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Jornal de Notícias    em 24-OUT-1998

Bissau prestes a cair nas mãos da Junta

Revoltosos controlam a esmagadora maioria do território e vários bairros da capital, prevendo-se a ofensiva final no fim-de-semana As forças governamentais guineenses controlam "apenas uma parte de Bissau e as ilhas", após a ofensiva relâmpago lançada pelos rebeldes da Junta Militar, disse à agência Lusa fonte de uma organização não governamental a trabalhar na região de Bissorá, controlada pelos revoltosos.

Em contacto telefónico, a fonte referiu que a situação é calma na cidade de Bissorá, a cerca de 40 quilómetros da capital guineense, que estará a ser defendida apenas pelo contingente senegalês que apoia desde o início da revolta militar o regime do presidente "Nino" Vieira.

De acordo com fontes militares citadas pela Lusa, a situação em Bissau é "confusa" e as avaliações da situação "mudam hora a hora, com desfecho admitido tanto por questão de horas como nos próximos três dias". Não havia ontem a certeza da chegada dos reforços militares senegaleses à cidade, que se crê enviados por navio, mas a Junta Militar ameaçou que não deixaria entrar "nem mais uma munição" em Bissau, disse uma fonte, que admitiu que as tropas revoltosas poderão actuar "nem que seja do outro lado" contra o porto da capital guineense.

Tropas desmoralizadas
Segundo fontes militares, a Junta Militar terá também tomado o controlo de diversos bairros em Bissau _ Bor, Granja, Santa Luzia e a zona envolvente do destruído Hotti Hotel _, preparando-se eventualmente para a ofensiva final sobre o centro da capital, "onde se defrontarão apenas com o que resta do Exército" guineense e os efectivos senegaleses. As fontes adiantaram, por outro lado, que as tropas senegalesas estão desmotivadas, dado que Dacar não lhes paga o salário há cerca de três meses e que, no conflito no terreno, estão a utilizar apenas barreiras de artilharia "para evitarem a luta corpo a corpo e um maior envolvimento na guerra".

A este respeito, fontes diplomáticas referiram à Lusa que as autoridades senegalesas estão a encarar a possibilidade de abandonarem o conflito, dado os elevados custos políticos e financeiros, fruto da contestação interna.

Quanto aos militares da Guiné-Conacri envolvidos no conflito, as fontes afirmaram ter indicações de que 200 soldados desapareceram há vários dias do centro do país, facto que está a causar alguma apreensão em Conacri, tanto mais que o presidente Lansana Conté tem eleições presidenciais em Dezembro e a contestação interna começa a ser muita.

Fragata francesa ao largo
As forças da Junta Militar parecem apostadas em "resolver" o conflito com a ofensiva lançada no passado fim-de-semana, e a declaração de cessar-fogo unilateral feita pelo presidente guineense na quarta-feira foi entendida por observadores militares como uma "rendição de facto". Ao largo de Bissau, a França mantém a fragata "Foudre", a uma distância de operação pelos seus helicópteros, disse à Lusa uma fonte militar, escusando-se a comentar notícias de que se prepara a eventual retirada do presidente "Nino" Vieira, perante o agravamento da situação militar.

As forças regulares guineenses não têm capacidade para enfrentar os efectivos revoltosos, disse uma fonte, e crê-se que a "ala mais radical" da Junta estará a pressionar Ansumane Mané para "liderar os seus homens" na tomada de Bissau. O imponderável, segundo as diversas fontes citadas pela Lusa, é a força e disposição do contingente senegalês que constitui a última linha de defesa do regime guineense, se "está pronto para morrer" por Bissau.

Gabu caiu sem um tiro Bafatá caiu quarta-feira sob controlo dos revoltosos, com aparente grande número de baixas, pelo menos feridos, entre as tropas da Guiné-Conacri estacionadas na área, informou a Lusa, citando uma fonte de uma organização de auxílio que entretanto entrou na cidade.

Aviões de transporte aterraram em Bafatá para recolher os feridos, disse a mesma fonte, que testemunhou pilhagens na cidade durante os motins e combates que precederam a sua ocupação pelas tropas revoltosas. Durante esses combates, disse a fonte, "chegou a notícia" de que as forças governamentais em Gabu, a terceira cidade do país, 200 quilómetros a leste de Bissau, tinham comunicado à Junta que "a cidade estava aberta, não era preciso disparar um tiro" para a sua tomada.

Gabu caiu efectivamente sem combate em poder dos revoltosos. Após alguma confusão criada pelos mais recentes avanços das forças revoltosas, as organizações de auxílio presentes no terreno _ entre as quais os Médicos sem Fronteiras e a Cruz Vermelha Internacional (CICV) _ estão a planear o reabastecimento em alimentos e outra ajuda.

A Bissorá, disse a fonte, estão a chegar muitos refugiados idos de Bissau, e a situação humanitária é de grande penúria, em comida, medicamentos e higiene, prevendo-se para os próximos dias o recomeço do trabalho de ajuda de emergência. A situação é "calma" na cidade, e as organizações humanitárias têm "boa colaboração" dos dois lados do conflito guineense, nos seus esforços de auxílio às vítimas do conflito. Nenhuma das fontes quis contudo avançar um balanço de vítimas, militares ou civis.

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Governo desmente asilo a "Nino"

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas desmentiu, em declarações à Lusa, que Portugal esteja a tratar do asilo político do presidente guineense, João Bernardo "Nino" Vieira.

A concessão de asilo ao presidente guineense pelas autoridades portuguesas ou francesas é uma eventualidade que está ser encarada tanto em Lisboa como em Paris, adiantaram contudo fontes diplomáticas, assegurando que a manutenção de "Nino" Vieira no poder é uma questão de dias, face à ofensiva da Junta Militar.

O secretário de Estado das Comunidades sublinhou também não estar prevista, "para já", qualquer operação de retirada de cidadãos portugueses da Guiné-Bissau. José Lello confirmou contudo a existência de uma "intermediação" para a resolução do conflito na Guiné-Bissau e que, nesse sentido, Portugal "pensa em todas as hipóteses".

"Em relação aos cidadãos portugueses residentes na Guiné-Bissau, estimados em cerca de 150, nenhum deles pediu a intervenção de Portugal" para os retirar daquele país de expressão oficial portuguesa, acrescentou, admitindo, porém, que a situação político-militar "está complicada".

"Claro que há planos de contingência que contemplam todos os cenários, mas isso é apenas em termos de doutrina", esclareceu. Questionado sobre as movimentações militares no terreno, José Lello disse que não as confirmava nem as desmentia.

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