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Canal Público     em 27-OUT-1998

Ainda em dúvida a cimeira prevista para hoje, em Bissau, entre Mané e "Nino" Vieira

Senegal acusa Portugal


BRUNO RASCÃO foto de arquivo

Soldados senegaleses no porto de Bissau: um Exército de ocupação que não consegue derrotar a Junta Militar

Jorge Heitor*

O Senegal acusou o Governo português de estar a apoiar com armas a Junta Militar na Guiné-Bissau. Dacar avisou ainda que qualquer avião que sobrevoe a capital guineense sem autorização "será de ora em diante abatido". O Palácio das Necessidades declara que nem vale a pena comentar.

O jornal governamental "Le Soleil", de Dacar, escreveu ontem, em editorial, que os rebeldes da Guiné-Bissau "beneficiam abertamente da ajuda da antiga potência colonial"; e que o avião militar "Hercules C130" em que o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, se dirigiu no sábado ao aeroporto de Bissalanca "violou o espaço aéreo sob controlo das forças senegalesas".

De acordo com o editorialista, Lune Tall, os homens da Junta Militar liderada pelo brigadeiro Ansumane Mané desembarcaram 30 toneladas de material do cargueiro em que o ministro viajara; e isso estaria "em violação flagrante dos acordos de cessar-fogo".

Ainda segundo a mesma fonte, "o Exército do Senegal, que controla efectivamente Bissau, previne que toda a aeronave que sobrevoe sem autorização o respectivo espaço aéreo será de ora em diante abatida". Mas o Palácio das Necessidades, consultado a este respeito pelo PÚBLICO, respondeu que nem vale sequer a pena comentar afirmações tão pouco diplomáticas.

Numa altura em que o chefe da oposição senegalesa, Abdoulaye Wade, do Partido Democrático, já pediu um Governo de Unidade Nacional, para fazer face ao forte desaire que o regime de Dacar está a sofrer com a sua intervenção na Guiné-Bissau, ao lado do Presidente João Bernardo Vieira, "Le Soleil" dá bem a ideia de que o Senegal atravessa uma profunda crise.

Um oficial do Exército senegalês declarou à Reuters que as notícias de Portugal ter enviado material militar para os rebeldes guineenses seriam "exactas", apesar de se saber que o ministro Jaime Gama apenas foi a Bissau para conseguir uma resolução pacífica da crise, por meio de conversações entre o Presidente "Nino" Vieira e o brigadeiro Ansumane Mané.

Poilão de Brá

Entretanto, devido a divergências quanto ao local mais adequado para as conversações, continua em dúvida que seja mesmo hoje a tão desejada reunião de alto nível que no domingo as duas partes tinham em princípio aceite, graças à mediação portuguesa, que tanto irritou Dacar.

A Junta Militar manifestou preferência pelo mítico Poilão de Brá, a gigantesca árvore que fica no caminho do centro de Bissau para o aeroporto internacional de Bissalanca, mas o Presidente gostaria decerto ficar mais perto do seu palácio. E desta discussão de mais um ou dois quilómetros, para um lado ou para outro, depende a possibilidade de uma desejável solução interna para os problemas guineenses.

O objectivo tentado por Jaime Gama foi recolocar em pleno vigor o cessar-fogo que a mediação lusófona conseguira em Julho, de modo a evitar que Bissau seja ainda mais destruída, depois de todos os estragos sofridos em quase cinco meses de profunda crise. Os embaixadores de Portugal e da França e a encarregada de negócios da Suécia acompanhariam, tal como o bispo de Bissau, D. Arturo Septimio Ferrazetta, todos os preparativos da reunião entre "Nino" Vieira e o seu antigo Chefe do Estado-Maior General, bem como os sequentes trabalhos de pormenor a efectuar por militares fiéis a um e a outro.

Enquanto isto, um dos elementos mais radicais do PAIGC, Helder Proença, que foi ministro dos Assuntos Parlamentares e da Informação no Governo de Manuel Saturnino da Costa, o ano passado afastado pelo Presidente, anunciou ontem aos microfones da rádio da Junta Militar a criação de um movimento para a renovação do velho partido desde há mais de 24 anos no poder.

Confirmando assim plenamente - com a sua presença nos estúdios da ex-Rádio Bombolom - que a ala dura do PAIGC, que ainda há seis anos se opunha a qualquer liberalização do regime, se encontra em sintonia com os militares revoltosos, Proença defendeu um congresso extraordinário e convidou João Bernardo Vieira a afastar-se da liderança tanto do partido como do Estado.

A tentativa de Ansumane Mané para assassinar o chefe do Estado, no início de Junho, verificou-se escassas semanas depois de o Presidente, com muito custo, ter vencido no congresso do PAIGC figuras como Saturnino da Costa e Helder Proença. E deixou no ar a impressão de que seria a continuação da política por outros meios, mais violentos.

No caso de "Nino" ter sido neutralizado, a direcção do país iria directamente para o presidente da Assembleia Nacional, Malan Bacai Sanhá, personalidade tida como muito mais próxima da ala dura do PAIGC do que de João Bernardo Vieira e dos seus colaboradores mais inclinados para a modernização, como Issuf Sanhá e Fernando Delfim da Silva.

*Com Joaquim Trigo de Negreiros
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