CAPÍTULO TERCEIRO

Influências na obra do

Padre Antonio Vieira

 

Nem todos futuros são para desejar, porque há muitos futuros para se temer”.

Padre Antonio Vieira

História do Futuro

 

A obra do Padre Antonio Vieira tem sido ultimamente, como visto acima, destacada pela sua concepção messiânica acerca de Portugal. Suas interpretações proféticas sobre o futuro do reino estariam fundamentadas em uma tradição que se estabelecera, pelo menos, por volta do século XVI e que sofrera diversas influências e interpretações. Fala-se de um messianismo português, que identifica a história de Portugal como sagrada. Neste sentido, ao longo da centúria de 1500 - 1600, a poesia épica messiânica fazia parte do cotidiano lusitano, além de uma historiografia ligada ao maravilhoso que, baseando-se na crença da verdade divina, proclamava sua interferência na vida humana[1]. Nas palavras de Hernâni Cidade:

 

“(...) a dignidade, ou melhor, a quase santidade de uma pátria a que Deus concedia especial assistência, porque mais do que nenhuma se empenhava em dilatar pelo mundo a sua lei (p.357)[2].”

 

Tais crenças estariam apoiadas, basicamente, por três correntes messiânicas, sendo elas: as teorias milenaristas joaquimitas, o judaísmo e um messianismo português, este pautado principalmente na lenda da fundação de Portugal, conhecida como “lenda de Ourique”, e nas trovas de Bandarra.

Entendemos aqui o messianismo como um elemento de longa duração, que teria se firmado a partir das interpretações históricas feita pelos israelitas e encontradas no Antigo Testamento[3]. Sua manifestação, no entanto, dera-se de modo distinto, de acordo com os interesses e expectativas vigentes, estando geralmente à margem da igreja oficial, que condenava tais práticas.

Trataremos aqui de algumas destas manifestações que teriam influenciado a obra do Padre Antonio Vieira, entendidas como desdobramentos do messianismo judaico. Procuraremos identificar tais influências no discurso de Vieira, sendo que uma não pode ser compreendida sem a outra, entendendo qualquer divisão entre elas como método explicativo. Além disso, não estabeleceremos aqui, a forma como o jesuíta trata de tais questões no seu discurso legitimador, o que será contemplado no capítulo seguinte.

 

 

 

 

 

3.1 - O Milenarismo Joaquimita

 

Nos séculos XV e XVI europeu, grandes perturbações como guerras e pestes fizeram com que se acreditasse que o Juízo Final estaria próximo. Além disso, os avanços renascentistas indicavam o fim dos tempos, pois as recentes teorias filosóficas e científicas estariam no limiar de um novo misticismo onde até mesmo a descoberta da América, com a conversão dos últimos pagãos, reafirmavam tal teoria[4]. Neste sentido, parte-se de duas interpretações distintas dos textos bíblicos apocalípticos[5], sendo elas a idéia de mil anos de felicidade e a do juízo final[6]. A partir daí, podemos afirmar que Vieira compartilhava do ideário milenarista, ou seja, de que após a conversão de todos os povos ao cristianismo se formaria um Império Universal Cristão governado simultaneamente pelo Papa e pelo rei de Portugal[7].

O milenarismo cristão deve ser entendido, como nos alerta Norman Cohn[8], como herdeira do milenarismo judeu, formulada a partir do Antigo Testamento[9], aliada a uma espera messiânica pelo salvador. Assim, nos primeiros anos do cristianismo, muitos esperavam a volta de Cristo e que, após derrotar seus inimigos, que na época eram os romanos, seria estabelecido um período de felicidade sobre a terra:

 

“Um messias sofredor e mortal, um reino puramente espiritual - tais idéias, que mais tarde viriam a ser consideradas como o próprio núcleo da doutrina cristã, estava longe de ser aceita por todos os primeiros cristãos (p.18)[10].”

 

No entanto, as idéias milenaristas permaneceram marginais até por volta do século X[11], devido à proposta de Santo Agostinho de uma leitura simbólica do apocalipse, onde a igreja seria o reino de Cristo que perduraria por mil anos, sem período intermediário, até o advento do Juízo Final. A condenação do milenarismo por Santo Agostinho seria devido à ameaça que tais aspirações representavam à hierarquia da igreja, que começara a se consolidar no século IV[12], atingindo uma situação de supremacia no mundo mediterrâneo e tornando-se a igreja oficial do Império[13].

Apesar da hierarquia clerical negar, tais inspirações permaneceram junto às crenças populares, sendo que em épocas de incertezas sempre eram retomadas pelo povo. Neste sentido surge uma literatura apocalíptica denominada “Sibilinas Cristãs”, inspiradas nas Sibilinas Judaicas, que teriam grande influência sobre a população, ficando atrás apenas da Bíblia e dos livros canônicos. As Sibilinas Judaicas seriam uma coleção de profecias e maldições de várias origens, de inspiração judaica, dirigidas principalmente às autoridades romanas, que traziam em seu conteúdo a esperança de um salvador guerreiro, encarnado posteriormente tanto na figura de Cristo como na de um rei messiânico, como é o caso do Imperador Constantino, identificado como tal pela primeira sibilina conhecida, do século IV. No século VII, uma Sibilina destinada aos cristãos sírios, que se viam em uma situação de minoria frente aos muçulmanos, trata, pela primeira vez, de um imperador poderoso, que se pensava morto e que se levantaria para derrotar o inimigo e inaugurar um Império de paz e alegria[14].

