Bíblia
Manuscrita
por
Alfredo Carlos Barroco Esperança
O projecto «Bíblia Manuscrita Jovem», que
envolve 50 mil alunos, professores e funcionários de 233 escolas portuguesas
públicas e privadas, é absolutamente inaceitável.
A iniciativa da Sociedade Bíblica de
Portugal pode ter, e tem, a caução governamental mas ofende a Constituição, que
consagra o princípio da neutralidade do Estado face a qualquer confissão
religiosa, e constitui um perigoso precedente.
Que diriam os promotores a um projecto
equivalente para «O Capital» de Karl Marx ou para o «Livro Vermelho» de Mao?
Que a inefável secretária de Estado
Mariana Cascais tenha patrocinado tal projecto era previsível.
Surpreendente é a leviandade dos
conselhos pedagógicos a caucionarem o proselitismo católico e evangélico.
Perigoso é o silêncio da opinião pública
perante um comportamento simétrico do dos países árabes onde as crianças
começam cedo a copiar o Corão.
Assustador é o défice de civismo
republicano perante um acto de proselitismo a que as tragédias do mundo
islâmico deviam servir de vacina.
Inaceitável é a transformação das escolas
públicas numa réplica das madraças islâmicas para o ensino da palavra revelada.
É curioso que ninguém se lembre de um
projecto, esse inatacável, para copiar a Constituição da República cuja
aprendizagem aproveitaria a alguns governantes e não poucos magistrados.
Publicado no “Diario de Notícias” de
27/3/2004.