Europa e Cristianismo



por

Alfredo Carlos Barroco Esperança



A influência cultural asiática impediu o primeiro-ministro de Portugal de se dar conta da importância da Revolução Francesa nas modernas democracias europeias.

Só assim se compreende o proselitismo com que se associou aos governos de Espanha, Polónia, Itália, Luxemburgo, Irlanda e Áustria na obsessão de incluir uma referência ao cristianismo na futura Constituição europeia, obsessão que os países onde a Reforma se fez sentir – mais tolerantes – não demonstram.

Não se discute a influência, óbvia, mas a necessidade de a explicitar. O abandono do laicismo só pode levar ao agravamento de ressentimentos étnicos e religiosos recentemente avivados na Europa e onde não estão isentos de culpas os que a defendem. Bastaria o respeito pela Turquia, cujos esforços por manter um regime laico são notáveis, para ignorar as pressões do Vaticano mas o secularismo, iniciado no Renascimento, nunca foi aceite pelos conservadores e guardiões da ortodoxia religiosa.

A libertação do Direito do jugo da ideologia é uma conquista civilizacional do estado laico com a qual as religiões se não conformam, sendo a vigilância cívica logo acoimada de anti-clericalismo como se este persistisse sem clericalismo.

Durão Barroso é o mais americano dos líderes europeus e o menos europeu dos líderes portugueses pós 25 de Abril. Não sei se é a companhia do CDS no Governo que fez dele um governante assim ou a sedução intelectual pelo seu homólogo de Madrid, com ligações ao Opus Dei.

E, para desgraça, a oposição, se existe, também está de joelhos ou anda distraída.


Alfredo Carlos Barroco Esperança

Coimbra, 22 de Junho de 2003


Nota: esta carta de leitor foi publicada no «Expresso» em 28 de Junho de 2003, com os cortes assinalados em itálico.



Associação República e Laicidade