Tais escritos teriam forte influência na obra de Joaquim di Fiori, abade italiano que vivera entre os anos de 1145 e 1202 e elaborara um sistema escatológico que se fundiria com as “Sibilinas Cristãs”. Para o abade, as alegorias bíblicas serviriam como um método de compreender e prever o desenrolar da história, ultrapassando assim seus fins morais e religiosos[15]. Joaquim di Fiori formulara uma teoria acerca das três idades da humanidade, ou seja: antes da lei ou tempo do pai, sob a lei ou tempo do filho e sob a graça ou tempo do espírito[16], sendo que cada idade precederia um tempo de incubação, sendo que o primeiro período teria ido de Adão a Abraão, o segundo de Elias a Cristo, e o terceiro iniciara-se com São Bento e estaria chegando em seu termo[17]. Segundo Cohn, acerca das idades aqui apresentadas:

 

“Se a primeira fora uma idade de terror e servidão e a segunda uma idade de fé e submissão filial, a terceira seria uma idade de amor, de alegria e de liberdade, em que o conhecimento de Deus seria revelado diretamente nos corações de todos os homens (p.89)[18].”

 

A idéia de terceira idade não permitia uma conciliação com a visão agostiniana de que o reino de Deus já havia sido instituído juntamente com a igreja. Di Fiori ansiava por uma renovação, tendo voltado seu olhar mais para o futuro que para o passado. Não fazia, no entanto, críticas severas à instituição e nem formulou diretamente teorias milenaristas, sendo que as leituras feitas posteriormente de sua obra deram origem a uma nova expressão do milenarismo na igreja, primeiro anticlerical, e depois secular. O joaquimismo (nome dado aos “seguidores” de Joaquim di Fiori) possuía, segundo Jean Delumeau[19], três elementos que possibilitaram sua utilização pelos milenaristas radicais: o refortalecimento dos temas apocalípticos, a idéia de que a igreja dos clérigos seria substituída pela dos contemplativos e a de que os menos favorecidos reinariam no mundo.

O ideário joaquimita fora apropriado, no século XIII, pela ala rigorista da ordem franciscana, conhecida como a corrente espiritualista da ordem, adaptando, em muitos casos, as profecias de Joaquim di Fiori, e atribuindo-lhes outras, confeccionadas após a sua morte. Há aqui claros indícios de ameaça à instituição católica pois, ao se fundir com a corrente espiritualista franciscana, passa-se a esperar a superação de Roma a favor de uma igreja espiritual. Era o início da idade do espírito, onde a igreja perderia sua função de guia religioso. Foram os franciscanos os responsáveis pela difusão do joaquimismo na Idade Média, sendo que muitos esperavam a ressurreição de São Francisco como o prelúdio de uma nova era. É a partir deste momento que podemos identificar, com mais clareza, traços messiânicos junto aos ideais milenaristas.

A idéia de um rei salvador é incorporada ao joaquimismo e começa a ganhar força no século XIII, sendo que a tendência era o esperar em um rei da França ou em um imperador do Sacro Império Romano-Germânico, tendo como missão liderar a verdadeira igreja, convertendo todos os infiéis. Esperava-se assim um rei ressuscitado ou algum indivíduo identificado com um rei morto, ou seja, com um personagem do passado. No caso da França, as esperanças voltavam-se para Carlos Magno e seus descendentes, e no caso da Alemanha, a volta ou o nascimento de um novo Frederico II[20]. Nota-se a semelhança da idéia de rei salvador aqui apresentado com a de messias, onde este se define como:

 

“(...) alguém enviado por uma divindade para trazer a vitória do bem sobre o mal, ou para corrigir a imperfeição do mundo, permitindo o advento do paraíso terrestre, tratando-se pois de um líder religioso e social. (p. 27) [21]”.

 

Nos séculos XVI e XVII as esperanças escatológicas intensificam-se, tendo na descoberta do novo mundo o sinal da última etapa do homem na terra. A fundação da Companhia de Jesus, por Inácio de Loyola, também era um sinal de que o final dos tempo estaria próximo pois, segundo Marílena Chauí, a chegada do terceiro período indicado por Joaquim di Fiori dependeria do surgimento de duas ordens, a dos contemplativos, que poderia ser representada pelos beneditinos, agostinianos ou franciscanos, e a dos homens de ação, encarnados agora pelos jesuítas[22].

Em Portugal, o rei Manuel, o Venturoso (1495-1521), que compartilhava de uma tradição franciscana e assim, estaria próximo ao joaquimismo, sonhara com o advento de um Império Universal, o Quinto Império[23]. Com a descoberta do caminho marítimo para as Índias, acreditava-se ser este um sinal de renovação da terra, sendo que Deus utilizaria o reino lusitano para tal fim. Desta forma, toda política econômica do reino estaria vinculada a uma estratégia religiosa. Assim sendo, D. Manuel, o Venturoso,

 

“(...) aparentemente, acreditava na vinda próxima de um tempo que haveria apenas ‘um só rebanho e um só pastor’ e no qual o Reino de Deus se estenderia a toda terra, graças a Portugal. (p. 181)”.[24]

 

A idéia de Quinto Império confunde-se aqui com a de terceira era de Joaquim di Fiori, onde esta teria uma realização temporal, sob o ceptro de um único imperador e com o auxílio de um Papa Angélico, síntese do poder político e religioso da época.

