Planeta HQ

Edição #03

por Paulo Dias e Gustavo Mascarenhas

Nessa edição:

ABRIL INVESTE NO LADO "NEGRO" DA IMAGE

FIM DA FASE MELANCÓLICA DO QUARTETO

"MASSACRE" REVELA UM TRAIDOR ENTRE OS X-MEN

 

 

ABRIL INVESTE NO LADO "NEGRO" DA IMAGE

Poucas vezes vimos um revista em quadrinhos ser lançada com estardalhaço, comerciais de TV e tanta pompa como vimos o recém lançado título "The Darkness & Witchblade". Nem o novo selo da editora, o "Abril Comics", dedicado exclusivamente aos quadrinhos nacionais recebeu tanta publicidade a sua volta, o que seria mais compreensivo, devido ao tamanho e relevância do projeto. Anunciada como "campeã de vendas nos EUA", "The Darkness & Witchblade" pode ser rotulada como uma série de gosto duvidoso e público bem específico, devido a seu roteiro vazio e suas imagens impactantes. O personagem principal, Darkness, na verdade é um subproduto do secundário, Witchblade, que já pôde ser apreciado por aqui numa mini série em 8 partes pela Editora Globo no ano passado com um lançamento quase tão estrondoso e um final melancólico.

Então surge a pergunta: se são tão ruins assim, porque vendem tanto? A resposta pode estar na nova geração de fãs que surgiu no mercado americano no início da década, caracterizada pelas HQs com muita ação e pouca criatividade produzidas pela "pioneira" Image. Só que os tempos são outros. Os estúdios em que se dividiam a editora sofreram grandes mudanças. Todd McFarlane e Erik Larsen amadureceram um pouco seus trabalhos, Rob Liefeld se separou da Image e está beirando a falência, enquanto Jim Lee buscou salvação através de autores talentosos como Kurt Busiek, James Robinson e Warren Ellis entre outros. Só Marc Silvestri conseguiu se manter nesse padrão medíocre através de seu estúdio Top Cow, não por acaso proprietário das marcas "The Darkness & Witchblade". E através desse sucesso entre esses fãs do "macabro", o Top Cow conseguiu chegar com toda essa força no Brasil, agora pela Abril Jovem.

Mesmo com uma primeira experiência desastrosa, na Globo, essa nova empreitada de Marc Silvestri pode até vir a dar certo, devido a maior infra-estrutura da Abril e também porque "The Darkness & Witchblade" conseguem ser um pouco melhores do que os horríveis "Codinome: Strikeforce" e "Cyberforce", "ex-carro-chefe" da casa. Assim como Witchblade, Darkness é uma arma, ou um poder mistíco (tanto faz), só que em vez de uma policial, Darkness é possuído por um mafioso. Com isso, pode ter certeza que vários daqueles "crossovers", que começam numa revista e terminam na outra, estão garantidos. Não se assuste ao ver o nome de Garth "Preacher" Ennis como roteirista da série porque, tirando um ou outro diálogo interessante, sua nobre presença passa desapercebida.

Com tão pouco espaço, e tão pouca grana, para os brasileiros fãs das HQs, essa nova revista é um insulto, até por custar o absurdo de R$ 3,90. Pelo menos uma outra revista vai ser lançada dia 12 de agosto próximo, "Wildcats & Gen 13", essas bem melhores. Mas mesmo assim, outras séries, verdadeiramente consagradas, vão ficando para trás, muitas da própria Image, e poderiam ter uma chance dentro da poderosa Abril, que verdade seja dita, vem publicando ótimas mini séries (com exceção as da "Glory"). Editoras menores, como a Metal Pesado, a Magnum e a Mythos, mesmo sem um "alto cacife", vem fazendo um trabalho bem mais corajoso, trazendo o que há de melhor até nós.

 

FIM DA FASE MELANCÓLICA DO QUARTETO

O Quarteto Fantástico, a primeira grande criação da dupla Stan Lee e Jack Kirby, no início da década de sessenta, sempre foi considerado um dos grupos de heróis mais importantes das HQs, não só por ter dado o "pontapé inicial" para a Marvel Comics, maior editora de quadrinhos do mundo desde então, mas pelo talento dos criadores que se seguiram após a partida da dupla original, que fez do grupo o preferido de nove entre dez criadores da atualidade. Nomes como John Byrne, Marv Wolfman e Walt Simonson, só para citar alguns, marcaram fases memoráveis ao narrar as aventuras da mais importante família do universo de super heróis, que depois da mega explosão dos X-Men e de todo o universo mutante, assim como todos os outros personagens da Marvel, foi sendo deixada cada vez mais de lado, e nas mãos de pessoas cada vez menos competentes.

Essa fase sofrível é de responsabilidade da dupla Tom DeFalco e Paul Ryan, que através de argumentos incrivelmente chatos, previsíveis, complicados e de mau gosto, além de desenhos com qualidade duvidosa, transformou essa verdadeira bandeira do universo Marvel em personagens com os quais ninguém se importava mais. Como era de se esperar, as vendas foram diminuindo cada vez mais, e até uma patética "morte" para Reed Richards, o líder do grupo, ocorreu, na tentativa de chamar a atenção dos leitores novamente para o título, subestimando sua inteligência e "apelando" da forma mais sem sentido, já que em geral, mesmo que todos esperem o retorno de um herói morto, nunca esse retorno é tão evidente quanto nesse caso, já que matar Reed era tão absurdo quanto matar Wolverine ou o Homem Aranha.

