Gratidão para João Paulo II pela vinda a Fátima



por

Alfredo Carlos Barroco Esperança



Senhor Director,

Sou dos que se regozijam com a reincidência da vinda do Papa a Fátima. Foi por uma boa causa.

Pode-se duvidar que em 1917 o Sol tenha girado sobre si mesmo e descido três vezes até à altura do horizonte num desafio às leis da gravidade celeste, suspensas na Cova da Iria para gáudio exclusivo de 50.000 devotos, embora a informação seja idónea já que é da autoria do Secretariado de Informação do Santuário de Fátima.

Pode-se desconfiar da eficácia dos numerosos terços rezados para a conversão da Rússia e, durante o Estado Novo, para a preservação dos nossos governantes embora, neste último caso, de consequências tão irrefutáveis quanto demolidoras.

É natural que o Inferno, abolido no actual pontificado, e que a Senhora mostrou aos Pastorinhos, fosse uma piedosa alucinação.

Já não vejo como possa duvidar-se do milagre da cura da Srª. D. Emília, uma vez que foi cientificamente comprovado pelo Vaticano e por três médicos de Leiria - pai, mãe e filha.

Mesmo a cura miraculosa de um cancro do fígado em Málaga, Espanha, só não foi confirmada pelas excessivas exigências e inaceitáveis dúvidas cartesianas do Vaticano.

O anúncio do fim da guerra veio a revelar-se verdadeiro. O Papa sobreviveu ao atentado. Que mais provas serão precisas? Em verdade, não há pior cego do que quem não quer ver.

Mas há ainda uma razão de peso para não nos resignarmos aos ataques de que Fátima tem sido vítima. Se não fossem as aparições a Cova da Iria era hoje uma mera referência em propriedades rústicas na Conservatória do Registo Predial de Vila Nova de Ourém. Assim, transformou-se uma economia de subsistência do sector primário num caso de sucesso do terciário.

A beatificação dos pastorinhos foi ouro com que o Santo Padre enriqueceu o filão da mina de Fátima. Quando, no passado, com D. Manuel I ou D. João V, Portugal foi um contribuinte líquido, quando - não obstante a nossa enorme pobreza - alimentávamos ainda a concupiscência do Vaticano, ninguém protestava. Agora que este fidelíssimo País começa a receber os dividendos da devoção à virgem e da dedicação ao Santo Padre, é que aparecem pessoas com falta de patriotismo a pôr em causa o próspero negócio que prolifera em Fátima e o desenvolvimento do promissor segmento turístico religioso, como se os milagres estrangeiros fossem mais verosímeis que os nacionais.

Pela minha parte, no que diz respeito a Fátima, estou grato ao Papa.

Tibi gratias, João Paulo II.


Alfredo Carlos Barroco Esperança

Coimbra, 15 de Dezembro de 2000


Nota: esta carta foi publicada no correio dos leitores do «Expresso».



República e Laicidade!