 

“A espera de um rei salvador freqüentemente se associou à de ‘um papa angélico’, graças ao qual haveria apenas ‘um só rebanho’ e um só pastor’ (p.80).”[25]

 

Nota-se aqui que o milenarismo do Padre Antonio Vieira teria tido fortes influências do joaquimismo e da idéia de rei salvador aqui apresentada, compartilhando de um gênero literário milenarista, que teria como características: a escatologia (tempo final), a sotereologia (rei salvador), conteúdo profético e esotérico, simbólico e teleológico[26]. Assim, ao tratar de Portugal, o identifica como reino universal, sendo então objetivo central das preocupações do jesuíta a inserção de todos os povos ao corpo místico da igreja[27]. Para tanto, esperava-se a ressurreição de um rei salvador[28], que lideraria Portugal rumo ao seu destino.

 

“ As ovelhas que S. Pedro havia de apascentar, eram as nações de todo o mundo, as quais Cristo queria trazer e ajuntar de todo ele, e fazer de todos um só rebanho, que é a Igreja, debaixo de um só pastor, que é São Pedro.” (p. 402/403)[29]

 

O Milenarismo de Vieira, no entanto, sofreria influências não só do desdobramento das teorias de Joaquim di Fiori, mas também de um messianismo judeu, que teria forte expressão em Portugal dos séculos XVI e XVII.

 

3.2 - O Messianismo Judaico

 

As teorias messiânicas medievais teriam sua construção a partir de uma miscelânea de profecias herdadas do mundo antigo, principalmente dos judeus e dos cristãos primitivos. Tais profecias partiam da concepção de história formulada pelos judeus, onde estes se consideravam como o povo escolhido por Deus que teria uma missão divina, ou seja, iluminar e levar a salvação aos gentios[30].

O mais antigo apocalipse conhecido seria, segundo Norman Cohn, o Sonho de Daniel[31], onde pela primeira vez se imaginara um reino glorioso que não se limitaria à Palestina, mas que englobaria toda a terra, ultrapassando os reinos anteriores em glória e, como seria o último, não deixaria descendentes[32]. Seria o início da elaboração das teorias acerca do Quinto Império que, ao contrário do desejo da igreja romana, era entendido como um império terrestre.

Tais concepções apocalípticas, no período da  dominação romana, adquiriria um caráter militante, formulando-se a imagem de um salvador escatológico, o messias, que conforme a situação se agravava, tomava cada vez mais um caráter sobre humano. Tal concepção seria agregada ao cristianismo primitivo que, no auge da perseguição romana, esperavam a volta de Cristo para o estabelecimento de um reino messiânico na terra, que duraria mil anos[33]. O messianismo seria um dos aspectos básicos da concepção judaica da história, possibilitando uma redenção tanto nacional e social como cósmica[34].

No século XV tem-se uma drástica mudança de atitude da população judaica em relação ao messianismo pois, ao contrário do que ocorria com o judaísmo antigo e devido às perseguições sofridas na Península Ibérica, passa-se a acreditar na possibilidade de interferência do homem no processo divino, abreviando-se assim a vinda do redentor. Desta forma, possibilita-se também a configuração de um messias histórico, que estaria presente, e não mais um sobre humano[35]. Assim, a expectativa messiânica judaica ganha nova força, principalmente após o estabelecimento da Inquisição e da conversão forçada ao cristianismo, gerando o que Anita Novinsky chama de o “fenômeno do português encoberto”, ou seja, o cristão novo clandestino[36].

A figura do cristão novo iria trazer fortes influências do messianismo judaico aos portugueses, que passam a entender a si próprios como herdeiros dos hebreus do Antigo Testamento e como povo escolhido por Deus, onde as profecias bíblicas se aplicariam tanto a Israel como a Portugal[37], sendo dois povos eleitos por Deus e com destinos supranacionais[38]. Além disso, havia a crença que a expulsão dos judeus da Espanha fora providencial, pois a terra santa teria sido prometida ao povo resultante da mescla entre judeus e portugueses[39]. O que devemos ter claro também é que o próprio joaquimismo aproximou os cristãos dos judeus, pois previa o regresso destes à igreja de Deus, o aparecimento das tribos perdidas de Israel e seu regresso à terra santa, liderados por um rei cristão. Daí Vieira insistir no fim das distinções entre cristãos novos e velhos, pois todos os cristãos-novos acabariam por abraçar definitivamente a fé católica e assim, realizar-se-iam as profecias que previam a conversão de todos os judeus ao cristianismo, por um rei encoberto, que para Vieira não seria outro senão D. João IV[40].

Para que entendamos melhor a posição de Vieira frente a tais questões apontaremos aqui, a partir das reflexões de Antonio José Saraiva[41], as diferenças e semelhanças entre o messianismo cristão, o joaquimita e o judaico. Em primeiro lugar, analisaremos a questão do regresso das tribos perdidas de Israel. Para os judeus, seu retorno seria triunfal e precederia o apocalipse, assim como para os joaquimitas, pois para estes as tribos fariam parte da igreja universal cristã. Já os cristãos, que não esperavam um reino terrestre para Cristo, vêem o retorno das tribos como parte do juízo final. O Padre Antonio Vieira, ao tratar deste assunto, o vincula ao estabelecimento de um reino universal cristão, além de identificar Portugal como sendo a pátria deste povo, aproximando-se mais do judaísmo e do joaquimismo que do cristianismo oficial.

