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Expresso 25 anos   Expresso de 06-11-1998

Uma oposição incipiente e sem meios

O RELATIVO êxito do levantamento militar desencadeado no dia 7 de Junho pelo brigadeiro Ansumane Mané, revolta que a oposição guineense olhou com indisfarçável desconfiança, poderá dar-lhe uma possibilidade real de acesso ao poder, que dificilmente alcançaria através das urnas.

Os partidos da oposição poderão ser, de facto, os principais beneficiários de uma revolta susceptível de abrir caminho a reformas do sistema político, que de democrático só tem, na realidade, as instituições. Isto se a Junta Militar cumprir a promessa de regressar aos quartéis e se for constituído o Governo de transição previsto no acordo.

Embora não seja fácil prever o cenário pós-crise na Guiné-Bissau, tudo indica que muita coisa deve mudar. A começar pelas relações entre a oposição e os militares.

Em geral, os políticos guineenses encaravam as Forças Armadas (FA) mais como um instrumento do Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC, no poder), mesmo depois da despartidarização das FA. E quando o desentendimento entre o Presidente Nino Vieira e Ansumane Mané (seu ex-chefe de Estado Maior) desembocou num confronto violento, a reacção inicial foi definir o problema como «um ajuste de contas entre a malta do PAIGC».

«Plataforma comum»

Esta atitude alterou-se depois, face ao agravamento do conflito e às suas consequências humanitárias. E devido, também, à intransigência do chefe de Estado e ao seu desastrado apelo às tropas do Senegal e da Guiné-Conacri.

Até então, os dirigentes da oposição - que sempre se disseram defensores da democracia - não quiseram comprometer-se com uma acção que punha em causa a legalidade constitucional, mesmo sendo esta formal.

Actualmente, os líderes de quase todos os dez partidos da oposição na Guiné-Bissau residem nas zonas sob controlo da Junta Militar, nomeadamente em Cachungo, onde procuraram refúgio após as acusações e ameaças veladas das autoridades, que suspeitam de cumplicidades entre os seus adversários políticos e os militares revoltosos.

Além de gozarem da protecção dos homens de Ansumane Mané, estes políticos partilham de duas das suas principais reivindicações: a retirada das tropas estrangeiras do território nacional e o afastamento de João Bernardo «Nino» Vieira do cargo de Presidente da República.

Esta posição está expressa num documento intitulado «Constituição ao Processo Negocial para a Paz», adoptado em Setembro em Bula, no Norte da Guiné, e subscrito por oito formações, entre as quais a Resistência da Guiné-Bissau/Movimento Bafatá (GB/MB) e o Partido da Renovação Social (PRS), a primeira e a segunda forças da oposição.

A União para a Mudança (UM), a terceira formação mais representativa da oposição guineense, não assinou o texto, mas foi um dos promotores da iniciativa.

Muitos votos, nenhuns meios

Na Guiné-Bissau, o multipartidarismo data do início dos anos 90. Os partidos criados desde então, e os que estavam já constituídos no exílio (caso do Movimento Bafatá, liderado pelo médico Domingos Fernandes), conheceram dissidências diversas, das quais resultaram novas formações, a maioria das quais sem qualquer capacidade de intervenção.

As querelas pessoais, a luta pela hegemonia, a inexperiência política e a ausência de um líder carismático levaram a oposição a perder as primeiras eleições democráticas realizadas no país, em Julho de 1994, não obstante ter obtido mais de 63 por cento dos sufrágios nas legislativas.

Outro problema da oposição guineense é a carência de recursos. Dos dez partidos, praticamente só três têm sede própria. Até Maio último, só a sede do PRS, o partido de Kumba Yala, tinha telefone a funcionar.

O provável eclipse de Nino Vieira, o seu adversário comum, e as turbulências que o partido governamental terá que enfrentar talvez augurem tempos mais risonhos para a oposição.

Nando Coiaté, correspondente em Dacar

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