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Canal Público     em 25-OUT-1998

Trazer "Nino" Vieira não é o objectivo da viagem de Jaime Gama. Contra-relógio em Bissau

Pedro Cunha

O ministro português Jaime Gama com o Presidente João Bernardo Vieira, durante uma sua anterior deslocação a Bissau Rui Flores e Pedro Rosa Mendes

Jaime Gama foi à Guiné-Bissau tentar estabelecer uma trégua que possibilite um acordo político. Uma viagem surpresa a pedido dos próprios beligerantes para evitar a entrada em Bissau das tropas de Ansumane Mané. "O objectivo não é trazer "Nino"". O aeroporto de Bissalanca, que não via aviões desde Junho, abriu para o C-130 português. Gama reuniu de imediato com o brigadeiro rebelde. Jaime Gama partiu ontem para a Guiné-Bissau com o objectivo de promover o diálogo entre as duas partes em conflito, de forma a evitar o ataque final das forças do brigadeiro Ansumane Mané à capital guineense e abrir portas ao estabelecimento de um "acordo político". Apesar de sexta-feira, sob mediação do embaixador português, a Junta Militar ter decretado um cessar-fogo de 48 horas, o Governo português considerava que a situação era "particularmente grave".

"As coisas estavam de facto a precipitar-se", disse ao PÚBLICO um membro do Governo português, ilustrando a avaliação que o ministério dos Negócios Estrangeiros fazia do momento que se vivia anteontem no país. Bissau, acrescentou a mesma fonte governamental, estava sob forte pressão, que poderia descambar numa grande "confrontação entre as tropas da Junta e as do Senegal".

Todos estes factores - e o apelo de ambas as partes a Jaime Gama para intervir - levaram a que o ministro dos Estrangeiros decidisse, na própria sexta-feira, partir ontem de manhã para a Guiné. E fê-lo com o objectivo de "tentar encontrar uma trégua que possibilite um acordo político". À partida a sua principal missão era a de pôr "Nino" Vieira e Ansumane Mané a dialogar. E não o de trazer o Presidente guineense para Portugal - "a visita não tem esse objectivo", garantiu ao PÚBLICO uma fonte diplomática.

A provar o facto de Gama ser bem-vindo à Guiné está o facto de o aeroporto de Bissalanca - que está sob controlo das tropas da Junta desde o início do conflito - ter sido "aberto" para receber o ministro dos Estrangeiros, que aterrou às 17h00 locais (18h00 de Lisboa). Dez minutos depois, Gama, que viaja acompanhado pelo embaixador João Salgueiro (como acontecera na anterior missão), reuniu com Ansumane Mané. E a seguir foi encontrar-se com o Bureau Político do PAIGC, liderado pelo chefe do Estado.

O brigadeiro recebera, horas antes, o ministro do Interior senegalês, Lamine Sissé, que, além das negociações directas com Mané e com "Nino", foi portador de uma mensagem pessoal do Presidente Abdou Diouf para os dois chefes militares.

Antes de partir, Gama informou os outros membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e ainda a Comunidade Económica para o Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) das diligências diplomáticas que ia desenvolver no terreno.

A missão do ministro português em Bissau não tem prazo previsto para terminar. No entanto, o limite dado pela Junta para esclarecer a permanência das tropas do Senegal no território termina ao fim da tarde de hoje - o comunicado de Ansumane Mané não especificava uma hora exacta -, o que poderá obrigar Gama a correr contra o relógio. Por outro lado, o Governo português considera que as 48 horas são de facto curtas para poder levar as duas partes a discutir minimamente uma agenda para um eventual acordo político. Por isso, Gama tem, acima de tudo, de ganhar tempo.

António Guterres, que se encontra na Áustria para a Cimeira da União Europeia, elogiou "a extrema coragem" de Gama e considerou que esta missão é "um grande serviço que a comunidade internacional e Portugal lhe ficam a dever".

O presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Malan Bacai Sanhá, o homem que poderá suceder a "Nino" na Presidência, considerou ontem em Bissau "importante e urgente" um encontro entre o chefe de Estado e Mané como única forma de "ultrapassar os muitos obstáculos que ainda existem". Sanhá acrescentou que um tal encontro poderia realizar-se mesmo em Bissau e "seria uma grande honra" para ele se o local escolhido fossem as instalações do parlamento.

Malan Bacai Sanhá, que divulgou um comunicado da comissão permanente da ANP que faz eco de uma posição idêntica, insistiu que todos os diferendos "terão de ser tratados pela via pacífica e num quadro negocial" - incluindo o das tropas estrangeiras. É por isso que se mostrou contrário a qualquer reforço das tropas governamentais e a uma eventual força de interposição da ECOMOG (braço militar da CEDEAO).

A extrema carência alimentar na capital foi ontem ligeiramente aliviada com a distribuição pelo ministério da Saúde de 12 toneladas de arroz e 250 caixas de carne enlatada entre os deslocados que se concentram nos arredores, nomeadamente na Missão Católica de Antula e na paróquia de Fátima.



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