 

 

“O gigante Golias significa aqui o Anticristo, e diz Bandarra, como tão grande intérprete das Escrituras, que há muitos, que se têm por sábios, que receiam a vinda das dez tribos e a conversão dos Judeus, porque têm para si que, quando isto for, já é chegado o fim do Mundo, e que já estamos no tempo do Anticristo, sendo que entre uma e outra coisa se hão de passar muitos centos de anos, como consta nas mesmas Escrituras, nas quais diz Bandarra, e diz bem, que viu o sonho afigurado, e que achou  muitas figuras ou pinturas dele. E verdadeiramente que é assim, que esta restituição do povo hebreu à sua Pátria, por meio do conhecimento de Cristo, é a coisa mais freqüente e mais repetida nos profetas de quantas eles escrevem (p.33)[42]”.

“Eu só digo, por remate desta matéria das dez tribos, que também eles se hão-de sujeitar às invictas quinas de Portugal, e receber por seu rei ao nosso grande monarca (p.34)[43].”

 

 

Em relação ao messias, os cristãos, de um modo geral, o entendem como um redentor espiritual, enquanto que, para os judeus, teria um caráter temporal, ou seja, que restituiria sua pátria e derrotaria seus inimigos. Para Vieira, a redenção seria primeiramente temporal, liderada por um rei eleito por Deus, e depois espiritual, com a vinda de Cristo, destinguindo assim o messias cristão do imperador do juízo final[44].

Outra distinção importante para que entendamos a concepção acerca do Quinto Império de Vieira seriam as diferentes interpretações dadas ao Sonho de Nabucodonosor[45]. Para os judeus, a pedra que derrubaria a estátua seria o messias[46], para os cristãos seria a igreja que levaria a verdadeira palavra a todo mundo, sendo que, para ambos, o império de Deus não seria deste mundo. Já para os joaquimitas seria o sinal do advento de um Quinto Império universal e terrestre, idéia compartilhada por Vieira pois, segundo ele, somente impérios temporais poderiam destruir impérios terrestres e que, indo além, via nos portugueses os que expandiriam o império de Cristo até sua universalização.

 

 

“Sendo, pois, certo que o Reino e Império de Cristo derrubou ou há de derrubar todos os Impérios do Mundo, que são impérios verdadeiramente temporais, e não espirituais, ocupando e enchendo toda a Terra, donde eles antes estiveram, como expressamente se colhe que o Império de Cristo não é só espiritual, senão temporal (p.304)[47]!”

 

 

Vieira utiliza-se, em suas interpretações messiânicas, de elementos tanto joaquimitas quanto judaicos, o que daria um ar de originalidade aos seus escritos[48]. Há ainda, no entanto, a necessidade de entendermos como tais concepções messiânicas confluíram para a formação de um messianismo português, tendo em Bandarra seu maior expoente, redundando tanto no sebastianismo do século XVI como no discurso legitimador de Vieira, no século XVII.

 

 

 

 

3.3 - Messianismo português: Bandarrismo e Sebastianismo

 

Eduardo de Oliveira França, em seu livro “Portugal na Época da Restauração”[49], divide as esperanças messiânicas portuguesas em quatro, sendo elas: o profetismo, ligada à crença no encoberto e no Quinto Império; o sebastianismo, que estaria de acordo com as aspirações de não ação da nobreza lusitana, tendo como principal característica a evasão do real e um estímulo para a inércia; o bandarrismo, que projetava a ação para o futuro; e um messianismo bragantino, elaborado pelos intelectuais da corte com o intuito de possibilitar a ascensão de D. João IV ao trono, resultando no movimento de restauração de 1640. Partiremos aqui, no entanto, da análise feita por João Lucio de Azevedo em seu livro intitulado “A Evolução do Sebastianismo”[50], que identifica tanto o messianismo sebástico, como o chamado por Oliveira França de bragantino, como herdeiro da pluralidade de versões que as trovas de Bandarra possibilitam, além de considerarmos a tese de Antonio Sérgio de que o que possibilitou uma efervecência messiânica nos séculos XVI e XVII fora uma semelhança das condições históricas entre os judeus convertidos à força ao cristianismo, ou seja, os cristãos novos, e a do cristão velho português[51] pois, segundo este autor:

 

“O povo propriamente português (...) parece estranho até o momento já não distante em que desgraças (profundas) e inauditas, o perigo da perda da independência, o desaparecimento (trágico) de um monarca, vêm dar relevo especial aos vatícinios do sapateiro - quer dizer, no sentido do israelita e às profecias de sua bíblia (p.244)[52].”

 

A história de Portugal, como visto acima, adquire um caráter sagrado em um momento de aparente grandeza do reino, ou seja, no período das navegações e conquistas ultramarinas, afirmando-se com a União Ibérica, na figura de D. Sebastião, e triunfando, mesmo que temporariamente, com a restauração portuguesa[53], sendo que Portugal se firma como escolhido por Deus para ser seu reino na terra[54]. Uma das primeiras profecias que trata de um futuro glorioso para Portugal seria a que Deus havia feito à D. Afonso Henriques em Ourique, no momento da fundação de Portugal, sendo identificado como seu reino na terra. Após tal revelação, as profecias acerca do futuro glorioso de Portugal não cessariam de serem proclamadas, tendo seu auge nas chamadas trovas de Bandarra[55].

