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em 25-OUT-1998
Jaime Gama fala com Mané
Ministro português chega a Bissau e reúne com líder da Junta rebelde. O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Jaime Gama, foi extremamente prudente ao comentar ontem a situação na Guiné-Bissau, que classificou como "muito difícil".
Jaime Gama, que falava após uma reunião de cerca de 40 minutos com o comandante supremo das forças da Junta Militar, afirmou não querer "alimentar expectativas desmesuradas". "Há uma situação de grande conflito na Guiné-Bissau.
Estamos a fazer mais um esforço para tentar encontrar alguns caminhos em que a negociação e a paz sejam possíveis", sublinhou. Jaime Gama afirmou não querer "ultrapassar as expectativas possíveis", mas adiantou que, na sua opinião, se trata de uma questão em que "o fio é muito ténue".
Cumprir um dever
"Estamos aqui apenas a cumprir um dever. Um dever que é o de trabalhar por uma réstea de esperança", acentuou. Após o encontro com Ansumane Mané, Jaime Gama deslocou-se à Embaixada de Portugal, para uma troca de impressões com o embaixador Francisco Henriques da Silva, após o que deveria partir para o palácio presidencial, a fim de se encontrar com o presidente "Nino" Vieira.
Jaime Gama, para cuja chegada o aeroporto de Bissalanca esteve pela primeira vez aberto desde o início da rebelião, no passado dia 7 de Junho, deverá prosseguir hoje o seu esforço diplomático em Bissau.
O enviado de Dacar
Antes de receber Gama, Ansumane Mané estivera reunido durante cerca de duas horas com o ministro do Interior senegalês, Lamine Sissé. O ministro de Dacar foi a Bissau para se reunir com o presidente "Nino", deslocando-se depois ao comando da Junta Militar. Além das negociações directas com "Nino" e Mané, o ministro senegalês foi portador de uma mensagem pessoal do presidente do Senegal, Abdou Diouf, para os dois chefes militares.
Desde o início da rebelião na Guiné-Bissau, a 7 de Junho, o Senegal tem apoiado militarmente o presidente "Nino" Vieira. Liamine Sissé deixou Bissau pelas 18 horas, via aeroporto de Bubaque.
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Gama em Bissau para salvar a paz
Ministro dos Negócios Estrangeiros português lança mediação, no que parece ser a última oportunidade para calar as armas
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Jaime Gama, partiu ontem para Bissau a fim de, oficialmente, "estabelecer contactos" com o presidente da Guiné-Bissau e a Junta Militar; oficiosamente, tudo parece indicar que se trata de uma missão de extrema importância, podendo mesmo representar a última oportunidade de pacificação do conflito.
"Trata-se de uma deslocação feita no contexto da actual crise guineense", explicou à Lusa Horácio César, adjunto do ministro Jaime Gama. As autoridades da Guiné-Bissau "demonstraram interesse activo na presença do MNE português", acrescentou César.
Jaime Gama, acompanhado do director-geral de Política Externa, João Salgueiro, deslocou-se num "C-130" da Força Aérea Portuguesa e, à hora do fecho desta edição, deveria ter aterrado no aeroporto de Bissalanca, o que sucederá, pela primeira vez, com carácter excepcional, desde o início do conflito armado na Guiné-Bissau, em 7 de Junho, referiu ainda Horácio Cesar.
Enquanto Gama viajava para Bissau, o cessar-fogo decretado pela Junta Militar da Guiné-Bissau estava a ser cumprido na capital guineense, não tendo havido registo de disparos ou rebentamentos durante toda a noite.
Foi a primeira noite de acalmia na situação militar em Bissau, depois de domingo passado, altura em que foi quebrado o cessar-fogo que as duas partes do conflito guineense mantinham e se intensificaram combates quer na capital, quer em outras regiões do país, nomeadamente Bafatá e Gabu (ex-Nova Lamego).
Através da mediação portuguesa, francesa e sueca, a Junta Militar guineense decretou, na sexta-feira à tarde, um cessar-fogo, que apelidou de temporário e por um período de 48 horas. O Comando Supremo da Junta Militar, ao decidir um cessar-fogo temporário, anunciou que o fazia para que haja possibilidade de o presidente da República, João Bernardo "Nino" Vieira, clarificar o discurso proferido na quarta-feira à noite. No comunicado emitido, a Junta Militar afirma desejar ter no prazo máximo de 48 horas a posição de "Nino" Vieira sobre a presença de "tropas estrangeiras agressoras" no país.
O Comando da Junta pretende ainda sobre esta matéria saber a posição do presidente guineense sobre o "iminente reforço" dos efectivos destas tropas (senegalesas e da Guiné-Conacri). O último dos dois pontos que o Comando da Junta pretende ver esclarecido refere-se ao convite para um encontro feito por "Nino" Vieira a Ansumane Mané, desejando a Junta Militar saber a respectiva proposta de agenda negocial.
