período de 8 semanas poderá ser tentado. Como efeitos adversos temos despertares e irritabilidade transitória. Outros medicamentos usados menos freqüentemente têm sido Amitriptilina e anfetaminas. Acetato de desmopressina intranasal tem mostrado ser efetivo em experimentos publicados na Europa; o objetivo é diminuir a produção de urina durante o sono. Técnicas de biofeedback e aparelhos de condicionamento consistindo de um sistema de uma manta sob o corpo ligada eletricamente a um despertador têm mostrado um bom resultado em quase 90% das crianças que foram submetidas a estes sistemas. Terapia de família e programas de treinamento que ensinam pais a atuarem com consistência têm uma grande importância não só porque investigam as possíveis causas da resistência da incontinência , mas, também porque melhoram a interação de pais e filhos. Associação de métodos na prática clínica amplia o alcance das intervenções e a consolidação do controle. O tratamento dos transtornos psicogênicos da micção (CID-10 ; F- 45.43) requer uma avaliação e entendimento das questões emocionais que estão sendo somatizadas, medicamentos ansiolíticos e antidepressivos podem ser considerados dentro de um programa de intervenção mais abrangente, incluindo-se orientação e psicoterapia.Anexo:
Comentários e relatos de situações do ponto de vista de pacientes:
A falta de lugares apropriados e limpos e acessíveis em setores da cidade, bares, restaurantes, escolas, faz com que homens, mulheres e crianças passem freqüentemente por situações constrangedoras. Nas escolas, as crianças descobrem rápido que precisarão da anuência da professora para se ausentarem da classe em caso de apuro de esfíncteres.
Crianças de 9 ou 10 anos relatam episódios em que sonhavam estarem prestes a iniciar a micção no vaso sanitário e aí acordam surpresos por estarem urinando na cama. Esta ocorrência sendo mais comum, se bem que ainda rara, nas últimas duas horas de sono. Uma sensação de vergonha muito grande e constrangimento seguem a ocorrência, há grande receio que o assunto seja ventilado entre pessoas da família.
Uma menina de 8 anos de idade relata que a meio caminho da casa da tia, tem uma urgência para esvaziar a bexiga e sentindo-se sem escolha senta-se sobre a guia da calçada e urina tentando com o vestido mais esparramado proteger-se do olhar de passantes, tentativa inútil já que a urina escorria livremente e visivelmente ao longo da sarjeta.
Uma menina de 12 anos, em uma praça pública, perde controle e urina na roupa o que é constatado por jovens conhecidos que fazem maldoso alarde da ocorrência. Durante o decorrer dos anos seguintes torna-se extremamente cuidadosa em relação a prevenir qualquer nova ocorrência a ponto de ingerir quantidade exígua de água, o que passou a ser o seu hábito de vida adulta.
Professor de física em pós graduação relata o seu problema de controle de enurese noturna durante a sua adolescência. A sua vergonha só foi minimizada porque vários de seus jovens familiares eram notoriamente portadores do mesmo problema.
Casal logo após o casamento descobre que tanto o esposo quanto a esposa eram portadores de enurese noturna, para grande alívio de ambos, já que não tiveram coragem de mutuamente revelar o seu segredo antes do enlace.
Um executivo extremamente ocupado, que não toma a iniciativa de urinar a não ser perto do seu momento de tolerância máxima, com alguns episódios de perda de controle, felizmente para ele em situações não públicas, apenas, uma leve sensação de vergonha.
Uma mãe impaciente diante do filho de dois anos que urina na cama, ela mostra a sua raiva e o menino permanece mudo e chocado com a rejeição materna, mais adiante, anos após, o garoto desenvolve um senso de vergonha pronunciada em relação à micção e à defecação; nega-se a colher amostras para exames laboratoriais. A repugnância materna por urina e fezes influi para a criança ter uma excessiva reação negativa a odores e aos produtos de excreção fisiológica.
Menino de quatro anos que sobe em um pequeno muro e urina em lata de lixo, o motorista do caminhão de lixo grita "porco" e cospe na criança. Este menino desenvolve um receio excessivo da agressividade de estranhos frente à sua apresentação pessoal e a seus atos, a ocorrência mencionada é uma referência importante.