Gonçalo Eanes Bandarra nasceu em Trancoso, pequena cidade comercial da região da Beira, no início do século XVI, onde se tornou sapateiro de profissão[56]. Sua biografia é pouco conhecida, destacando-se o fato de ser humilde e que, devido às leituras feitas das Escrituras Sagradas e de sua prodigiosa memória, granjeou fama em sua cidade, sendo considerado como uma espécie de Rabi local, interpretando a bíblia e suas profecias para os cristãos novos da região[57].

Escreveu suas trovas nas primeiras décadas dos quinhentos, sendo que já em 1531 eram lidas em Lisboa, tendo grande inserção junto aos cristãos-novos, principalmente pelo seu apelo profético e messiânico pois esperavam para o século XVI a vinda de seu messias[58]. Perseguido e detido pela Inquisição em 1541, recebeu penas leves, por não conseguirem provar nenhuma ascendência judaica, apesar de sua intensa relação com os cristãos-novos[59]. Seus escritos tiveram boa aceitação em Portugal, devido principalmente ao fato de existir uma boa convivência entre cristãos novos e velhos[60], pois Bandarra elaborara um discurso onde se afirmava que todos os povos caminhariam em direção à uma única fé, liderado por um rei português. Segundo João Lucio de Azevedo, ele teria sofrido influências de um messianismo espanhol, que esperava um rei que unificaria a península e que traria glórias para o reino[61]. Nas palavras de Eduardo Hoornaert:

 

“... sapateiro de Trancoso que lia muito a Bíblia e foi consultado por cristãos novos acerca do significado da história de Portugal. As ‘trovas’ de Bandarra profetizaram acerca de um rei que dominaria o mundo inteiro e sob cujo império e único Deus verdadeiro seria adorado (p. 64)”[62].

 

Um dos grandes difusores de tais promessas foram os jesuítas que, segundo João Lucio de Azevedo, utilizaram-se destas trovas para exaltar o ânimo popular contra Castela[63]. Bandarra é, desse modo, tido como um profeta, mandado por Deus para alertar os portugueses a respeito de seu futuro glorioso:

 

“Nenhuma ciência, nem humana, nem diabólica, nem angélica, podia conjeturar Bandarra a minha parte do que disse, quanto mais afirmá-lo com tanta certeza, escrevê-lo com tanta verdade e individuá-lo com tanta miudeza, que é o que se ele preza no prólogo de sua obra, quando diz – Coso miúdo sem conto. Foi logo lume sobrenatural, profético e divino, o que alumiou o entendimento deste homem idiota e humilde, para que as maravilhas de Deus, que nestes últimos tempos havia de ver o mundo em Portugal, tivessem também aquela preeminência de todos os grandes mistérios divinos, que é serem muito de antes profetizados (p.17)”[64].

 

As trovas, escritas no início dos quinhentos, só foram compiladas em 1541, por Heitor Lopes, tosedor converso de Trancoso. Um dos manuscritos foi adquirido por Afonso de Medina, Desembargador da Mesa de Consciência do Santo Ofício. A partir do manuscrito, Bandarra foi preso em dezoito de setembro do ano de 1541, sendo condenado a abjurar seus erros e a não escrever, ler ou divulgar coisas relativas à fé[65], saindo em auto de fé em outubro de 1541[66]. Apesar das trovas terem sido copiadas em boa letra e adquirida pelo Santo Ofício, é difícil saber se o texto preservado é o original[67].

Sua primeira edição impressa saiu no ano de 1602, publicada em Paris pelo fidalgo D. João de Castro, que era contra a dominação filipina sobre Portugal, estando portanto comprometido com as questões sucessórias e com o sonho de grandeza de Portugal. Identificou o rei apontado por Bandarra como sendo D. Sebastião, e em 1603 publicou, também em Paris, sua “Parafrases e concordâncias de algumas profecias de Bandarra, sapateiro de Troncoso”, onde reafirma suas esperanças no rei desaparecido[68]. Em 1604 é publicada em Nantes a primeira edição completa, pelo fidalgo D. Vasco Luís da Gama, V Conde de Vidigueira e I Marquês de Niza. Identifica o D. João das trovas com o duque de Bragança e futuro rei de Portugal, D. João IV. Nota-se aqui que, como nos alerta João Lucio de Azevedo[69], tais trovas eram utilizadas de acordo com a necessidade e com os interesses da época, sendo bastante explorada pelos opositores da Corte de Madri. No século XIX, é acrescida um segundo e terceiro corpo às trovas, o segundo extraído de uma cópia do Cardeal Nuno da Cunha, e o terceiro por coplas recolhidas na ocasião da desfeita das paredes da capela mor da igreja de Trancoso, em 1729. Fora editada em Barcelona no ano de 1809, e reeditada em 1866 e 1989[70]. A obra está estruturada a partir de uma apresentação de dezesseis estrofes, seguida de três partes: o Sonho Primeiro com 76 estrofes, o Sonho Segundo, com 14 estrofes, e o Sonho Terceiro, com 46 estrofes.

Uma das grandes discussões acerca das trovas seria a identificação do D. João, citado por ele, a quem o Padre Antonio Vieira interpretará como sendo D. João IV[71]. Jacqueline Herman apresenta-nos quatro possibilidades[72]. Segundo a autora, não seria D. João III, por este ter renunciado à conquista da África e perseguido os cristãos novos, tendo em vista que Bandarra fala de expansão, e não de recuo do império português. Poderia ser D. João, pai de D. Sebastião, que morrera sem subir ao trono. Era mais provável que fosse D. João II, que desbravou a costa ocidental da África na segunda metade do século XV, ou D. João I, fundador da Dinastia de Avis, imortalizado por Fernão Lopes como rei predestinado para a salvação de Portugal. O certo é que o que garantiu a sobrevivência das trovas de Bandarra fora justamente o mistério e a impossibilidade de se identificar com certeza o rei predestinado apontado pelo seu autor.

