HISTÓRIA |
Os Super-Prazos
Os colonos e os achicundas do
sul do Zambeze, extremamente martirizados pelas ímpies Nugni,
aglutinaram-se em redor de alguns senhores de prazos decididos a
resistir no Sul, ou então a atravessar o rio para se instalar na
margem norte, nos prazos de Quelimane e do delta. Os pequenos
Senhores com apenas algumas aldeias não tinham capacidade para
lutar com os Nguni e deixaram a Zambézia, indo refugiar-se em
Tete, Sena, Quelimane, Ilha de Moçambique e mesmo em Goa ou na
metrópole, confirmando a tendência já existente de absentismo.
Os grandes senhores, foram o único recurso dos habitantes. Os
postos a resistir atraíram a si os achicundas livres dos seus
respectivos senhores, construiram " ariungas " grandes
acampamentos entriurcheirados que albergavam o Senhor e a sua
família, os soldados, os escravos e até o próprio gado, onde
podiam oferecer resistência aos assaltantes e se iam
transformando em Estados cada vez mais independentes do Estado
português. A meio do século a situação voltou a
estabilizar-se e embora o número de prazos ainda fosse
considerável, toda a Zambézia estava sob a influência do
quatro poderosas famílias: Os Cruz, Joaquim da Cruz ( o Nhaúde
) que tinham a sua aruiga principal em Massangano; Manuel
António de Sousa, ( o Gouveia ) fixado na Gorongosa; Vaz dos
Santos, de Massúigire e Gonçalo Caetano Pereira que dominava
nos territórios da Maranga. Quando os portugueses, movidos pelas
imposições da Conferência de Berlim, tentaram afirmar de
maneira concreta a sua soberania sobre a Zambézia, o conflito
foi inevitável e ou tiveram que se travar autênticas guerras
para dominarem estes potentados que se tinham tornado, para todos
os efeitos, senhorios africanos. Da guerra contra o Bango de
Massangano até à campanha do Barué em 1902 os conflitos
sucederam-se quase ininterruptamente até à eliminação
completa de todos estes " munzungos " da Zambézia. O
fim destas lutas significou o fim duma altura híbrida
luso-africana que durante três séculos sobrevivera no vale do
Zambeze, mas onde o controlo da coroa nunca foi directo nem
eficaz.