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em: 01-FEV-1999
Recomeço da luta na cidade de Bissau
Junta Militar culpa forças senegalesas afectas ao regime de terem lançado uma ofensiva contra uma ponte estratégica
A capital da Guiné-Bissau viveu uma madrugada agitada, devido a um grave incidente entre as forças governamentais e os efectivos rebeldes, que se envolveram numa violenta batalha.
Os combates diminuíram de intensidade ao início da manhã, na linha da frente, havendo pontualmente tiros de armas ligeiras, mas ouvindo-se alguns projécteis de longo alcance a partir das 8 horas. Segundo informações colhidas pela Lusa, o início do tiroteio - inicialmente esporádico - ter-se-ia verificado às 4.30 horas, atingindo então o auge e por meia hora, com utilização de bazucas e armas ligeiras.
Não foi ainda esclarecido que forças estão envolvidas no incidente ou se há vítimas. O incidente parece ter-se restrito à zona de Bissaque/Ponte de Sibe, que foi palco anteriormente de idênticas violações do cessar-fogo, em vigor desde Agosto e reafirmado depois do acordo de paz de Abuja de Novembro passado.
Neste local, encontram-se estacionados alguns homens do Grupo de Fiscalização oeste-africano ECOMOG, um contingente togolês, ali colocados para separar as forças da Junta Militar das do presidente João Bernardo "Nino" Vieira, que durante as mais recentes confrontações militares se encontravam a menos de 30 metros. A população de Bissau iniciou (logo que ouviu os primeiros tiros) uma fuga maciça das zonas da linha da frente, a cerca de quatro quilómetros do Centro da cidade, refugiando-se em escolas, igrejas e outros locais públicos que podem oferecer alguma protecção.
No Hospital 3 de Agosto, próximo da linha da frente e na estrada principal para o aeroporto de Bissalanca, estão alojadas mais de mil pessoas que fugiram dos bairros periféricos Internacional, Militar e da Ajuda, que durante o conflito foram palco de fortes combates.
Durante a manhã, a população da capital guineense iniciou uma fuga maciça na direcção do porto de Bissau, para onde afluem grupos de centenas de pessoas de todas as partes da cidade. A debandada da população tem a ver com o facto de se começarem a ouvir disparos de armas de longo alcance, tendo-se já escutado dezenas de disparos de projécteis lançados de zona controlada pelo Governo.
Ao mesmo tempo, a Rádio Nacional transmitia música da etnia mandinga, que segundo residentes era utilizada durante a guerra de libertação, sob o mote geral de "somos africanos e temos de lutar pela nossa libertação".
A rádio da Junta Militar, entretanto, responsabilizou militares senegaleses estacionados na zona de Bissaque pelo início do tiroteio. Segundo a Junta, as posições que detém na zona da Ponte de Sibe foram "inesperadamente atacadas" por forças afectas a "Nino" Vieira, o que deu origem a uma situação de "legítima defesa", estendendo-se os combates à quase generaliadde das linhas da frente. Contudo, a Rádio Nacional - por meio do porta-voz presidencial, Cipriano Cassamá - desmentiu rapidamente essa versão, emitida pela emissora revoltosa depois de um período de silêncio na sua transmissão.
Cassamá, sem pormenores, sublinhou que não foi a força senegalesa, do contingente que desde Junho passado apoia o regime do presidente João Bernardo "Nino" Vieira, que iniciou o tiroteio. Por outro lado, a emissora Voz da Junta Militar apelou para que todos os seus comandantes militares espalhados pelo país estejam "atentos à evolução da situação", tendo em conta a gravidade do incidente e citando em particular a zona onde se reatou o tiroteio.
O comércio de Bissau está praticamente todo fechado e a população continua em fuga, nomeadamente para o porto da cidade. A capital guineense tem a sua população normal restabelecida, rondando os 200 mil habitantes, devido ao regresso nos últimos dois meses de muitas das pessoas que tinham fugido da cidade quando começou o confronto Junta-Governo, a 7 de Junho passado.
Qualquer fuga de populações para as zonas do interior do país é praticamente impossível por via terrestre, em virtude das estradas de acesso a Bissau estarem bloqueadas por militares dos dois lados e por haver nos caminhos das tabancas (aldeias) áreas minadas.
O contingente de interposição da ECOMOG na Guiné-Bissau, chegado há cerca de três semanas, inclui apenas 112 homens. Estão colocados na zona de Bissaque, no aeroporto de Bissalanca, no porto de Bissau e no controlo da estrada para Prábis, a duas dezenas de quilómetros da capital guineense.
Para hoje, está previsto o início de reforço da força da ECOMOG, com chegada de mais cerca de 480 homens provenientes do Benim, da Gâmbia, do Níger e do Togo. O patamar máximo previsto para este grupo de fiscalização oeste-africano é de 600 elementos. Os combates entre as forças governamentais e da Junta Militar revoltosa que voltaram a abalar a capital da Guiné-Bissau foram qualificadas como "um inferno" pela agência missionária italiana Misna, que citou um missionário.
A Misna, com sede em Roma, citou o missionário italiano Sergio Marcazzani, dizendo que "desde hoje (ontem) de manhã, Bissau é um inferno". "Ouvem-se explosões ensurdecedoras, que provêm das artilharias dos dois lados opostos", disse o missionário, que se encontra na capital guineense, juntamente com outros religiosos, para os funerais do bispo de Bissau, monsenhor Settimio Arturo Ferrazzetta, falecido na quarta-feira aos 74 anos.
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