Tais trovas ganhariam força maior com o desaparecimento de D. Sebastião na batalha de Alcácer - Quibir, em 1578, e que resultaria na anexação de Portugal pela Coroa Espanhola (1580 - 1640). Partindo de interpretações das trovas, muitos passam a esperar a volta do rei morto na África, vendo-o como redentor de Portugal, que devolveria sua grandeza e sua glória[73]. Com o tempo, passa-se a esperar o rei salvador não mais em D. Sebastião, mas em sua linhagem, o que faz que muitos encontrem no ducado de Bragança o seu substituto[74]. Desta forma, as profecias de Bandarra passam a ser interpretadas como destinada ao novo rei, D. João IV e ao movimento que resultara na restauração portuguesa, sendo que até mesmo o Inquisidor Geral do Santo Ofício, Pantaleão Rodrigues Pacheco, chamou de proféticas as predições de Bandarra e, baseando-se nelas, procurou persuadir o Papa que reconhecesse D. João IV como rei legítimo de Portugal[75]. Ao mesmo tempo, fora construído um suntuoso túmulo por D. Álvaro de Abranches, com a seguinte inscrição, feita por Saldanha de Souza: “Aqui jaz Gonçalo Eanes Bandarra, natural desta vila, que profetizou a restauração deste reino, e que havia de ser no ano de 1640, por El rei nosso Senhor”[76].

Podemos então concluir que as interpretações bíblicas de Bandarra levariam às formulações messiânicas dos séculos XVI e XVII, sendo que só foram possíveis graças às condições históricas do período, e o desaparecimento do rei português reforçara tal messianismo, assim como a situação dos cristãos-novos em Portugal reforçara o messianismo judaico[77].


 



[1] CURTO, Diogo Ramada. Língua e Memória. In: MAGALHÃES, Joaquim Romero. História de Portugal: No Alvorecer da Modernidade. Lisboa: Estampa, 1997, p. 325 - 332.

[2] CIDADE, Hernâni. A cultura portuguesa no renascimento. In: Lições de cultura e literatura portuguesa. Lisboa: Coimbra, 1959, p. 335.

[3] QUEIROZ, Maria Izaura Pereira de. Op. Cit.  messianismo no Brasil e no mundo. São Paulo: Alfa-Omega, 1976, p. 26.

[4] CHAUÍ, Marilena. Profecias e Tempo de Fim. In: NOVAES, Adauto (Org.) Brasil 500 anos: a descoberta do homem e do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

[5] As fontes bíblicas que possibilitam interpretações milenaristas são, segundo Marilena Chauí: no velho testamento - livro das revelações de Daniel, profecias de Ezequiel, Isaias e Joel; no novo testamento - epístola de Paulo aos romanos a aos tessalônicos; pequenos apocalípses ou as revelações finais de Marcos, Mateus, Lucas e o apocalipse de João. Idem.

[6] DELUMEAU, Jean. A espera de Deus. IN: A História do Medo no Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras,

[7] Hist. Fut. p. 335 - 360.

[8] COHN, Norman. Na senda do milênio: milenarismo revolucionários e anarquistas místicos da Idade Média. Lisboa: Presença, 1970.

[9] Sobre este tema, vide o tópico seguinte, intitulado “O messianismo judaico”.

[10] COHN, Norman. Op. Cit.

[11] DELUMEAU, Jean. Mil anos de felicidade: uma história do paraíso. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

[12] DELUMEAU, Jean. Uma Travessia no Milenarismo Ocidental. In: NOVAES, Adauto (Org.) Brasil 500 anos: a descoberta do homem e do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

[13] “Uma tal mudança de interesse adaptava-se admiravelmente ao que era agora uma igreja organizada, gozando de uma paz quase ininterrupta e de uma posição reconhecida no mundo (p.23)”. COHN, Norman. Op. Cit.

[14] COHN, Norman. Op. Cit.

[15] Segundo Norman Cohn, tais teorias constituiriam o sistema escatológico mais influente na Europa até o Marxismo. COHN, Norman. Op. Cit.

[16] Como bem nos lembra Alfredo Bosi, Vieira também divide a História da Salvação em três etapas, sendo elas: Reino de Cristo incoado (judaísmo antigo), Reino de Cristo incompleto (nascimento de Cristo até por volta de 1666) e Reino de Cristo consumado (a partir do advento do Quinto Império até o Juízo Final). BOSI, Alfredo. Vieira e o reino deste mundo. In: In: IANNONE, Carlos Alberto; GOBI. Márcia V. Zamboni & JUNQUEIRA, Renata Soares. Sobre as naus da iniciação. São Paulo: UNESP, 1998. Ver também: Hist. Fut.

[17] CHAUÍ, Marilena. Op. Cit.

[18] COHN, Norman. Op. Cit.

[19] DELUMEAU, Jean. Mil anos de felicidade. Op. Cit.

