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Jornal de Notícias    em 27-OUT-1998

Encontro decisivo entre "Nino" e Mané

O presidente guineense e o líder da Junta Militar têm hoje o frente-a-frente que determinará o futuro da Guiné-Bissau

O presidente "Nino" Vieira e o brigadeiro Ansumane Mané vão encontrar-se hoje de manhã em Bissau, num frente-a-frente tido como decisivo para o desfecho do conflito que desde 7 de Junho abala o país. A realização do frente-a-frente foi revelada pelo porta-voz da Junta Militar, comandante Zamora Induta, o qual acrescentou que, após esse encontro, se seguirá um outro, durante a tarde, envolvendo militares de ambos os lados.

O porta-voz da Junta Militar não precisou o local do encontro, mas adiantou que deverá ter lugar na linha da frente, junto ao poilão do Brá, onde eclodiu a revolta da Junta Militar. O encontro resulta de um esforço diplomático de última hora do ministro português dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, que no fim-de-semana manteve na capital guineense e no Senegal uma intensa ronda de contactos com o objectivo de evitar o banho de sangue que certamente ocorreria em Bissau no caso de um ataque das forças da Junta à capital.

Gama confiante

À partida de Bissau, anteontem à noite, Jaime Gama, confirmou ter obtido do presidente "Nino" e de Ansumane Mané o "compromisso" para um encontro. O ministro dos Negócios Estrangeiros revelou também ter tido a "afirmação solene" de ambas as partes de que até à realização desse encontro não reatariam as hostilidades.

No entanto, Jaime Gama fez na ocasião um veemente apelo aos comandantes militares da linha da frente, de um lado e outro, para que respeitassem o compromisso do cessar-fogo, para que assim "se viabilize uma esperança de paz" para a Guiné-Bissau. Jaime Gama sublinhou que o Governo senegalês foi colocado ao corrente da iniciativa diplomática portuguesa, acentuando que, durante o fim-de-semana, manteve também contacto com o ministro senegalês do Interior, Lamine Cissé.

"Antes de me deslocar à Guiné-Bissau falei longamente com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Senegal e, tão depressa volte a Lisboa, vou tornar a fazê-lo", disse Gama. Um jornal oficial senegalês acusou entretanto Jaime Gama de ter levado armas para as forças da Junta Militar guineense... Uma acusação absurda que vale o que vale...

Protesto no palácio

Antes do regresso, o titular da pasta dos Negócios Estrangeiros teve uma última reunião com o presidente guineense, "Nino" Vieira, durante a qual um comité de paz realizou uma manifestação em frente ao palácio presidencial.

"Não viemos aqui para fazer política, não é essa a ideia do nosso comité", afirmou um dos oradores, ao mesmo tempo que cerca de 500 manifestantes gritavam: "Nós exigimos paz, nós temos direito à paz". Durante a manifestação, falou o director do Hospital de Simão Mendes, o principal estabelecimento de saúde da Guiné-Bissau, que realçou que no primeiro dia do conflito foram ali tratados 51 feridos civis.

Camilo Pereira declarou que o número de óbitos civis durante toda a guerra na Guiné-Bissau deverá ser igual ou superior ao dos militares, realçando os casos não só de mortes directas, mas também indirectas resultantes dos conflitos. Durante o fim-de-semana "alucinante" que passou em Bissau, o ministro português manteve ainda encontros com o primeiro-ministro guineense, Carlos Correia, e com o presidente da Assembleia Nacional Popular, Samba Lamine Sanhá, tido como o mais provável "sucessor" de "Nino" em caso de renúncia do presidente guineense. Jaime Gama esteve igualmente com o bispo de Bissau, d. Septimio Ferrazzeta, presidente da Comissão Nacional de Boa-Vontade.

Reforços senegaleses

Durante o fim-de-semana, as tropas senegalesas que defendem o último reduto governamental terão sido significativamente reforçadas, em homens e material, a crer no "Le Soleil", o jornal oficial de Dacar. Segundo o diário, na sexta-feira e no sábado um importante número de militares foi embarcado para Ziguinchor, com destino à Guiné-Bissau e à região de Casamança, que se localiza no Nordeste do país.

Dirigentes de partidos da Oposição guineense Movimento Bafatá e União para a Mudança reuniram também no fim-de-semana em Paris com líderes oposicionistas senegaleses, aos quais pediram que tentem uma mediação de modo a evitar o agravamento da situação, "que teria consequências desastrosas para toda a sub-região oeste-africana".

Fontes em Conacri citadas pela agência Lusa referiram entretanto que vários milhares de pessoas cruzaram nos últimos dias a fronteira com a Guiné-Conacri, fugindo a combates no Leste da Guiné-Bissau. Segundo a fonte, só na localidade de Koumbia, perto de Gaoual, 350 quilómetros a noroeste de Conacri, foram registadas 3.165 pessoas, incluindo crianças e idosos.

Metade destes guineenses, que fugiram aos combates registados na última semana, quando a Junta conquistou Bafatá, Gabu e outras localidades no Sudoeste da Guiné-Bissau, não têm qualquer documento de identificação. Problemas de alojamento, alimentação e riscos de epidemias começam já a colocar-se de forma urgente, porque nenhuma ajuda alimentar chegou ainda ao local para estes refugiados, disse a mesma fonte.

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