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3. A Atualização da CNBB da Visão Católica
Tudo o que vimos até agora teve como objetivo mostrar os instrumentos dos quais se valeram os Bispos do Brasil para operacionalizar a sua ação missionária. Essa operacionalização segue orientada por dois documentos o DGAE e o RNM, que passamos a examinar.
3.1 Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998
“O texto das DIRETRIZES GERAIS DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA NO BRASIL... foi aprovado por unanimidade pela 33ª Assembléia Geral da CNBB...” Essas diretrizes reconhecem três desafios principais na vida dos católicos brasileiros hoje: o secularismo, o humilhante flagelo da pobreza, e o pluralismo religioso. E é como respostas a eles que ela apresenta sua proposta.
As Diretrizes estão estruturadas em duas partes: Os Horizontes da Evangelização e Os Caminhos da Evangelização.
3.1.1 Os Horizontes da Evangelização
Nesta parte encontramos menção ao grande jubileu do ano 2000, quando serão comemorados os dois milênios do nascimento de Cristo, e as implicações práticas dessa comemoração como sejam: a evangelização, a conversão, a santidade. Naturalmente essas implicações se constituem em exigências ao povo católico brasileiro, que se atendidas influenciaram a sociedade como um todo, e o ser humano em particular. O DP é oportunamente mencionado ao ser feita a abordagem da evangelização dos pobres, onde se admite as falhas da Igreja neste particular: “A opção pelos pobres pode e deve impulsionar a Igreja a descobrir, sempre de novo, a exigência radical do Evangelho, libertando-a da acomodação e do conformismo...” É óbvio que a Igreja reconhece as suas limitações, bem como a amplitude da tarefa evangelizadora entre os pobres, que vai além do anúncio chegando até a difícil tarefa da “... inculturação da fé e o respeito pelos valores próprios de cada grupo humano.
3.1.2. Os Caminhos da Evangelização
Esta parte está dividida em cinco capítulos, e se constitui na realidade o corpo das diretrizes propostas.
No primeiro capítulo encontramos O Planejamento Pastoral na Igreja do Brasil. Atribuiu-se grande significado a herança do Concílio Vaticano II, na formação da consciência católica brasileira. “A caminhada da Igreja Católica no Brasil, nas últimas décadas, segue muito de perto as pegadas da renovação conciliar.” Atribui-se à Igreja no Brasil uma ação que antecipava algumas das recomendações feitas pelo Concílio, isso se deve a proliferação de Movimentos no seio da Igreja no período que precedeu ao Vaticano II. O que sem dúvida influiu na participação dos Bispos do Brasil, bem como na posterior aplicação das orientações emanadas, tanto que a própria DGAE admite ser um confirmação de diretrizes anteriores.
No segundo capítulo é tratada a questão da Evangelização Hoje . Inicialmente aborda-se a necessidade de aprofundamento da teologia da evangelização, especialmente no que diz respeito ao conceito de Reino e suas conotações libertárias, onde está implícito uma oposição ao aspecto contemplativo de um Reino puramente espiritual, sem ingerência no mundo físico onde os seres humanos vivenciam suas carências mais diversas. Neste capítulo a evangelização é definida como continuação da missão de Jesus, executada sobre a direção do Espírito Santo. Essa missão percorre um caminho para ser executada: “Inculturação... Exigências intrínsecas da evangelização... Uma nova evangelização...” Caminho esse que deve ser encarnado por todos - inclusive os leigos - em uma atitude de superar diversidades em nome da unidade. Isso só é possível com o desenvolvimento de um grau de espiritualidade só alcançável pela ação direta do Espírito.
O terceiro capítulo aborda os Novos Desafios da realidade. É a milenar Igreja reconhecendo que a realidade presente tem características próprias, que as pessoas com as quais hoje lida estão sujeitas a pressões dantes impensáveis. São as mudanças sócio-econômicas, que tornam a vida do cidadão uma tremenda roleta russa, somadas ao empobrecimento da população; É a globalização da economia e o paradoxal fenômeno da exclusão, fruto do individualismo dos mais abastados; São as mudanças culturais pondo em cheque os ícones da modernidade e da pós-modernidade, criticadas pelos jovens; A crise ética que apresenta o enorme desafio da conciliação entre a liberdade tão cara a civilização ocidental, e a verdade da qual a Igreja se constitui guardiã; O Pluralismo Religioso é outro grande desafio se apresenta, considerando que “A porcentagem dos que se declaram católicos, porém, continua diminuindo.” .; O pluralismo está presente até dentro da Igreja através de movimentos como a Renovação Carismática Católica e Comunidades Eclesiais de Base; Por isso a ênfase crescente na reevangelização dos batizados.
