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Jornal de Notícias     em: 02-FEV-1999

Bissau é outra vez uma cidade fantasma

Forças da Junta avisaram a população para deixar a capital, ameaçando com novos bombardeamentos e um ataque maciço

A Junta Militar guineense lançou ontem uma advertência à população de Bissau, instando-a a abandonar a capital durante um breve cessar-fogo de três horas. As forças do brigadeiro Ansumane Mané, que responderam ontem com fogo de artilharia sobre Bissau a partir do Cumeré, um ponto elevado a leste da capital, avisaram que, finda a trégua, recomeçariam os bombardeamentos, disseram fontes citadas pela Agência France.

Após uma acalmia durante a noite, as trocas de tiros de artilharia recomeçaram ontem ao princípio da manhã, cerca das 6h45, com as forças governamentais a flagelarem posições da Junta Militar com disparos de armas pesadas, ouvindo-se também intenso tiroteio de armas automáticas. Cerca de uma hora depois, as forças da Junta responderam, bombardeando o centro de Bissau.

Não há ainda qualquer balanço credível de vítimas dos últimos combates, embora as estimativas apontem para cerca de duas centenas de vítimas civis em Bissau, cujo hospital foi atingido por obuses. O médico Plácido Cardoso, do Hospital de Simão Mendes, disse à Rádio Nacional que o hospital está a passar por uma "situação catastrófica", não só pelo elevado número de feridos que ali são levados, mas também por terem caído três obuses nas instalações. Segundo Plácido Cardoso, foram registados anteontem 52 feridos e cinco mortos.

Segundo residentes na cidade, no impacto de dois projécteis, na zona velha da cidade, a Amura, morreram ontem mais quatro civis, e outros três em Bluba, perto do quartel-general do Exército governamental. Evacuação em dúvida A meio da manhã houve um pequeno intervalo no fogo de artilharia, provavelmente devido ao pedido de diplomatas às duas partes para permitirem a saída de Bissau de pessoal de organismos não governamentais estrangeiros.

O pedido de autorização para evacuação serviria nomeadamente para a saída de funcionários do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que se encontravam em Bissau para a preparação de uma mesa-redonda da ONU sobre o país. Entre as personalidades a retirar de Bissau incluiu-se o delegado da União Europeia, o português Miguel Amado.

Não há contudo confirmação da evacuação. O encarregado de negócios de Portugal, Artur Magalhães, ainda não recebeu instruções para abandonar o país, e desconhece-se a posição do embaixador francês, François Chapelet. A residência da encarregada de negócios da Suécia, Ulla Andren, foi atingida ontem de manhã por um obus, mas não há notícia de vítimas nas suas instalações.

Refugiados às centenas

Fonte eclesiástica contactada pela Lusa informou entretanto que sete pessoas morreram e 30 estão feridas na missão católica de Cumura, a cerca de cinco quilómetros a ocidente de Bissau. A mesma fonte adiantou que há "muitas vítimas" dos confrontos e que são vistos "transportes de feridos" pela zona, aparentemente guineenses e estrangeiros, incluindo senegaleses.

A missão não tem quaisquer meios para apoiar os refugiados que desde anteontem chegam às centenas da capital onde, acrescentou a fonte, parece estar a "dar-se um ataque decisivo" por parte das forças revoltosas. Os confrontos recomeçaram no fim-de-semana entre as tropas do lado do Governo e os rebeldes, após três meses de cessar-fogo, desde que "Nino" Vieira e Ansumane Mané assinaram na Nigéria, a 1 de Novembro, um acordo para pôr fim à guerra.

Mistério por resolver

A origem das hostilidades continua envolta em mistério. Os tiros começaram oito horas depois de delegações da Junta Militar, do presidente "Nino" e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (CEDEAO) terem concluído um projecto de acordo sobre a força de interposição da ECOMOG e a retirada das tropas do Senegal e da Guiné-Conacri.

O projecto, que começaria a ser executado esta semana, foi alcançado em ambiente de aparente grande concórdia entre as partes envolvidas, que agendaram a tomada de posse do Governo de reconciliação para o próximo dia 14. Segundo fontes citadas pela Lusa, a faísca poderá ter sido originada no facto de forças fiéis ao presidente "Nino" terem impedido a passagem de combustível para o território controlado pela Junta Militar, ao que esta respondeu com a proibição da passagem para Bissau de bens alimentares e carvão.

Outra versão, contada à AFP por fontes em Dacar, é que tiros saudando a chegada das forças da ECOMOG poderão ter sido entendidos como provocação. O "Siroco", um navio militar francês que transporta para Bissau 300 homens da força de interposição da África Ocidental (ECOMOG), recebeu entretanto ordens para não se aproximar da costa, informou o comandante.

A medida, que atrasa o desembarque, previsto para ontem de manhã, foi decidida após o reinício dos confrontos em Bissau entre forças governamentais e da Junta do brigadeiro Ansumane Mané. A decisão de desembarcar as tropas do Níger e do Benim que estão a bordo do Siroco depende do comando das forças francesas estacionadas no Senegal, que terá em conta a evolução da situação em Bissau, acrescentou o comandante.

Os responsáveis dos dois contingentes a bordo do Siroco manifestaram preocupação quanto ao bom êxito da missão de interposição na Guiné-Bissau. A força da ECOMOG, que inclui 600 efectivos do Níger, Benim, Gâmbia e do Togo, deverá substituir as tropas do Senegal e da Guiné-Conacri que apoiaram o regime do presidente "Nino" Vieira face à rebelião liderada pelo brigadeiro Mané, desencadeada a 7 de Junho passado.



CPLP "preocupada" com conflito

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) manifestou-se ontem "preocupada" com o reacender da guerra em Bissau, no momento em que se estava "perto de uma solução negociada", segundo uma nota à imprensa enviada à Agência LUSA.

A nota da CPLP anuncia que o secretário-executivo, Marcolino Moco, vai brevemente à Guiné-Bissau e está disponível para "participar em todo e qualquer esforço de paz e de reabilitação nacional". O secretariado executivo da organização apela igualmente ao Governo e à Junta Militar para que "revelem tolerância, sentido de responsabilidade e respeito pelo Povo da Guiné-Bissau, de modo a que não se comprometam os esforços de paz".

Em missivas enviadas ao presidente "Nino" e ao brigadeiro Mané, Marcolino Moco sublinha, na primeira, a urgência da implementação dos acordos alcançados, e, na segunda, a necessidade de observar o cessar-fogo em vigor. O secretário de Estado das Comunidade Portuguesas, José Lello, disse entretanto à Lusa que "até agora ainda nenhum cidadão português solicitou o repatriamento para Portugal".

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