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em: 04-FEV-1999
Relatos insistem na presença de "franceses" ao lado de "Nino" Vieira
Uma Trégua Abrilhantou Os Combates
Por PEDRO ROSA MENDES
Quinta-feira, 4 de Fevereiro de 1999
Bissau teve uma trégua frágil: foi assinada ao som do tiroteio e violada logo que entrou em vigor. A guerra já fez pelo menos 80 mortos na capital e a situação "piora a cada hora". Continuam os relatos de soldados ou mercenários franceses na Guiné.

As forças governamentais e os rebeldes guineenses assinaram ontem à tarde um acordo de cessar-fogo, interrompendo quatro dias de violentos combates em Bissau mas recomeçando logo depois com um tiroteio audível em toda a capital. O acordo autoriza a força oeste-africana da ECOMOG a desembarcar na capital, de onde continuam a surgir relatos de uma situação desesperada e da presença de soldados estrangeiros, franceses ou mercenários, ao lado das tropas do Presidente "Nino".
O acordo de cessar-fogo, em três pontos, foi proposto pelo Presidente togolês, Gnassigbé Eyadéma, e assinado por "Nino" Vieira e pelo brigadeiro Ansumane Mané - quando ainda se ouviam em diferentes zonas da cidade os disparos de artilharia pesada e de armas ligeiras.
Ao largo de Bissau aguardam 300 soldados da ECOMOG (do Benim e do Niger) a bordo do navio militar francês "Siroco", devendo juntar-se, na capital, aos 110 togoleses já colocados na capital. O "Siroco" recebeu ontem ordem de se aproximar da costa, segundo uma fonte diplomática francesa.
Cerca das 18h45 locais (mesma hora em Lisboa), aconteceu a primeira violação grave do acordo - menos de quatro horas depois da hora estabelecida para iniciar a trégua. A troca de tiros, que segundo o correspondente da Lusa foi "fortemente audível no centro da capital guineense", prolongou-se por cinco minutos. Ao princípio da noite, o cônsul português Artur Magalhães, o embaixador francês François Chappellet e a encarregada de negócios sueca, Ulla Andren, encontravam-se reunidos com "Nino" Vieira, no Palácio Presidencial, estudando formas de consolidar o cessar-fogo entretanto violado.
Franceses no porto
De Bissau continuam a chegar relatos da presença de soldados franceses actuando em cenário de guerra. Dois estrangeiros que se encontram nos arredores de Bissau, e que mantêm o anonimato por razões de segurança, constataram nos últimos três dias a passagem de "grupos de homens fardados, negros e brancos", e uma das vezes em que abordaram os militares "eles responderam em francês perfeito".
Um missionário relatou que, anteontem, "ao meio-dia", havia "uma centena de brancos fardados a falar francês" no porto de Bissau. Estes e outros relatos no mesmo sentido são transmitidos a organizações de solidariedade na Europa, ouvidas pelo PÚBLICO.
A França, pela boca do Presidente Jacques Chirac, continua a negar qualquer envolvimento no conflito. Fontes contactadas pelo PÚBLICO admitem como "provável que não se tratem de soldados franceses, mas de mercenários", embora salientem que "a diferença prática é nenhuma porque os mercenários obedecem a alguém que os contratou e, sem dúvida, lhes pagou - nenhum mercenário aceita uma missão a crédito num país sem diamantes nem petróleo?"
Um responsável governamental feito prisioneiro pela Junta admitiu a presença de até 300 militares franceses em Bissau, segundo a Lusa. Esses soldados estarão distribuídos pelo Palácio, pela Marinha (junto ao porto) e na linha da frente do flanco esquerdo das forças rebeldes.
Várias organizações representativas da sociedade civil guineense (ver texto nestas páginas) manifestaram-se "indignadas" com as notícias divulgadas em Bissau que referem um alegado acordo entre o Presidente guineense e o seu homólogo senegalês, Abdou Diouf, "que oferece a soberania da Guiné-Bissau durante cinco anos a troco de apoio militar do Senegal nesta guerra". Tal acordo permitiria a Dacar gerir, a partir de território guineense, o barril de pólvora de Casamansa, onde o Exército senegalês enfrenta há década e maia uma guerrilha separatista.
Isso preocupa as organizações guineenses em Lisboa, que "convidam o Senegal a procurar pela via do diálogo resolver os seus problemas internos da Casamansa, não transferindo a sua solução para países terceiros". O mesmo grupo "condena o vergonhoso comportamento das tropas senegalesas que estão a impedir a fuga de refugiados para fora de Bissau".
O retomar de combates no fim-de-semana já provocou pelo menos 80 mortos. "A situação é catastrófica no hospital principal da cidade [Simão Mendes], onde 300 feridos não podem ser assistidos por falta de medicamentos", afirmou à AFP uma fonte hospitalar contactada a partir de Dacar.
A MISNA, agência noticiosa católica, informou que cinco pessoas morreram ontem quando uma igreja de Bissau foi atingida pelos bombardeamentos. A agência, citando missionários franciscanos na leprosaria de Cumura (a dez quilómetros de Bissau), adianta que os rebeldes de Ansumane Mané "avançam lentamente para a cidade". "A situação humanitária piora a cada hora", acrescentaram os missionários.
Os 260 refugiados de guerra transportados de Bissau pelo navio "Cofra" foram desembarcados em Bubaque, no arquipélago as Bijagós, depois de o navio ter estado encalhado no Canal do Gêba.
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