Menina de 6 anos de idade que já há meses voltou a apresentar enurese noturna, havia mostrado até então bom controle a partir do 2º ano de vida. Os episódios agora ocorrendo nas últimas duas horas de sono. Regressão no controle de esfíncteres ocorreu em função de conflito entre seus pais. A ansiedade frente a possibilidade de separação conjugal foi a causa do retorno da enurese nessa criança, o problema foi resolvido através de terapia de família.
Após "ganhar um irmãozinho", menino de 4 anos de idade volta a apresentar enurese noturna e a falar como "bebê", dura a regressão aproximadamente dois meses, após pais aprenderem a lidar melhor com o sentimento de ameaça de exclusão e abandono desse menino.
Expressões populares referentes a perder controle da micção ao se rir, lembram-nos de situações embaraçosas que muitas pessoas já experimentaram. O falar do assunto em outro momento tem o efeito de obter alívio, o ousar a falar de uma coisa que já causou sensações penosamente vexatórias e agora ao ser revelada a ocorrência, ela assume uma característica agressiva e desafiadora. "Conto sobre o assunto para quem puder ou quiser ouvir e me livro da sensação de vergonha que já me fizeram passar."
Expressões populares que utilizam "o poder da micção" como uma metáfora são exemplos de mensagens agressivas e desafiadoras: "Nego o poder daquele que me aborrece ou ameaça."
A micção e o desenvolvimento da personalidade:
Dentro das tarefas do desenvolvimento de atitudes, em geral, o controle de esfíncteres (uretral e anal) ocorre durante o 2.º ano de vida, relaciona-se ao senso de autonomia que a criança adquire através da concomitante aprovação dos adultos de seu convívio e o reconhecimento por parte de outras crianças. Portanto, a partir do início do 2º ano de vida a criança se vê na contingência de controlar a micção. Ela deve ser realizada nos lugares e maneiras apropriadas. O fracasso em alcançar tal controle, ensina a criança a sensação de vergonha que corresponde a uma sensação de inferioridade e humilhação. A sensação de vergonha impede que a criança goste de si mesma e sinta-se aceitável para os outros. "Tem algo repulsivo em si". Muitos pais agravam consideravelmente o problema, achando que irão incentivar o controle de esfíncteres humilhando e ativamente comentando o fracasso da criança com terceiros. A vergonha da criança compõe-se com a vergonha percebida nos pais em relação à ela. A tarefa do 2º até o final do 3º ano de vida nos dizeres de Erik Erikson é "autonomia versus vergonha e dúvida". Excesso de vergonha contribui para a criança adquirir na fase seguinte do desenvolvimento ("iniciativa versus culpa") uma maior inibição no seu comportamento por sentir-se inadequada e desprezível. Mesmo para pais mais contidos, e melhor preparados para lidar com possíveis atrasos, ainda assim fica uma inevitável comparação de sua criança com outras crianças e a falta de confiança nela serão registrados. Na adolescência e na idade adulta, um grau de preocupação mais intensa com a apresentação pessoal, com o desempenho em tarefas, traços perfeccionistas, a necessidade de se provar aceitável para os outros, tudo isto deriva-se das experiências emocionais da criança nesta etapa do desenvolvimento.
(Dr. Silvio Saidemberg, psiquiatra e psicoterapeuta, "Fellow" em psiquiatria da infância e da adolescência da "The University of Rochester, NY", professor de psiquiatria da FCM - PUC-Campinas)
Fone/Fax: (019) 2555447 -2555466
e-mail:
ssaidemb@yahoo.comBibliografia:
Erikson, E. H.: Childhood and Society. New York, W.W. Norton & Co., Inc., 1950
Hoekx L, Wyndaele JJ, Vermandel A - The role of bladder biofeedback in the treatment of children with refractory nocturnal enuresis associated with idiopathic detrusor instability and small bladder capacity. Department of Urology, University Hospital Antwerp, Edegem, Belgium. J Urol 1998 Sep;160(3 Pt 1):858-860
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