Aqui no Brasil, essas aventuras se tornaram piores ainda, já que a editora Abril novamente nos fez o "favor" de transformar histórias que originalmente ocupavam mais de sessenta páginas em copilações com no máximo quarenta (o que nesse caso até que poupou o leitor de mais baboseira, mas também tornou a narrativa mais complicada e incompleta). Mas felizmente acaba de chegar às bancas o especial "O Retorno de Reed Richards" (160 páginas, R$ 3,60), com o final da participação da dupla DeFalco/Ryan, dando passagem para o prelúdio de "Massacre", o maior evento Marvel do ano. Esse prelúdio, que se passa logo após as cinco edições finais da antiga dupla, que aparentemente serão "omitidas" por aqui, é magistralmente ilustrado pelo espanhol Carlos Pacheco, que em apenas duas edições, conseguiu fazer mais que seus predecessores em vários anos. Após "Massacre", que começa a ser publicado por aqui em Setembro, o Quarteto ficará a cargo de ninguém menos do que Jim Lee, no criticado projeto "Heróis Renascem", que se não teve muitos momentos brilhantes, certamente teve o mérito de literalmente "renascer" com o grupo através do magnífico Lee. Atualmente, o Quarteto está a cargo de dois talentos ímpares no mundo dos quadrinhos, a lenda viva Chris Claremont, e o novato Salvador Larroca. Aos fãs brasileiros resta comemorar esse especial lançado pela Abril como o final de um pesadelo, e esperar pelas boas histórias que estão por vir.

 

"MASSACRE" REVELA UM TRAIDOR ENTRE OS X-MEN

Desde a aparição de Bishop, o mutante vindo do futuro, anos atrás na revista "Uncanny X-Men" # 283, o fantasma de um possível traidor entre os X-Men vem assombrando o grupo. Durante os anos que se seguiram, o principal suspeito de Bishop sempre foi Gambit, justamente por seu passado obscuro, e pela sua misteriosa participação no extermínio total dos X-Men, do qual a única prova que restou foi um vídeo-tape de má qualidade de gravação, no qual Jean Grey pedia socorro, e informava que o grupo estava sendo traído por um dos seus membros. Pois bem, em Setembro próximo, os fãs brasileiros terão finalmente a chance de descobrir os detalhes por trás dessa história, e checar se ela ocorreu mesmo da forma como Bishop havia descrito (Lembrem-se que no universo Marvel, quase nunca um personagem vindo do futuro, pertence ao "nosso futuro", mas podem existir semelhanças).

 

Quando surge o personagem Massacre, sua primeira providência é derrotar o até então invencível Fanático, para logo em seguida enviar seu dois arautos, Holocausto e Post ao encalço dos principais X-Men, enquanto ele próprio parte atrás de Jean Grey. Depois de revelada sua identidade ao mundo, e suas intenções questionáveis com relação ao convívio entre humanos e mutantes, todos os heróis do universo Marvel partem contra a criatura, que para se defender aprisiona os dois mutantes mais poderosos da face da terra, Nate Grey (o X-Man), e Franklyn Richards. Apesar dos heróis relutarem um pouco em aceitarem a ajuda do incrível Hulk, por acreditarem que o gigante verde ainda não explicou seu envolvimento na morte de Nick Fury, acabam aceitando, e partem com tudo contra a criatura, cuja verdadeira identidade ainda é desconhecida por eles.

A batalha final atinge proporções gigantescas, e, ao final, o Quarteto Fantástico e os Vingadores são dados como mortos, restando apenas os heróis "urbanos" da Marvel, como Homem Aranha e Demolidor, e os mutantes, contribuindo ainda mais para o ódio da humanidade pelos seres com o "Fator X" , que acabam sendo culpados pela morte dos maiores heróis da terra.

O prólogo desta saga já está acontecendo por aqui em todas as "Revistas X", mas a saga tem início pra valer a partir do especial "O Massacre dos X-Men", onde o argumento correto de Scott Lobdell e Mark Waid e a arte de Adam Kubert (que especialmente nesta edição comparece em sua melhor forma, auxiliado por Pascual Ferry) fazem deste um dos melhores momentos de toda a saga. Mas o momento mais surpreendente é quando Massacre decide mostrar sua verdadeira identidade, dando fim ao mistério, e revelando finalmente quem é o traidor dos X-Men. A batalha final será apresentada em outro especial, que provavelmente será chamado de "O Massacre dos Heróis Marvel", onde, também com os desenhos de Adam Kubert, auxiliado pelo brasileiro Joe Bennett, os leitores terão a oportunidade de presenciar o desfecho de toda essa história.

No final das contas, a saga serviu para entregar os principais personagens da Marvel nas mãos de Jim Lee e Rob Liefeld, no polêmico projeto conhecido como "Heróis Renascem", que a editora Abril publicará por aqui a partir de Janeiro do próximo ano em duas revistas mensais, no mesmo formato da revista "Fabulosos X-Men". Apesar de realmente existir um traidor entre os X-Men, a traição é cometida de maneira inconsciente, o que torna a série um pouco anti-climática, e até mesmo frustrante. Pelo menos a arte de grandes artistas comandados por Adam Kubert, além do badalado Joe Madureira, ajuda, tornando tanto os especiais como as revistas mensais em agradáveis leituras. Mas os problemas começam mesmo de verdade, após o fim da saga, quando Wolverine se torna um ser bestial, com lencinho na cabeça, e sem nariz, mas isso já é uma outra história.....

 

 

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