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Conflito regressa à «dimensão regional»

A ESCOLHA de Banjul, capital da Gâmbia, para a realização do primeiro encontro entre o Presidente Nino Vieira e o líder rebelde Ansumane Mané e a participação de cinco países membros da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) na organização da «cimeira» confirmam as dimensões regionais do conflito na Guiné-Bissau.
A força - e a dificuldade - da mediação portuguesa consiste em jogar com todas as peças do tabuleiro regional. Ter em conta as preocupações - legítimas - dos países vizinhos da Guiné-Bissau e os equilíbrios e as rivalidades no seio da CEDEAO e fazê-los aceitar pela Junta Militar e uma parte, talvez maioritária, da opinião pública guineense, e portuguesa, não tem sido tarefa fácil. Conseguir uma solução que garanta, de forma duradoura, a estabilidade e a independência da Guiné e a sua integração regional é ainda um objectivo longínquo.
A cimeira da CEDEAO realizada quinta e sexta-feira em Abuja (Nigéria) pode ter ajudado a criar condições mais favoráveis. O regresso em força da Nigéria (saída do ostracismo a que foi votada, no Ocidente, a sangrenta ditadura de Sani Abacha) à cena política regional permite encarar a criação de órgãos de mediação e segurança colectiva mais equilibrados e objectivos. A Gâmbia e Cabo Verde deixam de estar sozinhos a puxar por uma solução global e negociada dos conflitos de Bissau e de Casamança, num clube maioritariamente francófono, onde o Senegal faz figura de potência regional. Por outro lado, a violência, continuada ou renascente, na Serra Leoa e na Libéria obrigam a rever (e a potenciar?) o papel da ECOMOG como força de manutenção - e não de imposição - da paz.
SENEGAL
Duas missões do ministro senegalês do Interior, general Lamine Cissé, a Bissau, no período de uma semana, a entrega ao Presidente Nino Vieira e ao líder da Junta Militar, Ansumane Mané, de uma mensagem pessoal do Presidente Abdou Diouf e o longo encontro entre Cissé e Mané em Bissalanca, no passado sábado, pouco antes da chegada de Jaime Gama, foram os sinais visíveis do novo posicionamento de Dakar.
Mas a esta evolução não foram decerto alheios os esforços concertados de Paris e de Lisboa. Assim, assegurado do apoio político, diplomático e militar da França - reafirmado solenemente durante a visita do Presidente Abdou Diouf a Paris -, o Governo de Dakar pode encarar com outra serenidade a evolução da crise em Bissau. E já não era sem tempo... A eternização do conflito e as pesadas baixas sofridas pelo contingente senegalês - quarenta mortos e três centenas de feridos, segundo o balanço oficial - começavam a minar a autoridade do Governo e o prestígio do Presidente, acusados de terem agido de forma irreflectida e de sonegarem informações sobre a realidade da situação.
O triunfalismo dos rebeldes guineenses, ameaçando infligir uma «derrota militar humilhante» aos senegaleses em Bissau, e «declarar guerra ao Senegal», apoiando militarmente os independentistas da Casamança, lançaram mais achas na fogueira. Os «duros» do Conselho Nacional de Segurança começaram a exigir uma intervenção em força para salvar os «djaambars» (guerreiros valentes, em «ouolof») do «inferno de Bissau». O contacto com Mané estabeleceu um canal de negociação, para o que der e vier. Nino deixou de ser o único interlocutor.
GÂMBIA
Primeiro país da região a oferecer os seus «bons ofícios» para uma solução negociada do conflito na Guiné-Bissau, a Gâmbia já cobrou alguns dividendos da sua acção «apaziguadora».
O Presidente Yaya Jammeh rompeu o isolamento a que esteve sujeito desde o golpe de Estado de Julho de 1994, que pôs termo a uma das mais antigas democracias do continente africano, e a comunidade internacional aceitou-o como interlocutor válido.
O restabelecimento da ajuda internacional e das trocas comerciais com os países vizinhos podem ser a contrapartida deste reconhecimento.
A ajuda de Yaya Jammeh ao seu «irmão de sangue» Ansumane Mané foi também uma forma de afirmação da Gambia face ao poderio senegalês. Ressuscitou, em Dakar, o fantasma do «eixo Conacry-Banjul-Bissau», de apoio aos independentistas da Casamansa, para a constituição de um «estado étnico diola» nas duas margens do rio Casamansa.
GUINÉ- CONACRY
A importância do «factor Conacry» têm sido subestimada desde o inicio do conflito na Guiné-Bissau. A escassa ou nula combatividade das tropas que o Presidente Lansana Conte enviou em socorro do Presidente Nino Vieira é uma das razões que levaram os rebeldes e seus apoiantes a apontar o contingente senegalês como «inimigo principal». Velhas amizades do tempo da guerra colonial, factores étnicos e o comum receio do «hegemonismo» de Dakar estão na base da (relativa) tolerância em relação à presença das tropas da Guiné-Conacry.
O que não significa que Lansana Conté não tenha interesses a defender, e motivos para querer participar nas negociações. A menos de dois meses das eleições presidenciais no seu país, Conté precisa, para garantir a sua reeleição, de sair rapidamente do vespeiro de Bissau, e de provar que soube defender o prestígio e os interesses da Guiné-Conacry na região.
Vencedor de duas rebeliões militares em 1996,sabe também que o derrube de Nino Vieira pode incitar os seus opositores internos a tentar um novo golpe de força.
Por isso foi o primeiro a sugerir a Nino a pedir a intervenção da CEDEAO e o envio de uma força de interposição da ECOMOG.E continua a exigir da CEDEAO que seja intransigente na defesa da ordem constitucional e dos governos legitimamente eleitos.
Nicole Guardiola
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