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Canal Público     em: 19-DEZ-1998

Luta violenta depois do acordo sobre a força oeste-africana

Os Combates Voltaram a Bissau

Por PEDRO ROSA MENDES

Segunda-feira, 1 de Fevereiro de 1999

Cronologia estranha: um acordo de madrugada; armas ligeiras ao amanhecer; artilharia pesada durante o dia. Os combates voltaram a Bissau. Ninguém estava à espera. D. Settimio, o bispo da paz, está por enterrar.


Os combates voltaram ontem a Bissau, sem ninguém esperar e com os beligerantes trocando acusações mútuas pela violação do cessar-fogo. "É verdadeiramente desolador", considerou o vigário-geral da diocese, padre Vicente: "Não é possível querer matar esta gente assim. Sofreu-se já demais". Pela enésima vez desde Junho, a população de Bissau voltou a fugir, enchendo as estradas e o porto.

"Nada deixava prever uma coisa assim", afirmou ao PÚBLICO o vigário-geral. Os tiros de armas ligeiras começaram cerca das 5h00 locais (4h00 em Lisboa) e a situação agravou-se depois das 6h15 e nas horas seguintes, com a utilização de artilharia pesada de ambos os lados. Pelo menos duas baixas foram confirmadas no principal hospital de Bissau.

Como salientou padre Vicente, "é impossível saber quantos mortos terá havido pela cidade", dada a violência dos combates, que por pouco atingiam a embaixada de Portugal (uma granada caiu a apenas 50 metros). "É evidente, desde a madrugada, que as pessoas mais uma vez estão a fugir de Bissau", embora a calma tenha voltado à capital ao princípio da tarde.

A Junta Militar, através da ex-Rádio Bombolom, acusou as forças governamentais de terem provocado os incidentes, quando as posições dos revoltosos no Cumeré foram "inesperadamente atacadas". Seguiu-se a resposta da Junta "em legítima defesa", disse o capitão-tenente Zamora Induta, porta-voz das forças do brigadeiro Ansumane Mané. "A confrontação alastrou depois a todos os flancos da linha da frente de Bissau".

O porta-voz do Estado-Maior do Exército guineense, tenente-coronel Arsénio Baldé, negou o ataque ao Cumeré - um bastião rebelde a leste de Bissau, com uma posição privilegiada sobre a capital e o porto - e anunciou que as forças governamentais tinham recebido ordem para "parar o fogo".

Arsénio Baldé insinuou que os incidentes poderão estar relacionados com o ultimato feito há cerca de duas semanas pela Junta Militar quanto à chegada das forças da ECOMOG (o braço armado da CEDEAO, Comunidade de Económica de Estados da África Ocidental), estipulando a data de ontem como limite para a chegada do contingente oeste-africano e 4 de Fevereiro para a retirada das tropas estrangeiras que lutaram pelo Presidente João Bernardo Vieira, "Nino".

Tiros depois do acordo

Os combates foram ainda mais inesperados dado que, na madrugada de sábado para domingo, a Comissão Conjunta Junta Militar/"Nino" Vieira tinham chegado a acordo sobre o protocolo adicional de aplicação dos acordos de Abuja, assinados em Novembro, e ficou fixado em 600 o número de soldados a enviar. Faltava apenas assinar o documento cujas cópias deviam ser providenciadas, ontem mesmo, pela Junta, adiantou Zamora Induta na emissora dos rebeldes.

A CEDEAO apresentou, inicialmente, uma proposta que a Junta e o primeiro-ministro indigitado, Francisco Fadul, consideraram inaceitável por violar a soberania da Guiné-Bissau. A proposta previa o desembarque de 5 mil homens da ECOMOG e dava à CEDEAO as competências de organização das eleições e das Forças Armadas guineenses.

A imprensa senegalesa revelou sexta-feira que os primeiros soldados da ECOMOG - 300 militares do Niger e do Benim - seguiam ontem de Dacar para a Guiné, a bordo do navio francês "Sirocco". Segundo o "Le Matin", outro grupo de 200 militares, da Gâmbia e do Togo, seguiriam para Bissau dia 3. Isso significa que "domingo [ontem] era a última oportunidade de lançar uma provocação, sendo que um incidente como o que aconteceu apenas convém ao Presidente 'Nino'", segundo um analista da situação guineense contactado pelo PÚBLICO.

Os canhões voltaram a disparar poucos dias depois da morte do bispo de Bissau, D. Settimio Ferrazzetta, o homem que mais se esforçou desde o início da crise para que se atingisse a paz. Vai longe a ironia póstuma para o religioso italiano: os combates comprometeram as suas exéquias, previstas para quarta-feira, como explicou o vigário-geral, que esperava várias delegações de religiosos, seminaristas e noviças, a maior parte a partir do Senegal.

Aos microfones da Rádio Voz da Junta Militar, o primeiro-ministro indigitado resumiu o que muitos pensam sobre um incidente "muito grave e prejudicial para o país". Em crioulo, disse que "não existem palavras para justificar a tristeza, miséria, sofrimento e destruição da população guineense".

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