Nota prévia: o texto que se segue chegou-nos de um endereço de correio electrónico que não conseguimos identificar. Parece datar do mês de Junho de 1998.
Caríssimos concidadãos,
seremos em breve chamados a votar (e bem!) em três-referendos-três
(porque é de touradas que se trata) concernindo temáticas diversas,
e abarcando um corpo vasto de questões que mudarão profundamente o
modo de vida da nossa sociedade. Porém, os nossos estupendos políticos
da situação, e os não menos fenomenais da oposição, esqueceram-se
de um outro referendo, muito mais urgente e que permitiria resolver uma
grave situação que é fonte de imoralidade, e causa de grave dano
social.
Referimo-nos, como é óbvio, à castração da padraria.
Efectivamente, a ablação das glândulas sexuais dos sacerdotes do culto
católico -por muito atrofiadas que se encontrem, ou por muito
congenitamente defeituosas que sejam- garantirá (seguramente!)
que não mais se repetirão os casos (conhecidos de todos) em que
sacerdotes católicos abusaram da sua posição social para emprenhar
senhoras respeitáveis ou violar menores do mesmo sexo.
Por outro lado, a ablação dos testículos da padralhada catapultará
Portugal para a celebridade a nível mundial, acarretando inevitavelmente
um aumento de receitas turísticas. Poderemos mesmo passar a vender como
lembranças turísticas os tomates -conservados em formol- dos homens do
clero, reabilitando assim as célebres «caixinhas de preciosidades» que
tanto celebrizaram os eunucos chineses. O valor da venda destes objectos
reverterá a favor do Estado, compensando assim este pela perda de
receitas que representa a isenção de impostos de que disfrutam
actualmente os futuros eunucos. Mais ainda: tornarmo-nos-emos no
único país do século 20 contando entre os seus cidadãos alguns
castrati, o que constituirá uma enorme vantagem do ponto de vista da gravação
de Óperas italianas, género artístico este muito popular entre as classes
médias lisbonenses.
Contudo, descortinamos desde já três tipos de objecções a esta medida. Primeiramente, alguns pseudo-libertários de inspiração jacobina atrever-se-ão a sugerir que os padrecos são «donos do seu próprio corpo». Trata-se de uma falácia facilmente desmontável: a padraria jura castidade perpétua ao entrar no sacerdócio. Renuncia portanto desde logo a usar as suas glândulas sexuais, sendo a produção de testosterona -própria da espécie humana- um estorvo. Segundamente, haverá certamente quem argumente que a operaçãozita de remoção não poderá ser levada a cabo nos hospitais públicos, pois os técnicos de saúde têm mais que fazer. A esses, convirá lembrar que os veterinários procedem a operações deste género regularmente, e que poderemos portanto contar com o concurso destes para a resolução deste grave problema nacional. Terceiramente, alguns dirão que não se deverá avançar para esta solução enquanto não estiverem esgotadas as tentativas de endoutrinar os sacerdotes no sentido de se absterem do pecado carnal. Responda-se que, face à possibilidade, permanente e abominável, de os sacerdotes desobedecerem aos mandamentos cristanhos, se deverá sobrepor a garantia, mecânica e irrevogável, do bisturi cirúrgico.
Iniciaremos em breve um processo de recolha de assinaturas para levar este assunto à consideração da Assembleia da República. Contamos com a vossa colaboração, cidadãos!
A bem da Nação,