O capítulo quatro apresenta as Orientações Práticas para a Ação Evangelizadora e Pastoral. É neste capítulo que colocações nitidamente antropológicas são mais evidentes, deixando praticamente comprovada a nossa hipótese de que após quinhentos anos de evangelização no Brasil, a Igreja Católica Apostólica Romana apresenta uma proposta de fazer Missões, que considera o homem e suas necessidades. Este capítulo está estruturado em cinco itens:
“... a inculturação, representa um critério geral da ação evangelizadora, como mostra o documento de Santo Domingo; os outros quatro itens - serviço, diálogo, anúncio e testemunho da comunhão - são exigências ou aspectos distintos, mas complementares, da própria ação evangelizadora e pastoral.”
O desafio de uma evangelização inculturada se apresenta no Brasil, basicamente em dois aspectos: No contato com as culturas indígenas, afro-americanas e mestiças, que estão sobrevivendo apesar da forte hegemonia ‘branca’; E através do intercâmbio da fé com a cultura urbana moderna. O reconhecimento desses desafios pressupõem um respeito pelas expressões culturais, que é manifestado por uma atitude de compartilhar e não de subjugar, como fora no passado.
O aspecto do serviço ressalta a função diaconal da Igreja, em sua preocupação com os pobres, e a transformação da sociedade que o discrimina, esse aspecto encontra farta fundamentação teórica no DP, DSD e na RMi. A promoção humana passa pelo resgate do pobre e do oprimido, o que implica na transformação deles de elementos passivos de um complicado quebra-cabeça social, em sujeitos ativos de sua própria libertação.
O diálogo é um aspecto que parte do pressuposto de que o Espírito trabalha em todas as culturas, onde podemos encontrar elementos de interação. É reafirmada a importância do ecumenismo entre as igrejas cristãs, da preservação das culturas indígenas e afro-americanas, bem como a urgência de estabelecermos um diálogo com a cultura moderna.
O anúncio é o aspecto que destaca Jesus Cristo como o vértice da evangelização, sendo de responsabilidade de todos os cristãos. Esse anúncio visa alcançar entre outros os católicos não-praticantes, os cidadãos que se declaram sem religião, e os não cristãos. Esse anúncio
“exige esforços de animação missionária em três direções: A primeira é o aprofundamento da consciência da vocação e responsabilidade missionária nas igrejas particulares, ... A segunda área diz respeito ao próprio perfil dos missionários... A terceira é a da criação de novas formas de cooperação, diálogo e intercâmbio entre a nossa igreja e as igrejas de outros continentes...”
Como podemos constatar existe uma preocupação com as várias implicações do anúncio.
O último aspecto, o do Testemunho da Comunhão Eclesial, deve ser exercitado partindo-se das Comunidades Eclesiais de Base, que são consideradas a força da evangelização; das diversas pastorais; bem como de uma catequese bem articulada em cada paróquia:
“A paróquia busque adequar-se as mudanças de nosso tempo... reinvindica-se a transformação da paróquia em comunidades de dimensões humanas, possibilitando relações pessoais fraternas. Seja, pois, estimulada tal prática... “
Ora, a paróquia deve estar atenta às rápidas mudanças que ocorrem em sua jurisdição eclesiástica, para continuar exercendo o seu papel enquanto comunidade de fé. Além disso, é reafirmada a “...evangélica opção preferencial pelos pobres.” bem como o papel do leigo na vida da Igreja.
O sexto capítulo é intitulado Os Evangelizadores, nele se afirma que cada cristão é um evangelizador, e como tal deve adequar as suas prioridades pessoais às Diretrizes traçadas pela Igreja. O que só é possível quando ele age de dentro da comunidade como parte dela.
A Igreja Particular é definida como sendo a encarnação da Igreja Missionária, o local onde os fiéis comungam e participam. E como tal tem algumas responsabilidades: A primeira é a formação dos evangelizadores, que precisa corresponder às necessidades da sociedade contemporânea; a segunda é a articulação, em uma sociedade infestada pelo individualismo e pelo espírito do sectarismo, onde se faz necessário um diálogo aberto e participativo onde a comunhão entre diferentes possa ser exercitada, isso só é possível pela articulação de alguns princípios como: “variedade complementariedade... autonomia,... subsidiariedade... e participação responsável.”
Aos Evangelizadores são feitas algumas exigências específicas.
Dos leigos é requerida a participação, fundamental e necessária se considerarmos o acesso que eles têm às várias esferas da sociedade moderna. Para tanto precisam estar conscientes da responsabilidade inerente “à graça batismal... e valorizada a diversidade das vocações laicais”
Das mulheres e jovens é requerido um maior envolvimento na tarefa evangelizadora, ao tempo que as comunidades são exortadas a darem maior atenção aos jovens e às Pastorais da Juventude e da Mulher.
A vida consagrada - em suas diversas formas - é uma exigência feita a todos os cristãos, dando-se destaque aos que optaram por uma vida contemplativa e monástica, de quem se espera uma atuação maior dado a sua disponibilidade, e sua tradição de pioneirismo em diversos campos como o educacional, o de saúde, das obras de caridade, e mui especialmente o missionário.
3.2 Rumo ao Novo Milênio, Projeto de Evangelização da Igreja no Brasil em Preparação ao Grande Jubileu do Ano 2000
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