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Expresso 25 anos   Expresso de 31/10/98

História da cimeira da Guiné

Depois da missão-relâmpago de emergência feita no fim-de-semana à Guiné-Bissau por Jaime Gama, foram ainda muitas as dificuldades que os três diplomatas estrangeiros presentes na capital guineense tiveram de ultrapassar para conseguir organizar o encontro entre o Presidente Nino Vieira e o rebelde Ansumane Mané

O VAIVÉM dos três embaixadores presentes em Bissau (Portugal, França e Suécia) para a procura de um acordo sobre o local da cimeira entre o Presidente Nino Vieira e o líder rebelde Ansumane Mané tinha recomeçado na segunda-feira. Os três diplomatas ora falaram com Ansumane ora se avistaram com Nino. A segurança de ambos - de acordo com a proposta apresentada pelos diplomatas - seria garantida pelos «poucos» polícias e militares que asseguram a protecção das chancelarias de Portugal e França e dos respectivos embaixadores.

Em concreto: pelos oito polícias portugueses dos GOE e por 30 fuzileiros franceses. A reforçar a segurança dos dois arqui-inimigos, os três embaixadores e o bispo de Bissau, D. Septímio Ferrazzetta, dispunham-se a servir de «escudo humano».

A ideia da «troika» era reuni-los na delegação da União Europeia em Bissau. Este local, contudo, foi rejeitado por Ansumane Mané, com a alegação de que se situava em zona controlada pelas tropas senegalesas, pelo que não dava condições suficientes de segurança. Argumento semelhante viria a ser utilizado por Nino Vieira para recusar a alternativa avançada pela Junta: o Seminário de S. João. Outros locais aventados - mas rejeitados ora por uma, ora por outra parte – foram a Curia Diocesana, o Ilhéu do Rei e até uma tenda a ser erguida na linha da frente, à exacta distância dos dois exércitos em confronto.

Cisão no PAIGC

Terça-feira, de manhã, a «troika» voltou ao gabinete do Presidente. Nova desilusão, a ponto de o embaixador português admitir que os esforços políticos estavam, infelizmente, a chegar ao fim. E imediatamente a seguir, reuniu-se o «bureau» político do PAIGC.

Partido no poder desde a independência, a guerra veio a acentuar velhas rivalidades e fracturas, a ponto de, já na segunda-feira, ter-se verificado uma dissidência, com o anúncio da formação do Movimento de Renovação do PAIGC, liderado por Hélder Proença, um homem que foi durante anos da estrita confiança pessoal de Nino Vieira. O «bureau» político, que se tem distanciado progressivamente do Presidente, forçou-o a aceitar Banjul como local do encontro. A hipótese da capital da Gâmbia fora lançada pela Junta Militar, numa primeira fase das conversações com o ministro Jaime Gama, a par com Cabo Verde e até mesmo Portugal.

Assente finalmente um local, colocou-se um outro problema, de difícil solução: o do transporte. Encurralado no centro de Bissau e sem acesso ao aeroporto de Bissalanca, onde os rebeldes estabeleceram o seu comando, Nino Vieira só poderia voar até à Gâmbia por meios cedidos por um outro país. Foi o que a França fez, pondo à sua disposição dois helicópteros pertencentes a um navio da Marinha de guerra, estacionado perto das águas territoriais da Guiné-Bissau. Os «hélis» aterraram no porto novo da capital na manhã de quarta-feira, transportando consigo o ministro do Interior do Senegal, general Lamine Cissé - o mesmo que viera à Guiné no fim de semana, com mensagens pessoais do Presidente Abdou Diouf para os dois chefes guerreiros.

Resolvido o problema do transporte presidencial, colocava-se a questão da ida dos rebeldes a Banjul. A falta de confiança recíproca que existe entre a Junta Militar e a diplomacia francesa inviabilizou de imediato o eventual recurso aos helicópteros. Chegou-se a admitir a possibilidade da Junta utilizar o seu próprio helicóptero - de fabrico soviético e utilizado usualmente para transporte de carga. Este cenário foi afastado por razões de prudência: fosse por eventuais deficiências do aparelho, fosse, sobretudo, pelo facto do «héli» ter forçosamente que sobrevoar território do Senegal temendo-se, algum atentado.

Preparativos árduos

Num gesto de grande coragem, a encarregada de negócios da Suécia, Ulla Andren, e o bispo de Bissau, D. Septímio Ferrazzetta, ainda se ofereceram para ir no helicóptero da Junta, mas esta acabou por desistir, passando a reclamar outro meio de transporte mais seguro.

Ao fim da tarde de quarta-feira, soube-se que um outro país africano estava finalmente disposto a ir buscar Ansumane Mané a Bissalanca. Correu o rumor de que seria ou a Libéria ou até a Nigéria, mas acabou por ser a Gâmbia, do Presidente Yahya Jammeh.

O frente-a-frente foi arduamente preparado durante quase uma semana, por diversos países. Previsto inicialmente para terça-feira, acabou por se realizar ao fim de quinta-feira, dia 29, na Gâmbia, um regime militar liderado por um jovem coronel de 32 anos e que fez questão de juntar «os seus dois irmãos» - como insistentemente lhes chamou -, no sentido de estabelecer a «indispensável paz» na Guiné-Bissau.

José Pedro Castanheira e Luís Filipe Catarino (fotos) enviados à Guiné-Bissau

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