FORTE: um fórum pela formação
Letícia Burck

 

RESUMO

As considerações do presente artigo referem-se a demandas de paradigmas atuais associados com a pós-modernidade. Salientam-se as possíveis relações entre a fragilização do Estado de Bem Estar Social e a emergência de entidades que ocupam, cada vez mais, espaços de formação com substancial apoio da sociedade civil, apontando o Fórum de Educação para o Trabalho - FORTE, como um exemplo dessa prática, em Porto Alegre, desde 1994.

PALAVRAS CHAVE

- formação - sociedade civil - cidadania

ABSTRACT

The subjects of the present article refer to the current paradigms requests associated with pos-modernity happenings. It emphasise the relation between the social well-bein`s fragility and the ONG`S emergence these institutions take space, in a growing way, with substancial support of civil society the FORTE (Education for Labor`s Forum) is one exemple of this practice performed in Porto Alegre since 1994.

KEY WORDS

- formation - civil society - citzenship

1. INTRODUÇÃO

Este artigo refere-se ao projeto de pesquisa em elaboração, "Sociedade Civil & Formação: A emergência das ONG´S na construção de novos paradigmas", que visa investigar como entidades de composições variadas vêm garantindo processos de formação junto ao FORTE (Fórum de Educação para o Trabalho), que desde 1994, preocupado com a profissionalização juvenil, congrega associações, escolas católicas, espíritas e luteranas, além de instituições privadas.

O mencionado Fórum é composto por mais de quarenta entidades, situadas em diferentes regiões da cidade, que se denominam Organizações Não Governamentais (ONG´S). Reúnem-se mensalmente à analisar e propor novas práticas pedagógicas, voltadas à educação juvenil para a profissionalização.

O FORTE institucionaliza-se num contexto em que a sociedade civil, cada vez mais, ocupa os espaços antes preenchidos pelo Estado. Isso porque, nas últimas décadas, observa-se uma transformação na noção de sociedade civil. Além de representar uma terceira dimensão da vida pública, esta passa a significar ..." um campo onde prevalecem os valores da solidariedade"...

Nessa esfera social pública, ainda emergente, encontram-se os movimentos e instituições que, embora privados, têm objetivos sociais, como é o caso das ONG´S.

É nessa perspectiva que podemos acompanhar o desenvolvimento de estratégias desencadeadas pelas ONG´S, o que ocorre de diversas maneiras. Além de interessantes para o Estado e, também para o mercado, ao assumirem "novos" papéis, as referidas organizações representam "possibilidades" de investimentos sociais, que estão por serem descobertas pelas empresas.

As ONG´S são privadas e prestam atendimento público. Promovem a articulação entre esfera pública e âmbito privado como nova forma de representação, buscando alternativas de desenvolvimento democrático para a sociedade. O reconhecimento de instituições intermediárias entre o indivíduo, mercado e Estado denotam a relevância de ações prestadas, na medida em que estão articulando diversos interesses.

Essas organizações cumprem o papel de institucionalizar princípios éticos que não podem ser produzidos nem pela ação estratégica do mercado, nem pelo exercício do poder de Estado.

Segundo Claus Offe, "As ONG´S...atuam como válvula de escape das deficiências do Estado e do mercado"... e "o Estado, a liberdade de mercado e as ONG´S vão formar a nova ordem social".

É nesse sentido que a pesquisa ora em desenvolvimento busca investigar, apoiada em um sistema de hipóteses, como as ONG´S vêm garantindo processos de formação junto ao FORTE.

 

2. O FORTE: UM ESPAÇO EMERGENTE DE FORMAÇÃO À CIDADANIA.

As inúmeras habilidades atualmente exigidas pelo mercado e pela sociedade em geral, precisam ser gradativamente conquistadas e integradas ao cotidiano de todo cidadão trabalhador. Nesse processo, o FORTE tem contribuído ao apontar temas e práticas que estão em vigor no mundo atual, em intensa transformação. Isso acontece mais sistematicamente, através das discussões plenárias do Fórum, que repercutem nas ações e iniciativas instauradas nos processos de formação orientados pelas entidades associadas e, em conseqüência, na dinâmica das comunidades que estão inseridas.