O comunicado é assinado pelo próprio brigadeiro Ansumane Mané e foi aprovado em reunião extraordinária do Comando Supremo da Junta Militar e entregue à Embaixada de Portugal ao princípio da tarde de sexta-feira, que já o remeteu ao presidente da República, Jorge Sampaio.
O documento sublinha que a trégua de 48 horas dada pela Junta Militar para que se possa ainda avançar pela via negocial teve em consideração "os persistentes apelos" da comunidade internacional, em particular da União Europeia (UE), bem como da sociedade civil guineense. Ainda em Bissau, o presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Malam Bacai Sanhá, classificou de "importante e urgente" o possível encontro entre o presidente da Guiné-Bissau e o comandante supremo das forças da Junta Militar.
Sanhá considerou que tal reunião poderá ser o único meio de "ultrapassar os muitos obstáculos que ainda existem", os quais só poderão ser resolvidos, segundo as suas palavras, com "muito empenhamento das partes". Falando aos jornalistas para divulgação de um comunicado da Comissão Permanente da ANP, a segunda figura da hierarquia do Estado acrescentou mesmo que, a haver esse empenhamento, o encontro entre João Bernardo Vieira "Nino" e Ansumane Mané até poderia realizar-se em Bissau.
"Seria para mim uma grande honra", respondeu Bacai Sanhá, quando interrogado sobre a possibilidade de a reunião vir a decorrer nas instalações do próprio Parlamento. Nas suas declarações, Malam Bacai Sanhá defendeu que todos os problemas da Guiné-Bissau "terão de ser tratados pela via pacífica e num quadro negocial", inclusive o problema das tropas estrangeiras estacionadas no país.
Por isso, Sanhá manifestou-se totalmente contrário a qualquer reforço militar das tropas governamentais, bem como a uma eventual vinda de uma força de interposição da ECOMOG (braço militar da Comunidade de Desenvolvimento Económico dos Estados da África Ocidental, CEDEAO). "O reforço das posições militares significaria o reacender da guerra, o que efectivamente não é o desejo da ANP, nem o deste povo", acentuou Sanhá.
No comunicado lido aos órgãos de Comunicação Social, todos portugueses, a Comissão Permanente da ANP apela ao Governo e à autodenominada Junta Militar para que "cessem para sempre as hostilidades, por forma a que o país regresse à normalidade".
O documento, que será entregue a "Nino" Vieira e a Ansumane Mané, apela também ao comandante supremo da Junta militar "para que se associe ao convite dirigido pelo presidente guineense" para um encontro a dois. É que, na opinião da Comissão Permanente, "apesar da mensagem de "Nino" Vieira constituir uma declaração unilateral", ela está imbuída da "vontade expressa de um chefe de Estado a dirigir-se ao seu povo, que se encontra numa situação de angústia e de desespero".
Tal como referiu a título pessoal o presidente da ANP, também a Comissão Permanente entende que "não existe outra saída plausível" para o conflito guineense que não seja "a via das negociações". Neste âmbito, o comunicado do Parlamento guineense "reconhece e agradece os esforços sem precedentes" dos representantes diplomáticos de Portugal, França e Suécia "em prol do restabelecimento da paz no país".
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Guterres elogia a coragem do MNE
O primeiro-ministro, António Guterres, elogiou ontem, na Áustria, "a extrema coragem" do ministro Jaime Gama em deslocar-se à Guiné-Bissau, considerando que o chefe da Diplomacia portuguesa está a prestar um grande serviço à comunidade internacional e a Portugal.
"Ele (Jaime Gama) teve extrema coragem em dirigir-se, neste momento, à Guiné-Bissau, nas circunstâncias que são conhecidas. Acho que é um grande serviço que a comunidade internacional e Portugal lhe ficam a dever", declarou o primeiro-ministro português, António Guterres.
O primeiro-ministro falava a jornalistas portugueses, momentos antes do encontro entre os líderes da União Europeia e o dirigente palestiniano Yasser Arafat, que precedeu o início dos trabalhos da cimeira informal dos "Quinze", a decorrer em Poertschach, pequena estância de veraneio junto a um dos lagos no Sudeste austríaco.
"Só desejo que nestas circunstâncias tão difíceis o ministro Jaime Gama possa dar um contributo decisivo para a paz na Guiné-Bissau", acrescentou o primeiro-ministro português. António Guterres escusou-se, no entanto, a comentar a ideia de que a missão de Jaime Gama se destinava a retirar da Guiné-Bissau o presidente "Nino" Vieira, afirmando que "a iniciativa visa a paz".
"A paz é a nossa principal preocupação. Naturalmente que o ministro Jaime Gama deverá agir de acordo com as circunstâncias que encontrar no terreno e da melhor maneira possível para garantir a paz e para que a Guiné possa ter um futuro democrático", sublinhou o chefe do Governo.
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Guiné-Bissau, o Conflito no «site» FortuneCity
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