O que diz o crítico
Basílio de
Magalhães
Autor desenvolve a lenda da
"Mão do Ouro"
No conto "O Pão de Ouro",
teve Bernardo Guimarães em vista, como se deduz do capítulo inicial, desenvolver
a lenda da "Mãe do Ouro", que realmente encheu a imaginação dos tão
crédulos quanto destemerosos bandeirantes paulistas.
Deixou-se guiar pela mesma desordenada
fantasia do romance "A Ilha Maldita". Conto e romance saíram num mesmo
volume.
Sobre os indígenas do Brasil correram
mundo várias lendas, como a das amazonas, que enfrentaram o aventureiro Orelana,
o qual, descendo o grande rio, então pela primeira vez navegado por europeus,
talvez imaginosamente transvestisse em mulheres os selvagens guerreiros de cabelo
comprido, visto por ele à distância.
Nunca, no entanto, me constou houvesse
em cronistas nossos ou de qualquer origem referência a uma tribo de
tatus-brancos, isto é, autóctones claros e de pequena estatura com unhas
formidáveis, residindo em buracos de morros e saindo das suas luras somente à
noite, por nada avistarem à luz meridiana.
Percebem-se nesta novela uns
vislumbres de influência da de Alencar sobre a conquista da terra cearense (a
"Iracema" foi publicada em 1865), configurando-se no paulista Gaspar
Nunes e na anônima rainha dos tatus-brancos, que por ele se apaixonou, umas
imperfeitas miniaturas de Martim Soares Moreno e da filha de Araken.
Galdino Fernandes Pinheiro, em suas
"Narrativas Brasileiras", publicadas em 1884, deu abrigo a uma lenda do
bandeirismo paulista, "Sertório", a qual tem certos visos de parecença
com "O Pão de Ouro".