UM ERRO QUE FARÁ HISTÓRIA



por

Ricardo Gaio Alves



O director do «Público» congratulou-se no editorial de 30/6/2002 por o Supremo Tribunal dos EUA ter decidido (por 5-4) que os cheques-educação não contrariam o princípio da separação entre o Estado e a Igreja naquele país. JMF argumenta que os cheques-educação significam uma oportunidade para os pobres, por exemplo negros, disfrutarem de uma melhor educação.

Na minha opinião deveríamos ter a maior prudência nesta matéria, pois, como já afirmou a «New Scientist», essa decisão conduzirá no imediato a que ainda menos crianças aprendam o evolucionismo e a ciência, com a agravante de que a doutrinação no criacionismo será agora feita com dinheiro público. A longo prazo, outro efeito perverso será o de agravar a «guetização» confessional da sociedade, pois o financiamento público da escola confessional fomenta inexoravelmente o fechamento de cada comunidade religiosa no seu nicho.

A inclusão das minorias culturais só será um sucesso se, pelo contrário, todos os futuros cidadãos puderem frequentar uma escola pública e laica, que como tal seja um espaço em que se possa desenvolver o respeito pelas diferenças. Além disso, a escola deve incentivar os seus estudantes a adquirir o pensamento crítico e científico contemporâneo, objectivos esses que a escola confessional, seguramente, jamais garantirá.


Nota: esta carta reagia -a 2/07/2002- ao editorial do «Público» de 30/06/2002. Foi enviada por diversas vezes, com pedido de publicação, para o referido jornal. Nunca foi publicada.



República e Laicidade!