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Expresso 25 anos

12-DEZ-1998

O homem da mudança


Foto: Francisco Fadul, o primeiro-ministro para a transição

O PRIMEIRO-MINISTRO do Governo de transição da Guiné-Bissau, Francisco José Fadul, nomeado no passado dia três, é um personagem controverso, que muitos guineenses vêem como a pessoa indicada para lançar as bases de transformação indispensáveis ao melhoramento da situação socioeconómica da Guiné-Bissau. É encarado, sobretudo, como alguém capaz de enfrentar com firmeza o Presidente João Bernardo «Nino» Vieira, que, apesar da impopularidade do seu regime, parece ainda disposto a dar cartas na vida política nacional.

Nos últimos quatro anos, o novo chefe de Governo guineense esteve quase «apagado» na cena política local, ao retirar-se voluntariamente da actividade pública e fixar residência em Bissora, no Oio (centro-norte), onde dirigia um estabelecimento comercial que em tempos pertenceu ao tio, Assad Maron, já falecido. Entretanto, rompe com o PAIGC, o partido no poder, ao qual consagrou mais de duas dúzias de anos.

Mais conhecido na infância por Labruna, começou a dar nas vista muito cedo, ainda durante a época colonial, particularmente quando frequentava o liceu Honório Barreto, o único que havia na altura em Bissau. Era um «habitué» dos quadros de honra e no início dos anos 70 seguiu para Lisboa a fim de cursar Direito. É filho de Ângelo «Tito» Fadul, um antigo comerciante libanês de Mansoa e ex-sócio de uma escola de condução em Portugal.

Um revolucionário franco-atirador

Fadul começou a militar no PAIGC antes da independência, quando ainda era jovem estudante em Portugal. Regressa à Guiné em 1974, em plena ebulição política do pós-25 de Abril, quando problemas de saúde o levam a interromper o curso de Direito.

Participa activamente em manifestações e actividades favoráveis ao movimento libertador, nomeadamente em operações de saneamento na administração colonial, no âmbito da Comissão da Juventude para a Unidade e Progresso (CJUP), o que lhe valeu a reputação de revolucionário que ainda hoje o identifica.

Nos tempos que se seguem, de reconstrução nacional, Fadul empenha-se inicialmente no sector do Ensino, onde ocupa cargos directivos e chega também a dar explicações. Posteriormente assume postos de responsabilidade em diferentes Ministérios. As funções mais relevantes que desempenhou foram as de assessor do actual chefe de Estado guineense, Nino Vieira, com o qual depois se incompatibilizou.

Já em período de abertura democrática, Fadul protagoniza uma singular e corajosa forma de contestação do regime de partido único. Durante três semanas sucessivas sobe ao altar em diferentes paróquias da capital e denuncia as crueldades, injustiças e crimes do Presidente da República. Só cessa após os protestos do Governo, que convocou o bispo de Bissau para o efeito.

Mais tarde, faz uma breve incursão pela direcção do Partido Unido Social-Democrata (PUSD), formação da oposição dirigida por Victor Saúde Maria, antigo primeiro-ministro de Nino Vieira e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do deposto Presidente Luís Cabral, do qual depois se distanciou.

Apesar de ignorado pela imprensa oficial, Fadul, qual um franco-atirador, prossegue as suas diatribes contra Nino, dá múltiplas entrevistas às rádios estrangeiras e escreve bastantes textos com revelações ousadas, que não consegue publicar.

Por seu lado, o regime também não lhe dá tréguas. Politicamente marginalizado, em Bissora, a sua casa foi diversas vezes apedrejada e pessoalmente foi alvo de provocações e de ameaças. Em 1994, a preparação das primeiras eleições multipartidárias é uma oportunidade para mostrar serviço e pôr termo ao isolamento, ao dirigir impecavelmente a Comissão Regional de Eleições no Oio.

Não desiste da advocacia. Esta actividade leva-o a estar constantemente em Bissau, e acaba por integrar o gabinete de Amine Saad, seu parente e amigo de infância.

Adversário feroz do regime, a sua adesão à Junta Militar não foi propriamente uma surpresa, ao contrário da sua nomeação para primeiro-ministro.

Fadul tem também um carácter impulsivo. Pessoas que o conhecem bem dizem que precisa ser apoiado, pois apresenta alguma fragilidade psicológica e tem dificuldades de relacionamento conjugal, como provam os seus três casamentos desfeitos.

N.C.

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