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em: 03-FEV-1999
Situação muito grave na Guiné-Bissau
Chirac Desmente Intervenção Francesa
Por JORGE HEITOR
Quarta-feira, 3 de Fevereiro de 1999
Em vésperas de uma viagem a Lisboa, o Presidente Chirac desmente qualquer tipo de intervenção na Guiné-Bissau, apesar do dedo acusador do primeiro-ministro indigitado, Francisco Fadul. Do ponto de vista humanitário, a população - que já terá sofrido uma centena de mortos - sofre de fome e sede, permanecendo em grande número em abrigos improvisados.

O Presidente francês, Jacques Chirac, desmentiu ontem categoricamente as notícias de que haveria grande número de soldados do seu país na Guiné-Bissau, a apoiar o chefe de Estado, João Bernardo Vieira, "Nino". E negou igualmente que tivesse sido aberto fogo de um barco de guerra da França contra posições da Junta Militar rebelde, chefiada por Ansumane Mané.
"A França não fez qualquer ingerência", sublinhou Chirac, em conversa informal com um grupo de jornalistas, depois de o primeiro-ministro indigitado da Guiné-Bissau, Francisco Fadul, ter afirmado que um barco francês abrira fogo sobre os rebeldes, aos quais ele é afecto.
O possível equívoco ter-se-ia ficado a dever, segundo fonte governamental guineense contactada pelo PÚBLICO, ao facto de "Nino" Vieira ter hoje em seu poder muito mais armamento e homens do que tinha no ano passado, durante as primeiras semanas da crise. Para fazer face ao grosso das suas próprias Forças Armadas tradicionais, o Presidente tem agora consigo muitos jovens que entretanto foram treinados na República da Guiné (Conacri), e um enorme poder de fogo, de modo que não vai ser fácil aos revoltosos derrotarem-no, disse aquela fonte, que pediu o anonimato.
O navio francês "Siroco", que levava para Bissau algumas centenas de homens da Ecomog, o grupo de monitorização da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), não conseguiu entrar no porto, devido à intensidade dos combates. Partiu entretanto em socorro da embarcação comercial portuguesa "Cobra", navio de cabotagem que encalhou a caminho das ilhas Bijagós, com cerca de 260 pessoas. Uma embarcação cabo-verdiana, a "Wilma", já alcançara o barco sinistrado e tratara de fornecer água, leite e bolachas às pessoas retidas a bordo.
No "Cobra" seguia gente que procurava fugir da tremenda guerra, de desfecho imprevisível, que continua a travar-se em Bissau. Contam-se já num mínimo 35 mortos e 220 feridos, de acordo com os relatos da Lusa e da AFP. A BBC admitiu mesmo que ascendam a uma centena os mortos nas últimas 48 horas, mas nas actuais circunstâncias é difícil obter números muito precisos.
Para além do "Siroco", nas águas da Guiné-Bissau também se encontra actualmente a corveta francesa "D' Estienne d'Orve", que, segundo a Lusa, poderia servir para garantir a protecção do navio ao serviço da Ecomog.
Situação calamitosa
Os representantes diplomáticos de Portugal, França e Suécia deverão ser recebidos hoje pelo Presidente "Nino" Vieira, a fim de o convencerem a cumprir tudo o que ao longo das últimas semanas foi sendo combinado para que o Governo de Transição chefiado por Fadul tome posse dentro dos próximos 15 dias.
O reatar dos combates originou uma situação calamitosa. Centenas de milhares de pessoas procuram deixar a área de Bissau e arredores, onde a população que resta não consegue ter alimentos nem água, mas receia sair dos abrigos improvisados, como um centro paroquial ainda em construção nas traseiras da Sé.
No interior da catedral, jaz desde a semana passada, à espera do fim da guerra para ser sepultado, o primeiro e único bispo que Bissau conheceu até hoje, D. Arturo Septímio Ferrazeta, de origem italiana, que muito fez para tentar conseguir a reconciliação entre o Presidente da República e os militares que se revoltaram.
Há uma grande falta de medicamentos e de meios de tratamento, no único hospital actualmente a funcionar em Bissau, o Simão Mendes, no centro da cidade, perto da sede do Governo, que fica a escassos quilómetros das linhas onde se situam os homens da Junta Militar.
De acordo com políticos da oposição guineense presentemente refugiados em Portugal, uma das causas de se reacenderem os combates nestes últimos dias terá sido "Nino" Vieira não querer aceitar os mais recentes compromissos assumidos pelos seus colaboradores perante a parte contrária, que estava a impor condições para a tomada de posse do novo Governo.
Demonstrando uma invulgar tenacidade, o chefe de Estado guineense está há oito meses a resistir a todas as pressões para que ceda grande parte dos seus poderes, ficando mais como figura protocolar, até à realização de novas eleições presidenciais e legislativas, possivelmente em finais deste ano.
* com Ana Navarro Pedro, em Paris, e António Soares Lopes
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