Tais entidades que congregam o FORTE, identificam-se enquanto ONG´S, integrando os setores voltados à profissionalização juvenil e estão situadas nos segmentos sociais economicamente desfavorecidos. Essas organizações, em reuniões mensais, procuram articular e propor políticas sociais na área da infância e juventude do município de Porto Alegre, prioritariamente. Assim, o Fórum representa um exemplo concreto da emergência das ONG´S, que passam a se interessar por programas que atendem a demandas antes supridas pelo Estado.

Dentre as diferentes alternativas de atuação das entidades do FORTE, para "tentar" atender as referidas demandas, ressaltamos o trabalho voluntário como um aporte aos programas e projetos institucionais desenvolvidos para profissionalizar jovens em situação de risco social. Desse modo, a sociedade civil se engaja buscando agir de maneira coletiva e fortalecendo seu papel de forma participativa. Isso é vital ao processo de continuidade do Fórum, já que a sociedade civil é sua estrutura, seja organizada em entidades ou com profissionais voluntários. Nesta busca de construção da cidadania, os voluntários formam e são formados, pois as experiências praticadas se dão em diversas instâncias de atuação como: dirigentes, educadores, etc., administrando gerencial e/ou operacionalmente as entidades. Assim, dada a conjuntura atual e, através da frente formação, as entidades buscam cada vez mais o engajamento da sociedade civil, já que o momento favorece tais acontecimentos.

É de assinalar-se, que o trabalho voluntário, atualmente regulamentado pela Lei N° 9.608/98, segue representando um recurso muito importante nessas instituições. A profissionalização do trabalho social é um dos fatores fundamentais a seu decorrente sucesso e continuidade, ou seja, o compromisso voluntário e dos profissionais efetivos pode caminhar junto.

Seja através do voluntariado, das ações que as entidades vêm desencadeando junto a sociedade civil, empresas ou Estado, inúmeros agentes financiadores começam a descobrir e se interessar por novas formas de parcerias com entidades sociais "Havia prêmio para artistas, jogadores e até empresários, mas não para entidades filantrópicas".

Tendo em vista as considerações acima expostas, pode-se dizer que a sociedade civil organizada realmente vem-se constituindo em espaço de formação para cidadania, pois busca a articulação do binômio direitos e deveres de maneira participativa, supondo organização coletiva.

 

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As demandas atuais de formação e competência vêm sendo propagadas pelas práticas de ONG´S ativas e preocupadas com a sociedade. As instituições, ao reverem posturas e teorias, buscam espaços na competitiva ação social, atendendo diversas áreas da sociedade. É o engajamento do terceiro setor no desenvolvimento social.

  • ..."A nossa sociedade está apoiada em três setores: o mercado, o setor governamental e o setor civil, também chamado de ‘terceiro setor’, composto por fundações e organizações não-governamentais que trabalham em projetos nas áreas cultural, social e ambiental, no atendimento às comunidades e grupos sociais mais carentes e na defesa dos direitos básicos dos homens e dos povos"...(GRAJEW, 1997p. 16)
  • Frente à globalização das economias torna-se emergente a globalização da cidadania, mediante direitos e deveres, acesso a informação e cumprimento das necessidades básicas. Assim, pode-se estar buscando o caminho para uma cidadania planetária.

    Finalmente, pensamos que, dada a atual conjuntura econômica e social, sendo uma das representações a emergência das ONG´S e as novas perspectivas de ação em segmentos da sociedade civil, bem como a necessidade da formação inserida na educação pelo trabalho, frente às demandas globais, o FORTE se constitui imerso na problemática ora pautada e ativo na reconstrução de espaços e papéis buscando a garantia da educação pelo trabalho e cidadania na profissionalização juvenil da cidade de Porto Alegre, prioritariamente.