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LEÃO AVANÇA NO PERU
Saiu a Seleção do Leão para o jogo contra os bravos peruanos! E aí
eu peço paciência, licença e compreensão aos leitores desta coluna,
pois não tenho como evitar duas atitudes graves e urgentes: a primeira
é um bocejo; a segunda, uma espreguiçada daquelas longas, de
chamar a atenção dos passantes e de causar sobressaltos a crianças
manhosas e velhinhas distraídas.
Aí vai o Juan, tão reclamado. Eis que volta o Marcelinho Carioca, tão
ultimamente falado. Continuam o Vampeta e o Xereta. Entra na lista o
Leomar, a Guiomar e sei lá mais quem. Tanto faz.
Por mim, podem jogar contra o Peru, o pavão, o frango ou o quê mais
apetecer. Podem igualmente ficar a fazer malabarismos com laranjas ou a
engolir fogo nos sinais de trânsito. Se tiver à mão trocado miúdo,
estendo-lhes de bom grado. Senão, aguardo a luz verde e sigo em frente
com destino a lugar nenhum.
Escreve-me de Barra Mansa, a propósito, o leitor Daniel Botelho,
garantindo que o esquadrão de veteranos, que lá se reúne aos
domingos, ganha fácil do time do Leão. Acredito. E por quê duvidar?
Nesta altura do campeonato, prefiro me preocupar, por exemplo, com os
santinhos que a Virna colocou dentro do short e que não apenas
resistiram aos suores inebriantes de cinco sets em recinto abafado, como
ainda ajudaram a devota a conquistar o título.
Prefiro ainda pensar no nariz grande do Pedrinho e no nariz amassado do
Petkovic. Ou ainda na bela Pedrita, que assaltou um banco usando a
faca do rosbife, façanha tão insólita quanto a pretensão do Dé em
armar dois times onde mal existe um. Valha-me, Deus!
BOA PERGUNTA
Marcelo, que se intitula meu leitor número um, pergunta: "
Por favor se você não souber, procure saber para me responder por que
o Mazinho aquele veterano que chegou ao Vasco este ano, ainda não
estreou, ele tem muito mais bola que todos do meio de campo do
Vasco". Sei não.
CONFISSÃO
Eu menti. Preciso confessar que menti. No calor das últimas e recentes emoções,
garanti aqui que os atacantes do Fla estão unidos e coesos. Esqueci-me
que no jogo contra o ABC, Edílson teve quatro chances de passar bolas açucaradas
para o Petkovic e foi fominha nas quatro.
SEM VOZ
Quem diria que uma vitória sobre o humilde Juventude pudesse causar
tantas emoções e comoções?! Minha amiga Aninha, técnica da natação
mirim do Flu, perdeu a voz ali no setor branco das arquibancadas. Quem
encontrar, pode avisar por e-mail para esta coluna. Gratifica-se.
HAJA PEITO!
Taquicardia. A palavra é esta: taquicardia. Não queira ter. Principalmente se forem iguais às que costumam me atacar nas horas mais previsíveis e também no momentos em que menos espero e em que menos se justifica um coração em disparada, querendo-me escapar pela boca.
Você está me apontando o dedo e me aprontando um pito: "quem manda fumar? Foi o cigarro, está na cara!". Não, não está na cara, engano seu. Aliás, precisamos acabar com a mania de pôr todas as culpas no cigarro. Até os calistas e os barbeiros pegaram o costume de fazer a surrada indagação: "você é fumante?" Fariam melhor se me perguntassem onde está o calo que me incomoda e o corte de cabelo que me agrada.
Não, não é o cigarro, é o esporte. É a Virna, a Leila, a Fernanda, a Natasha e todas aquelas moças que me levaram em emoções fortes, aliás fortíssimas, numa noite de terça que não vou esquecer. Não me permitirei esquecer, aliás. Não me lembro de uma decisão de vôlei feminino que mexesse tanto com o meu organismo, causando-me arrepios e aflições. Vou lhes confessar uma coisa: chorei junto com a Virna. Paciência!
Curiosa, por sinal, essa moça. Vaidosa ao extremo, tem vez que parece se preocupar mais com o alinhamento do penteado do que com a linha da bola. Mas quando a coisa aperta, meus caros, vira uma guerreira feroz. Uma guerreira flamenga dos pés à cabeça. E assim também é a Leila.
