Uma cimeira tirada a ferros

Soldados da Junta Militar, de Ansumane Mané, em patrulha na estrada que segue de Bissau para o aeroporto internacional de Bissalanca, controlado pelos rebeldes guineenses

ERAM exactamente 19h55 de quinta-feira quando o Presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, fez uma entrada verdadeiramente espectacular no salão do Hotel Kairaba Beach.Braços ao alto, o coronel Jammeh levava à sua direita o Presidente Nino Vieira, enquanto que com a mão esquerda segurava o líder da Junta Militar, Ansumane Mané. Em seguida, forçou um frio aperto de mãos entre os dois homens, aplaudido cortesmente pelas delegações de ambas as partes, bem como pelos diplomatas que se deslocaram a Banjul para testemunhar o histórico encontro.

Ansumane Mané foi o primeiro a chegar à Gâmbia, num Foker F-28 fretado pela União Europeia.

Duas horas depois, chegava a comitiva do Presidente Nino Vieira, em dois helicópteros da Marinha francesa.

Ansumane Mané fez-se acompanhar pelos embaixadores de Portugal e da Suécia e pelo bispo de Bissau, D. Septímio Ferrazzetta.

Nino Vieira levava consigo membros do Governo do Senegal e da Guiné-Conacri, os seus principais apoios militares nesta guerra. A Junta Militar ficou instalada no hotel Senegâmbia, enquanto a delegação do Presidente da Guiné-Bissau ficou no palácio presidencial da Gâmbia.

O encontro entre ambos decorreu em «terreno» neutro, o luxuoso hotel Kairaba Beach, no meio de apertadíssimas medidas de segurança. A cimeira começou por ser proposta por Nino Vieira, numa declaração ao país feita na noite de 21.

Fortemente acossado no terreno pela Junta Militar e intensamente pressionado pela Troika de embaixadores - Portugal, França e Suécia -, o Presidente dispôs-se a um encontro, «em qualquer momento», com Ansumane Mané.

O desafio para um «tête-a-tête» viria a ser aceite pelo comandante supremo da Junta, após conversações com o ministro dos Estrangeiros de Portugal, Jaime Gama, que se deslocou a Bissau no passado fim-de-semana.

Aliás, coube a Jaime Gama anunciar publicamente que os dois chefes guerreiros tinham assumido o «compromisso solene» de se encontrarem numa cimeira, a realizar em breve em território da Guiné-Bissau.

Assim, o porta-voz da Junta, comandante Zamora Induta, seria ainda mais preciso, ao anunciar que a cimeira teria lugar na terça-feira de manhã.

A parte da tarde ficaria reservada para uma reunião das chefias militares de ambos os lados.

As perspectivas pareciam risonhas, mas a concretização do aguardado encontro só viria a concretizar-se dois dias depois, na quinta-feira - não em solo guineense, mas sim na capital da Gâmbia.

José Pedro Castanheira e Luís Filipe Catarino (fotos), enviados à Gâmbia

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