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em: 02-FEV-1999
Uma Controvérsia Chamada Ecomog
Por JORGE HEITOR
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), formada por 16 países, tem desde o início da presente década um "grupo de monitorização" chamado Ecomog. Este grupo já combateu activamente na Libéria, está actualmente a tentar controlar a situação na Serra Leoa e começa a ser um forte pomo de discórdia na Guiné-Bissau.
A CEDEAO não é uma entidade homogénea, com todos os seus membros a quererem o mesmo, desde a grande Nigéria ao pequeno Cabo Verde. Assim é óbvio que nela mandam mais os países com maior peso político, militar e económico.
Quando dos terríveis combates de há oito anos em Monróvia, capital da Serra Leoa, a Ecomog passou a dada altura de força de interposição a parte activa nos acontecimentos, tendo sido evidente que tudo fez para impedir o triunfo da Frente Patriótica Nacional, de Charles Taylor. Este, porém, acabou por conseguir alcançar a Presidência da República, em Julho de 1997.
Em tempos mais recentes, o "grupo de monitorização" da CEDEAO também interveio na Serra Leoa, aparentemente para tentar servir de árbitro entre as diferentes facções em luta nestes últimos dois anos: um Presidente eleito, Ahmad Tejan Kabbah, uma junta militar de revoltosos, comandada pelo coronel Johnny Paul Koroma, e um grupo de guerrilha chefiada pelo cabo Foday Sankoh. No entanto, o que se verificou foi que a Ecomog acabou por servir de instrumento da CEDEAO, e em particular da Libéria, participando na deposição da junta militar, na recolocação no poder do Presidente Kabbah e na perseguição aos guerrilheiros.
Sendo até agora a Nigéria dirigida por generais, nunca ninguém fora de África viu com muito bons olhos que ela se quisesse impor como juiz de situações em países como a Libéria ou a Serra Leoa. Mas, uma vez que a Nigéria já começa a prometer democratizar-se, devolvendo dentro de algum tempo o poder aos civis no seu próprio território, o Ocidente começa a fechar os olhos a que ela assuma um papel hegemónico pelo Golfo da Guiné acima, rumo à Guiné-Bissau, que o Senegal considera uma espécie de coutada sua.
Foi precisamente em Abuja, capital federal da Nigéria, que o Presidente João Bernardo Vieira e o brigadeiro Ansumane Mané se comprometeram a resolver o conflito na Guiné-Bissau: saída das tropas do Senegal e da República da Guiné (Conacri) e sua substituição por forças de outros países da Ecomog, eventualmente mais isentos aos olhos de uma grande parte dos guineenses.
A Junta Militar de Ansumane Mané e o primeiro-ministro indigitado, Francisco Fadul, vêem os senegaleses, sobretudo, e também um pouco os homens de Conacri como os seus inimigos principais, protectores de "Nino" Vieira. Por isso, desde há largas semanas que insistem pela sua rendição por tropas de outros países da CEDEAO, como o Benim, o Burkina Faso, a Gâmbia, o Gana, o Mali e o Togo. No entanto, tanto essa comunidade como a União Económica e Monetária da África Ocidental, a que a Guiné-Bissau também pertence, dão grande importância à perpetuação da estabilidade, com a manutenção de dirigentes eleitos e a recusa formal de homologar golpes de Estado ou algo que se lhe pareça.
Por isso, é possível que a rendição das tropas de Dacar e de Conacri por outros contingentes da Ecomog não seja tão benéfica para Mané e Fadul quanto eles o desejariam. E é muito claramente nessa hipótese que João Bernardo Vieira parece estar a apostar: que os estrangeiros, sejam eles de que origem for, o ajudem a perpetuar-se no lugar conseguido à força em 1980; mesmo que essa não seja, de forma alguma, a vontade da maioria dos cidadãos guineenses.
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