Não, não é nem foi o cigarro. Foi também o Fluminense a correr atrás do prejuízo e me levando junto naqueles ataques em massa, naquela raça que começa na alma e que termina num gol, num gol conquistado na hora em que a morte já nos parece inevitável.
Não, não é o cigarro. É o esporte, do qual sou viciado e dependente.
DÁ-LHE, PEDRINHO!
Tarde de quarta e por pouco me esqueço de ver o jogo do Vasco. Peguei no meio, mas a tempo de ver o gol do Pedrinho. Pareceu simples, não? Mas entrar em velocidade na área, driblar, olhar e meter alto, longe do goleiro não é uma mera conta de aritmética. É uma equação geométrica.
DÁ-LHE, MENGO!
E eis que gostei do time do Flamengo. O Gamarra está de volta à melhor forma, os brigões lá da frente estão se entendendo melhor, só faltando mesmo resolver os problemas das laterais. Os meninos andam atacando pouco e defendendo menos ainda. Mas vai dando para o gasto...
DÁ-LHE, GALERA!
O Flamengo desta Copa do Brasil está me lembrando o Mike Tyson. É nocaute no primeiro round. Foi assim no Piauí, foi assim em Natal. Mas de certa forma, não é vantagem. Afinal, jogar no Norte-Nordeste é jogar em casa. O vermelho e preto se esparrama e o time local fica órfão de pai e mãe.
Os motivos são até fúteis e nem vale a pena citá-los,
mas não suportei ficar em casa nesta tarde calorenta e abafada de terça.
Pensei em ir ao restaurante do Calazans e escutar o piano do
Milito, mas estou liso, quebrado, na mais pura e santa bancarrota. O máximo
que posso alcançar é o boteco do Serafim, aqui na Rua Alice de tantos
carnavais. Serve-se lá um chope gelado, honesto e bem tirado.
Como todo boteco que se preza, existem as discussões de futebol que
tanto nos enriquecem o espírito. Ao desembarcar, mal tive tempo
de pedir o meu chopinho em generosa pressão. Fui chamado a interferir
numa discussão que tinha como tema o homem nu, que não era o do
Fernando Sabino, mas o jogador do Mato Grosso que tirou o calção para
comemorar um gol.
As opiniões eram as mais diversas. Para uns, fez o atleta muito bem.
Vale tudo na hora de se festejar o momento sublime de um gol. Para
outros, o jogador agiu mal e efetivamente cometeu não só um atentado
ao pudor, como às leis do homem e à moral do esporte.
Eu fiquei na minha. No fundo, achei a história muito engraçada. Eu e o
meu chope ficamos a imaginar se o brioso atleta não tivesse por baixo
do calção uma sunga salvadora e se pusesse a correr com as coisas
balançando ao vento, terminando por sacolejá-las freneticamente à
frente de uma câmera de TV. Morreriam velhinhas e viúvas de síncope -
ou de saudade, sei lá.
Foi uma tarde que passou rápido e que me fez esquecer das agruras que o
nosso principal esporte vem padecendo. Rimos e deixamos para lá as ISLs
da vida, as futricas Petkovic x Edilson, as preocupações táticas e
filosóficas do Joel Santana, as cobranças do Espinosa e ainda todas as
imposturas e falsas composturas do futebol.
Esse homem nu, meus caros, salvou a pátria.
NA TONGA
Outro fato curioso deste início de semana foi a sonora goleada que a
Austrália impôs à seleção de Tonga. Vinte e dois a zero! É mole?
Tonga, que fica junto a mironga do kabuletê, é um país de homens
gordíssimos. Ao final do jogo, porém, o técnico colocou a culpa no
juiz.
PETKOVIC
Não, apesar de estar de bom humor, não vou deixar de entrar nesta
briguinha do Flamengo. Entro nela para dizer que o Petkovic é marrento,
é egoísta e tudo mais. Só que também é sério, talentoso, raçudo e
que honra a camisa que veste. O que sobra disso é uma imensa frescura.
PROTESTO
O leitor que atende por Serginho Freitas e que é de Cambuquira, sul de
Minas Gerais, está irado com o que chama de serviço de proteção ao
Vasco. E termina assim o seu e-mail: "façam-me um favor: peguem a
taça de campeão carioca e entreguem de uma vez ao Vasco da Gama".