[20] Após a morte de Frederico I, rei da Alemanha morto em uma cruzada no ano de 1190, esperava-se sua volta para devolver ao reino sua glória e sua unidade, ameaçada pelo crescente poder das elites locais. Tais esperanças são “concretizadas” com a subida ao trono de Frederico II. Este, ao mesmo tempo que era visto como salvador para os alemães, era tido como a besta do apocalipse pelos espirituais franciscanos, que esperavam para o ano de 1260 o cumprimento das profecias apocalípticas. As expectativas de ambas as partes são frustradas com a morte do rei, em 1250. Muitos, no entanto, acreditavam que o rei estava adormecido, ou mesmo vivo, e que voltaria como salvador. Nos anos seguintes, surgem varios “candidatos” a Frederico II, aproveitando-se do clima de instabilidade e crescimento dos principados semi-independentes na Alemanha, sendo Frederico tido como um pólo de lealdade entre os germânicos. COHN, Norman. Op. Cit. p. 90 - 95.

[21] QUEIROZ, Maria Izaura Pereira de. Op. Cit.

[22] CHAUÍ, Marilena. Op. Cit.

[23] DELUMEAU, Jean. Mil anos de felicidade. Op. Cit.

[24] Idem.

[25] Vieira, ao afirmar a necessidade de pregar a todas as criaturas, reduz todos a “um” rebanho, por ser apenas “um” o povo de Deus, debaixo de “um” pastor. Seria então apenas “um” o reino que abraçaria todo o povo de Deus: Portugal. Estaria assim próximo da concepção acerca de “um” imperador universal e de “um” Papa angélico, apresentado por Joaquim di Fiori. Nas palavras de Vieira: “As ovelhas que S. Pedro havia de apascentar, eram as nações de todo o mundo, as quais Cristo queria trazer e ajuntar de todo ele, e fazer de todos um só rebanho, que é a Igreja, debaixo de um só pastor, que é São Pedro (p. 402/403)”. Sermão do Espírito Santo. DELUMEAU, Jean. Mil anos de felicidade. Op. Cit.

[26] MAGALHÃES, Leandro Henrique. O messianismo português na obra do Padre Antonio Vieira. História: Questões e Debates. Curitiba: UFPR, 1999, nº 28.

[27] PÉCORA, Alcir. Vieira, o Índio e o corpo místico. In: NOVAES, Adauto (Org.). Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

[28] Tal rei fora identificado, em um primeiro momento, em D. Sebastião, depois em D. João IV e sua linhagem. AZEVEDO, João Lúcio de. História do Padre Antonio Vieira. Lisboa: Clássica, 1992.

[29] Sermão do Espírito Santo.

[30] COHN, Norman. Op. Cit. p. 15

[31] Daniel 7, 13-27.

[32] O apocalipse de Daniel havia sido elaborado em um período de submissão da Palestina hebraica às monarquias helenísticas dos seleucidas e dos ptolomeus. Sobre este tema vide: LILLA, A. El Mundo Helenistico. Madrid: Sintesis, 1992, p. 100-106; COMAY, Joan. Quem é Quem no Antigo Testamento. Rio de Janeiro: Imâgo, 1998, p. 80-82.

[33] COHN, Norman. Op. Cit. p. 16

[34] NOVINSKY, Anita. Sebastianismo, Vieira e o messianismo judaico. In: IANNONE, Carlos Alberto; GOBI. Márcia V. Zamboni & JUNQUEIRA, Renata Soares. Sobre as naus da iniciação. São Paulo: UNESP, 1998.

[35] Idem.

[36] Idem.

[37] SARAIVA, Antonio José. Antonio Vieira, Menasseh Bem Israel e o Quinto Império. In: História e Utopia: estudos sobre Vieira. Lisboa: Ministério da Educação, 1992.

[38] BOSI, Alfredo. Op. Cit.

[39] SARAIVA, Antonio José. Op. Cit.

[40] Proposta ... p. 302.

[41] Idem.

[42] “Muitos estão desejando/ Serem os povos juntados,/ Mas outros mui avisados/ O estão arreceando:/ Arreceiam vir no bando,/ Esse gigante Golias,/ Mas por meio de Enoch e Elias/ De outra parte estão folgando”. Citação de Bandarra feita por Vieira na obra Esperança de Portugal. Esp. Port.

[43] Idem.

[44] Ver História do Futuro, Livro Segundo, Capítulos Terceiro, “se este império de Cristo é temporal ou espiritual”, Quarto, “examina-se se o reino ou Império de Cristo é também temporal. Refere-se a opinião negativa”, Quinto, “Propõe-se e defende-se a opinião afirmativa” e Sexto, “Prossegue a mesma matéria, apontam-se os títulos e razões do Reino Temporal de Cristo”. Hist. Fut. Lisboa: Imprensa Nacional, 1992.

[45] Ao convocar Daniel para explicar seu sonho, Nabucodonosor ouvira a seguinte explicação: “Tu, ó rei, observavas; e eis uma grande estátua. Essa estátua era muito alta e seu esplendor extraordinário. Ela se erguia diante de ti e seu aspecto era aterrador. Essa estátua tinha a cabeça de fino ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e as coxas de bronze, as pernas de ferro, os pés em parte de ferro, em parte de cerâmica. Tu observavas, quando uma pedra rolou da montanha sem intervenção de mão alguma; bateu nos pés de ferro e de cerâmica da estátua e os pulverizou. Então foram pulverizados juntos o ferro, a cerâmica, o bronze, a prata e o ouro; eles se tornaram como a palha que voa pelos ares no verão: o vento os levou e deles mais nenhum traço se descobriu. Quanto à pedra que havia atingido a estátua, tornou-se uma grande  montanha e ocupou a terra inteira” (Daniel 2, 31-36). Cada elemento da estátua representaria um reino que, sucessivamente, seriam destruídos pela pedra. Eles dariam lugar a “um reino que jamais será destruído e cuja soberania não passará a outro povo”. (Daniel 2, 42). Já Isaias, declara que haveria um tempo onde todas as nações viveriam em paz, sem levantar espadas umas contra as outras. “E venho para reunir todas as nações de todas as línguas, elas virão e verão minha glória. (...) Sim, como os céus novos e a terra nova que faço permanecem firmes diante de mim - oráculo do Senhor - , assim permanecerão firmes vossa descendência e vosso nome! E assim, de lua nova em lua nova e de sabá em sabá toda carne virá prostar-se diante de mim, diz o Senhor. (Isaias 66, 18 - 23).

