Carlos Cardoso (1951-2000)


(Maputo) O "mt" está de luto. De luto está a informação moçambicana que se quer
séria e interveniente. De luto está a frágil democracia moçambicana. Mataram Carlos Cardoso.
Não foi um assalto. Ninguém lhe quis roubar nada senão aquilo que ele tinha de mais precioso: a sua voz livre,
a sua vontade de intervir activamente na vida do seu país, na felicidade do seu povo.
Os assassinos que o emboscaram queriam calar o Cardoso e, indirectamente, todos aqueles
que têm lutado na mesma trincheira de liberdade, de decência, de honestidade, de servico público. Só que não vão conseguir esse objectivo.Calaram um Homem honesto e corajoso, mas não calaram o "mt", não calaram todas as outras vozes de uma sociedade que quer um país decente onde se possa viver em paz e com a prosperidade que a terra e a gente permitem.
Não vamos permitir que aqueles que o mataram, sejam eles quem forem, se fiquem a rir,
conseguidos os seus objectivos nojentos. A caneta do Carlos Cardoso não vai ficar no chão onde
caíu quando ele foi crivado pelas balas de uma arma de guerra. Vamos pegar nela para
continuar o seu combate. Não vamos dar tréguas a todos aqueles que o Cardoso incomodava. E queremos justiça rápida
e eficiente. Para que não cresca em nós a ideia de que a democracia
moçambicana está a ser afogada em sangue. Está a ser assassinada como foi o nosso editor.
Carlos Cardoso, editor deste jornal, foi ontem barbaramente assassinado, em Maputo.
Vítima de rajadas de AKM. Passavam poucos minutos das 19 horas. O assassinato do editor deste
jornal ocorreu quando ele saía das instalações do "mt", após o fecho da edição normal de ontem. Ele ía para casa,
numa viatura do jornal, conduzido pelo motorista Carlos Manjate. O crime se deu a poucos metros do "mt".
A viatura passava pela zona do Parque dos Continuadores. Duas viaturas ligeiras, aparentemente um VW e um Toyota, de acordo com testemunhos, bloquearam o carro do "mt", de ambos
os lados, dando a entender que estariam à espera que Cardoso deixasse o "mt".
Os assassinos saíram a correr das viaturas em direcção ao passeio, dirigindo-se ao banco do veículo
do lado esquerdo, onde Cardoso estava sentado, metralhando-o vezes sem conta. Não só contra a viatura como também para o seu rosto. À hora em que a Polícia recolheu o corpo no local, para a morgue do Hospital Central de Maputo,
Carlos Cardoso tinha várias perfurações no corpo e na cara, toda ensanguentada. O motorista, gravemente ferido, foi conduzido para o Banco de Socorros e está fora de perigo.

metical no. 867 de 23.11.2000l