Você viu os jogos da quarta-feira à noite? Que agonia meu caro e
brilhante leitor, que agonia! Da Venezuela ao Maracanã, graças ao
milagre da televisão (acabei de criar esta genial frase), vimos ao vivo
e em cores, os sofrimentos de Vasco, Fluminense e Botafogo, os três
levados a transpirar um litro certo para bater adversários de terceira
categoria.
"Hoje, já não existem bobos ou otários no futebol".
Os admiradores desta frase absurda , hão de estar a bater no peito:
"não falei, não falei?!" Falaram...uma tolice, tendo em
vista que os otários continuam a existir e sempre existirão. Nascem
aos milhares diariamente.
O diabo é que os sabidos já não tratam os otários como antes. Otário
deve ser tratado como tal. Se você conta com paciência para travar
papos longos e duradouros com eles, o problema não é meu.
Já foi o Botafogo um time que sabia tratar os tolos. Fingia aceitar o
assédio, por vezes até os atraia para um bate-papo na sala dse estar e
no momento em que os bobos se sentiam à vontade, eram mortalmente
calados com os lançamentos do Didi ou do Gérson. Se insistissem em
incomodar, eram devidamente humilhados com toques de bola sem a menor
objetividade tática, mas com resultados morais terríveis. E se abriam
como dançarinas de funk.
O que está havendo é que os espertos estão dividindo bolas com os otários,
em vez de aguardar o erro inevitável. Estão correndo na mesma
velocidade. Marcando em cima em vez de cercar. Indo ao ataque como bois
brabos em vez de tocar e abrir espaços.
Flu, Vasco e Botafogo deram uma aula de como não se deve tratar os otários.
E a Seleção vai pelo mesmo caminho.
BOM CABRITO
Quem um belo exemplo de otário? Pois cito de imediato o presidente do
Vasco no momento em que cutucou a CPI e os senadores. Todos nós sabemos
que tais coisas, no Brasil, acabam em nada mesmo. Contanto que o acusado
aja como um bom cabrito formal. Não berre.
E O TOQUE?
Quando escrevi outro dia a respeito dos fundamentos do futebol,
esqueci-me de citar o toque de bola, coisa que o Flamengo
definitivamente precisa praticar com urgência. Soubesse tocar a bola,
ganharia com um pé nas costas e não exporia o Zagallo àquele
desespero no final.
FACEIRAS
É preciso que alguém, no Flamengo, puxe pelos brios da Leila e da
Virna. As duas elogiam muito a torcida e a mística da camisa
rubro-negra, mas ultimamente vêm me lembrando muito mais duas moçoilas
faceiras e nem tanto as guerreiras que eu via atuar na Seleção.
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O GOL DA TORCIDA
Lá se vai mais um Fla-Flu e aqui estou eu debruçado neste teclado a meditar sobre o jogo. Cabeça fria e no lugar. Não sei se totalmente no lugar e muito menos fria, mas é assim que construi a frase e é assim que ela vai ficar. Não ficarei aqui a dar retoques em letras de texto neste domingo de muito sol e de pouco esporte. De letra, faria um gol - e a muito custo, pois me falta o talento e me sobra a preguiça.
O jogo? O jogo já ficou para trás, mas preciso também meter o nariz nessa história. O jogo? O jogo foi lá e cá tecnicamente, com um primeiro tempo de muitos cuidados, muitos estudos a me causar bocejos e fome. Quando tenho pouco a ver ou a fazer, sinto fome.
Mas, no segundo tempo, o gol do Reinaldo acordou a mim, ao Maracanã e a esta cidade que até agora treme dos pés à cabeça. O Fluminense foi ao ataque. O Flamengo foi ao contra-ataque. Marco Brito estufou a rede flamenguista. E o Fla-Flu, finalmente, reassumiu a própria identidade. Ficou com a cara do Fla-Flu. Sem tirar nem pôr.
No campo, os jogadores se transformaram em guerrilheiros com gosto e sede de sangue. Nas arquibancadas, rubro-negros e tricolores empunharam lanças e bandeiras, entoando hinos e cânticos de causar arrepios.