[46] Além de ser considerado como sinal do reino de Deus.

[47] Hist. Fut.

[48] MAGALHÃES, Leandro Henrique. Op. Cit.

[49] OLIVEIRA FRANÇA, Eduardo D’. Portugal na Época da Restauração. São Paulo: HUCITEC, 1997.

[50] AZEVEDO, Jão Lucio de. A evolução do Sebastianismo. Lisboa: Presença, 1958.

[51] Devemos levar em conta aqui que, em um primeiro momento, as trovas foram destinadas aos cristãos novos, sendo eles os grandes difusores da obra de Bandarra.

[52] SÉRGIO, Antonio. Interpretação não romântica do sebastianismo. Obras Completas: Ensaios. Tomo I. Lisboa: Sá da Costa, 1980.

[53] AZEVEDO, João Lucio. A evolução do sebastianismo. Op. Cit.

[54] HOORNAERT, Eduardo. Teologia e ação pastoral em Antonio Vieira (1552-1661). In: História da Teologia na América Latina. São Paulo: Paulinas, 1981.

[55] Como demonstrado anteriormente, o objetivo do presente trabalho não é trabalhar com as trovas de Bandarra, mas de uma leitura realizada pelo Padre Antonio Vieira das mesmas. Devido a importância que tais trovas adquirem nos escritos dos jesuítas, faz-se necessário apresentar suas características, assim como de seu autor.

[56] SERRÃO, Joel (Dir.). Dicionário de História de Portugal. Porto: Figueirinhas, S/D.

[57] AZEVEDO, João Lucio de. A evolução do Sebastianismo. Op. Cit.

[58] No início do século XVI apareceram alguns “candidatos” a messias dos judeus, onde Antonio Sérgio destaca: o aparecimento, em 1502, na Itália, de um aventureiro que se diz o prometido, criando alvoroço na comunidade judaica européia; Luis Dias, alfaiate de Setúbal, é tido como redentor por muitos cristãos-novos e em 1526 o judeu David Rubeni passara-se por messias. SÉRGIO, Antonio. Interpretação na romântica do sebastianismo. Op. Cit.

[59] SARAIVA, Antonio José. Op. Cit.

[60] HERMAN, Jacqueline. No reino do desejado. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

[61] AZEVEDO, João Lucio de. A evolução do sebastianismo. Op. Cit.

[62] HOORNAERT, Eduardo. Teologia e ação pastoral em Antonio Vieira (1552-1661). In: História da Teologia na América Latina. São Paulo: Paulinas, 1981.

[63] AZEVEDO, João Lucio de. A evolução do sebastianismo. Op. Cit.

[64] Esp. Port.

[65] Com exceção do Auto de fé, está foi a condenação aplicada ao Padre Antonio Vieira. AZEVEDO, Jão Lucio de. História de Antonio Vieira. 3a. ed. Lisboa: Clássica, 1992.

[66] HERMAN, Jacqueline. Op. Cit.

[67] Idem.

[68] SERRÃO, Joel. Op. Cit.

[69] AZEVEDO, João Lucio de. A evolução do Sebastianismo. Op. Cit.

[70] HERMAN, Jacqueline. Op. Cit.

[71] “Saia, saia esse Infante/ Bem andante,/ O seu nome é D. João./ Tire e leve o pendão/ Glorioso e triunfante./ Vier-lhe-ão novas num instante/ Daquelas terras prezadas,/ As quais então declaradas/ E afirmadas/ Pelo Rei de ali em diante (Bandarra, p. 07)”. Nas palavras de Hernâni Cidade, em sua introdução à Esperanças de Portugal: “Em algumas cópias, em vez de D. João, ocorre D. Foão, ou seja, D. Fulano, que é a forma moderna de designação indeterminada (p. 07)”. Esp. Port.

[72] HERMAN, Jacqueline. Op. Cit.

[73] Neste caso, como nos alerta Jacqueline Herman, rei e messias se confundem, o que nos indica a influência de base judaicas contida nas referidas trovas. Idem.

[74] Consolidação desta personificação fora dada pelos jesuítas. AZEVEDO, João Lucio. A evolução do sebastianismo. Op. Cit.

[75] Este mesmo Inquisidor, no entanto, proibiu-as em 03 de novembro de 1665, utilizando-se do argumento de que elas teriam um caráter judaizante. CARVALHO, J. Vaz de. Antonio Vieira em conflito com a Inquisição. Brotéria: Cultura e Informação. Lisboa: Fundação Oriente, 1997. v. 145.

[76] SERRÃO, Joel. Op. Cit.

[77] SÉRGIO, Antonio. Interpretação não romântica do sebastianismo. Op. Cit.