É hora dos pênaltis. Um torcedor é levado às pressas com o coração a sair pela boca. Magno Alves mira a rede e alveja o peito do Júlio César. Do lado tricolor, ouvem-se apenas ruídos de unhas comidas, cabelos arrancados e orações em sussurro. Já a galera rubro-negra acorda de vez. E quando isso acontece, é bom sair de baixo porque a explosão é iminente.
Alguns culpam os efeitos da bola, a mão de Deus e os milagres dos santos. Tolice! A explicação é simples, só não viu quem não quis. Aquela bola rebatida pelo goleiro entrou porque a torcida soprou.
ROMA
A primeira vez que vi esse menino Roma achei que se tratava de mero personagem de folclore. Uma invenção do Zagallo? Quem sabe? Hoje, já não sei. Começo, no entanto, a desconfiar que esse baixinho joga mais futebol do que supunha a minha inútil filosofia.
GAMARRA
Ninguém é tão velho ou tão experiente como se imagina. Somos crianças a cada passo e a cada dia. Se vocês se deram ao trabalho de observar as reações do Gamarra, devem ter percebido o que eu vi: um menino deslumbrado e perdido no Maracanã.
TÉCNICOS
Num momento em que todos os elogios e glórias são dirigidos ao velho Zagallo, preciso também meter ai o meu nariz para dizer no outro túnel também havia um treinador competente e talentoso, que atende por Espinoza. Foi um duelo sem perdedores.
GUERRA EM SANTOS
Se o futebol é um esporte fantástico, o futebol deste abençoado e mal tratado país é mais ainda. E eu que estava quase passando para o lado dos pessimistas formais e renitentes, fui dormir feliz da vida na madrugada de quinta. Quanta emoção, meus caros, que nos propiciaram deuses e demonios dos nossos estádios naquela noite de quarta.
Lá em Santos, o Botafogo emergiu de um mar de chinelos, chaves de boca, copos e toda sorte de detritos que lhes atiravam das arquibancadas, para conquistar uma vitória belíssima. Digo sem medo de exagerar que se tratou de um feito épico e histórico. Os bravos meninos do Lazarone não só enfrentaram o bom time do Santos, como uma torcida enfurecida, tresloucada, armada até os dentes. Uma guerra! Um negócio de dar medo.
Das arquibancadas, a multidão urrava, pedindo sangue. No campo, a bola era efetivamente disputada a socos e bofetões. Em determinado instante, Rodrigo e Augusto se pegaram, mas descobriram a tempo que lutavam no mesmo exército.
Wagner, de um lado, e Fábio Costa, do outro, defenderam suas cidadelas dos mais violentos bombardeios. Rodrigo lançava granadas que passavam zunindo rente à cabeça do goleiro paulista. E no calor da batalha, já no segundo tempo, o Botafogo sofreu uma baixa. Lá se foi o Dênis. E agora? E agora é que o time carioca resolveu ficar ainda mais valente, bravo e corajoso.
Baionetas caladas, os botafoguenses avançaram em campo aberto como soldados dos filmes da Metro. Um a um foram caindo os santistas. E quando Taílson desferiu o certeiro tiro da misericórdia, a Vila Belmiro desabou por inteiro.
Hoje, lá só existem um campo e duas balizas. Se tanto.
E O TRICOLOR?
Guerra em Santos e uma batalha e tanto de tricolores no Maracanã. O Fluminense esteve com um pé na final. Marco Brito entrou no segundo tempo com jeito de herói. Mas quem acabou decidindo a parada foi o Rogério Ceni. Que goleiraço, meus caros.
ANTOLOGIA
Escrevo antes de Vasco x Flamengo e ainda sob as emoções de quarta. E o goleiro do São Paulo me volta à mente seguidamente. Nem tanto pela presença decisiva nos pênaltis, mas acima de tudo por aquela defesa no finalzinho. Defesa de figurar em antologia.
SAMURAI
Saio do futebol e entro nas artes marciais. Ligo na SporTV a pego já no meio um programa em homenagem ao meu querido amigo Paulo Góes, um dos precursores do caratê no Brasil. Se o conheço bem, Paulão desabou em lágrimas do seu 1,90m.
e-mail: joao@areosa.com
João Areosa é jornalista
profissional, registrado
no Rio de Janeiro. Escreve
no Jornal "Extra",
onde assina a coluna
TIRO LIVRE.
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